Observá-la dormir era um verdadeiro deleite para ele. Um anjo com cabelos negros e olhos finos. E com a claridade que vinha da manhã, só deixava Leon mais admirado por aquela mulher.

“Você é o maior idiota racional existente.” Pensou ao colocar uma das mãos no bolso frontal da calça, encontrando o pacote com seis preservativos intactos.

Leon tinha relutado contra a vontade de tê-la naquela noite, por mais que essa atitude tenha sido desconfortável o suficiente para deixa-lo incomodado por muito tempo, tendo aquele corpo seminu em seus braços e não conseguir desfrutar daquilo. Mas sabia que era a coisa certa a fazer. Queria um compromisso real com Ada, por mais que fosse cedo para pensar nesse tipo de relacionamento. Não queria machucar os sentimentos dela, que ainda estavam como feridas abertas por causa do relacionamento anterior. Não queria ser apenas mais um que transou com ela e que ficou para trás. Ele queria fazer com que Ada o amasse aos poucos, deixar tudo acontecer naturalmente e não por um impulso de uma noite. Deixou bem claro que não queria forçar ela a nada. Mas que também estava morrendo de desejo por ela.

Leon se mexeu lentamente na cama para ficar um pouco mais confortável ao lembrar-se do ocorrido, sem tirar Ada de seu braço e muito menos queria acordá-la. Mas se assustou ao voltar a olhar para ela e ver os olhos castanhos o encarando e um belo sorriso nos lábios.

– Bom dia, bonitão. – Ela o cumprimentou. Seu semblante era adorável e isso fez ele estampar um sorriso no rosto.

– Bom dia, minha musa. – Respondeu beijando sua testa quando percebeu que ela passava as mãos sobre o abdômen dele. Não fazia muito tempo que começou a ir junto com o Chris correr no parque pela manhã antes faculdade. Mas pelo jeito, o corpo que tinha agradou muito a jovem artista, porque sempre ela dava um jeito de acariciá-lo.

– Musa? Calíope, Clio, Erato ou Tália...
qual delas? – Ada perguntou, citando nomes de algumas das nove deusas gregas da arte.

– Você é a décima filha de Zeus, a mais bela e talentosa – A resposta de Leon, retirou um suspiro doce da garota em seus braços.

Eles ficaram em silêncio olhando para o teto... A parte das nuvens era a mais encarada. Em seguida, Leon notou que ela começou a rir sem parar ao colocar uma das mãos sobre o rosto.

– Não consigo acreditar que não transamos. – Ela disse depois de se acalmar.

– E eu me sinto tão inútil por isso. – Comentou sem graça.

– Não... Não, meu bem, na verdade eu nunca me senti tão bem com alguém como estou me sentindo com você agora. Esse seu jeitinho é tão único. Nunca pensei que se importasse tanto comigo. Você parece um anjo que apareceu no momento mais estranho da minha vida. – Disse ela ao procurar a mão dele do outro lado da cama para entrelaçar seus dedos sobre o tórax desnudo dele. - Acho que a minha vontade de ficar com você só está aumentando. Por onde você estava durante esses dois anos da minha vida aqui em Chicago?

– Bem em cima de você... Literalmente. – Disse acariciando os cabelos dela. E Ada soltou outra gargalhada.

– Ah Leon, você me faz tão bem. Queria ter te conhecido antes de... – Ada se interrompeu. Não queria falar de John, não poderia estragar aquele momento que tanto estava a agradando.

Leon percebeu a interrupção da garota, porém continuou a conversa sem deixar qualquer vestígio que havia entendido de quem ela iria comentar.

– Quer saber um segredo... Parece que eu te conheço há muito tempo. E foi por isso que eu não quis estragar tudo, sabe... de primeira. Eu quero realmente ficar com você e ver o quão interessante você é aos poucos...

