Já havia quase uma semana desde que Leon e Jill trocaram de apartamento. Enquanto o casal vivia seu melhor momento, no andar de cima as coisas não poderiam estar piores.

— Foda-se o casal blindado. Fora da minha casa! – Chris exclamou irritado assim que entrou em casa e se deparou com Jill sentada no sofá tomando um chocolate quente, com um rosto cínico. – Você sabe o que é isso? – Ele retirou um papel do bolso escrito "Ursinho" em caneta hidrográfica rosa.

— Um papel? – Jill respondeu indiferente.

— Não! Isso é uma das consequências da sua infantilidade! Essa maldita folha estava colada nas costas da minha jaqueta. Eu virei chacota da faculdade! – Chris amassou o papel e jogou no chão.

— Ei idiota, o lixão aqui é no seu quarto e não na sala. Mas qual é o motivo de ficar tão bravo? Deveria ficar feliz por Lisa ter te dado um apelido tão fofo considerando o fato de que "ogro" seria mais conveniente. – Jill ignorou fitar o rapaz.

Mentalmente ria ao se lembrar do que havia feito no dia anterior.

Estava sentada na lanchonete da faculdade degustando um delicioso suco de maçã quando avistou Chris e Jessica andando de mãos dadas pelo pátio. Jessica caminhava como se estivesse em um tapete vermelho. Jill revirou os olhos para tanta futilidade e foi aí que encontrou seu próximo álibi contra o rapaz.

Ao seu lado estava uma loirinha com uma voz fanhosa e amiga muito semelhante, só que morena. As duas conversavam coisas aleatórias até a loira, chamada Lisa choramingar para a amiga.

Ainda nem acredito que o meu Ursinho está namorando a vadia da Jessica.

A musicista quase vomitou o suco ao ouvir o apelido carinhoso. Então assim que teve oportunidade seguiu até o prédio onde Chris estudava e gritou alto e em bom som:

– Ei Redfield! – Ele que conversava com alguns amigos em frente a sua sala, olhou para trás ao ver Jill passar por ele e seu grupinho. – Depois preciso falar com você, URSINHO!

Chris não sabia como se portar diante de todas as risadas que ouviu. Vendo que conseguiu seu objetivo ela retornou para seu curso radiante.

– Não me provoque Valentine! Eu estou cheio de você e dessa sua coisa ridícula no meio da sala – Ele disse chutando levemente o puff no formato de bota. – Vocês dois são dispensáveis nesse apartamento. – Chris saiu andando pesadamente, indo para a cozinha pegar uma cerveja. Precisava se acalmar ou ia acabar jogando a garota pela janela.

– Não faz assim com a minha bota! Por acaso já notou o quanto seus troféus são um depósito de poeira? Pelo menos o meu puff serve para conforto e não para causar rinite nas pessoas.

– Esses troféus são prova de esforço, dedicação e talento, mas você nunca vai saber o que é isso já que não existe troféu, medalha ou insígnia para cantorazinha de boteco. – Chris retornava para a sala quando foi surpreendido pela xícara de Jill vindo em sua direção. Ele desviou e o objeto de cerâmica se despedaçou na parede. – Mas que porra é essa?!

– Você quer discutir a relação? Ótimo! Essa foi a pior semana da minha vida! – Disse ao se levantar, olhando para ele de braços cruzados. – Você me constrangeu na frente da Ada, mexeu no meu armário, comeu o meu pote de iogurte caseiro sem a minha permissão. Você deixa suas roupas imundas espalhadas pela casa e meu Deus... A porta do banheiro! Aonde você enfiou a porra da porta?! – Jill articulava com as mãos no ar, nervosa. – Há três dias tenho chegado atrasada na faculdade porque só tomo banho quando a sua presença desprezível não está aqui!

– Você não me deu escolha. Todos os dias enrolando nesse maldito banheiro! Eu não poderia continuar mijando na sua planta todas as manhãs!

– O que?! Então foi isso que você fez?! Você que matou a minha Green? – Jill não tinha palavras para expressar toda sua raiva naquele momento. Aquele cara precisava de limites. – Ora seu...

