Descobrindo a própria luz

Capítulo 21- Toda briga tem um lado bom


[ E pela primeira vez, desde que conheci o Di Angelo, entendi porque Maat o tratava como um concorrente. ]

Mais uma vez a risada deliciosa de Nico tomava conta do local.

Eu sei, talvez fosse errado estarmos conversando enquanto estávamos presos naquele lugar há três dias, praticamente sem alimentos e tendo que observar Maat dormir a maior parte do tempo e reclamando quando podia reclamar. Mas o que pode- se fazer ? Eu não conseguia parar de rir um segundo se quer do modo sarcástico de Nico e por algum motivo desconhecido, ele parecia outra pessoa do meu lado.

Agora entendi o que Lola queria dizer sobre ele e Mernie combinarem. Eles eram iguaizinhos nesse sentido : Conforme passavam um tempo com você, iam se abrindo aos poucos. Despejando pequenas partes da sua essência. E era encantador desvendar o príncipe dos mortos. Você se sente privilegiado, porque sabe que é uma das únicas pessoas do planeta que tiveram essa oportunidade.

– E o que aconteceu depois ?

– Bem, depois eu e Lola arrastamos uma Mernie bêbada de lá e tivemos que inventar uma ótima desculpa para a mãe dela.

Olhamos um pra o outro em um momento de silêncio e depois voltamos a soltar risadinhas. Virei para o canto onde Maat estava e constatei que ele havia acordado.

– Caramba Chase - começou Maat, se sentando ainda meio grogue.- Você não sabe o quanto é maravilhoso acordar com você rindo com esse cara.

– Caramba Ryans. Você não sabe o quanto as coisas melhoram quando você está dormindo - provocou Nico.

Eu já estava me preparando para ter que suportar outra discussão idiota. Porém, Maat ignorou Nico e foi cambaleando até sua mochila. Maat era a prova viva de como o néctar funcionava. Na maioria das missões, se você se machuca, não há nem um segundo para se recuperar. Mas Maat teve três dias. E foi de meio morto a quase bem nesse tempo.

Eu observei ele caminhando até o outro comodo logo atrás do que estávamos. Lá havia uma espécie de fonte, onde tínhamos feito nossa higiene nos últimos dia.

– Você... hum.... Precisa de ajuda? - eu ofereci.

Eu havia ajudado Maat bastante nesses tempo. Não podia esperar que Nico fizesse tudo. E sinceramente, eu não me importava. Era um pouco constrangedor de vez em quando, como agora, mas saber que eu estava ajudando Maat me ajudava. De certa forma, era como se eu estivesse retribuindo tudo que ele já fez por mim.

– Não - ele respondeu seco e continuou andando sem nem ao menos virar para trás.

Normalmente, eu iria me irritar com essa indelicadeza. Mas o modo que ele disse o meu sobrenome ainda ficava rodando pela minha cabeça. E pior : ele havia ignorado Nico.

Veja bem, para as pessoas normais, esse ato podia ser considerado maduro e até mesmo superior. Mas não para Maat. Ele é o tipo de pessoa que acredita que a melhor ofensiva é uma ofensiva mais forte. A menos é claro, se ele estiver REALMENTE chateado com alguma coisa. Ele é capaz de ficar meses sem falar com você. Eu sou extremamente orgulhosa e nunca vou atrás das pessoas. Mas no caso de Maat, o silêncio era tão sufocante que eu passava por cima até mesmo disso.

Então mesmo com a negativa dele e com o olhar que recebi de Nico, eu o segui até a fonte.

– Maat ...

Ele continuou friamente me ignorando e começou a se despir.

– Você está furioso comigo, não está?

Ele suspirou, e agora só de cueca passou a lavar os lindos cabelos escuros.

E eu estava ficando furiosa. Provavelmente mais que ele. Odiava ter que correr atrás dele. Me odiava por não conseguir o ignorar. O odiava por me fazer passar por isso. Mas trinquei os dentes e fui me aproximando.

Peguei uma toalha de um dos armários abandonados e a molhei na fonte. A aproximei de um ferimento escuro nas costas de Maat, mas antes mesmo que o tecido encontrasse a sua pele, ele segurou os meus braços, me virou para si e olhou fixamente nos meus olhos.

– Olha só Isabelle, por favor, me deixa ficar um pouco sozinho, ok ?

– Não. Porque eu te conheço e sei que vai usar esse tempo para iniciar uma espécie de punição contra mim e realmente, eu não fiz nada - resmunguei soltando o meu braço das suas mãos e encostando a toalha em suas costas.

Ele revirou olhos e dessa vez não impediu que eu o ajudasse. Apenas disse uma frase, alta o suficiente para que eu pudesse escutar.

– Temos que dar um tempo.

Eu fiquei ali, estática por um segundo, sem saber o que iria fazer. Primeiro, uma onda de raiva me atingiu. Eu tive vontade de rodear os pescoços de Maat com as mãos até ele apagar e gritar uma porção de absurdos na cara dele. Eu fiquei tão , tão brava que joguei a toalha na cara dele e sai espumando dali, para não fazer nenhuma besteira pela qual eu me arrependeria depois.