– Eu adoro quando você fica repetindo isso. E é bom saber que você se importa tanto comigo. Você foi a primeira pessoa a entender meu estado e não se aproveitar dele. – Ela disse e se calou. – Parece loucura, mas... Acho que estou apaixonada por você. – Leon sorriu satisfeito. Era o que ele precisava ouvir. Isso aumentou sua confiança e viu que seu esforço valeu à pena.

– Isso é bom... Faz um tempão que eu queria te dizer isso, mas você é muito apressada, sabe? – Disse sem graça. – Ou talvez eu seja muito lento, não sei.

– Somos complementares, bonitão. – Eles pararam de se encarar para olhar o teto novamente.

Aquela sensação que tomava conta de ambas as partes naquele momento era indescritível. Estavam apaixonados como nunca antes. Leon estava determinado a fazer de Ada a futura Sra. Kennedy, não que já estivesse pensando em matrimônio, mas sua certeza de que ela era a mulher que tanto procurou era indestrutível.

– - -

Jill acordou com o telefone tocando. Olhou para a mesinha ao lado e logo notou que ainda eram 8 horas da manhã. Tomou com desprezo o telefone e prendeu ao ouvido em um “Alô” abafado.

–... Valentine, você tem meia hora pra aparecer aqui e se explicar... – Foi a única coisa que ela conseguiu ouvir depois de segundos de palavras confusas que vinham de Moira. Desligou o telefone, xingando a “megera” e saiu andando pela casa até o banheiro. Jill trajava uma camiseta com “Sex in the City” estampada, três vezes maior que seu número, roupa íntima e meias 3/4 listradas.

Após terminar sua higiene matinal, seguiu para a cozinha atrás do seu maior vício. Ela sabia que era errado, mas tinha ir atrás dos seus Cheetos, ao menos para se sentir feliz naquela manhã que havia começado mal. Porém o susto foi inevitável ao se deparar com um casal conversando carinhosamente enquanto degustavam de um belíssimo café da manhã.

– B-bom dia... – Jill estava com o rosto avermelhado. Não esperava ver o paquera de sua amiga ali tão cedo. E ela estava tão mal vestida para se apresentar naquele momento.

– Bom dia Jill – Disse Ada se levantando e seguindo para próximo de sua amiga. – Esse é Leon Scott Kennedy, meu... Nosso vizinho.

A musicista queria fazer tantas perguntas, mas por hora teria que se contentar em apenas se apresentar.

– Olá Kennedy, eu sou a Jillian Valentine, mas pode me chamar de Jill... – Ela estendeu a mão para cumprimentar o rapaz que prontamente retribuiu o gesto.

– É um prazer conhecer-la Jill. Ah, por favor, me chame Leon – O loiro sorriu gentilmente.

– Jill... Por que acordou essa hora em pleno sábado? – Ada perguntou admirada. A garota já estava vasculhando a dispensa atrás de seu precioso salgadinho.

– Vou ter que ir ao restaurante, resolver minhas pendências... – Jill respondeu tentando ser amigável, mas com um rosto nada agradável. – Achei! – Disse ao se virar com o pote de cheetos e um sorriso meigo para o casal.

– O que é isso ai na sua mão, moça? – Ada trocou seu sorriso por um olhar desaprovador.

– Ah Ada, hoje não, já basta o bolo que você comeu, cortando sua dieta do açúcar – Reclamou sem pensar e notou o que disse ao perceber Ada sem graça.

– Espera... Era ele o cara da aposta? – Sorriu surpresa vendo Ada semicerrar os olhos para a inconveniência da garota – B-bom... Eu... Fiquem a vontade, estou indo pra "bota".

– De jeito nem um! – Ada rapidamente tomou o pote de Cheetos das mãos de Jill – Senta ai e tenha uma refeição saudável como qualquer pessoa que preza pela sua saúde.

Leon observava tudo com um sorriso tímido nos lábios, notando o quão maternal Ada era sem perceber.