A garota foi para cima do rapaz para esmurrá-lo até toda sua frustração passar. Chris tentava segurar ela a todo custo, mas mesmo assim ela já estava começando a arranhá-lo e ele teve que fechar os olhos para protegê-los. Ele escorregou em uma das suas roupas no chão, perdendo o equilíbrio e os dois foram ao chão.

A campainha tocou quatro vezes até eles se darem conta que havia alguém do outro lado.

— Shh... Quieta! – Exclamou Chris segurando os braços da garota. – Deve ser os vizinhos incomodados com seu histerismo.

Jill parou e o rapaz soltou suas mãos.

— Está vendo o que você me faz! – Ela exclamou retirando os cabelos do rosto ao tentar se levantar.

— Eu sei o quanto você está adorando ficar ai, mas eu preciso abrir a porta. – Chris abriu um sorriso sacana e Jill ficou vermelha quando percebeu que estava sentada sobre ele.

— P-pervertido... – Ela se levantou rapidamente envergonhada evitando fitar o rapaz.

Chris também se levantou e seguiu até a porta. Pedia aos céus que fosse Ada do outro lado da porta, assim colocaria logo um fim em toda farsa, mas ao abrir a porta viu a oportunidade que Jill precisava para acabar de vez com ele.

— Jess? – Seus olhos ficaram desesperados.

— Oi amor. – Ela deu um beijo rápido nele. – Eu estava aqui perto então resolvi passar aqui e ficar um pouco com você. – Jessica adentrou ao apartamento e logo notou a presença de Jill estática ao lado da mesa de centro – Quem é ela?

— Ah! Essa é a Jill Valentine, estuda na mesma faculdade que nós e... – Chris precisava pensar em algo o mais rápido possível – Ela é minha empregada.

Jill ficou perplexa com a mais nova mentira de Chris.

— Ah me desculpa, eu não deveria ter dito empregada. Ela é a garota que me ajuda a deixar as coisas por aqui em ordem já que meu novo colega de casa é um porcalhão. – Chris sorriu de maneira simpática tentando soar o mais natural possível, mas isso deixava Jill mais perplexa ainda.

Jessica olhou ao redor e viu o apartamento em péssimo estado. Copos, meias, livros, embalagens de doces espalhados pelo chão. Fitou Jill e se aproximou para cumprimentar a garota.

– Olá Srta. Valentine. Eu sou Jessica Sherawat, namorada do Chris. – Ela estendeu a mão para Jill e a mesma retribuiu o gesto. – Vejo que deve ser difícil colocar tudo em ordem por aqui.


Enquanto isso Chris estava atrás de Jessica fazendo sinais com as mãos para que Jill não contasse a verdade para sua namorada. A musicista abriu um sorriso que indicava que não estava disposta a ceder, então Chris se lembrou que ainda tinha uma carta na manga.

– Eu sei um segredo seu, se eu contar a Jessica todos vão saber! – Chris não emitiu som, mas a garota compreendeu o que ele disse mesmo sem saber que segredo era aquele ao qual ele se referia.

– Acabei de chegar e por isso você está vendo essa bagunça. – Ela sorriu forçadamente. – Bem, acho que preciso começar o meu trabalho.

– Ah claro! Eu não quero atrapalhar – Jessica sorriu simpática. Voltou até o namorado e o abraçou de lado.

– Jill pode limpar o chão e depois o meu quarto, por favor? – Chris se divertia com a cena.

– Claro. Com licença.

Sem muitas opções a garota começou seus serviços domésticos, não pela mentira de Chris, mas sim pelo fato de que o apartamento estava um pandemônio. Durante aquela semana ambos ignoraram seus afazeres, pois estavam acostumados a sempre encontrarem tudo pronto, feito por seus respectivos amigos. Agora tudo mudou e a realidade não a agradava nem um pouco.

Ver Chris e Jessica se agarrando no sofá a deixava enfurecida. Por que Redfield sempre levava a melhor em tudo? E Jessica, como não consegue enxergar o canalha que ele é? Porém durante seu momento de dúvidas se lembrou que ainda havia uma esperança. Pegou seu rodo, balde e seguiu para o quarto de Chris, local onde ainda não havia entrado.

