Chris Cat

“As melhores estratégias são escritas no pretérito.”

Alphonse Allais.

— Então, já escolheram seus cursos? - Matthew perguntou para os colegas. Eles foram dispensados das aulas do dia para apresentarem a Universidade aos alunos novos, e agora estavam sentados embaixo de uma árvore que ficava na frente do prédio de dormitórios.

— Ainda não... Não estou preocupado com isso, na verdade. Não vim para isso... - Chris Cat disse relaxado e sorrindo. Ele estava deitado no chão de barriga para cima e com os braços embaixo da cabeça.

— Isso mesmo Chris! Você tem outros objetivos em Auradon!

— Desde que eu não tenha que ser seu capacho princesa, topo tudo. - Chris respondeu à Heather rindo, a deixando com bochechas vermelhas, o que sempre acontecia quando era contrariada.

— Não preciso de você como capacho!

— Isso mesmo Chris... Ela tem outros para esse serviço... - Henry se intrometeu rindo também, se referindo à Whitney e Irvine, que fecharam a cara levemente, mas não o reclamaram. Eles sabiam que era a mais pura verdade.

— Não mudem de assunto! Vocês têm até o jantar para escolherem o curso. - Matthew retornou ao assunto sem paciência, como sempre.

— O que é meio estranho, não acham? - Daniella disse, sentada ao lado de Chris, com a cabeça dele no colo e fazendo uma trança lateral em seu próprio longo cabelo castanho. - Nós tivemos mais tempo do que só uma tarde.

— Talvez as reitoras só quiseram apresar a papelada... - Giselle disse com uma voz vaga e olhando para as portas do prédio, de onde saiam Michael DunBroch e Max Hatter.

— Talvez só elas só estivessem receosas do que vocês três poderiam aprontar durante essa espera... - Henry respondeu entre rissos, recebendo um leve tapa de Whitney.

— Acho que não... Se nós oito não fizemos nada até agora, três não fariam nada também...

— Talvez todos pensem que só estávamos esperando eles, princesa... Qual seria o motivo para chamá-los agora se não fosse esse??

— Fabian tem razão... O pior é que esse pensamento é o certo... Agora, - Matthew mudou de assunto, querendo aproveitar estarem sozinhos para conversar sobre o plano. - Chris, já pensou num jeito de conversar com Addyson?

— Falando na Kingsley, olhem só quem está saindo do prédio... - Giselle finalmente se pronunciou, ao ver os dois irem na direção do grupo.

— Olá gente! Tudo bem por aqui? - Michael foi o primeiro a falar, uma vez que Max Hatter parecia querer não estar ali, ao olhar para todos os lugares menos para o grupo.

— Por que não estaria, ruivinho? - Giselle disse sorrindo. Ela se levantou e caminhou até ficar de frente à ele, com seus corpos quase se encostando. Essa súbita aproximação o assustou de leve, o que não passou despercebido por ela. - Estão achando que planejamos algo? Claro que estão... Até porque, o que os vilões tem para fazer de melhor do que planejar coisas ruins, certo?

— Eu não...

— Não precisa mentir ruivinho... - Ela sorriu e passou o dedo indicador pela mandíbula dele, o fazendo arrepiar. O grupo riu da reação do DunBroch, que ouviu mas não conseguiu desviar o olhar dos olhos azuis elétricos da garota.

— Coitado Giselle!! Assim você vai matar o menino!!

— Fica quieto Henry!! Ele está em boas mãos! Não acha ruivinho?

— Ele não acha nada! - Max, vendo o estado do amigo, finalmente se pronunciou, fazendo todos olharem para ele. Sobretudo quem era de Wonderland. - Temos que ir agora. Boa tarde. - Assim o Hatter levou Michael quase a força para longe deles.

— Muito bem Giselle... Só cuidado para não matar alguém de um ataque do coração da próxima vez...

— Não terá próxima vez Matthew.

