Já era noite quando Jill ouviu o barulho na maçaneta da porta principal. Ela estava largada no sofá assistindo a um especial de Clapton na TV a cabo. Ada entrou e assim que fechou a porta atrás de si, se sentou no chão com os olhos encharcados. Aquela cena chocou sua amiga que sempre viu Ada como um coração blindado, livre de qualquer sentimento de dor e tristeza.

– Ada... – Ela se levantou e foi ao encontro de sua amiga. Se abaixou pousando uma de suas mãos sobre a cabeça da outra – O que houve? Eu nunca te vi assim...

– Leon está preso... – Disse a chinesa com voz embargada. Os olhos de Jill quase saltaram com a informação. Leon era o cara mais culto que já conhecera, porque ele seria preso afinal? – Não só ele... Chris também.

– Aah! Tá explicado. No que aquele imbecil enfiou o Leon? – No momento em que a musicista deixou transparecer sua raiva, Ada mostrou-se surpresa e confusa com a atitude "exagerada" da amiga.

– Imbecil? Do que você está falando? A culpa foi do Leon. – Respondeu Ada. Jill por sua vez ficou sem jeito ao perceber que havia se equivocado.

— Ah... Mas me conta essa história direito, vem cá. – Jill ajudou a amiga se levantar e foi buscar um calmante.

A artista contou então todo o ocorrido para ela, e o quanto estava magoada com aquilo.

– Está me dizendo que os deixou na delegacia por causa do John?! – Pronunciou irritada. – Ada o que houve com você? Leon é seu namorado e Chris seu amigo... E o que John é? Nada além do cara que te abandonou... – Jill repreendeu-a passando as mãos sobre o rosto. Não sabia o que fazer.

Ada olhou para a amiga, ponderando se continuava a falar ou não. No fim, precisava confessar algo.

– Ele me beijou... – Começou Ada – Quando o delegado o liberou, nós saímos de lá para um café ali próximo... E ele parecia tão diferente agora. Conversamos algumas coisas aleatórias e no fim ele me beijou... – Ada limpava as lágrimas em seu rosto com as mangas da blusa. – Mas quando eu correspondi e ele sorriu como se tivesse feito um bom trabalho. Eu não tenho mais dúvidas Jill...

Valentine suspirou fitando a amiga e percebendo o quanto ela se arrependeu em ajudar John. O homem era mesmo um canalha e seu único objetivo era destruir o relacionamento de Ada para elevar seu próprio ego. Algumas vezes, a jovem chegou a pensar ainda ter sentimentos pelo homem, mas ao corresponder ao beijo toda sua dúvida dissipou. E tudo que queria agora era que Leon a perdoasse.

Jill sorriu para Ada se sentindo aliviada. Finalmente o fantasma de John desaparecia de suas vidas.

– Tenta descansar, está bem? Eu vou dar um jeito nisso.

A garota pegou sua bolsa que estava em sua grande “bota” e seguiu para a porta sem nenhuma palavra a mais.

– – –

Chris observava o banco de cimento na cela onde estava a alguma horas.

– Dizem que faz bem para a coluna. – Leon comentou com um sorriso irônico, mas logo o mesmo se dissipou. – Ainda não acredito que não vai pedir ajuda a Jessica.

Chris mudou sua atenção para o loiro a sua frente.

– O que você acha? Dizer a Jessica que vim parar na delegacia por causa de mulher? Sem chance. Ela nunca iria entender.

Leon entendeu exatamente a postura do amigo. Afinal, no fundo não era tão culpa dele assim.

— Não tenho idéia do que fazer por nós. Temos direito apenas para uma ligação e não temos pra quem recorrer.

— E os seus amigos engomadinhos? Poderia ligar para algum amigo da faculdade e resolver isso. – Retrucou Chris.

– Não posso, seria muita vergonha. O único amigo para quem eu ligaria está aqui me fazendo companhia. – Leon respondeu sem fitar o mais novo.