– Meu amor preciso ir. Marquei as 14:00 no cabeleireiro e não posso me atrasar. – Jessica acariciava os cabelos do namorado.

– Ah Jessica seu cabelo está ótimo. Me trocar por um bando de mulheres fofoqueira não é justo.

– Own meu gatinho... Que tal hoje a noite, eu e você, champanhe, morangos, chantilly... – Jessica sussurrou com voz manhosa enquanto descia sua mão até o abdômen definido de Chris.

– Fechado – Ela agarrou a garota e a beijou com intensidade. Chris poderia odiar as "frescuras" de Jessica, mas jamais dispensaria uma noite quente com ela.

Após levar a garota até a porta Redfield correu para o quarto. Jill estava lá e com certeza estaria remexendo suas coisas a procura de algo para usar contra ele.

– Valentine acabou a diversão, seja lá o que estiver fazendo pode pa-

Jill estava sentada na beirada da cama segurando um papel desamassado e com o rosto chateado e molhado. Chris não sabia o que dizer, pois não esperava pelos últimos acontecimentos.

– Jill eu... – O rapaz tentou argumentar algo, mas ela passou por ela rapidamente evitando um diálogo. Ele a seguiu, mas ela entrou em seu quarto e bateu a porta – Droga Jill! Era só uma carta infantil... Esse poeta apaixonado te conquistou mesmo hein?!

Chris não obteve resposta então retornou ao seu quarto e se jogou na cama. Estava confuso, pois não queria pedir desculpas. Aquela pirralha o irritou a semana inteira. Mas vê-la chorando de algum modo fez sua consciência pesar e isso era verdadeiro infortúnio.

– – –

Leon estava esperando do lado de fora da galeria, com seus materiais de trabalho nas mãos. Sua mente estava flutuando, ele estava pensativo demais por dias. O aniversário de Ada estava chegando e ela já tinha alertado ao namorado que não queria nenhum tipo de comemoração. Mas ele estava feliz, afinal era a data de nascimento de alguém que ele amava de todo o coração. Ele não poderia deixar ser mais um dia normal na vida de quem era muito especial.

Quando ela saiu do prédio, ao se deparar com ele, abriu um largo sorriso enquanto ele a esperava vir em sua direção descendo delicadamente as escadas. Ela o abraçou e então seguiram andando enquanto a noite já estava chegando.

— Então… o que vamos fazer amanhã? – Ele propôs, notando se ela já tinha mudado de idéia.

— Amanhã é sábado então… vamos ao cinema? – Ela propõe direta.

— Não, Ada… eu sei que você não gosta da idéia de festa, comemoração, mas... Por que não deixar amanhã ser especial para a gente? Tem algum lugar em especial que você quer ir? Alguma coisa legal e diferente que você quer fazer?

— Ah, meu amor. Não se preocupe com isso. Se amanhã eu estiver com você, meu aniversário será maravilhoso... Não importa se aqui ou no fim do mundo. – Terminou a conversa com um beijo.

Mas Leon não conseguia pensar em outra coisa a não ser surpreendê-la. Nisso, ele precisaria de uma ajuda especial.

Assim que eles chegaram em casa, Ada disse que o dia tinha sido inspirador então foi para o “quarto das artes” enquanto ele preparava uma janta rápida. Logo, se juntou a ela no quarto, sentado sobre o sofá enquanto ela ainda fazia plano de fundo em arte impressionista.

— Isso, ai paradinho, com esse prato em mãos e sem camisa mesmo... Acho que vou desenhar você hoje. – Ela disse com um sorriso maroto.

— Pode me desenhar o quanto quiser, mas não vai querer perder essa deliciosa sopa com meus ingredientes especiais... Vem logo antes que esfrie.

Ela limpou rapidamente as mãos e se sentou próximo a ele, tomando uma colher.

— Meu bem… onde você sempre sonhou em ir ou o que você sempre sonhou em fazer? – Leon tentou mais uma vez.