— É o que esperamos Giselle... Não estou a fim de pessoas querendo escutar nossa conversa pelos cantos... - Matthew suavizou o rosto e formou um pequeno sorriso de lado, antes de se virar para Chris Cat. - Voltando....


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Addyson estava com um livro aberto em mãos sobre gestão de recursos, mas não lia uma única palavra impressa no papel que começava a amarelar. Suas mãos estavam espalmadas no banco de concreto e suas costas apoiadas na parede amarela do prédio dos cursos de biológicas. Ela deveria estar estudando, afinal as primeiras provas estavam para começar, mas tudo o que ela conseguia pensar eram nos alunos novos.

Como o Rei Ben permitiu que mais deles viessem para a sua faculdade? Já não bastavam os que estavam a pouco tempo, tinha que chegar mais?? Ainda mais eles!! Ainda mais Chris Cat! Ele sabia de tanto... De coisas que nem Heather Heart sabia ou jamais poderia desconfiar, quanto mais a Rainha de Copas!! Se elas descobrissem, Addyson sabia, seria o fim certo de Alice Kingsley. Por muito mais razões das que a Família Heart achava. E nada, nem prendê-las na ilha, iria impedir tal morte.

Ela escutou um barulho no arbusto ao seu lado, como o de um gato andando por entre os troncos e folhas. Ela sabia exatamente quem era, uma vez que se lembrava com clareza do som nas suas lembranças.

— Ora ora... Se não é Chris Cat vendo coisas escondido entre os arbustos... - Ela disse sorrindo, enquanto via o garoto se levantar com o sorriso marcante no rosto. Havia folhas presas em seu cabelo encaracolado, exatamente como quando criança, quando os dois corriam pelo labirinto da Rainha Vermelha.

— Ora ora... Se não é Addyson Kingsley com um livro no colo e Sonhos na mente... - Ela sorriu mais, lembrando dele usando a mesma frase quando a encontrou na casa do coelho uma vez. - Como está Addy...? Faz muito tempo que não nos vemos...

— Sim... Muitas primaveras e outonos.

— Eu diria que há muitos risos, mas se você prefere contar o tempo em estações... - Ele se sentou ao lado da loira, fingindo não ver quando ela encolheu minimamente o tronco pela proximidade. - Mas você ainda não me respondeu. Como está?

— Estou bem Chris. Tenho uma vida que considero perfeita longe das loucuras do lugar de onde viemos!!

— "Lugar de onde viemos"? É assim que se refere à Wonderland aqui?

— Na verdade não. Só não quero falar sobre isso com você...

— Não quer falar sobre Wonderland comigo? - O sorriso dele virou quase de escárnio, se lembrando do que descobrira quando criança. - Por que Addyson Kingsley? Tem receio de falar sobre coisas proibidas onde possam existir ouvidos nas paredes?

— Não começa Cat!! Você prometeu não falar sobre isso!! Com ninguém!!

— E nunca falei Addyson! Ainda é um segredo que apenas nós e seus pais sabem... Ou diria apenas a sua mãe... Isso já não tenho certeza...

— Chega!!! - Ela fechou o livro com força, querendo se afastar o mais depressa o possível. Contudo, a mão suave dele segurou seu punho, assim como ele fazia quando ela queria fugir de suas implicâncias.

— Calma Addy! Parei, está bem!! Vamos mudar de assunto!! Ainda há muitas coisas que quero saber!!! E você parece precisar desabafar com alguém...

— Não preciso desabafar com ninguém Cat!! Tenho amigos e um namorado para isso!! - Sem querer, a voz da loira vacilou no "namorado", exatamente o que ele queria.

— Tem certeza Margaridinha?? - Ele viu a expressão do rosto dela se desmanchar ao ouvir o apelido que só ele usava quando eram crianças. Até porque, as flores preferidas da loira sempre foram as margaridas. Foi assim que ele soube que o plano estava indo de pelo caminho certo.

