Desejo Oculto - TDA

《Capítulo trinta e quatro》


— Você não pode falar assim com seu pai! - os olhos eram frios e ela pode sentir um calafrio passar por todo seu corpo.

— Você nunca fez questão de ser o meu pai e porque acha que agora seria diferente? - tinha tanta mágoa. - Você nunca me amou e eu quero saber o porquê!

Era a hora de confrontar aqueles sentimentos, era a hora de confrontar quem ela sempre chamou de pai, mas nunca recebeu amor verdadeiro.

— Eu vou te contar a verdade e você não vai gostar muito!

— Nada que venha de você pode me surpreender mais! - no fundo tinha medo do que poderia ouvir mais era chegado o momento e ela sentou a espera das palavras dele.

Afonso a olhou ali sentada, tão linda altiva como a mãe isso o deixava com mais ódio, uma vida inteira enganado, uma vida inteira sustentando uma mentira somente por amar Julia. Ele tinha descoberto muito cedo que Victória não era sua filha, ele tentou amá-la como fazia antes, mas já era tarde e seu coração estava envenenado.

Tentou ter mais filhos com Julia, mas não tinha conseguido e isso o levou a maltratar sua única "filha", olhar para Victória era o mesmo que ver Ângelo e ela juntos na pracinha com a desculpa que iam ao dentista ou qualquer outra coisa somente para que aquele maldito homem a visse. Victória não lembrava daqueles momentos porque era muito pequena, mas ele sim, ele se lembrava de cada detalhe e seu ódio e sua raiva eram descontados somente nela porque amor ele tinha de sobra por Julia.

Victória apertou as mãos discretamente com o olhar que recebia dele, podia ver em seus olhos que ele vagava por lembranças que não eram boas e isso a encheu de tristeza, sua mão foi a barriga e ela acariciou discretamente para que ele não percebesse. Ela tinha escolhido o melhor pai para o seu bebê e naqueles segundos que se passavam olhando um para o outro ela deu graças a Deus por seu casamento com Osvaldo não ter dado certo ou teria uma cópia fiel de seu "pai".

— Não temos o dia todo e ficar me olhando assim não vai adiantar em nada! - por fim falou.

— Você era um sonho de bebê, um sonho que eu sempre tive... - começou a falar sem tirar os olhos dela. - Mas era fruto de uma traição, uma traição que se estendeu durante anos e toda vez que via vocês juntos, meu ódio descia!

Os lábios dela tremeu com aquela revelação.

— Você sempre soube! - falou com a voz embargada.

— Um homem sabe quando tem algo errado e eu constatei logo o quanto Julia era uma vagabunda que somente pensava nela e no privilégio de poder estar com dois homens! - tinha tenta dor em suas palavras.

— Se já sabia por que bateu nela? - eram perguntas guardadas há muito tempo.

— Porque era a surra que ela merecia há muito tempo! - falou sem pena. - Eu deveria ter batido mais, deveria ter batido nela a vida inteira, mas eu somente conseguia sentir amor por ela e ela não amava ninguém! - apoiou as duas mãos sobre a mesa e olhando em seus olhos disse: - Eu tentei te amar, mas com o tempo fui percebendo que você nunca poderia ser como eu e tudo começou a piorar, eu fazia de tudo para que quando chegasse a uma certa idade você saísse de casa!

— E você conseguiu! - não queria chorar na frente dele. - Tudo que eu quis na minha vida foi um pai que me desse amor e sentisse orgulho de mim! - era a dor sentida em sua alma. - Você poderia ter feito tudo diferente e ter sido um pai do qual eu me orgulhasse, mas você preferiu tudo de ruim que a no mundo e por esse motivo é que vai aceitar esse dinheiro. - empurrou o cheque pra ele. - Vai ser feliz com seu dinheiro e nos deixe em paz!

Ela ficou de pé sem deixar de encará-lo.

— Retire a queixa e qualquer coisa que tenha feito contra ela ou eu vou te fazer conhecer a mulher que você criou!