— Ora isso você já sabe, pretendo ir para Nova York tentar minha vaga por lá. Mais isso não é um sonho para agora. Porque até lá, você vai trabalhar no tribunal de NY também, então iremos juntos, certo?

Leon sentiu que estava forçando muito a barra então deixou para trás a idéia. Ela já estava relutante demais e poderia se irritar no meio de uma inspiração.

— Então, quanto tempo você acha que vai durar esse quadro?

— Três horas… eu acho. Por quê?

— Se importaria se eu fosse lá conversar um pouco com o Chris?

— De jeito nenhum… só não chega tão tarde porque o resto da minha inspiração vai ser com você. – Disse com um beijo e levantou-se para voltar para o quadro enquanto ele levava o prato embora.

— - -

Leon tinha ido ao apartamento acima, sem nenhum sinal dos amigos. Não sabia onde Chris estaria numa sexta à noite, mas sabia onde encontrar Jill. Qualquer um dos amigos já poderia ajudá-lo.

Sendo assim, foi até o Chiaroscuro, encontrando Jill sobre o teclado enquanto cantava. Sentou-se ali próximo, tomando uma bebida e logo foi notado.

Quando Jill olhou para ele, já imaginou exatamente o que ele estava fazendo ali sentado, sozinho.

— Então galera, eu sei que vocês estão curtindo bastante, mas vamos dar uma pequena pausa de cinco minutinhos e o próximo pedido vai ser o do Sr. Dunham, com a música do meu cantor preferido: Eric Clapton.

Deixou o palco ovacionada, com uma garrafa de água em mãos e se sentou na mesma mesa do amigo.

— Leon, como vai? Veio acompanhar meu pequeno show?

— O show é privilégio. Mas, eu precisava falar com você sobre um assunto delicado.

— Tem cinco minutinhos... Mas deixa eu adivinhar: o aniversário da Ada, certo?

— É… não sabia que ela realmente não curtia esse lance de comemorar.

— A conheço o suficiente para saber que nem eu posso tocar uma musica de presente. Ela não curte mesmo. Acho que vai ter que se adequar a isso, cunhado.

— Eu entendo e sei perfeitamente o que é. Sempre esse passado dela estragando tudo. Mas, eu queria quebrar isso dela.

— Você é a única pessoa que pode fazer isso.

— Sabe de um sonho dela… de poder visitar algum lugar ou fazer alguma coisa que ela goste muito para fazermos amanhã?

— Bem, que eu saiba se Ada tem um sonho… é a galeria de Nova York.

— Andei dando uma olhada e parece que eles estão parados nesse inverno... Por causa das festas de fim de ano.

— Então… Me deixa pensar. Ah! Tem um lugar legal que sempre planejamos em ir ao colegial mas nunca deu certo; Nunca tivemos dinheiro o suficiente para ir.

— Onde é isso? – Leon parecia desesperado.

— Las Vegas. Mas… ele é um pouco fora do orçamento então...

— Eu conheço um amigo que pode me ajudar com o dinheiro… – disse um pouco confuso – então, ela gosta mesmo de Vegas?

— Aham… por quê? Você está pensando em levar ela lá? – Jill perguntou esperançosa e boquiaberta.

— Mas é claro. Em qualquer lugar do mundo, em outro país… onde ela quiser. Amanhã tem que ser um dia especial para ela e eu não posso falhar.

— Mas é muito caro Leon.

— Meu cartão de credito aguenta. Eu tenho um dinheiro para emergências guardado e seria legal se você fosse também.

— Eu o que? Não… não mesmo.

— Mas é claro que você vai. Já tive que tirar você da sua casa, o mínimo que eu posso fazer para compensar e saber que você vai estar com ela no aniversário dela.

— Ai meu Deus, Leon! Era o nosso sonho de colegial! Vou pedir para o Parker me cobrir amanhã. – Ela diz animada. – Mesmo assim, lá as coisas são bem caras... Não quer nenhuma ajuda? Tenho um pequeno dinheiro das noites que canto aqui.

