|Alex|

Minha vida não tem sido a mesma desde que eu descobri tudo. E só fazia quatro dias. Tenho notado meus amigos mais distantes de mim, mesmo quando perto.

Visitei Jake nesse pequeno (e longo) intervalo de tempo. De vez em quando só falava um "oi" e eu respondia de volta, às vezes ele gostava de ficar dentro da sua bolha imaginária. Acho que todos nós temos uma, na verdade.

Seus olhos já possuiam duas bolsas escuras, tanto devido às péssimas noites de sono, quanto ao seu mal estar. Procurei esquecer o fato de que ele estava morto há uns dias.

Brrrr

Uma mensagem no celular. Era a minha mãe, louca de preocupação. Tinha dormido na casa de Jake por um dia e para ser honesta, é bom dormir em seus braços quentes. Ele parecia um urso panda aconchegante. Não tive coragem de encarar meus pais, sabendo que esconderam coisas de mim, mas Jake procurou me acalmar -o que era irônico, por que nossa situação era a mesma.

—O que foi dessa vez? -Ele pediu encostando sua cabeça na minha. Dei um suspiro breve e falei.

—Ela disse que tem como explicar tudo e que entende como é se sentir assim.

—Alex, você deve dar uma chance à ela. É sua mãe. -Ao dizer isso, explodi. Não sou muito de jogar minha raiva sobre outras pessoas, mas aquilo era extremamente ridículo.

—Chance? O que você entende de chance? -Enfiei meu indicador em seu peito -Que direito você tem de me falar isso, Jake?

—Meu caso é diferente. Meu pai escondeu mais do que deveria. -Ele ergueu da cama, movimentando brutalmente seus longos cabelos -Droga, Alex! Eu sou adotado! Eu nunca tive a oportunidade de conhecer meus pais. Sabia que essa não é a primeira vez que eu sonho com ele?! -Por um instante, algo estranho aconteceu comigo. Pela primeira vez na minha vida, eu tive medo do meu melhor amigo. Ele parecia estar prestes a me atacar e me atirar no chão.

Jake notou meu pavor, pegou um maço de cabelo e os puxou para trás. Me afastei dele.

—Olha... me desculpa. -Seu tom de voz foi restaurado -Não queria...

—Mas fez, seu idiota! -Lágrimas rolaram incontrolavelmente pelo meu rosto, borrando o que restava da minha maquiagem -Não quero olhar pra sua cara de novo. Tente se consolar sozinho! -Peguei minha mochila em cima de sua cama. Jake observava desesperado, enquanto eu colocava minhas roupas e livros dentro dela.

—Alex... -Falou, tentando me trazer de volta. Desejava boa sorte com isso, seria uma tarefa difícil. Tenho o gênio estressado da minha mãe.

—Não começa. -Limpei o rosto com uma toalha que trouxe. Aproveitei e a joguei ferozmente na bolsa.

Quando ia abrindo a porta, fiquei ainda mais surpresa. Jake rapidamente ficou perto de mim, me colocando contra a porta do quarto. Pude sentir seu hálito. Tinha um cheiro esquisito de... morte. Ele não era o mesmo Jake que eu conheci quando criança.

Meu rosto estava a poucos centímetros de distância do seu, e ele se aproximava cada vez mais, até chegar ao meu ouvido.

—Alex... -Sua voz falhava, era uma variação de sussurro e soluço.

—S-sim? -Respondi, mesmo borbulhando de medo de sua próxima ação.

—Me ajuda... -Sua altura foi diminuindo a medida em que seus joelhos dobravam. O menino ficou em posição fetal no chão e não parava de chorar. Não me contive e o abracei fortemente, sem nenhum intuito de soltá-lo.

—Shh. Calma, vai ficar tudo bem. -Repeti uma das frases mais clichês existentes, mas era pelo seu bem. Alisei seus cabelos despenteados e beijei sua cabeça repetidas vezes. -Tudo vai ficar bem.

***


Não fazia ideia do tempo em que estava aqui. Tudo o que sabia era que tinha adormecido novamente nos braços dele. Jake dormia feito um anjo e não me largava, mesmo se eu forçasse.

De repente, a porta foi aberta, dando lugar a um curioso August.

—Ei, Jake, eu só... opa! Foi mal. -Disse, quando notou nós dois juntos. Jake acabara de acordar, desorientado.

—Não é o que parece, tá? -Falei envergonhada -Por que você tá aqui, afinal?

—Uh... eu acabei de chegar do trabalho. Papai falou que ouviu alguns gritos daqui de cima, mas ficou sem jeito de descobrir o que era. -Deu uma risada abafada e tosca -Bem, acho que ninguém precisa se preocupar por aqui, não é? -Jake fingiu uma tosse e nos afastamos um do outro.

—Jake, eu já estou de saída, se não se importa. -Tentei ficar séria, mas dentro eu era um tomate. Queria me livrar daquela situação embaraçosa.

—Tem certeza que não quer ficar mais um pouco? -Quase poderia dizer que ele se assemelhava a um cachorrinho abandonado.

—Desculpa, deixa pra outra vez. Está tarde, além disso, meus pais merecem tranquilidade, e é isso que eu darei pra eles. - Beijei sua bochecha -Te vejo amanhã?

—Amanhã. -Confirmou.

***


|Jason|

Andar pelas ruas de uma cidade nunca foi tão esquisito como agora. Senti como se estivesse sendo perseguido. Olhares atravessavam minha cabeça, como balas de uma pistola, até que ouvi algo.

—Jason, não é? -Virei e me dei de cara com uma mulher em seus 40 anos de idade. Pelo menos, era o que parecia.