A estádia naquele lugar estava lentamente consumindo a dupla. A aquela altura várias coisas se passaram na mente de Leon, mas aqui mais reluzia era seu desejo de pedir perdão a sua amada e sua preocupação com a mesma.

Depois de quinze minutos de silêncio entre os dois, um guarda se aproximou.

– Redfield, Kennedy, vocês estão livres. Acompanhem-me! – Ordenou o homem.

Quando chegaram a sala do delegado se deparam com Jill a suas espera, escorada em uma maquina de refrigerante do lado de fora, com o rosto muito preocupado. Leon ficou sério e envergonhado, já o moreno abriu um largo sorriso por traz de Leon. Após todos os procedimentos finalmente podiam ir para casa.

Quando se aproximaram da morena, Leon tentou se explicar, mas ela o cortou delicadamente, dizendo que entendia tudo.

– Obrigada Jill. Lamento lhe causar esse transtorno, mas prometo que amanhã mesmo Chris e eu pagaremos o dinheiro que foi gasto na fiança para você. – Leon abraçou a jovem foi retribuído pelo mesmo gesto.

– Não se preocupe Leon, tem o tempo que precisar, o importante é que está livre. – Ela sorriu gentilmente. Quando olhou para Chris, ele desviou o olhar e ela entendeu que ele não queria comentar sobre nada.

Pegaram um táxi para casa e durante todo o tempo Chris permaneceu calado. Nem se quer agradeceu a garota por sua boa ação. Ao contrário de Jill, Leon não estranhava a atitude do amigo, certamente já o conhecia bem para saber que aquele silêncio significava duas coisas: Seu orgulho ferido por ter sido "salvo" por uma garota ou que queria falar a sós com ela.

Assim que chegaram ao prédio e subiram até o andar da garota.

— Como ela está, Jill?

— Ela está bem, não se preocupe. Se conheço muito bem ela, sei que ela vai fazer a coisa certa. É melhor você descansar e então vocês podem conversar uma hora mais conveniente.

Leon agradeceu novamente a ela pela ajuda e se despediu. Estava muito cansado mentalmente, precisava tomar um banho e dormir.

Jill colocou a chave na porta, mas notou que Chris ainda estava ali, então o olhou com uma expressão clara de "não vai subir?". Ele riu mentalmente até mesmo achando os traços de Jill "bonitinhos".

– Então novamente estou te devendo, certo?

– É o que parece... Espero não ter que ir a sua sala novamente. – Ameaçou discretamente.

– Bem, se isso acontecer, não sairia tanto no prejuízo assim... Esses dias eu estava pensando em voltar àquele restaurante pra me divertir também. – Assim que respondeu os dois riram. – Obrigado por hoje... Se não fosse por você, acordaria naquele cimento e sem sentir minhas costas.

– Tudo bem, eu sei que nós nunca seremos “amigos”. – Ela intensificou o que queria dizer com as aspas em mãos. – Mas eu jamais deixaria vocês lá. Até mesmo porque eu odeio o John e sinceramente lamento muito por não está lá na hora da briga pra ajudar vocês. – Jill sorriu animada.

– Você precisava ter visto a expressão do cara quando me viu no meio da briga. – Chris contava em gargalhadas.

– Até imagino a cara de idiota dele sendo esmurrada por um estranho... – Jill riu –... Se houver uma próxima, não se esqueça de me chamar.

— Então, você realmente gosta de uma briga? Sempre soube que era assim.

— Nem tanto... Mas cinco anos de defesa pessoal na escola podem fazer um estrago... Até mesmo em grandalhões como você.

Chris até queria responder ela, mas tinha achado muito engraçada a maneira de que ela não gostava nem um pouco de parecer frágil. Por um momento até achou ela atraente.