Mas rapidamente, todo aquele ódio foi substituído pela minha teimosia. Ele não estava falando sério e eu sabia. E por todos os deuses, eu queria limpar a porcaria das costas dele então eu ia limpar a porcaria das costas dele. Não seria essa frase idiota que ia me impedir. Ninguém na verdade poderia me impedir.

Voltei ainda mais determinada para onde ele estava, agora me encarando com uma sobrancelha arqueada, peguei a toalha do chão, encharquei ela mais ainda e molhei toda a extensão das suas costas. O escutei murmurar algo como "teimosa", mas revirei os olhos e continuei meu trabalho. Eu sabia que não estava sendo exatamente delicada, mas não me importei. Ele que aguentasse.

Com o tempo, eu passei a deixar de encarar aquela situação como uma mera teimosia e na cara dura, demorei um tempão desnecessário só para provocar. Me abaixei na sua frente e comecei a "limpar" a coxa dele. Eu realmente não sabia o que tinha acontecido com a minha vergonha, mas na hora, tudo que passava na minha cabeça era que eu ia ajudar Maat, ele querendo ou não. Quando me levantei para molhar mais uma vez a toalha, mãos forte me enlaçaram pela cintura e lábios tomaram os meus ferozmente.

Revirei os olhos e beijei Maat com força, sentindo uma de suas mãos deslizarem para a minha nuca e quebrar de vez o espaço entre nós. Nossas línguas pareciam continuar a guerra de alguns instantes atrás e quando ele me puxou ainda mais para si, automaticamente enlacei minhas pernas em sua cintura. Maat me imprensou na parede de mármore.

Intensifiquei ainda mais o beijo, arranhando sua nuca com minhas unhas e descontando toda a tensão no seu cabelo. Sua língua passeou pelo meus lábios e em seguida pelo meu pescoço. Ele mordeu e chupou o local, e eu pude sentir sua boca quente e sua língua rodeando a minha pele. Logo em seguida ele assoprou me fazendo delirar com o choque de temperatura. O senti prosseguir, me marcando da forma mais incrivelmente maravilhosa enquanto eu pendia a cabeça para traz coma boca ligeiramente entreaberta.

– Você sabe que era mentira, não sabe ?

Eu balancei a cabeça de qualquer modo, sentindo sua respiração quente no meu pescoço. Me mexi ansiosa e senti suas mãos pressionarem minha cintura com mais força, enquanto ele prosseguia mordendo o meu pescoço em direção ao meu ouvido

– Mas é que você e ele pareciam tão felizes, que... - ele sussurrou perto de mim me fazendo estremecer e puxar seu lábios para os meus novamente. Gemidos entrecortados escaparam durante o movimento luxuriante de nossas línguas.

– Oh Maat... - eu suspirei quando senti seus lábios descerem para meu colo. - Você deveria saber que fazer rir é diferente de fazer feliz.

Depois dessa resposta senti sua boca descendo pelo meu decote.

– Pessoal eu... - Nico apareceu e ficou paralisado com a cena

Nos separamos rapidamente e eu encarei aquelas bochechas rosadas

– Bem, eu acho que sei de um jeito para sairmos daqui - ele disse por fim e saiu.

Meu olhar e o de Maat se encontraram em um sorriso cúmplice e ele me beijou uma ultima vez, antes de se trocar e seguir para a sala e escutar o plano de Nico.

Existia um pequeno buraco em uma parede da ala esquerda do salão, e aparentemente, Nico era bom em destruir coisas. Só que para isso, ele explicou, eu e Maat teríamos que nos manter seguros.

Seguimos recolhendo nossos pertences espalhados por todo o local. Por mais que estar ali tenha sido uma perca de tempo, muitas lembranças boas de Nico e Maat tinham se acumulado na minha mente. Sacudi a cabeça levemente enquanto prendia meu rabo de cavalo, e os meus pensamentos se voltaram a Maat, e a toalha molhada agora abandonada no chão.

Ficamos frente a frente com a parede, e Nico colocou as duas mãos lá, com as feições concentradas.

Tudo foi muito estranho: a forma como a parede se luziu de energia negra e começou a tremer. A pequena fenda foi se tornando maior e a rachadura se estendendo, até que todo o local estivesse cercado de paredes escuras. O chão parecia querer se abrir sobre os meus pés. Poeira e grandes pedaços de concreto começaram a escapar e no ultimo instante antes de toda a estrutura cair, eu e Maat construímos um campo de força ao nosso redor. É estranho notar, que antes mal sabíamos quais eram nossos poderes e agora tudo era tão manipulável em nossas mãos.

No inicio mais forte, mas conforme íamos andando um passo de cada vez, para forma do prédio desmoronando, a luz amarela ia ficando pálida e tremeluzente. Quando pensei que falharíamos, conseguimos sair dos escombros. Aquilo era mesmo muito legal.

Corremos para o bote que estava ali há um certo tempo com a sensação de dever cumprido. Mas quando lembrei a todos, que tínhamos menos de 48 horas, para achar três ingredientes, todos se desanimaram.

Só que quando avistei o nome do próximo lugar, no frasquinho com a poção eu fiquei abismada.

Parece que eu faria uma pequena visita a meu antigo colégio.