— Não se preocupe. Sobre o dinheiro, tenho um amigo que vai me ajudar muito nisso... Já que ele também tem um dinheiro guardado para emergências e vai ficar super animado em ir para Vegas.

— O Chris? – Jill pergunta para o Leon, internamente desanimada.

— Ele mesmo. Vamos nós quatro. Vai ser muito bom!

Jill pensou em reclamar sobre ter que ir com o Chris e saber que ele também arcaria com as despesas mas antes que ela falasse qualquer coisa, Moira passou próximo a mesa.

— Os clientes estão te esperando Valentine. E eu to pagando por hora. Será que dá pra honrar seu compromisso? – Jill ignorou Moira, deixando a mesa animada. – Desculpe o incômodo, senhor.

— Não tem problema. É um prazer ver ela tocando. Só um pequeno conselho, moça. Aquela garota no palco tem muito talento e se outro restaurante encontrar ela, irão pagar o dobro pelo seu talento. Aliás, toma aqui o dinheiro da bebida. Tenha uma boa noite, Srta. Burton. – Leon disse terminando de ler o nome dela no crachá e deixando o local em seguida.

Moira observou o loiro ir embora pensativa e quando olhou para os clientes, notou que assim que Jill tinha subido novamente ao palco todos aplaudiram de imediato.

Jill mal imaginava que ganharia o dobro aquela noite.

— - -

Chris dormia ao lado de sua namorada, que estava grudando com tantos doces que brincaram há horas atrás, quando ouviu seu celular vibrar debaixo do travesseiro. Sem acordá-la, acendeu a tela e notou uma mensagem do Leon.

Amigão, se não estiver atrapalhando, eu queria conversar algo urgente com você. Me ligue assim que puder, não importa o horário. Abç.

Chris desgrudou o braço de debaixo da cabeça da namorada quando caminhou para fora do apartamento, na sacada, sem que ela acordasse, tomando o cigarro e o isqueiro em mãos. Estava morrendo de frio por estar ali fora seminu, mas retornou a ligação. Enquanto o telefone chamava, ainda pensava se Jill tinha aberto a boca e tinha dedurado ele pela bola fora daquela tarde.

— Leon? O que houve?

— Você está com a Jessica não é?

— Sim… não agora, ela está dormindo. Fala logo cara, eu to com frio e pelado aqui fora. – Acendeu o cigarro.

— Corte os detalhes. Olha, quanto você consegue até amanhã de manhã com sua família? Eu estou precisando de uma ajuda financeira para uma viagem e acho que você vai querer ir junto.

— Pra onde você vai?

— Vou levar Ada para Las Vegas pela tarde. É aniversário dela e ela não gosta de aniversários. Descobri que ela gosta de Las Vegas, e é pra lá que eu estou indo.

— Mas por que não me disse antes? Eu vou junto e pago tudo para vocês... Escondido claro.

— Não tudo… acho que conseguiria ir com a Ada tranquilo. Mas tem a Jill. Eu queria muito que ela fosse, mas ela não tem dinheiro suficiente. Além disso, queria muito ir despreocupado financeiramente e você é a única pessoa que pode me ajudar nisso.

— Perfeito, vai ser muito bom pra vocês. Eu nunca negaria Vegas, faz um bom tempo que eu não vou lá. Além disso, vai ser legal ter a Jill como companhia, já que agora ela é a minha companhia diária. Não estranharia nunca isso. – Disse com desgosto.

— Ótimo. Vou comprar as passagens online e ver hotéis antes que a Ada acorde quando perceber que eu não fui deitar ainda.

— Até amanhã, amigão.

A notícia da viagem deixou seu sangue fervendo que nem sentia mais frio estando fora do apartamento. Pensava se essa viagem seria uma forma de se retratar com Jill, já que ela o evitou desde que descobriu sobre a carta. Afinal, ela continha varias de suas cartas na manga.

Voltou para o apartamento e pensou se já poderia ir embora. Afinal, já tinha feito tudo o que tinha que ser feito ali e Jessica nem notaria se ele se mandasse. Além disso, ele não queria explicar a ela sobre Vegas pela manhã. Logo, colocou sua roupa e foi embora.

