Petter Black

"But I'm creep, I'm a weirdo
What the hell in doing here?
I don't belong here"
Creep - Radiohead

Uma garota de cabelos negros como a noite e olhos azuis claros como gelo estava sentada em cima de um telhado de telhas, observando o pôr-do-sol, de costas para o castelo de Auradon e segurando o anel entre os dedos. Era o que fazia todos os dias, esperando pelo último raio de sol, quando tudo ficava escuro, sem nenhuma lâmpada dos postes ou das casas acesas (até porque não havia energia o suficiente para acender antes do horário fixado) e eram necessários alguns segundos para a vista se acostumar. Era o momento mais tenebroso na ilha, quando ninguém, a não ser ela e seu grupo, mal enxergava um palmo a frente. Era quando a diversão, para ela e seus colegas, começava.

Faltava quinze minutos, ela sabia, e viu um garoto na rua, olhando-a com impaciência. O garoto pálido passou a mão pelos cabelos negros, tentando se acalmar, por ter que fazer a mesma coisa todos os dias: chamá-la para descer do telhado da mansão, propriedade dividida pelos Black e Hearts (e ocupada por alguns agregados). A garota parou de olhar para ele, se levantou, colocou de volta o anel e deu uma última olhada no sol antes de sair do telhado.

— Por que ela faz isso todos os dias? - um garoto loiro parou ao lado do de cabelos negros, esperando todos os que faltavam.

— Por que eu saberia?

— Por que você é o irmão gêmeo dela...? - o loiro encarou o outro com a sobrancelha erguida pela obviedade da questão. Seu nome era Henry NorWood; seu pai Hans NorWood, príncipe das Ilhas do Sul, mas preso na ilha.

— Não comecem vocês dois, por favor.

— Isso foi algum tipo de ordem princesa? Porque eu não estou muito a fim de cumprir. Até porque, eu não preciso obedecer você. - Henry se virou para responder a ruiva que chegava de nariz empinado. Heather Heart, filha da Rainha de Copas, princesa de Wonderland.

A ruiva não respondeu, apenas olhou para o de cabelos negros, esperando este responder o que estava planejado para a noite, mesmo ele não sendo o idealizador dos pequenos "jogos" que eles praticavam. Contudo ela estava muito brava com as outras seis pessoas para dirigir-lhes a palavra.

— Não vai falar comigo Princesa?

— Não enche o saco dela NorWood! A Princesa ainda deve estar emburrada pela "brincadeira"... - um rapaz de cabelos castanhos escuros se aproximou do grupo, piscando um de seus olhos azuis para o seu amigo loiro. - Talvez ela não tenha maturidade para aguentar...

— Eu não tenho maturidade?? - Rapidamente a ruiva perdeu o pequeno controle que tinha. - Vocês.... - ela não pôde terminar, pois sentiu uma brisa fria envolvendo-a, assim como os que estavam junto dela.

— Vocês estão brigando de novo? - a garota de cabelos negros finalmente chegou de sua descida do telhado e olhou, para o grupo que estava se formando, sem emoção. Seu coração frio sabia que Heather já estava sendo controlada pelo seu lado passional, de novo.

— Claro que não maninha! Só estávamos conversando. - O clima frio se intensificou a medida que a de cabelos negros levantava a sobrancelha em descrença. Pandora Black, fria como a mãe e um pesadelo como seu pai. Ela olhou para seu irmão, Petter Black, já deixando a descrença de lado e sentindo o tédio a dominar; sentiu o desejo de voltar ao telhado e ver o pôr-do-sol, ao invés de estar com quem chamava de amigos.

Seu irmão percebeu e sorriu com escárnio. Quem pensaria que Pandora Black gostava de ver algo tão singelo como o pôr-do-sol? Mesmo que lá seja um ótimo lugar para se escutar os gritos de medo que seu grupo causava nas pessoas nos primeiros segundos de escuridão...

Em pouco tempo chegou um garoto negro de porte atlético acompanhado de uma garota de cabelos cacheados revoltosos, segurando uma espada e uma faca na mão e com um vestido muito curto para ter o mínimo de conforto para o que eles iriam fazer, nada do que ela já não estivesse acostumada.

— Giselle, Giselle... Sabia que eu adoro o seu estilo?

— Se continuar a olhar para as minhas pernas desse jeito Petter querido, eu corto sua cabeça fora - a de cabelos revoltos respondeu com um sorriso irônico. Giselle Crowe Hook, uma pirata nata.

— Não olhe para ela assim Petter, ou deixo ela te matar da próxima vez que realmente tentar...

— Claro maninha, não me esqueci ainda do baço que perdi por causa de vocês duas...

