Destino

Capítulo 3


A primeira semana de aula foi tranquila, não teve muitas mudanças, fora a professora Regina que estava sendo o assunto principal da escola, até mesmo os antigos professores estavam encantados. Esbarrei com ela algumas vezes nos corredores, indo ao banheiro ou beber água.
Eu não sabia direito o que estava acontecendo comigo, desde o dia que ela se apresentou no início da semana, eu não a tirava da cabeça, toda a vez que eu passava perto o meu coração batia mais forte, e isso estava me deixando doida, eu precisava contar isso pra alguém ou a minha cabeça iria explodir.
Como hoje era sexta, eu sabia que mais tarde Ruby viria pra cá, era quase uma regra passar o final de semana ou ela aqui em casa, ou eu lá, e essa seria a minha chance de contar para a minha amiga o que estava acontecendo, e torcer para que ela pudesse de uma forma ou outra tentar ajudar.
Como de costume, cheguei em casa, tomei banho, e havia acabado de preparar o almoço quando meus pais chegaram, eles foram lavar as mãos, e logo em seguida sentamos para almoçar, falamos sobre a escola, sobre como estavam as coisas no trabalho da mamãe, meu pai animado contava que tinha conseguido fechar mais dois negócios, o que era bom pra ele, já que ele queria ser gerente imobiliário.
Depois do almoço, fomos para a sala, conversamos por mais um tempo, e logo meus pais começaram a se preparar para voltar para o trabalho.
— Emma, hoje Ruby vem? Ou você vai? Eu nunca lembro. — disse minha mãe sorrindo, era sempre assim às vezes até eu e Ruby nos confundimos qual seria a casa da vez.
— Ela vem, mãe.
— Ok, então assim que eu sair do trabalho passo e pego ela. — disse já pegando suas coisas, me deu um beijo, e saiu junto com meu pai.
Assim que eles saíram, lavei a louça do almoço, e sentei para ler um livro de poemas que eu gostava bastante, não era de fato um livro, e sim um caderno onde haviam vários poemas de diversos autores diferentes, que eu admirava muito, li alguns até que um deles me chamou atenção. Claro que eu já tinha lido todos, afinal, foi eu quem os passou para o caderno, porém algo no poema de Artur da Távola, me fez ir longe dessa vez.

“ Falo do olhar que paralisa no outro, e não se pode desligar.
Que se apavora de adivinhar-se, possivelmente feliz e se descobre em profundidade e espanto no poço do outro, no fundo do qual mora em uma certeza nunca antes confirmada. "

Ao ler aquele poema, imediatamente eu lembrei dos olhos castanhos da nova professora, foi como se ela estivesse ali, bem na minha frente, eu estava confusa demais, não sabia o que isso significava, ela estava a todo tempo no meu pensamento.
Peguei meu celular que estava em cima da mesa e abri o aplicativo do whats, mandei uma mensagem para Ruby, que logo me respondeu.
Emma: Oi, mana! Não perca a hora em, pior que você só a minha mãe para odiar atraso, rs.
Ruby: Eu não sou nem doida de atrasar, é capaz da tia Mary me deixar pra trás. Emma: Não duvide disso! Tenho uma coisa pra te contar, porém, terá que espera até chegar aqui. Ruby: Isso não se faz, Emma, você sabe o quão ansiosa eu sou para saber das coisas.
Emma: Não é por mal mana, é que, no fundo nem eu sei bem como contar, ou até mesmo o que contar.
Ruby: ih! Deve ser algo importante, agora que eu fiquei mais ansiosa ainda.
Emma: Calma, daqui a algumas horas minha mãe deve estar passando aí, e então eu te conto, espero que você consiga me ajudar, porque estou ficando maluca já.
Ruby: Seja o que for, eu estou aqui com você, tá bom?
Emma: Tá bom!
Emma: Vejo você já!
Ruby: Até mana, beijos.
Coloquei uma música, travei meu celular e deitei no sofá, estava com um pouco de sono, então me arrumei para descansar, sabia que logo todo mundo chegaria e Ruby me encheria de perguntas, então preferi tentar dormir e esvaziar minha cabeça um pouco.
Como já era de se esperar, acordei com Ruby pulando em mim, quase a derrubei no susto, mesmo sabendo o que ela iria fazer eu sempre me assustava.
— Você devia fazer uma dieta, está muito pesada, Ruby. — Disse ao me levantar
— Muito engraçada você, né! Eu sou levíssima. — Ela falou fazendo uma cara tão engraçada, que assim que ela terminou de falar, todos nós rimos juntos.
— Elas só têm tamanho. — Meu pai comentava rindo.
Fui até meus pais, dei um beijo em cada um e levei as coisas da Ruby para meu quarto, eu nunca entendia porquê ela carregava tanta coisa, mas toda vez que ela vinha pra cá, parecia que ia passar um mês fora.
— Às vezes eu acho que a Ruby vem pra ficar um mês, ela traz metade do guarda-roupa. — Falei ao voltar para sala; ela fez uma cara de “Nossa, nem é tudo isso” e eu ri.
— Então garotas, o que vão querer para o jantar? — Minha mãe perguntou.
— Comida japonesa. — falamos juntas. — Novidade.
— Fazer o que né, pai, não tem comida melhor. — Não se preocupe, querido, peço uma pizza para acompanhar você dessa vez.
— Obrigada, amor, nada contra meninas, mas nada melhor do que uma massa com muito queijo. — Meu pai não era muito fã de comida japonesa, ele até nos acompanhava uma vez ou outra, porém pra ele pizza era a melhor comida do mundo, e minha mãe, por amar ambos, sempre se dava bem. Depois de decidirmos o que iríamos comer, ficamos na sala conversando, e meus pais foram tomar banho.
— Então, loira, o que houve? — Ruby me perguntou assim que viu meus pais sumirem do campo de visão. Eu sabia que ela não ia conseguir esperar mais, então respirei fundo e disse:
— Eu vou te contar, mas por favor, me ouve primeiro, e depois você me pergunta o que tiver para perguntar, tá bom? — perguntei, e ela só concordou com a cabeça.