– Tudo bem, desde que você não me faça comer maçãs novamente – Respondeu Jill. Claro que ela não estava feliz em comer pão integral com geléia e leite de soja. Não achava ruim, apenas não era o que tinha em planos para degustar em plana manhã de sábado. Mas já que estava ali, ia aproveitar para analisar o casal.

Ela tomava seu café em silêncio enquanto observava Ada e Leon conversarem sobre coisas aleatórias. “Quando ela começou a se relacionar com ele? E essa intimidade toda começou quando?... Por que não me contou?... Eles ficam bem juntos... Pensando bem, acho que já esbarrei com ele algumas vezes pelas escadas.” Os pensamentos da jovem estavam a todo vapor, mas de repente se lembrou de seu inferno na terra: Moira.

Não tinha tempo para ficar ali como queria, mas não poderia deixar de analisar se aquele rapaz era mesmo o homem ideal para Ada. Jamais permitiria que sua amiga sofresse novamente por amor.

– Ele vai com a gente? – Perguntou, e Ada olhou para ela confusa. Tentando entender a que Jill se referia – Basquete... Chicago Bulls lembra? O jogo é hoje.

– Ah... Claro. Leon quer ir com a gente ver o jogo? Jill e eu sempre vamos então... – Ada estava insegura, não sabia se ele gostava de esportes e também desde o término com John a sua única companhia para os jogos era apenas Jill. A morena nunca foi uma amante de esportes, mas John sempre teve paixão por basquete, então ela o acompanhava as partidas. Com tudo acabou pegando gosto por esse esporte.

– Ah... Por mim tudo bem, nunca fui a um jogo de basquete. Ainda mais bem acompanhado – Leon sorriu e ganhou um beijo rápido de sua amada.

– Fechado então – Jill se levantou da mesa com rapidez. – Agora preciso me arrumar se não chego atrasada ao Chiaroscuro. Depois preciso contar o que aconteceu ontem.

Jill deixou a cozinha e o casal, estava ansiosa para ir ao jogo, mas por hora tinha que canalizar toda suas energias para agüentar os sermões de Moira Burton. E ainda estava preocupada com uma coisa: será que o tal Chris apareceria para acertar suas contas?

– - -

Chris chegou cansado do trabalho. Leon já estava em casa, porque obviamente teria visto a mensagem que ele deixou pela manhã, avisando que tinha deixado a chave em cima do umbral da porta.

E quando procurou o amigo pela casa, ele já estava se arrumando pra sair novamente.

– Vai sair bonitão? Bom saber que você descobriu que as noites de Chicago têm muito a oferecer. – Chris sorriu e se jogou de costas na cama de seu amigo.

–Vou ao jogo de basquete. – Leon penteava os cabelos de frente ao espelho.

– E desde quando você gosta disso? – Perguntou surpreso. Sentou-se a fim de obter maiores informações.

– Eu fui convidado.

– Mas eu já te chamei mil vezes pra ir. Ah... Claro. Foi a japonesa. – Comentou expirando. Leon imediatamente parou de colocar o relógio de pulso para olhar para o amigo desconfiado.

– Que japonesa?

– Ah, eu vi vocês ontem. Cara, não resisti, você não sai com alguém a meses então eu tinha que conferir. Mas meu amigo, a japa está aprovada... Falando nisso, quantas camisinhas sobraram? Você devolveu ao pote as restantes? – Chris revela, aproveitando a deixa para as brincadeiras com o amigo.

– Chris... Ada é chinesa. E sobraram todas as que você me deu. Eu nem devia lhe dizer, mas... Não transei com ela. – Leon disse em falso cansaço. A expressão de Chris fez com que o loiro revirasse os olhos. Já esperava por mais um estoque renovado de piadas.

– O que? Mas isso veio de você ou dela? – Chris disse engolindo uma risada espantada. – Leon... Você não fez isso, cara. Assim você destrói a sua imagem... Ela não vai mais te querer desse jeito... Espera, onde vocês dormiram? Quando cheguei hoje cedo você não estava.