Depois de muitas risadas e todo clima harmônico em volta de Jill e Chris, um silêncio momentâneo se instalou. Os dois se fitaram com um sorriso bobo e a garota podia jurar que suas maçãs do rosto estavam rubras.

— Bem, preciso subir... Prometo que assim que puder, eu acerto as contas com você. – Chris estava sério e isso impressionou a jovem. O rapaz era o pai da mentira, mas naquele momento por algum motivo que nem ela mesma sabia explicar, ela acreditava nele.

– Não se preocupe Redfield, o importante é que acabou tudo bem... ou quase já que não sabemos qual será o futuro da relação dos nossos amigos. – Jill expressou um meio sorriso.

— Não acho que Ada dará esse romance de Shakespeare por encerrado. E também não vejo problemas em continuarmos nos falando caso o pior venha a acontecer.

— Esse é um convite para uma amizade verdadeira? – Jill sorriu discretamente

— Ah, sei lá... Deixa eu subir logo... Deve ser sono.

— Boa noite, Chrisloteiro. – Ela o chamou carinhosamente e estendeu sua mão para o rapaz afim de selar o fim do diálogo.

— Não me lembro de ter dado esse tipo de confiança. – Ele implica imitando a voz dela, em uma frase que ela sempre costumava a retrucar e ela sorriu. Ele observou as mãos claras e finas de Jill e assim que segurou sua mão, puxou a garota selando seus lábios sem qualquer pré aviso. Jill o empurrou com a mão solta, fazendo os dois se afastarem imediatamente.

— Você é louco ou o que?

— Boa noite Valentine – O rapaz sorriu e piscou um olho.

Chris deu de ombros caminhando para trás e antes que ela começasse as histerias, ele subiu as escadas, evitando uma nova discussão porque ele tinha certeza que aconteceria caso ficasse.

Aquele momento de trégua entre eles estava incomodando o rapaz que talvez já estivesse acostumado com as desavenças entre eles. Não teria pensando em algo melhor para "equilibrar" as coisas novamente.

— - -

Depois de três dias, Leon já estava desesperado em busca da Ada, que começou a evitar ele sutilmente. Mal sabia que ela estava muito envergonhada de trocar ele por John. Não tinha ido trabalhar por dois dias, alegando muito estresse e desanimo emocional, até mesmo conseguindo atestado de uma semana por causa da sua pressão que era bem alta.

Ela sabia muito bem que Leon estava do lado de fora do apartamento quando a campainha tocava, mas ficava ali dentro, escondida pra não ter que atendê-lo. Como poderia fugir se ele morava logo acima dela? Ela decidiu que teria que encarar os fatos e ir trabalhar, mesmo muito machucada. E o trabalho seria uma forma de distrair sua mente. Tendo apenas um dia de falta, ela apareceu e seus colegas informaram logo que o diretor da galeria tinha pressa em falar com ela.

Mas indo em direção ao segundo andar pelas escadas, se deparou com ninguém menos que Leon vindo na direção contrária. E ele também se assustou ao vê-la, mas por puro impulso ele a abraçou, sem ser correspondido. O rapaz se afastou para encará-la, ainda envolvendo-a.

— Ada! Eu preciso muito conversar com você. Por que não me atendeu? Como você está?

— É... Bem melhor, eu acho. E o que você está fazendo aqui?

— Me desculpa, de verdade. Eu preciso muito te explicar muitas coisas e você não pode ficar fugindo de mim desse jeito. Você tem cinco minutos?

— Não agora, meu chefe está me esperando na sala dele.

— Quando então?

— Faz o seguinte, me espera na lanchonete lá na frente, eu te encontro lá assim que eu sair daqui, tá?

Ele assentiu e voltou a descer as escadas sem nem mais uma palavra. Ela olhou ele descendo e se sentiu muito mal por esses dois últimos dias. Mas se sentiu pior quando soube exatamente o que Leon foi fazer ali dentro, quando seu chefe explicou que ele tinha ido pedir desculpas pelo incidente e alegando defesa total a sua namorada. Ela acabou não recebendo nenhuma advertência por isso.

