Desejo Oculto - TDA

《 Capítulo vinte e um 》


Julia desceu para a sala e sentou no sofá deixando que as lágrimas rolassem por seu rosto, pegou o telefone e ligou para Ângelo que atendeu no quarto toque.

— O que aconteceu? - falou com a voz cansada. - Nossa filha está bem?

Sempre que ele dizia assim ela sentia o coração apertar porque sabia que estava errada em tê-los afastado, mas não poderia mais chorar ou se lamentar, estava feito e o máximo que podia fazer naquele momento era esperar o "castigo" que viria de suas escolhas.

— Ela já sabe de você... - foi somente o que conseguiu dizer.

— O que? - falou sem entender direito.

— Victória já sabe que você é o pai dela. - soluçou seu choro.

— Eu estou indo... - e sem mais desligou e ela apertou o telefone contra o peito, aquele dia estava longe de terminar...

Ângelo olhou para Osvaldo amarrado na cadeira e ali mesmo o deixou, ele não era um homem violento, mas ele não iria permitir que ele maltratasse sua filha isso nunca. Saiu da casa e a trancou, entrou em seu carro e seguiu direto para a casa de Victória. Quando chegou Julia o recebeu e ele a abraçou forte e ela chorou forte em seus braços não queria o ódio de sua filha mais era isso que ganharia no final.

— Onde ela está? - a soltou depois de um longo silencio.

— Está no quarto e quer ficar sozinha. - passou a mão no rosto secando as lágrimas.

Aquelas palavras para ele era como se o desespero tomasse conta de seu corpo, ela o renegaria e ele sabia disso, tinha estado toda uma vida ao lado dela desde que a descobriu, mas sempre indiretamente. Todos os caminhos que ela tinha percorrido tinha sido com a ajuda dele, sempre esteve ali e mesmo que não tivesse se mostrado por respeito a Julia ele sofria muito.

— Eu quero falar com ela. - disse firme não querendo mais adiar aquele momento. - Eu sei que ela está sofrendo e precisa de mim.

— Ela nem sabe quem você é. - foi dura e logo se arrependeu.

— Não sabe por culpa sua mesmo. - devolveu. - Por culpa sua que sempre quis ficar com aquele maldito... Eu não tiro minha culpa por ser covarde e não ter ido atrás dela, mas eu fiz por amor a você enquanto você o amava e não sabia com quem queria ficar... - se alterou e falou o que estava engasgado. - E ainda não sabe.

Julia sentiu suas pernas ficarem bamba e as lágrimas vieram novamente não era para eles brigarem e sim para que eles ficassem juntos para resolver aquela questão, mas no fundo ela sabia que ele tinha razão em suas palavras.

— Mas não estamos aqui pra falar de nós dois e sim da nossa filha e se ela sabe de mim. - tomou ar. - Eu não vou mais recuar.

— Ela não quer me ver imagina a você!!! - estava sentida.

Victória apareceu no pé da escada sentia todo seu corpo tremer, tinha ouvido a campainha e mesmo não querendo sair sabia e seu coração era chamado, olhou os dois ali próximo a porta e se sentiu como uma criança com medo. Todo seu passado tinha sido uma mentira e ela nem se quer conseguia olhar para frente e ver algo bom, sua alma estava ferida e ela nem sabia como sairia daquele buraco.

— Ela precisa me ouvir. - ele disse com desespero sem vê-la no alto da escada. - Eu preciso que ela me olhe mesmo que seja para me odiar.

— Eu estou aqui. - se fez presente e todos os corações ali tremeram.

Ela desceu as escadas a passos lentos e ele entrou deixando Julia os observar de longe e eles pararam um frente ao outro com lágrimas nos olhos e um coração latindo descompassado, a respiração podia ser vista com os peitos subindo e descendo e ele levantou a mão para tocar o rosto dela do lado machucado e Victória apenas esperou aquele toque. Era um carinho, era uma aproximação perigosa e ele poderia ser impedido, mas ela permitiu o toque e ele soluçou seu choro preso.

— Me perdoe minha filha.

Eram poucas, bem poucas palavras, mas que a rasgou por dentro e num subido desejo de ter um carinho de um pai, ela o agarrou abraçando-o pela cintura e ele a segurou em seus braços e deixou que suas lágrimas rolassem por seu rosto assim como pelo dela. Julia também deixou que suas lágrimas rolassem e mais uma vez a culpa a correu, tinha visto o quanto a filha tinha sofrido e nada tinha feito mesmo sabendo que ela tinha um pai que seria muito melhor do que Afonso tinha sido para dela.

Mas como destruir a vida de todos a seu redor? Poderia ser chamada de egoísta ao querer ficar com os dois, mas por muito tempo ela não sabia qual caminho tomar. Seu coração já tinha decidido por Ângelo, mas ela nunca teve coragem de abandonar Afonso, poderia ser por culpa talvez, ela não sabia mais tinha se mantido ali ao lado dele durante toda uma vida e arrastado Ângelo naquela historia que era dela.

Ângelo não era uma criança manipulada, mas tinha aguentado todos aqueles anos por amor a ela, mesmo que aquela escolha o tirasse sua filha para sempre tinha feito a escolha de cuidar das duas mesmo que de longe e ali estavam os dois para receberem seus castigos. Victória podia sentir o coração dele bater tão ou mais rápido que o seu, se sentia acolhida, mas logo o soltou e o olhou nos olhos.

— Eu sei que não tenho perdão mais quero que me de a chance de te mostrar que... - estava tão nervoso.

— Minha filha, ele não teve culpa. - Julia se fez presente o defendendo. - Eu...

— Os dois têm e não adianta querer colocar a culpa um no outro, vocês nunca pensaram em mim. - deixou que mais lágrimas fossem vistas por eles. - Só pensaram em vocês mesmo!!! - se alterou um pouco. - Tudo que eu vivi até aqui foi uma maldita mentira, até mesmo meu relacionamento era a mais pura mentira!!! - falou com rancor e olhou a mãe. - Quando decidiu isso junto com ele você pensou em quanto isso poderia me afetar? Pensou em algum dia me contar a verdade ou simplesmente iria carregar essa verdade para o tumulo? - estava tão sentida.

Julia abaixou a cabeça sem saber o que responder e Victória passou a mão no cabelo em desespero total.

— Seu silencio diz tudo!!! - olhou para Ângelo. - E você, nunca pensou em como seria esse momento? Me pergunto como foi pra você ver a sua filha entregando todos os presentes de dia dos pais para outro que não era você. - gritou se tremendo. - Como foi me ver todos esses anos chamando outro de pai? Como foi me ver chorar por um homem que só me maltratou a minha vida inteira, quando era pra ser você a estar lá e me dar todo o amor que eu sempre quis e vocês dois me negaram.

Ela estava rasgada por dentro e os dois choraram com aquelas palavras que pareciam facadas adentrando cada pedaço de seu corpo, Julia tentou se aproximar dela, mas Victória recuou não permitindo nenhum contato dela. Na porta ele apareceu e nada entendeu daquela cena e apenas os questionou.

— O que está acontecendo aqui? - e todos os olhares foram para a porta...