— Pelo menos não era um órgão tão importante. Fique feliz com isso! - A Hook respondeu ampliando seu sorriso para um mais assustador, Enquanto Pandora se limitou a rolar os olhos.

— Chega vocês todos! - a Princesa exclamou exausta dessas alfinetadas que ela considerava infantil e inúteis para o resto da noite. - Caso vocês não perceberam, a Bludvist ainda não chegou!

— Isso acabou de mudar! - Daniella Bludvist chegou perto do grupo com um sorriso no rosto, cinco minutos antes de escurecer.

— Ótimo, finalmente a pirralha chegou. Vamos logo, antes que os últimos raios de sol vão embora.

Daniella abriu a boca para retrucar o rapaz negro, mas sua voz não saiu, o que era de se esperar ao escolher retrucar Fabian Ohanzee, filho do feiticeiro das sombras. Por isso logo a fechou e se pôs a seguir o grupo. Era uma grande oportunidade, visto que ela havia sido realmente aceita a dois meses atrás e hoje seria primeira vez que poderia fazer algo de verdade ao invés de apenas assisti-los.

O grupo se encaminhou para a rua da praça central, onde aconteceria os jogos de hoje e a um quarteirão de distância da mansão, seguindo o de cabelos castanhos escuros. Matthew Mord'r estava ansioso como há muito tempo não estava e explicava tudo o que deveriam fazer hoje o mais rápido possível. Foi a mando de seus pais, uma demonstração de confiança. Se falhassem, poderiam jogar toda a esperança deles de serem realmente aceitos pelos pais no ralo. Ele sentia o cheiro de esgoto e comida podre no ar, deixando os cidadãos enjoados, mesmo após tantos anos de convivência. Ao longe, o sol começou a brilhar mais, como se estivesse dando adeus e Matthew sabia que aquilo era como a morte de um doente em grave estado: uma breve recuperação milagrosa antes da morte.

Em segundos o último raio se destacou no céu, fazendo todos os que andavam parar por alguns segundos, esperando. Foi aí que eles começaram.

O último raio se foi e eles saíram correndo de perto da parede em direção às barracas cheias de mercadorias e dinheiro. E pessoas. Eles tinham exatos cinco minutos antes das luzes se acenderem e por isso não havia tempo a perder. O frio dominou o local, sendo intensificado pelos gêmeos que preferiam permanecer, no início, no centro da praça, em cima do chafariz desligado a muitos anos, procurando pela pessoa certa. E lá estava ela, perto da rua oposta à que levava à Mansão: o pirata desertor e traidor que mesmo após ter entregado seus colegas de anos, não foi perdoado. Ele havia pegado algo de Hook e era dever deles trazer de volta e levá-lo ainda com vida. Com vida, não acordado.

Daniella, Fabian e Henry se dirigiram a diferentes localizações da praça e começaram a distração, pegando o dinheiro rapidamente das caixas das lojinhas de rua e empurrando as pessoas do caminho, que nada enxergavam. Matthew esperou a indicação da localização pelos gêmeos e se postou do lado oposto da praça; Heather começou a roubar tudo o que queria das barracas, como num dia de compras. As pessoas já começaram a ficar assustadas, e, em segundos, as vozes do grupo começou a ecoar pela praça.

Matthew, Fabian e Henry
Some legends are told
Some turn to dust or to gold
But you will remember me
Remember me for centuries

Algumas lendas são ditas
Algumas viram pó e outras ouro
Mas você se lembrará de mim
Lembrará de mim por séculos

Heather, Giselle e Daniella:
And just one mistake
Is all it will take
We'll go down in history
Remember me for centuries

E apenas um erro
É tudo o que precisa
Vamos ficar na história
Lembrará de mim por séculos

Daniella
Remember me for centuries

Lembrará de mim por séculos

Todos começaram a correr para qualquer lado, temendo encontrar um do grupo. Fabian passou por uma Heather carregada de tecidos vermelhos e caixas de maquiagem e foi em direção à Matthew, esperando os gêmeos descerem para cercarem o traidor.

Fabian:
Mummified my teenage dreams
No, it's nothing wrong with me

Mumifiquei os meus sonhos adolescentes
Não, não há nada de errado comigo

Heather:
The kids are all wrong
The story's all off
Heavy metal broke my heart

As crianças estão todas erradas, a história está apagada
O heavy metal partiu o meu coração

Os gêmeos esperaram Heather, Daniella e Giselle levarem o tumulto para o lado contrário do pirata para descerem da fonte. Ao se virarem para o desertor, viram Henry já a postos atrás dele discretamente, enquanto o outro parecia assustado; sentimento que piorou ao escutar uma voz atrás de si, se aproximando lentamente.