—O quê? -Foi o que respondi, mesmo que estupidamente.

—Seu nome. -Ela se aproximou, abrindo um largo sorriso -Sou Regina Mills, ex-prefeita de Storybrooke. É um prazer conhecê-lo, senhor...

—Mars. -Apertamos as mãos -Espera... você é aquela mulher que estava conversando com Gold ontem, não é? -Percebi, um pouco desconfiado -Poderia saber do que se tratava? -Não queria parecer bisbilhoteiro, mas foi estranho.

—Receio que não, querido. Assunto de adultos. -Disse, desmanchando seu sorriso -Mas não foi por isso que vim até você.

A mulher de cabelos curtos me puxou para perto.

—Eu conheci seu pai. -Foi tudo o que disse. Foi como um monte de pedras caindo por cima de mim. Ou como um enxame de abelhas picando-me ao mesmo tempo.

—M-meu pai? -Pedi -Como sabe sobre ele?

—Na época éramos... bons amigos. -Contorceu o rosto -Vamos dizer que ele fazia negócios comigo.

—Posso saber, pelo menos que tipo de negócios? -Regina riu. Pediu que eu a seguisse. Não sabia para onde estava me levando, mas ela era gentil demais para ser uma sequestradora e tinha uma ótima aparência para ser uma ladra. Cedi.

—Seu pai era um vendedor. Ele era honesto e simpático e fazia de tudo para agradar seus filhos. -Não estranhei a parte do "filhos". Eu sabia que eu tinha uma irmã, mas ela foi tirada de mim, quando pequena. Nunca mais ouvi falar dela.

—O que fazia você se interessar pelos negócios de meu pai? -Regina parou, abruptamente. Acho que não queria responder, mas esperei por qualquer coisa.

—Ele me ajudou a encontrar minha mãe no passado. -Seus olhos pairavam sobre o nada, mas eram cheios de emoção -Antigamente, eu fazia muitas coisas ruins para pessoas, inclusive para seu pai. -Fiquei surpreso e um pouco chateado.

—Você mudou desde então? -Perguntei.

—Sim. Com toda a certeza. -Continuamos a caminhar por uns 2 minutos, sem nenhuma palavra, até que chegamos a uma antiga casa. A minha, por sinal -Não se lembra daqui, Jason?

—Tudo bem, eu sei que eu deveria, mas não, infelizmente. -Ajeitei meu gorro vermelho, que estava caindo.

—Nunca se perguntou por que não consegue recordar?

—Já, algumas vezes. Do que adianta, se sempre o esforço é em vão.

—Mas agora não será. -Gostaria de ter perguntado o que queria dizer, mas ela não me deixou. Pediu que eu fizesse silêncio e retirou uma pedra azulada da bolsa.

—Whoa! O que você vai fazer com isso?

—Só vou te ajudar a lembrar, Jason.

—Olha, me desculpa, mas não tô afim de me envolver com drogas. Já tive problemas com isso no passado. -Talvez as coisas fizessem sentido. Talvez as "coisas ruins" que chegou a falar, se relacionavam com tráfico de drogas. Talvez meu pai fosse um drogado e para Regina se sustentar, ela vendia drogas à ele e à outros clientes. Talvez sua clientela fosse vasta e ela estava querendo aumentá-la.

—Não, garoto. Não é nada disso. -Disse com um tom engraçado -Essa pedra se chama Sanitatum. "Cura", em latim. Preciso que se concentre, se não vai doer

—Como assi... -Minha frase não foi terminada. Regina colocou a fria pedra contra minha testa, fazendo-me ter alucinações.

Estava lá meu eu pequeno, sentado sobre um banco de madeira feito por meu pai.

—Jason, o que acha do meu novo cartão de visistas? -Ele me deu um sorriso confiante. Peguei um dos seus vários cartões. Nele tinha cravado as iniciais "J.C.M.". Procurei nas gavetas da minha mente o que aquilo significava, mas senti que já sabia disso.

—Ora, Jefferson! -Uma mulher magra e acabada falou. Mamãe? -Deixe Jason brincar com a irmã dele. É pequeno demais para entender sobre vendas.

—Tem razão, amor. -Os dois trocaram um beijo -Bom, lá vou eu.

—Tenha um bom dia de trabalho, querido. -Papai pegou sua cartola predileta e beijou a testa de minha irmã. Deu um "adeus" e fechou a porta.

Fui para o porão, procurando seu bagunçado escritório. Estava cheio de chapeus de variados tamanhos e cores. Uns eram para encomenda. Outros para uma tal "Cabeçuda" -não era eu dizendo. Estava escrito num papel com sua própria caligrafia.

Ao redor das pilhas e das agulhas, vi comprimidos. Cheguei a contar 6 caixas de remédios calmantes. Ele precisava disso? Encostando em uma mesa, deixei uma xícara de chá bordada cair ao chão, partindo-se em vários pedaços. Era a sua preferida e a hora do chá era um de seus melhores momentos.

—O que é isso? -Perguntei para mim mesmo, quando vi um bilhete perto das caixas.

Chapeleiro, me encontre na floresta. Estou fugindo dos cavaleiros da Rainha Vermelha. Não me deixe só
—Alice

Eu acordei. Queria continuar com aquela visão, mas não pude. Encarei Regina, que tentou me acalmar. Estava suando frio.

—Jason...

—O que J.C.M. significa? -Pedi, ignorando seu chamado.

—Olha, eu preciso que você...

—O que significa! -Ergui minha voz. Ela recuou.

—Era o nome que seu pai usava na época. -Disse finalmente -Jefferson, Chapeleiro Maluco.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.