— Aí Chris... Grande namorado eu tenho.... - Ela se arrumou no banco de pedra, para ficar de frente para ele e sentiu os olhos marejarem. A loira não percebeu ao longo dos anos o quanto precisava do seu melhor amigo. Do seu namoradinho de infância...


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Whitney White andava quase pulando pelos corredores do lado masculino, procurando o quarto de Irvine. Ela iria dividir o próprio quarto com uma garota mais baixa e que parecia uma idiota. Não que ela própria não parecesse assim para os outros por vontade própria. Às vezes, quanto mais te acham boba, mais você sabe... E disso ela sabia por experiência própria. Até seu pai a achava meio... infantil demais para alguns assuntos e a usava para desabafar, imaginando que ela não entenderia nada. Contudo, ela entendia e, sobretudo, tinha uma excelente memória.

White chegou à porta do amigo, mas ao abri-la viu que o quarto estava vazio, sem sinal algum dos dois. Ela quis entrar e esperar, mas sentiu que alguém se aproximava no outro corredor.

— White? O que está fazendo aqui? Garotas não são permitidas neste lado do prédio.

Whitney colocou a expressão mais feliz e inocente que pode e se virou para o recém-chegado. Max Hatter estava visivelmente desconfortável por estar falando com ela, o que a loira percebeu na hora.

— Sério? Eu não sabia!! Achei que só não era permitido a partir de um horário fixo, sei lá...!! - Ela terminou de proferir tais palavras e sorriu abertamente, como se estivesse rindo de si mesma. - Tão típico de mim mesma, errar esse tipo de coisa...

— Ahh, tudo bem. Você não vai ser punida por isso. - Ela piscou sorridente, o fazendo relaxar. - E acho que ninguém precisa saber disso, certo?

— Jura?? Muito obrigada Max!! Juro que isso não vai se repetir!!

— Tudo bem White.

— Whitney! Meu nome é Whitney. Você sabe disso... Crescemos juntos em Wonderland. E você me chamava só de Whit. Se quiser, pode me chamar assim de novo... - Ela se aproximou devagar do Hatter, com a expressão mais amigável e inocente que pode. E foi o suficiente para derrubar as barreiras dele. Tão manipulável... Igualzinho quando criança...

— Claro. Acho que tudo bem! Temos uma história juntos e... Quer dizer...

— Nós temos sim Max!! Fomos muito amigos! Podemos voltar a ser!! Eu vim para Auradon para recomeçar!! E que melhor jeito de recomeçar do que perto dos amigos de infância??

— Ahhh, claro!! Você está certa!

— Então, já que concordamos com isso, você poderia me mostrar onde fica a aula de bondade curativa? Eles já me mostraram tudo, mas é muita coisa nova, e não consegui gravar quase nada...

— Claro!! Vamos! - Ela enlaçou o braço no dele e desceu as escadas sorrindo. Seria fácil convencê-lo do que é melhor para Addyson e Andrew.


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Daniella, se sentou do lado de fora do prédio de veterinária, querendo ficar sozinha por um instante. Ela estava com muita fome, e já sentia tonturas por isso. Não comia nada desde o jantar da noite passada, quando, em sua opinião, exagerara com a sobremesa de pudim de leite. O segundo prato era desnecessário!! E agora ela estava faminta, mas não podia comer nada ainda. Não até completar o castigo que deu a si mesma. Ela tinha que manter o peso, e fazer esse tipo de gulosice não ajudaria em nada.

Mesmo que o outono já estivesse em vigor há um tempo, o sol ainda era forte o dia inteiro, e ele estava quase queimando a cabeça da garota, a fazendo ficar pior. E continuaria a piorar sozinha se alguém não se sentasse do seu lado.

— Daniella!! Está tudo bem?? - A Bludvist abriu os olhos e viu Rosabelle, Andrew e Haldor à sua volta, todos a olhando preocupados. - Você está branca, e parece não estar bem...

