Onde está a minha toalha? Aí, tenho de me apressar! Aqui não... Achei!

A mulher estava quase eufórica. Tomara a decisão de sua vida, e sabia que tinha pouco tempo para se arrumar antes de se arrepender. Mas afinal, por que haveria ela de se arrepender? Enquanto a água gelada caía em suas costas, Lety se lembrava que já havia tomado aquela decisão antes. É bem verdade que com resultados catastróficos.

Eu devia ter me tocado com a reação do Luigi, mas preferi acreditar que estava arrasando. Quer saber, melhor ir ver ELE primeiro. Se ele sobreviver, tudo bem. Se não, vou saber que estou ainda mais horrorosa... Hihihihihihi!

Com este pensamento divertido em mente, se enrolou na toalha e voltou ao quarto, onde pegou uma maleta de maquiagem que comprara no litoral e achara que nunca iria usar.

Hum... Vejamos! – Ela abriu e deu de cara com vários tipos de sombra, alguns batons, um lápis, um rímel, dois tipos de blush e uma base no tom de sua pele. – Eu acho que... – O pânico foi tomando conta de seu ser – Eu não faço a mínima ideia de como usar maquiagem!

Calma, Lety, calma!

Pegou o rímel.

Hum... Ok! Eu já vi a Paula Maria e a Oxigenada usando isto. Não parece ser tão difícil.

Sem tirar o excesso, ela passou desajeitadamente nos cílios, que começaram a grudar um no outro, no melhor estilo “unidos venceremos”.

Ai, não! – Ela foi até a pia do banheiro lavar o rosto, e acabou com uma mancha preta ao redor dos olhos – Ótimo, agora eu pareço uma panda! – Continuou esfregando – Ufa, saiu! Esse negócio é do mal! Mas eu não vou desistir, ainda são cinco da manhã e eu tenho tempo de sobra!

Neste momento, se olhou no espelho e reparou em algo que as pessoas diziam, mas nunca havia notado: ela tinha bigode!

COMO eu nunca tinha visto? A maquiagem pode esperar, isto sim é uma prioridade! Acho que a mamãe tem um pouco de cera...

Depois de procurar um pouco, ela achou a cera e seguiu meticulosamente as instruções da embalagem. A pele ficou um pouco vermelha a princípio, mas para seu alívio logo voltou ao normal. Empolgada pela remoção dos pelos, pensou que seria uma boa ideia fazer as sobrancelhas também.

Hum, mas isso é melhor fazer no salão, não quero correr riscos. Se bem que considerando como me deixaram da última vez... Ah, aquilo foi culpa minha! E o cabelo? Talvez eu devesse deixá-lo solto...

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–Ah não, Lety! Lembra do que aconteceu da última vez?

–Anda, por favor! Desta vez eu prometo que não vou interferir no seu trabalho.

–Não sei não...

–Vamos, eu estou fazendo a minha melhor carinha de cadela sem dono!

–É, e isso me assusta! Tá, tudo bem. Mas só porque se trata de você.

–E você me ama!

O cabeleireiro revirou os olhos e começou o corte: um repicado curto com uma franja falsa. Depois de pronto, fez as sobrancelhas e ensinou a Lety uma maquiagem básica que lhe valorizava. A esta altura, metade do salão estava a volta da cadeira.

–Não é que ela ficou bonita mesmo?

–Só precisa melhorar essas roupas de vó!

–Pff, ela já melhorou! Tinha que ver como estava antes!

–Mona, tô chocada! É claro que eu sou o melhor cabeleireiro que existe, mas você ficou uma gata! – Ele admirava sua criação com dramaticidade exagerada – Vamos tirar uma foto e pôr no mural! Vou ganhar horrores com isso!

–Ai, não exagera! – Ela deu uma risada – Se bem que eu fiquei realmente bonita. Mais do que eu esperava.

Depois de sair do salão, resolveu que iria ouvir os “conselhos” e comprar roupas novas. É verdade que ela já tinha melhorado um pouco neste quesito, mas ainda usava alguns ternos largos demais, tanto que o Thomaz uma vez perguntou se ela estava usando as roupas do tio Lázaro. E, sinceramente, há muito tempo ela queria usar algo um pouco mais justo ou decotado. E um modelo de uma vitrine era justamente o que ela precisava: Uma camisa branca de botões com um terninho preto e uma saia justa que media um palmo acima do joelho. Para completar, um scarpin preto e uma correntinha linda.

Em frente ao espelho do provador, ela mal podia acreditar em sua aparência. Era tudo o que sempre sonhara: uma mulher bonita, profissional e elegante.

Ao sair para o trabalho, se movia confiantemente e feliz. Pela primeira vez em muitos anos, acreditava em si mesma e em suas capacidades. Tudo iria ficar bem.

Desceu do carro em frente à Conceitos. Respirou fundo.

–Oi Celso!

–Senhorita? Como sabe o meu nome?

Ela riu.

–Ai, Celso! Sou eu, Lety.

Ele arregalou os olhos em descrença. Como estava mudada! Mas a voz e o carro eram os mesmos e aos poucos ele a reconheceu.

–Dra. Padilla? Nossa, perdão, mas a senhorita está muito bonita. E muito diferente também. Eu quase não a reconheci!

–Obrigada, Celso! – Ela sorriu agradecida pelo elogio.

Encontrou Yasmin na recepção. Ela parecia encantada com seu novo look. A mesma coisa com Ramón, que até lhe ofereceu uma flor tirada de um vaso do balcão:

–Uma flor para a feia mais belaaaaa! – Cantarolou se ajoelhando na frente dela.

–Obrigada, Ramón, mas ponha a flor de volta antes que a Joaninha brigue com você. O Luigi já chegou?