– Na casa dela – Leon respondeu sem expressão.

– Não... Que bola fora! Tá de brincadeira, a mulher levou você pra casa dela e você não fod... Ficou com ela? – Olhou surpreso, mas quando viu o olhar furioso de Leon, decidiu parar e saiu sorrateiramente do quarto do amigo seguindo para o dele.

– Quer ir junto? – Leon apareceu na porta do quarto. – A Ada tem uma amiga que me parece ser uma boa pessoa, ela está indo conosco. Poderíamos sair todos juntos ..

– Ah, estou cansado, preciso dormir. Deixa pra próxima, aproveita a noite, que eu vou aproveitar a minha junto com... Como é mesmo...? Morfeu. – Chris se jogou em sua cama agarrando o travesseiro.

– É Hipnos, Chris... Seu conhecimento sobre a mitologia Grega é muito precário. – Disse Leon sorrindo.

– Que seja sonho ou sono, todos são bem vindos essa noite. – Chris colocou o travesseiro sobre a cabeça e Leon suspirou desistindo do amigo.

– Tudo bem então. Melhor assim, ficaria frustrado diante dela. – Leon brincou indo para a saída do quarto.

– Ela é tão bonita assim pra alguém como eu me sentir um Willem Dafoe perto dela? – Chris perguntou erguendo a cabeça para olhar Leon.

– É sim... – Leon sorriu. Tentou se lembrar da jovem que conheceu pela manhã. – Rosto de boneca, olhos bem azuis, cabelos longos e castanhos e...

– Espera um pouco que eu vou. – Diz interrompendo o amigo e passando por ele pra ir tomar um banho.

– Tudo bem, mas aí vamos chegar atrasados. – Leon disse parado em frente à porta.

– Faz o seguinte, vão na frente. Deixa o endereço ai por cima que eu me viro. –
Leon anotou o endereço enquanto Chris tomava banho. O "lance com Hipnos" poderia esperar, mas uma garota de olhos azuis não.

– - -

–... exatamente. O pior que eu tive que arcar com o prejuízo todo sozinha, todo meu dinheiro do cachê que eu pretendia juntar para o show que Clapton fará na cidade se foi. – Jill disse com uma voz triste. – E eu nem sei se o cara vai aparecer pra me reembolsar algum dia.

– É mesmo uma pena... – Leon consolou a mais jovem. – Então você é fã do Eric Clapton? – Perguntou com um sorriso discreto.

– Não devia ter perguntado isso, prepare-se – Ada advertiu ao parceiro sorrindo. Sabia muito bem o quanto Jill idolatrava o cantor de 70 anos.

Naquela bela noite de verão os trio se encontrava na enorme fila do United Center, Ginásio oficial do Chicago Bulls. Ada apenas observava o quanto seu "amigo" e Jill tinham afinidade. A garota de olhos azuis tagarelava sem parar enquanto Leon sorria e argumentava, mostrando o quanto aquela conversa lhe agradava. Para a asiática isso era um êxito, pois a reação de sua amiga era bem diferente de quando ela conheceu John.

– Enfim... Eu amo ele! – Jill exclamou com brilho nos olhos – Desde criança meu maior sonho é ir ao show do Eric... Infelizmente saiu em nota que ele vai se aposentar, então fará um show de despedida aqui em Chicago daqui a alguns meses, e eu não vou me conformar se não puder prestigiar esse momento único estando tão perto. – Finalizou a jovem musicista.

– Eu curto um blues... BB King, Janis Joplin dentre muitos outros do mesmo ramo. – Leon argumentou.

– Aaah! Isso é ótimo! – Jill exclamou sorridente – Ada, o Leon esta mais que aprovado, viu? – O casal sorriu.

– Quer dizer que pra você qualquer cara que goste de blues está aprovado? Não se esqueça que ele não citou a Norah Jones que é a minha favorita. – Ada piscou para a amiga.