— Está me ameaçando?

— Entenda como quiser! - trinco os dentes. - Agora saia da minha casa! - não aguentava se quer ouvir mais uma palavra dele.

Afonso deu um meio sorriso e antes de ir disse:

— Você é igualzinha a sua mãe, não consegue ficar com um homem só e eu tenho pena desse cara que está com você, ele será trocado logo. Vagabundas como vocês não conseguem sentar em um só! - usou as piores palavras e Victória não pensou duas vezes e avançou nele sentando uma bofetada em sua face.

— É por homens porcos como você que trocamos sempre de homens até achar o certo! - bufou. - Você não sabe nada de amor e nunca vai saber porque você não sabe amar! - o empurrou. - Saia da minha casa!

Afonso respirou pesado sabendo que não podia fazer nada contra ela naquele momento, ele tinha certeza que o "cão de guarda" estaria por perto e poderia quebrar a cara dele e não era isso que ele queria, pegou o cheque e virou as costas saindo dali. Victória se escorou na mesa e respirou fundo olhando para o teto com os olhos cheios de lágrimas, ela queria somente ser amada por aquele homem que somente lhe deu desprezo e palavras duras, mas isso acabava ali porque não iria mais chorar por um homem que não estava nem ai para ela.

Ela saiu do escritório e voltou para o andar de cima, entrou no quarto e encontrou seu amor ainda adormecido e deu graças a Deus, foi a cama e tirou apenas os sapatos e deitou junto a ele. Heriberto no mesmo momento a agarrou o corpo dela e ali ela ficou se sentindo segura, ele era o seu porto seguro e agora seriam uma família, sorriu com seus pensamentos e o beijo no peito varias vezes e ali ficou quietinha sabendo que ele precisava descansar para ir ao plantão.

(...)

LONGE DALI...

Julia ainda estava no orfanato, tinha a "filha" nos braços e controlava as lágrimas, queria tanto que ela fosse pra casa com ela, mas seria mais difícil do que pensava, Ângelo também estava ali ao lado delas e brincava com ela que sorria alheia a qualquer pensamento de sua mãezinha. Os suspiros eram fortes e quando ela desceu para pegar a boneca, Ângelo segurou sua mão e disse:

— Ela é nossa filha, você só precisa ter paciência!

— Eu só preciso levar a minha menina daqui, eu não vou conseguir ir embora sem ela! - deixou as lágrimas rolarem.

Ele limpou as lágrimas dela e a beijou na boca, abraçou seu corpo e ela deitou a cabeça em seu peito enquanto olhava sua menina brincar.

— Olha como ela está linda e feliz... - ele falou sorrindo. - Ela é cheia de vida e precisa da mãe dela forte e com um lindo sorriso pra quando ela for pra casa!

Julia o olhou.

— E se ela nunca for? - o coração batia acelerado.

Ele sorriu.

— Que pouca fé você tem! - limpou as lágrimas dela. - Ela vai pra casa mais cedo do que você imagina! - deu um beijinho nela que deu um meio sorriso e o tocou no rosto.

Ângelo era o seu amor e ela tinha certeza disso, iria fazer de tudo para que ele fosse feliz a seu lado e compensar todos aqueles anos em que foi covarde e não assumiu seus sentimentos.

— Eu te amo tanto!

— Eu também te amo muito! - a beijou na boca e logo sentiram as mãozinhas de Hanna.

— Mamãe...

No mesmo momento Julia se soltou de Ângelo com os olhos empapados de lágrimas e ela a pegou nos braços e foi abraçada.

— Eu sou sim a mamãe! - falou toda emocionada.

—Mamãe! - ficou repetindo e rindo enquanto Julia de desmanchou em lágrimas.

Era sua filha e seria para sempre porque ela não iria desistir de sua menina e eles ficaram rindo e brincando ali com ela por um longo tempo até que ela pegou no sono e era hora de ir, mas com a promessa de que viria buscá-la para levar para casa...