Henry
Come on, come on and let me in
The bruises on your thighs like my fingerprints

Vamos lá, vamos lá, deixe-me entrar
Hematomas nas suas coxas assim como nas minhas digitais

Petter:
And this supposed to match
The darkness that you felt de
I never meant to fix yourself

E isso é para essa noite
A escuridão que você sentiu
Nunca quis que você reparasse a si mesmo

Os meninos ficaram em volta do desertor e Pandora ao seu lado, fazendo-o tremer de frio antes de se juntar às outras com a distração.

Giselle, Fabian e Pandora:
Some legends are told
Some turn to dust or to hold
But you will remember me
Remember me for centuries

Algumas lendas são ditas
Algumas viram pó e outras ouro
Mas você se lembrará de mim
Lembrará de mim por séculos

Matthew vistoriou de forma rude o homem que estava a ponto de desmaiar com medo do que eles fariam; suas famas não eram apenas de bagunceiros.

Daniella, Petter e Heather:
And just one mistake
Is all it will take
We'll go down in history
Remember me for centuries
Hey, hey, hey
Remember me for centuries

E apenas um erro
É tudo o que precisa
Vamos ficar na história
Lembrará de mim por séculos

Daniella
Remember me for centuries

Lembrará de mim por séculos

Matthew retirou um grosso maço de papel amarelado enrolado numa fita verde desgastada, socando o homem em seguida, o qual foi levado para fora da praça por Fabian e Petter.

Pandora:
And I can't stop 'til the whole world knows my name
'Cause I was only born inside my dreams
Until you die for me, as long as there is a light, my shadow's over you

E não consigo parar até o mundo inteiro saiba o meu nome
Pois, somente nasci em meus sonhos
Até que você morra por mim
Contanto que haja luz, minhas sombras em você

As barracas já estavam no usa-se todas no chão, destroçadas pelos roubos, tumulto e chutes dados pelos "amigos". Matthew e Henry se juntaram às garotas, derrubando vários pelo caminho, tanto homens quanto mulheres e crianças.

Matthew
'Cause I am the opposite of amnesia
And you're a cherry blossom
You're about to bloom
You look so pretty, but you're gone so soon

Pois sou o oposto da amnésia
E você é flor de cerejeira
Você está prestes a desabrochar
Você está linda, mas vai embora rápido demais

Eles foram até perto da fonte, onde as pessoas se aglomeraram, tentando ficar longe de possíveis ataques reais. Todos sabiam muito bem o que podia acontecer com alguém após os jogos do grupo.

Daniella, Henry e Matthew
Some legends are told
Some turn to dust or to gold
But you will remember me
Remember me for centuries

Algumas lendas são ditas
Algumas viram pó e outras ouro
Mas você se lembrará de mim
Lembrará de mim por séculos

Pandora, Heather e Giselle:
And just one mistake
Is all it will take
We'll go down in history
Remember me for centuries

E apenas um erro
É tudo o que precisa
Vamos ficar na história
Lembrará de mim por séculos

Daniella:
Remember me for centuries

Lembrará de mim por séculos

Giselle:
We've been here forever
And here's the frozen prove
I could scream forever
We are the poisoned youth

Estivemos sempre aqui
E aqui está a prova congelada
Eu poderia gritar para sempre
Somos os jovens envenenados

Petter e Fabian reapareceram com o pirata ensanguentado, amordaçado e desmaiado, arrastando-o pelo chão de pedras pontiagudas da praça.

Todos:
Some legends are told
Some turn to dust or to gold
But you will remember me
Remember me for centuries
And just one mistake
Is all it will take
We'll go down in history
Remember me for centuries

Algumas lendas são ditas
Algumas viram pó e outras ouro
Mas você se lembrará de mim
Lembrará de mim por séculos
E apenas um erro
É tudo o que precisa
Vamos ficar na história
Lembrará de mim por séculos

Eles saíram correndo da praça, dez segundos antes das luzes se acenderem e sem se importarem com o rastro de sangue deixado pelo traidor. Era um aviso para ninguém daquela ilha se meter com quem morava na Mansão.

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Em poucos minutos, chegaram à Mansão carregando o cara ainda desacordado. Assim que entraram no hall e identificaram o familiar cheiro de umidade e poeira, avistaram a Rainha de Copas sentada num dos quatro tronos, com seu marido ao lado, além de outros ex-residentes do País das Maravilhas e de outros vilões.

— Ora, ora... - James Hook começou a falar, saindo das sombras da pilastra negra. Seu chapéu vermelho, agora puído pelo tempo, estava tampando metade de seu rosto. - Não é que conseguiram me trazer o traidor?

— Dissemos que conseguiríamos pai. - Giselle se pronunciou primeiro, andando até o pai que estava ao lado de sua mãe, Gothel Crowe.