— Eu estou ótima Corona. Obrigada! - A morena tentou se levantar, mas tropeçou nos próprios pés e foi seguradas por Haldor. - Me solta!!

— Calma Bludvist! Só estou tentando te ajudar!! Deveria aprender a ser mais gentil com quem te ajuda!!

— Mas eu não pedi ajuda Haddock!! E nunca pediria sobretudo a sua ajuda!! Agora me solta!!!

— Olha Daniella, quem se importou por você estar quase desmaiando aqui fora foram os dois, não eu!! - Andrew resmungou assim que Daniella se soltou de Haldor. - Eu só vim junto por que quero saber da Pandora.

— O que quer saber sobre ela? Ela te interessa por acaso??

— Sim, me interessa!! - Haldor e Rosabelle olharam surpresos para o Frost, o qual nem se dignou a olhar de volta. - Temps assuntos em comum e pendentes. Então, por favor, poderia me dizer onde ela está?

— Sinto acabar com sua expectativa, Frost, mas eu não a vejo desde a festa. Na verdade, desde que ela saiu da mesa para encontrar a Mal...

— Encontrar a Mal? Mas a Pandora não foi até ela... A mesa da Mal era do lado da minha e da minha família. A Pandora só apareceu na nossa frente, criou um clima estranho e foi embora!

— Um clima estranho? Como...

— Tenho que ir... preciso encontrar essa garota!! - Andrew saiu rapidamente de perto do grupo e não escutou quando o estômago da Daniella roncou forte nem viu quando Haldor a pegou no colo a força.

— Me solta Haddock!!! Agora!!!

— Não até você comer alguma coisa!! Deve ser por isso que estava quase desmaiando!! Você já comeu algo hoje?? - Ele começou a andar sem se importar com o leve peso da garota, enquanto Corona foi atrás. - Aposto que não... Voce não estava no almoço nem no café da manhã...

— E você por acaso fica me vigiando ou algo do tipo?

— Na verdade não... Quem percebeu isso foi a Rose, não eu.

— Ah claro!! Foi a princesinha perfeita que se intromete na vida de todo mundo achando que precisam da ajuda dela!!

— Dani...!!!

— Não me chama de Dani!!! Só as minhas amigas podem!!! Isso se eu as considerá-las amigas... Mas de qualquer forma, você não pode!!

— Chega Bludvist!! Nós vamos levar você para comer algo e depois te deixamos em paz!! Não precisamos aturar sua chatice!!

— O que? Olha como fala comigo Haddock!! E me põe no chão!!

Eles chegaram na cozinha e ele a colocou em cima da banqueta vermelha, enquanto a loira pegava alguns frios da geladeira.

— Não vamos fazer um sanduíche! Você se vira. Já cumprimos nosso dever de te trazer para comer. - Ele saiu quase enfurecido pela porta do cozinha, sem nem olhar para trás.

— Não liga muito para o Haldor... Ele puxou muito do temperamento da mãe dele...

— Astrid Hofferson Haddock? Quanta sorte minha... De todas as pessoas nessa Universidade, tinha que ser ele a tentar me ajudar?!?! Ainda mais quando não pedi ajuda?!?!

— Acalme-se... - Rosabelle pegou quatro fatias de pão de forma e começou a fazer dois sanduíches simples. - Olha, eu não sou uma cozinheira muito boa... Então espero que se contente com só isso...

— Eu não preciso de nada que venha de você...!! Não preciso de nada que venha de qualquer um que não seja eu mesma!!

— Você não precisa contar somente consigo mesma o tempo todo... - A loira colocou o prato com os sanduíches já prontos em frente à morena, que somente cruzou os braços. - Come! Se você realmente não comeu nada até agora, não pode continuar assim!! Tem que colocar algo no estômago!!

— Meu estômago está bem, obrigada.

— Daniella...

— Você não tem aula agora não??