Ada tinha ficado ausente por dois dias seguidos, mas ao vê-lo e até mesmo notar os ferimentos em seu rosto ainda cicatrizando, fez com que seu coração desfalecesse ao entrar na lanchonete. Quando ela se sentou de frente a ele, ele começou pedindo desculpas mais uma vez e quando ele foi explicando o que John tinha feito, ou mesmo falado dela, ela finalmente pode entender o porquê de Leon sair rolando pelas escadas com o suposto cretino.

Mas abaixou a cabeça pela culpa que sentia de ter deixado Leon na cela em troca de John. E ainda mais pelo fato do beijo, que ela jamais contaria para ele. Ele já tinha se humilhado bastante e uma segunda chance para ele era a única coisa que ela jamais poderia negar.

Antes de voltar a trabalhar, ela pediu desculpas também e tudo já estava com metade do caminho resolvido. Marcaram de sair para passear depois do expediente, para conversarem mais e então determinar até onde aquele relacionamento iria.

— - -

E na noite daquela terça feira, Jill apareceu no trabalho com seu violão nas costas e seu teclado em suas mãos. Era aniversário do Chiaroscuro. Embora não estivesse com o clima para comemorar o aniversário do restaurante, tocar no meio da semana ainda seria uma boa. Com o restaurante lotado, pela promoção do dia, ela que já tinha se acostumado bem com a grande presença do público, gostou bastante quando subiu ao palco já com aplausos.

Dentro das suas versões acústicas, estavam algumas composições próprias e as músicas agradaram muito quem aparecia por lá. Mas ela tomou um susto quando notou alguém muito familiar ali dentro, sentado sozinho, tomando alguma bebida que ela não conseguia identificar. Semicerrou os olhos enquanto cantava e viu que ele tinha estendido uma mão para acenar para ela.

“O que ele está fazendo aqui?” Pensou.

Sendo assim, tocou mais umas duas músicas e desceu do palco com uma garrafa de água em mãos, indo em direção do sujeito.

— Chris? Não me lembro de já ter ido a sua sala ou no seu trabalho.

— Vim prestigiar você. Passei aqui mais cedo e vi uma placa de música ao vivo... Acho que você é a única cantora que eles têm.

— Ah... Entendo. Desde que não me crie problemas...

— Relaxa – Ele sorriu e ela revirou os olhos. Jill se virou para retornar ao pouco quando ele a interrompeu – Eu não te disse, Romeu e Julieta estão mais vivos do que nunca.

— Leon e Ada voltaram?– Perguntou maravilhada. Ela tinha saído de casa bem cedo para a arrumação do local de trabalho porque não poderia se atrasar aquela noite, mas até então não sabia da nova, porque não tinha visto Ada ainda.

— Isso... A Montecchio perdoou o pobre Capuleto. – Brincou Chris.

— Para com isso! – Jill sorriu – Romeu e Julieta é um romance muito dramático, Ada e Leon só estavam passando por uma fase ruim. Bem, preciso voltar ao palco, não posso ficar aqui lhe fazendo companhia.

— Não precisa se preocupar com companhia, eu estou esperando a Jessica. Ela disse que iria me encontrar aqui agora pouco. – Ele disse em um tom soberbo ao tomar um gole da bebida.

— Ah, é... esqueci que você ainda tem namorada, embora queira se divertir com selinho surpresa nas “amigas”. – Ela retrucou.

— Sério que você não se esqueceu? Confessa logo que você gostou. – Comenta em tom brincalhão.

— Eu já disse que tenho pena dessa Jessica? Eu vou voltar para o palco logo... Antes que esse assunto vire um peso na consciência. Mas antes quero deixar algo bem claro. – Jill se aproximou do rapaz – Se você ousar a encostar em mim novamente, eu transformarei sua vida num inferno. – Ela finalizou sorrindo e piscando um olho para ele. Chris sentiu certo temor passageiro naquele sorriso sádico que ela expressou, mas deu de ombros.