–Sim, está na sala dele junto com o Aldo. – A resposta veio de Yasmin.

–Toc, toc, toc – fez a porta – Posso entrar?

–Ai, o que você quer ornitorrinco? Eu e o Aldo estamos... – Ele para de olhar o computador e olha para cima – Oh. My. God. Mas o que... Você está fantástica! Di-vine!

Ela sorriu. Era a aprovação de que precisava.

–Obrigada, Seu Luigi.

–Você está muito bem, Letícia! - Aldo também elogiou.

–Aldo, será que podemos conversar na sua sala? – Luigi abriu a boca para protestar, mas Lety o cortou – É muito importante.

Aldo sorriu, envaidecido.

–É claro que sim. Vamos lá. – Abriu a porta – As damas primeiro.

Uma vez na sala de Aldo, Lety decidiu ser direta:

–Aldo, por que comprou a dívida da empresa sem me consultar?

–Eu queria te livrar do compromisso com os Mendiola, para você ser feliz... comigo. Agora você não precisa mais ser a presidente, vamos para o litoral! - Ele disse também sem rodeios.

Ela estava em choque. O que estava ouvindo era mesmo real?

–Aldo... Está me dizendo que pensou que se comprasse a dívida... EU viria inclusa no pacote?

–Não entenda assim! Sei que parece egoísta, mas fiz pensando em você! Vendi tudo o que tinha, para você vir comigo! – Disse se aproximando de Letícia.

–Mas... Eu te disse que se não resolvesse essa situação não conseguiria viver comigo mesma! Não posso ser feliz assim!

–Pode sim! Pense, você vai se afastar de toda essa gente que fez mal a você, que te usou – tocou seu rosto – não adorou o mar? Posso dá-lo a você todos os dias – agora as bocas estavam a milímetros de distância e Lety começou a se sentir enjoada.

–Não entende? Com você falando tudo isso – lágrimas de vergonha ameaçaram brotar de seus olhos – eu também me sinto usada! Não, não faça essa cara! Como pode me pedir para desistir de tudo, deixar de honrar meus compromissos, desrespeitar a mim mesma! – Empurrou-o gentilmente, mas com firmeza - Eu mudei muito com você. Mas agora eu mudei tanto que não podemos ficar juntos, porque eu não vou mais aceitar ser tratada como objeto. Eu permiti isso até agora, mas não mais – lágrimas quentes corriam livremente por sua face corada - Você não pode me comprar, e nem conquistar o meu amor, porque Aldo, amar é uma escolha, e eu escolhi o Fernando!

Ele ficou paralisado por um momento. Sua cabeça dava mil voltas.

–Então, você... você esteve brincando comigo este tempo todo?!

–Nunca faria isso Aldo, mas eu confundi gratidão com amor. E você também: é grato por que te ajudei a falar com seu pai, e por que estive ao seu lado quando leu aquela carta. Mas você não me ama. E eu também nunca te amei.

Aldo começou a lacrimejar.

–Então... O que foi aquele beijo? E a nossa noite no chalé?

–Eu sinto muito Aldo, mas te beijei por um impulso. Eu estava confusa e... – pensei em outra pessoa... queria dizer, mas não tinha coragem – Nós dois cometemos erros. Eu gosto tanto de você, mas como irmão e amigo, não como amante.

–É claro! Que tolo eu sou.

–Me perdoa, Aldo.... Não quis te machucar. – Deu meia volta e saiu da sala.

No banheiro feminino, Lety enxugou as lágrimas e refez a maquiagem. Respirou fundo. A conversa com Aldo não havia sido nada fácil. Agora, teria de falar com Fernando. E se ele não a aceitasse mais? Balançou a cabeça. Não! Eles se amavam. Havia sido tudo um mal-entendido. É claro que iriam se casar.

Com este pensamento, bateu na porta da sala de Fernando.

–Seu Fernando, posso entrar? – Abriu a porta lentamente – Eu vim por que... – olhou para o chão – Eu queria perguntar.... Não, pedir... – Enrolava-se com as palavras, sem saber por onde começar e nem notou que Fernando quase caiu da cadeira quando lhe viu, e agora estava se aproximando.

–Lety, Lety, Lety! – Disse animadamente, assustando-a – Como você está linda minha Lety!

Ela não teve outra opção a não ser rir.

–Digamos que aconteceu uma coisa muito gozada comigo de ontem para hoje. Hihihihi!

–Eu estou vendo! Você está ma-ra-vi-lho-sa! Não conteve o impulso de morder seu ombro.

–Ai! Hihihihihi. Mas não era só disso que eu estava falando. Eu mudei por dentro, também.

O sorriso dele murchou.

–É, eu sei que você mudou muito... – Para sua surpresa, ela segurou suas mãos.

–Seu Fernando... Esqueça aquela Letícia vingativa. E também aquela grosseira. Eu só agia assim por que tinha esquecido quem eu realmente era. Mas agora já me reencontrei. – Olhou dentro de seus olhos – Eu sou Letícia Padilla Solís, uma mulher que tem autoestima, que se valoriza e sabe valorizar quem ama. E eu amo Fernando Mendiola.

E eles se beijaram ternamente.

–Minha Lety... – Encostou a sua testa na dela – Eu te dei tempo para escolher...

–Seu Fernando, eu não preciso de mais tempo. Eu preciso que me perdoe. Fui uma estúpida com o senhor. Confundi tudo. Mas agora quero fazer as coisas certo. Por favor, por favor, me aceite de volta.

–É só Fernando – ele sorriu amplamente – é e claro que te perdoo, Lety! – Voltou a beijá-la.

–Eu te amo... Fernando.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.