A artista plástica tinha como preferência músicas indies, mas às vezes se permitia algo mais alternativo. E com seu convívio com a musicista adoradora do blues, Ada havia aderido ao gênero musical.

– Desculpe Ada – Leon complementou. – Eu também gosto da Norah... Minha música favorita é Will you still love me. E essa música me lembra você.

Ada se lembrou da canção e logo sorriu mordendo o lábio inferior. Aquela música talvez descrevesse a atitude de Leon para com ela na noite anterior. Ela selou seus lábios aos dele. O loiro realmente estava aprovado.

Mais alguns minutos de assuntos aleatórios e já estavam na arquibancada com pipocas e cervejas. O ginásio estava cheio como de costume. Jill estava com a jaqueta e o boné do time enquanto Ada apenas trajava uma regata com o símbolo.

– Não vejo a hora de ver o Derrick Rose – Jill estava afoita olhando a movimentação na quadra quando seu celular chamou sua atenção. Ao ver o número pensou em ignorar, mas não resistiu.

O arrependimento surgiu quando Jones pediu a jovem para trabalhar naquele sábado, cobriria a folga de seu colega Parker que não passava bem.
Decidiu ir mesmo contra sua vontade, com a confusão que o tal Chris havia causado no Chiaroscuro na sexta, era melhor não criar mais motivos para Moira infernizá-la.

Contou o ocorrido aos amigos e assim que se despediu, tratou logo de seguir para a saída do United Center.
A garota não contava com a presença de Harris Norrington e alguns amigos no ginásio. Quando o viu na fila dos ingressos, parou para observar seu belo porte e seu sorriso encantador. Já tinha meses que ela o admirava e nunca conseguia sair nada dos seus lábios além de um “olá, boa noite” quando era ela que o atendia no restaurante. E mal sabia ele que ela já tinha stalkeado sua vida inteira, sem que ele soubesse.
Se distraiu esquecendo que não poderia ficar parada ali pois tinha muita movimentação. Jill só acordou de seu transe quando sentiu alguém esbarrar nela com força.

– Hey! Mais cuidado seu filho da mãe! – Jill gritou. Foi ignorada pelo homem que seguia rapidamente para o final da fila dos ingressos. Ela então continuou seu trajeto.

– - -

Chris saiu correndo para a fila de ingressos, ainda sentindo uma pontada no braço desde segundos atrás quando esbarrou em alguém. Ao falar com o atendente, descobriu que os únicos ingressos que sobraram eram da área VIP, três vezes mais caro do que a arquibancada.

– Qual é? Vocês estão querendo pagar as duas equipes com um único ingresso?! – Chris ironizou irritado.

“... É bom que essa garota valha a pena mesmo ou Leon terá que me reembolsar.”
Com o ingresso em mãos, ele adentrou na arena lotada. Logo avistou o amigo e sua parceira. Seguiu até a entrada da arquibancada e olhou para um adolescente fanático, vestido de Chicago Bulls da cabeça aos pés.

– Ei, garoto... Quer ir pro VIP? – Propôs.

–Tá de brincadeira, cara? – O garoto levantou a sobrancelha, achando a proposta uma piada.

– Não. Aqui... Me dá seu ingresso e vai lá pro vip antes que eu mude de idéia. –
Os olhos do adolescente brilharam ao ver o ingresso em mãos, trocou imediatamente, saindo de perto de Chris sem hesitar.

O rapaz então rumou para a fileira onde o casal se encontrava.

– Porra Snell! Vamos trocar de lugar! – Chris gritou ao ver o lance perdido do jogador. – Até eu faço melhor! –A voz de Redfield chamou a atenção de Leon. O rapaz havia acabado de chegar ao lado do amigo.

– Olha quem veio mesmo? – Diz Leon surpreso. – Ah, Ada esse é Chris Redfield, o amigo que te falei.

– Muito prazer Redfield – Ada estendeu a mão para ele que logo retribui com um aperto de mãos. – Me chamo Ada Wong.