Jill retornou ao palco e assim que prendeu o violão a si, olhou fixamente para Chris que exibia um sorriso indiscreto.

Tocou algumas outras canções normalmente observando que Chris ainda estava sozinho a cada nova música. E isso fazia ela se questionar por que Jessica ainda não havia chegado.

Quando os clientes começaram a ir embora por causa do horário, ela pode encerrar o show tranquilamente. Enquanto guardava seus instrumentos e aparatos, Chris apareceu nas escadas do palco, apoiando uma de suas pernas em um degrau.

— Pode ficar tranqüila, tá? Já paguei a minha conta.

Jill olhou para ele e não conteve o riso. Logo se voltou para a mesa de som.

— Quer ajuda com alguma coisa?

— Não, tudo sob controle. Obrigada.

Depois de mais cinco minutos, Chris ainda estava ali parado, observando-a.

— E então... Onde está Jessica? Não vejo a hora de conhecer melhor minha mais nova amiga.– Brincou ironicamente.

— Você sabe que ela não veio. – Respondeu cético.

— Mas qual foi o motivo, garanhão? Ela finalmente percebeu o erro que cometeu ao te dizer sim? – Sorriu.

— A gente brigou. Ela acabou sabendo da história da prisão e ficou muito magoada porque eu não contei para ela. E olha que não foi ela que foi presa... – Pensou por um momento e então sorriu quando percebeu a deixa. – E como tem tanta certeza de foi eu quem a pediu em namoro?

— Não seria esse o modo correto perante a sociedade? Enfim, seja como for fico surpresa em ver que a briga de vocês surtiu efeito. Ficar boa parte da noite bebendo sozinho é no mínimo frustrante.

— Não fiquei sozinho, desfrutei de uma maravilhosa companhia, mas infelizmente ela estava no palco.

Ela sorriu sutilmente e tomou seus instrumentos. Nesse momento, Moira passou e ela se despediu da mesma ao descer do palco com o violão nas costas e com o teclado pesado nas mãos.

— Eu levo o teclado pra você. Afinal, vamos para o mesmo lugar.

— Está bem.

Sairam discretamente pela porta central e foram caminhando até a central de taxi falando sobre o que Chris sabia sobre o casal até o momento. Antes que alcançassem o taxi, Chris parou de andar paulatinamente.

— Daqui até o prédio são quantas quadras?

— Cinco, ou seis... eu acho. – Jill respondeu ao parar e encará-lo.

— Vamos andando então? Eu seguro o teclado até lá. E a gente vai papeando.

— Está bem. – Respondeu hesitando. Não que não quisesse ir, mas também não sabia se realmente queria andar com ele. Ele estava sendo uma boa companhia até então.

– – –

Caminharam alguns minutos em silêncio. Não havia muitas pessoas na rua. O vento frio de outono desencorajava as pessoas.

— Mas então me diz, você gosta de Chicago? – Chris puxou assunto.

— Sim, muito. Embora tenha que visitar Maryland o mais rápido possível. Meus pais já me pedem uma visita faz um tempo. Talvez eu vá ver eles nesse Natal. E você, é daqui mesmo?... Porque o sotaque não.

— São Francisco, Califórnia. E não tenho saudade de nada lá... A não ser de alguns amigos e Claire.

— Claire? Mais um grande amor? – Jill brincou.

— Não deixa de ser... – Chris avistou um local no qual gostava de frequentar algumas vezes na semana – Ei, que tal tomarmos algo naquele barzinho ali. Pode aliviar a dor. – Propôs apontando para o outro lado da rua.

— Sei... Mas olha, não é porque você brigou com a sua namorada que pode ficar saindo com outras garotas assim.

