Sentada num banco da praça, me comovia. Via vários casais se beijando, passeando, velhinhos alimentando pássaros e moleques andando de skate. Meu vestido voava com a leve brisa, exibindo, parcialmente, minhas pernas imóveis. O sol brilhava alto no céu, iluminando a morna tarde de primavera.

O vi. Tão majestoso em seus jeans e casaco, com seus óculos tortos e má postura. Ele sorria. Um sorriso infantil e lindo que tanto me fizera devanear no passado. Olhava para mim, acenando, com seu braço cheio de braceletes e anéis. O piercing brilhava em sua sobrancelha, que se curvava à medida que ele franzia a testa somente por costume.

Lembrava-me de nossos dias no quintal, nossas tardes na varanda, nossas noites no sofá.

Acenei de volta, ansiosa para que viesse junto a mim. Ele riu debochado. Encarou-me com um semblante de nojo, tal qual fosse um dos pombos que ali se encontravam. Encolhi-me. Assustei-me com seus gestos e trejeitos e assombrou-me o medo. Ele chegou perto, com olhos de malícia, olhos de travessura. Segurou meus braços e me puxou. Puxou bem pouco, somente me colocando na ponta do banco. Pedi que não o fizesse, mas ele não me ouviu. Só ouvia a própria risada, enquanto sustentava meu peso.

Soltou.

Lágrimas.

Meu corpo frágil, semi-incapaz, caiu. Com um baque, sinto dores nos braços, os quais utilizo para proteger a cabeça. Mordo minha língua. Não entendo.

“Por quê?”

Foi minha indagação, minha pergunta, a única expressa meio a tantas outras.

Com sádica expressão, no rosto vil, tão belo, responde-me agachando-se, com um beijo.

Lágrimas.

“Por quê?”

Ele levanta. Tento me arrastar para longe, levando o peso inútil e fardo da metade inferior do meu corpo.

Diverte-se com minhas tentativas inúteis. Nenhum pedestre parece notar meu desespero na praça.

Ele levanta uma perna, joelho dobrado, como se começasse uma marcha.

Lágrimas.

Olhos fechados.

A tarde era morna e era primavera. Casais, idosos, pombos e moleques. Eu me comovia. Ele pisava em mim, até que se esvaísse o resto de movimento de meus membros.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.