— Até parece que acreditaríamos que fossem capazes antes de terem realmente conseguido, minha querida. - Hook se afastou da filha que chegava perto, não querendo contato, e estendeu a mão, exigindo o que lhe fora roubado. Matthew logo entendeu e lhe entregou o maço de papéis amarelados sem questionar. - muito bem meus jovens. Não são tão inúteis quanto pareciam.

— Não fale assim Hook! Até porque, temos assuntos mais importantes agora. Depois você continua com seu discurso irritante! - A Rainha de Copas interrompeu, com a expressão entediada.

— Que assunto mamãe?

— Não me interrompa Heather! E não me chame assim! Não quero parecer velha o suficiente para ter uma filha da sua idade! - Heather encolheu minimamente os ombros, não querendo que sua mãe visse, mas tal ato não passou despercebido pelos outros jovens. - Agora, vamos aos verdadeiros negócios. Como sabem, o atual rei, Bom... Ou algo do tipo...

— É Ben, Carmem!

— Tanto faz Bludvist! O rei começou ano passado com o programa de... Como ele chama? Reabilitação para filhos de vilões...?

— Isso faz diferença? - Goethel perguntou lixando suas unhas.

— Não. Contudo, ele começou ano passado e esse ano quis continuar. E escolheu vocês oito para irem!! - A Rainha deu pulinhos de emoção louca no trono, enquanto os rostos dos jovens se retorciam em caretas espantadas e revoltadas.

— Como é que é? - Giselle foi a primeira a gritar.

— Eu não vou para lá! Nem estou mais na escola!

— Ninguém esta! - Fabian completou Matthew.

— Nem continuem a reclamar! - Hans se pronunciou pela primeira vez, utilizando a autoridade que aprendera com os pais, mas não funcionou com todos.

— Eu não vou. Meus pais não estão aqui. Ninguém pode me obrigar. - Pandora Falou fria, desafiando os adultos.

— Podemos sim, Pandora. Somos responsáveis por você e seu irmão.

— Já somos maiores de idade!

— Mas ainda são irresponsáveis Petter! - Hook continuou, com raiva por ter sido interrompido. - Todos vocês vão nos obedecer e ir para Auradon.

— Até porque, - Mor'du continuou - temos planos para vocês lá.

— Como assim pai? - Matthew deu um passo incerto na direção dos adultos, mais precisamente na direção de seu pai.

— É simples! - A Rainha levantou com facilidade (após ter perdido quase 40 kg pela pouca comida na ilha) e com os olhos iluminados. - Queremos que encontrem os Black's e os acordem! - O silêncio se instaurou no recinto por um tempo, antes do gêmeo quebrá-lo.

— Nossos pais estão lá...? - Petter parecia ter perdido, por alguns segundos, toda a arrogância que ostentava pela ilha.

— Sim! Não sabemos exatamente onde, mas sabemos que estão lá! E se vocês os acordarem, Os poderes deles conseguiram nos tirar da ilha, desse lugar o qual não pertencemos. - Goethel falou, tirando os olhos das unhas. - Como dissemos, não é um pedido a nenhum de vocês. Não fazemos pedidos.

Os jovens continuaram a olhar os adultos sem terem o que responder. O ambiente esfriou perceptivelmente, graças aos gêmeos, os quais não se incomodavam com o frio; por isso Pandora foi a primeira a voltar a falar.

— E o que vamos fazer em Auradon se já não estamos mais na escola?

— Vão para a faculdade. - Facilier apareceu das sombras de um corredor falando calmamente, sendo seguido de perto por sua filha mais nova, Freddie Ohanzee. - Não os deixariam ociosos lá. As informações que nos passaram são de que vocês terão que fazer algum curso. Mesmo o mais curto deles.

— Isso é ridículo! Eu não sou obrigado a fazer nada aqui! Por que serei lá?

— Não é óbvio Fabian? - Facilier continuou, andando em direção ao Mor'du perto da janela iluminada pela lua crescente, enquanto sua filha o seguiu de perto, alisando o cabelo verde entre os dedos. - Mente vazia é oficina do diabo.... Talvez eles não sejam tão idiotas como parecem... - Na mão do vilão estava uma boneca de vestido bufante verde e branco, a qual ele nunca largava e parava de apertar, como se quisesse sufocar um simples brinquedo de pano.

Os jovens não falaram nada enquanto viam o vilão apertar mais uma vez a boneca, mas dessa vez com um sorriso de escárnio estampado. Eles sabiam que não conseguiriam escapar dessa; eram os vilões cruéis que mandavam neles, os jovens querendo ou não. Por isso, Daniella foi a primeira a falar, dessa vez.

— Quando teremos que ir?