Diria a ela no dia seguinte que trabalharia o dia inteiro e que descansaria a noite.

Tinha que mandar um texto para a irmã reclamando de dinheiro urgente. De muito dinheiro já que estava em “problemas”.

— - -

Ada já estava acordada há certo tempo, mas se recusava a levantar. Todos os anos eram a mesma coisa, lembrava-se de sua irmã e o quanto sentia falta dela. Seus pais pediam aos seus ancestrais para cuidarem do espírito de Carla, pois depois de um ano de seu desaparecimento, o Sr. e a Sra. Wong já não tinham esperanças que sua filha estivesse viva. Porém de certo modo estavam desejando feliz aniversário a ela, enquanto mal olhavam para Ada.

Mesmo após todos esses anos a mágoa ainda estava presente no coração da bela artista e ela jamais achou que a dor deste dia poderia ser amenizada.

A morena notou que Leon levantou muito cedo e não retornou a cama. Pensou na hipótese do rapaz estar magoado com ela, pois era seu primeiro aniversário junto a ele e ela se recusava a comemorar. Consumida pela dúvida Ada se sentou no futon bocejando. Então viu vários dados e fichas de poker pelo chão formando uma trilha. Ela levantou confusa e começou a caminhar para onde o caminho indicava.

Na sala uma grande surpresa; No chão um coração bem grande feito por cartas de baralho e dentro dele a frase em dados "Bem vinda a Las Vegas". A morena estava boquiaberta e Leon apareceu atrás dela.

– E então?

– Leon o que significa tudo isso? – Ada fitou o namorado, curiosa.

– Esse é o nosso próximo destino. Sem direito a recusar e não, não estamos comemorando seu aniversário. Digamos que essa é a nossa primeira lua de mel – Ele sorriu ao ver a expressão assustada de Ada se tornar serena.

– Leon... – Ela o abraçou carinhosamente – Eu te amo... – Ada beijou o namorado calorosamente. Estava tão agradecida por ele está em sua vida – Eu agradeço o que está fazendo, mas... Mas não podemos ir.

– Qual é o problema?

– Las Vegas sempre fez parte dos meus sonhos, no colegial Jill e eu passávamos horas sonhando com uma viagem assim... – Ada se afastou calmamente de Leon e abraçou a si mesma – É por isso que não posso ir sem ela. Se você quiser podemos viajar para algum lugar mais perto e acessível, o que me diz?

Leon coçou a cabeça como se estivesse decepcionado com a decisão de sua amada.

– Tudo bem, se prefere assim... Só não sei como dizer a Chris e Jill para desfazerem as malas.

– Como?! Eles também iam? Espera! De onde vocês tiraram dinheiro para uma viagem como essa? – Os olhos de Ada pareciam mais vivos. Não adiantava negar, esse era o melhor presente de aniversário que poderia ganhar.

– Acreditaria se eu dissesse que achei um bilhete premiado? – Ele sorriu quando ela semicerrou os olhos. – Não se preocupe Ada, te ver feliz não tem preço.

Ada pulou nos braços de seu amado cobrindo-o de beijos. Claro que ainda queria entender sobre o dinheiro, mas por hora tudo que precisava era iniciar sua lua de mel ali mesmo.

— - -

Jill acordou animada aquela manhã. Mal saiu do quarto, quando foi direto para o guarda-roupa. Tinha que pegar as melhores roupas, os melhores acessórios. Enquanto arrumava suas coisas, ouviu um barulho de ferramenta. Eram batidas de martelo ou algo assim? Afinal, o que Chris estaria aprontando cedo?

Quando abriu a porta e caminhou pelo corredor, encontrou Chris finalizando a colocar a porta do banheiro no lugar, apertando os últimos parafusos.

— Se acha que é assim que vai se reconciliar comigo, você ainda está longe disso.

Ele se virou para trás e jogou um sorriso atraente, por trás do rosto suado.