– O prazer é todo meu, Srta. Wong – Os dois sorriram e logo ouviram a platéia vibrar com o primeiro ponto do time da casa. Chris observou que a garota que Leon havia dito não estava por perto. – Cadê a minha garota que você prometeu? – Cochichou com Leon, enquanto Ada prestava atenção ao jogo.

– Eu não te prometi nada, Chris. Ela estava aqui, mas teve que cobrir um amigo no trabalho. Sinto muito. – Leon finalizou.

– Espero que tenha 375 dólares na sua carteira. – Afundou-se na cadeira cruzando os braços.

– O que?!

– - -

Após o jogo Leon, Chris e Ada foram para um pub, um pouco mais próximo de onde moravam.

– Eu não acredito que o Bulls perdeu para os Lakers na sua própria arena. – Chris comentava indignado.

– Ah, mas veja bem, até o fim da temporada ainda tem quatro jogos. – Leon disse e em seguida degustou se sua bebida com Ada aninhada a ele.
Chris semicerrou os olhos para Leon, pois sabia que o estudante de direito não entendia nada de basquete ou qualquer esporte que não fosse baseball e com certeza estava tentando impressionar a "namoradinha".

– Então Chris, você faz administração de empresas? O que fez você optar por essa carreira? – Ada perguntou ao rapaz. Mudando completamente o assunto.

– Na verdade, eu não gosto muito disso não... Mas as matérias são interessantes. E ver Leon sempre motivado a estudar me fez entender que você tem que ser bom em tudo o que faz. Então, apesar de não ser muito a minha praia, quero me dedicar ao estudo de administração como Leon faz com o direito. – Disse piscando para o amigo, como se estivesse ajudando ele. Já que era pra impressionar, então iria entrar na “brincadeira”.

– Mas, Leon tem um sonho... Mudando a pergunta, qual é o seu sonho? – Replicou ela.

Chris pensou por um momento. Não tinha sonho nem metas. Não era esforçado como Leon e às vezes pensava que acabaria sendo obrigado a entrar para a política como seu pai. Ele poderia dizer que sempre quis ser jogador de futebol americano, porém Ada talvez considerasse isso como algo sem nexo afinal “se é isso que você quer, por que não faz?” imaginou outra indagação da moça. Então viria a pior parte: falar da obsessão de sua mãe e o orgulho de seu pai. Para evitar o assunto nada melhor que criar uma máscara.

– Greenpeace. Meu sonho é me formar e trabalhar na ONG. Sabe... cooperar para o futuro das próximas gerações. – Chris respondeu com um sorriso satisfeito e tentou segurar o riso quando Leon arregalou os olhos para ele.
Leon sabia que era mais uma invenção do amigo, mas não era legal exortar ele na frente de Ada. Principalmente quando notou que a “estória” estava bem emocionante. –... e devo isso a Leon que me inspirou a seguir esse caminho, o caminho das mentes pensantes... Conta pra ela Leon, quando participamos da passeata daquela ONG... Como é mesmo o nome? Salve Terra. Eu e Leon sempre gostamos de participar quando o assunto se refere às próximas gerações, não é a toa que ele escolheu trabalhar numa escola de criancinhas.

– Oh! Que interessante. Leon por que não me contou que participavam de trabalhos sociais? Sempre admirei essa área. – Ada perguntou surpresa ao procurar o rosto dele, olhando pra cima. Mostrou claramente o quanto havia gostado de saber aquela informação.

– E-é... Que bom. O Christopher é mais interagido com o assunto. – Leon respondeu fitando o rapaz a sua frente, pedindo com os olhos para ele encerrar aquele assunto.

Chris entendeu o recado, perguntando a mesma coisa para a moça. E logo notou que ela era do mesmo nível do amigo. Moça de cultura muito culta pra alguém como ele e completamente compatível com o amigo CDF.