— O que foi, está com medo de gostar de mim, ou melhor, de ganhar um novo e irresistível selinho?

— Não... Imbecil. Quer saber, vamos logo lá.

Ao atravessarem a rua, adentraram no bar. Era bem sofisticado, mas acolhedor. Procuraram uma mesinha próximo a mesa do bartender e tomaram duas pinacoladas de entrada. Depois os outros drinks já começaram a diversificar. Colocaram os instrumentos no chão, se sentaram nas cadeiras altas, onde a mesa de superfície pequena e redonda fazia com que eles se aproximassem mais, um do outro se quisessem continuar conversando, devido ao som ambiente.

A conversa partiu de “você vem muito aqui?” até “na minha cidade (não) tem isso.” Quando perceberam, eles tinham conversado bastante sobre suas vidas antes de Chicago, onde Chris criava pequenos contos de fadas sobre a sua personalidade. Mas Jill tinha um sexto sentido que acreditava em apenas metade do que ele dizia. Depois de um tempo quando a conversa foi se finalizando, Jill avistou um conhecido, muito bem conhecido.

— Ah meu Deus, Harris. – Ela queria esconder um sorriso, mas fez exatamente o contrário.

— Você conhece o engomadinho ali? – Chris perguntou percebendo que a moça ao lado tinha ficado aérea.

— Sim... Não... Quase isso.

— Vocês já saíram juntos?

— Ainda não. Mas iremos em breve. Olha, vamos embora daqui... Não quero que ele me veja aqui com você.

— Ah, claro. Quer ser a boa moça né?

— Não exatamente, mas quero que ele veja que eu estou disponível e não com outro cara.

Chris torceu os lábios em puro prazer e tomou os instrumentos, pedindo para ela segui-lo para saírem dali. Logo, quando estavam próximo a mesa do dito cujo, virou-se para trás e fingiu procurar ela na multidão gritando o nome dela.

– Jill? Cadê você querida?!

Isso fez com que as pessoas procurassem a moça pelo estabelecimento, voltando-se a atenção total para ele. Mas Jill já tinha pensado na frente, e antes que ele fizesse a cena, ela já estava do outro lado em frente à porta central olhando séria para ele. Ele um pouco sem graça parou de gritar e saiu em direção a ela.

— Eu sabia que você iria aprontar uma com a minha cara! E nem adianta ficar sem graça.

Ele sorriu frustrado.

— Viu, é por isso que nunca poderíamos ser amigos. Você não me ajuda nem se eu pedir.

— Você perdeu a belíssima chance de fazer ciúmes pro seu pretendente. Cá pra nós, eu sou muito mais bonito que ele.

— Pode até ser, mas eu, Jillian, sempre vou achar ele mais atraente que você. Questão de gosto não se discute.

— Mas afinal, porque vocês nunca saíram? Vai esperar que ele a convide?

— Não... Eu não quero sair com ele porque eu preciso sair com ele, eu só acho ele um cara legal.

— Quantos namorados você já teve?

Jill hesitou um pouco e olhou para o rosto de Chris – Porque está me perguntando isso?

— Sei lá... mas não é muito comum fugir de alguém quando se está afim...você agiu como uma colegial. – Chris sorriu retirando do bolso um maço de cigarros e um isqueiro personalizado do Pink Floyd.

– Que ridículo. Eu já expliquei o motivo de "fugir" do Norrington. – Ela fez um pequeno bico mostrando ficar irritada com a situação.

Caminharam em silencio por uns segundos.

– Quer transar? – Chris perguntou tranquilamente enquanto acendia seu cigarro. No mesmo instante a garota parou de caminhar.

– O que?! Então esse é o motivo pelo qual está sendo simpático comigo? Quer me levar pra cama para suprir sua frustração com Jessica? Isso é... isso é -

– Ei calma Valentine. – Chris gargalhou – Foi apenas uma brincadeira. Mas deixo em aberto.