— Era só uma carta Jill… Se quiser eu faço outra pra você. Tudo menos ver você chorar hoje, minha neném chorona. – Ele disse como se estivesse falando com uma criança, tentando apertar a bochecha dela quando ela rapidamente se desviou.

— Idiota… vou preparar alguma coisa para o café.

Ela estava procurando alguma coisa no armário quando notou que eles não tinham mais nada. Não tinham feito compras e a cozinha ainda estava muito desorganizada.

— Não tem nada pra comer aqui Chris!

Isso a desanimou muito e quando ela suspirou sobre a pia Chris apareceu na porta da cozinha.

— Tem eu. – Ele disse sorridente, mas ela evitou entrar na piada, ainda o encarando presunçosamente. – Tá bom... Vai querer café ou alguma coisa? Estou indo lá no banco e na volta eu trago alguma coisa para você?

– Eu seria hipócrita se dissesse que não preciso. Mas e ai... O que vai querer em troca da bondade?

— Ser absolvido.

— Contando que não cuspa no meu prato, tudo bem.

Ele soltou um sorriso forçado e saiu do apartamento. Ela, ao menos tinha que limpar aquela bagunça na cozinha antes de viajar. Depois da limpeza seguiu para o quarto para continuar arrumando suas coisas.

Quando ouviu um movimento de fora do quarto, sua barriga já estava roncando pela terceira vez. Chris tinha demorado bastante. Logo foi de encontro com ele na cozinha quando foi surpreendida com o pequeno banquete sobre a mesa.

— Pra que tudo isso de comida? – Disse ao notar que tinha até um pequeno bolo confeitado.

— Senta logo e come antes que eu me arrependa.

Ela se juntou a ele e logo ele foi ao ponto.

— Você já foi á Vegas? – Ele perguntou.

— Não, mas sempre fiz planos para ir. Junto com a Ada, no caso. Mas fico pensando... Onde Leon arrumaria tanto dinheiro para ir para um lugar como Vegas da noite para o dia? E faço a mesma pergunta para você, que é um grande caloteiro.

Chris sorriu entre dentes e pensou em algo, uma mentirinha básica.

— Eu e o Leon temos uma conta conjunta. É chamada a conta de emergência. E para ele o aniversário da Ada é uma emergência e pra mim vai ser um prazer estar em Vegas.

— Como funciona essa conta maluca?

— Bem… é tipo assim… imagina que somos filhos de pais com muita grana, mas muita grana mesmo. Ai se ocorre alguma emergência, nós ativamos nossos pais e depois vamos pagando aos poucos o que a gente retirou. Tem uma conta maluca assim no banco da esquina. Mas ela já saiu de circulação. Quem teve a chance aproveitou bastante.

— Ah, se eu soubesse disso eu também abriria uma dessa. – Ela disse ligeiramente frustrada enquanto Chris escondia o riso por debaixo da mão. – Mas e ai, a Jessica sabe que vamos viajar?

— Sabe o que é… eu me esqueci de falar para ela sobre esse detalhe. Mas amanhã estaremos de volta então... Ela nem vai sentir minha falta. Além disso, ela vai querer ir junto e eu jamais levaria minha namorada para Vegas sabendo que lá tem mulheres gost... Muitas mulheres. Ela ficaria com ciúmes e não iria dar certo.

Jill esperou ele terminar aquele argumento asqueroso com um rosto nada satisfeito.

— Como você consegue ser assim, cara? – Ela perguntou surpresa.

— Assim como? Sincero? – Ele disse em cinismo.

— Você é muito cínico... E ainda está me devendo muito pelo papel de empregada. Afinal, que segredo era aquele?

— Um dia eu conto. Tenho que ter um argumento contra você. Hoje comemos na mesma mesa... Amanhã pode não ser assim e eu não posso perder a chance de ter você na minha mão. – Sorriu ganancioso.

— Acho que aquilo foi um blefe mas por mim, tudo bem. Você deve se lembrar que a cada dia que passa, eu coleto mais uma bola fora sua. – Disse confiante ao deixar a mesa. – Espero que já tenha arrumado suas coisas.

— Já está tudo pronto. É LAS VEGAS, baby!