Logo Ada pediu licença aos rapazes, pois iria ao toalete.

– O que pensa que esta fazendo? – Leon estava bravo.

– Ué? Foi você que começou com toda aquela pinta de expert em esportes. –Comentou sem expressão – Ah não reclama Leon, ela ficou bastante impressionada com o garoto Alpha dela. De certa forma te ajudei bastante, vai por mim. E olha que eu entendo muito bem disso. – Chris dizia entre risos.

– Ela é especial Chris. Apenas... Não estrague isso, tá?

Por mais irritado que estivesse, Leon tinha que reconhecer para si mesmo que a falsa personalidade de Chris estava muito melhor que a verdadeira. Ele não queria que Ada soubesse o quão seu companheiro de apartamento era um bipolar sacana, sendo assim iria continuar com as mentiras construídas por Chris. Pelo menos até ganhar a confiança total da mulher pra esclarecer alguns mal entendidos mais para frente.

Horas se passaram e eles estavam de volta ao prédio onde residiam. Chris se despediu de Ada e logo entrou a fim de descansar, enquanto Leon e Ada ficaram sentados na escada de seu andar.

– - -

Jill chegou exausta em casa, tirando os sapatos e o colete com o emblema do restaurante e jogando o sobre o sofá enquanto seus ouvidos identificavam Norah Jones vinda do quarto de Ada. Precisamente, love me tender.
“Será que Leon está com ela?” Perguntou preocupada ao caminhar entre o corredor. “Será que eles querem privacidade?”. Sentiu um alívio ao encontrar a porta aberta, sinal de que não precisava se privar de estar em casa.

– Ada? – Jill perguntou ao bater na porta do quarto da mesma encontrando ela sobre a tela.

– Jill, já voltou? – Olhou espantada para as horas em seu relógio de pulso. – É... as horas correram. E como foi lá? – Perguntou procurando a flanela pra limpar os dedos que acabaram de esfumaçar uma sombra na tela.

– Humilhante. O Sr. Jones ainda estava uma fera comigo e Moira não poupou desaforos disfarçados. Não entendo porque ainda insisto em ficar lá... Mas o que eu não faço pela música, não é?

– Apenas ignora isso, as pessoas são cruéis quando querem cuidar do seu próprio nariz. Tenta focar suas energias em algo que vale a pena que tudo vai ficar bem. – Disse ao desligar a música que vinha do celular. – Vou terminar isso aqui amanhã, já estou com as costas doloridas.

Jill observou a amiga se jogar na cama futon e se juntou a ela, apenas se sentando.

– Você, ao contrário, parece muito feliz e apaixonada e nem tinha me contado nada. – Jill reforçou o drama que já tinha feito antes de irem para o jogo.

– Jill, eu já expliquei. Aconteceu. Na verdade, até ontem eu não sabia quem Leon era. E hoje... Parece que eu li uma enciclopédia sobre cada pedacinho dele. Já fazia um tempinho que eu o amava, só não conseguia enxergar isso. Ele é especial e estava tão na cara... Eu fui tão cega.

– Realmente ele é especial. Nunca vi você assim com o babaca do John.

– Diferente de John, Leon me ama também e isso é visível apenas olhando nos olhos dele. E não é uma coisa passageira. Sabia que ele gostava de mim desde antes de eu me envolver com John? Ele só era tímido demais. Na verdade, ele é a prova viva de que cavalheirismo ainda existe.

– Não acredito nisso, mas... Se você está dizendo. Espero que não se magoe com ele, porque ele é o cunhado ideal para mim. – Disse sorrindo para a amiga, referindo-se a ela como uma irmã. Ada sorriu de volta, pensativa.

– Sabe Jill... Leon e eu... a gente não transou na noite passada. – Disse orgulhosa, olhando para a parte das estrelas no teto.

Jill olhou para a amiga espantada e Ada corava ao se lembrar.

– Como assim? Então... Ele apenas dormiu aqui?