Jill ficou furiosa e envergonhada ao mesmo tempo. Apressou o passo para se livrar o mais rápido possível daquela maldita companhia. Ele correu um pouco para alcançar-la.

— Ei, não fica assim.

— Eu não entendo como existem pessoas que vêem o sexo como praticamente um negócio...

— Em que mundo você vive? Não há problemas em transar casualmente. Depois do sexo você só não precisa ligar ou esperar uma ligação da parceira... No outro dia os dois estarão satisfeitos e isso é o que importa. – Simplificou o rapaz tragando seu cigarro.

— Eu vivo no mundo em que sexo é feito por amor e não só por luxúria. E chega desse assunto, por favor.

Chris sorriu, mas permaneceu em silêncio. Fazia tanto tempo que não ouvia a palavra amor e sexo na mesma frase. Ver que Jill ainda acreditava nisso o deixava surpreso.

Finalmente chegaram ao prédio onde residiam. Os dois continuavam em silêncio. Valentine estava suando frio, como deixou que o assunto fosse parar naquele nível? Será que Chris estava achando que ela era uma garota imatura? Porque ela estava preocupada com a opinião de Chris a seu respeito?

— Desculpa, eu não imaginei que esse assunto te deixava constrangida.

— N-não estou constrangida... Só acho que não temos intimidade o suficiente para conversamos sobre certas coisas. – Jill colocou as madeixas sutilmente atrás da orelha. – Anda – Ela abriu a porta de casa e Chris entrou. Colocou o teclado sobre o sofá e se aproximou de Jill. Os dois se fitaram por uns instantes até a garota desviar o olhar – Obrigada Redfield.

O rapaz sorriu e caminhou até a porta sendo seguido pela garota.

— Até amanhã, Jill. – Despediu-se oferecendo um aperto de mão. Jill olhou com desconfiança e quando apertou a mão dele estava certa sobre a intenção dele, por isso ela se desviou um pouco e apenas o abraçou chegando próximo ao ouvido dele.

— 2 x 0 Christopher. Não caio mais nas suas artimanhas.

Ele sorriu e a soltou passando pela porta sem ao menos um tchau. Jill fechou a porta com um sorriso aliviado. Sua cota diária de Chris havia finalmente acabado.

Saindo da sala Jill foi direto ao banheiro, tomar um banho para refrescar-se, mas ao abrir a porta do banheiro, se deparou com um casal lá dentro e isso fez a moça gritar de susto e vergonha até fechar a porta e correr para o próprio quarto se trancando lá.

Logo batidas na porta a fez voltar para si depois de ficar andando para frente para trás em seu quarto.

— Jill... está tudo bem? Pode abrir a porta.

— O Leon está aí com você?

— Não, só eu mesma.

Jill abriu a porta com o rosto completamente vermelho e sem poder ao menos olhar para a amiga.

— Desculpe, eu não reparei que vocês já estariam aqui.

— Não tem problema, Jill. Isso acontece. Eu nem notei que não tínhamos trancado a porta.

— Pois é... Durante anos da minha vida eu evitei até mesmo ver os meus pais se beijando e agora minha melhor amiga e o namorado no banheiro – Jill colocou as mãos no rosto como se estivesse diante da cena.

— Calma Jill, o vidro estava embaçado. Você nem deve ter visto nada. E isso não foi nada pior do que aquela vez com o gringo que apareceu aqui lembra? – Ada perguntou rindo da atitude da amiga.

— Ah é... O porto-riquenho... Mas a culpa foi de vocês que entraram no meu quarto.

— Já disse que confundimos os quartos. Mas águas passadas... E só pra você saber, eu e o Leon já estamos bem.

— Como se eu não tivesse percebido. – Comentou cética.

— Jill!