– Acredita que ele disse que não queria ser mais um na minha vida? Que ele quer ser o único e vai esperar eu decidir isso? Jill, o cara quer compromisso, quer uma prova de amor maior do que essa? – Ada complementou se sentando, maravilhada. – Ele faz John parecer um amador sentimental, melhor... Ele me faz esquecer que aquele idiota existiu na minha vida.

– Ada promete que vai namorar com ele! Não existe homem assim, ele é um em um milhão e está totalmente apaixonado por você. Aaah... Vocês são tão lindos e ficaram tão mais lindos agora! – Jill propôs emocionada. – Mas já parou pra pensar que ele pode ser virgem?

– Não... Ele tem “pegada”, ele apenas está querendo ir devagar. E você não sabe o tanto que eu o desejo ele por isso. Claro que você só vai entender isso quando você realmente se apaixonar por alguém a ponto de se entregar pra essa pessoa. E eu daria tudo pra ele ser meu primeiro.

A mais nova olhava admirada para a amiga. Sendo uma virgem, Jill não entendia o que Ada queria explicar. Mas era bom ouvir a amiga falar daquele jeito, era mais um ponto para Leon.

– Quando você encontrar alguém como eu encontrei o Leon, vai entender perfeitamente o que eu quero dizer. Até mesmo porque vai ter a chance que eu não tive e vai viver isso. Por isso não quero você com canalhas, ouviu moça?

– Nisso pode ficar tranqüila. Às vezes, acho que a minha virgindade só existe porque eu nunca vou encontrar alguém digno de mim. Todos foram tão babacas.

– Mas você também, não dá uma chance, Jill. O Norrington por exemplo.... eu já o vi olhando pra você e ele parece ser tão legal. Você é muito boba de nem ao menos puxar assunto. Já pensou que ele pode ser tímido? O cara também tem que ver que você está afim.

– Mas eu travo Ada. Não é fácil. Os homens acham que vão ficar comigo na primeira noite e se frustram ao descobrir meu “segredinho”.

– Isso é relativo. Um cara como o Leon não faria isso com você. Você tem que aprender a olhar ao redor e encontrar alguém que consiga finalmente te compreender. E tenho certeza que o sortudo não vai se arrepender.

– Sortudo... Nem pro Norrington ser esse sortudo.

– Ou alguém melhor que ele... Vai que cai um do céu como caiu o meu. Só que o meu não veio do céu, veio do andar de cima.

– Acho que o meu ainda vai nascer. – Ironizou a morena se levantando. – Acho que já vou dormir. Mas saiba que se eu não for ser a madrinha principal do seu casamento, vou ficar muito estressada com você.

– Está muito cedo ainda pra isso, mas... Penso que se as coisas andarem bem, talvez eu vá o chamar pra morarmos juntos.

– Espera... E eu vou pra onde? – Jill perguntou antes de sair porta a fora, se virando para encarar a amiga.

– Calma que até lá, vai que você já vai estar na”morando” com o Norrington ou com o sortudo? – Ada supôs, enfatizando o bem estar da amiga.

– Deus te ouça! – Jill exclamou com um sorriso ao deixar o quarto com o paquera em mente.

Na verdade, Ada se preocupou com o assunto. Se morasse com o Leon, teria que abandonar Jill de qualquer forma. E olhando por um ângulo real, ela já conseguia enxergar Leon morando com ela em breve, pelo jeito que as coisas estavam andando. Mas até lá, pensaria em uma estratégia pra não aborrecer a amiga.

“Mal conheci o cara e já quero morar com ele? Ada, Ada... sempre muito apressada.” Pensou consigo.

– Love me tender, love me sweet, never let me go... you have made my life complete. And I love you so... – Ada cantarolou suavemente, agarrada a seu travesseiro que ainda continha o cheiro de seu amado.

“A vida sempre nos reserva várias surpresas, cabe a nós descobrirmos a melhor maneira de usufruir tal oportunidade.”