— Me desculpa... Eu ainda estou em choque. Eu nunca mais vi o porto-riquenho na vida, mas o Leon, aff... Eu vou ter que encarar ele todos os dias. Já sei, acho que vou procurar outro lugar pra morar! Podem morar aqui... Eu juro que vou procurar. – A garota falava apressadamente fazendo os lábios de Ada se curvar em um sorriso meigo.

A morena se aproximou e beijou suavemente a testa da outra.

– Você não vai a lugar algum. Prometi a sua família que cuidaria de você... E tem mais, casos as coisas não saiam como o planejado preciso garantir meu emprego na Books and Cooks. – Ada e Jill sorriram se lembrando da lojinha dos Valentines onde Ada trabalhava até se mudar para Chicago.

— Hm... mas que cheiro é esse? Você estava com alguém, Jill? – Disse se afastando da amiga para olhar no relógio e vir que eram quase uma da manhã. – Afinal você acabou de chegar não é?

— É, mas é porque eu fiquei ajudando o pessoal da cozinha. – Mentiu sem graça.

— E esse cheiro é de colônia masculina... É bem familiar, parece com a colônia do Leon.

Jill sentiu certa pressão em si, então fingiu um bocejo para que sua amiga entendesse que queria dormir.

— Tudo bem se não quer falar... Boa noite Maninha... Ah e se isso te serve de consolo, Leon está tão constrangido quanto você – Ada deixou o cômodo mais aliviada.

– – –

– E então, o que ela disse? Você deveria ter deixado eu me desculpar com ela. – Disse Leon. O rapaz estava esperando Ada ansiosamente sentada no futon.

— Calma, eu disse que ia ficar tudo bem. – Ada respondeu. Em seguida levemente empurrou Leon no futon e se sentou em seu quadril – Jill é uma boa garota, um dia vai entender que sexo não é um dragão de nove cabeças. – A voz de Ada estava manhosa. Ela deitava seu corpo sobre o de seu amado como uma felina pronta para atacar sua presa. A essa altura Leon já tinha suas mãos percorrendo o corpo da asiática.

– O que? Então... – Leon ergueu um pouco o corpo. Estava surpreso com o que ouviu.

Ada mordeu o lábio inferior e sorriu de forma sedutora.

– Entende agora o porquê me sinto tão responsável por ela? – Ada voltou a erguer seu corpo, mas ainda ficando sentada sobre o namorado. – Jill acredita em contos de fadas, príncipe encantado e todas essas coisas, não se engane com toda aquela pose de mulher. No fundo ela é apenas uma menina sonhadora.

– Entendo...

– E é exatamente por isso que ela vai morar com o Chris.

– É o que?!

– Eu quero dar mais um passo no nosso relacionamento, e vejo esse momento como a chave para isso. Eu quero que venha morar comigo e para evitar situações como a de hoje, pensei em Jill subir para o seu apartamento. Apesar do comportamento anterior do Chris, sei que ele é um bom rapaz e que vai ajudar a proteger muito bem minha menina. – A morena estava animada com seu mais novo projeto. Enquanto Leon estava internamente desesperado com a idéia de ter Jill e Chris na mesma casa diariamente, principalmente depois de ouvir a nova.

– A-Ada...eu... Eu quero muito morar com você, mas... Qual é a opinião da Jill sobre isso?

– Ela ainda não sabe e vai continuar assim até o jantar de ação de graças. Agora vamos deixar isso pra depois sim? – Concluiu a morena.

Ela beijou seu amado calorosamente e foi correspondida de imediato. Ele estava preocupado, mas seu corpo clamava pelo dela antes de qualquer coisa. Leon abriu o roupão de Ada revelando seu corpo esbelto e nu. Ela era perfeita e apenas de olhar cada traço de seu corpo já proporcionava ao rapaz várias sensações prazerosas que palavras jamais poderiam descrever. Os dois se entregaram aquele momento íntimo e tão aguardado desde que as coisas se tornaram difíceis para eles. Nada no mundo os impediriam de se amarem até o dia amanhecer.