— Tenho, mas estou exercendo minha profissão, então não deve ter problema algum com isso... - A Bludvist a encarou com um questionamento estampado no rosto, provocando um riso leve na loira. - Eu faço medicina, esqueceu?

— Ah, claro...

— Come só um pouco pelo menos... Não vai doer nada! - Daniella revirou os olhos e olhou para o prato ainda intacto. Ela não faz ideia do que está falando... A morena segurou um dos sanduíches entre os dedos e hesitou na primeira mordida. - Vamos. Não vou parar de insistir até que come algo.

— Então vai conversando comigo.

— Posso perguntar algo? - Daniella deu a primeira mordida enquanto balançava afirmativamente a cabeça, fazendo Rose sorrir sem saber qual era exatamente o porquê. - O que aconteceu com a Pandora na festa? Quer dizer, eu sei que você disse que não a viu mais, mas alguma coisa aconteceu para... Aquilo!!

— Aquilo o que Corona?

— O Andy me disse que ela apareceu do nada na frente da mesa da família dele e ficou lá, encarando os guardiões por um tempo. Eu sei que não é estranho esse fato, até porque foram eles que prenderam os pais dela... Contudo, o Andy disse que os guardiões também agiram estranho... o que não é normal!! Eles sempre mantém a postura e tals...

— Deixa isso para lá, está bem? Olha... - Daniella deu mais uma mordida no sanduíche, não querendo admitir que realmente estava bom. - Eles são complicados... Os Black, eu quero dizer. Tudo em relação a eles é muito... Misterioso. Acho que não tem palavra melhor para descrever... Ninguém da ilha sabe muito sobre eles... E os dois querem continuar assim. Se os guardiões não falaram nada, é bem provável que isso se mantenha em segredo até o momento que os gêmeos decidirem falar.

— Ninguém sabe nada? Porque o Andrew disse que...

— É sério. Deixa para lá...


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Petter parecia enfurecido quando se sentou ao lado de Irvine na Aula de Bondade Curativa. Ele passou as mãos no rosto, tentando se acalmar, quase assustando Daniella que estava atras dele. No entanto, na verdade ele estava preocupado. Sua irmã desaparecera desde a festa do Dia da Família, e ele não sabia o que poderia ter acontecido.

— Bom dia alunos!! - Primavera entrou sorridente na sala, pronta para começar a aula. - Espero que os alunos novos gostem da aula e dos cursos que farão! Já se decidiram?? - Whitney abriu a boca para responder, mas foi cortada pela fada. - Espero que sim, queridos!! Aliás, acho que está faltando alguém, não? Onde está a Senhorita Black?? Algum de vocês sabe? Senhor Black?

— Eu não sei. - Petter não se surpreendeu quando escutou sua voz quase como um silvo baixo. - Não faço a mínima ideia de onde ela possa estar.

— Certo. Então vamos começar a aula e esperar que a Senhorita Black esteja só atrasada.

...

Petter estava procurando pela irmã por todo o prédio de dormitórios da faculdade. Ela havia faltado na Aula de Bondade (o que todos queriam ter feito) e a professora Primavera não havia gostado nem um pouco. Durante a aula toda, a fada ficava fuzilando o lugar vazio de Pandora, tentando fazer a garota se materializar, o que não aconteceu.

Alem disso, Daniella havia comentado sobre o que Rosabelle havia dito sobre Pandora e os guardiões. E por isso seu gêmeo estava a procurando, sem sucesso, a quase meia hora. Todavia, assim que ele saiu do prédio e olhou para o céu, ele começou a correr em direção ao telhado, sabendo que ela estaria lá.

Não havia telhados na Universidade de Auradon, mas havia terraços. E era lá que Pandora estava, olhando o por-do-sol, girando o anel no dedo, sem tirá-lo (ela não faria isso tão cedo novamente).

Pandora! Você é maluca ou algo do tipo? - Petter nem a cumprimentou quando chegou ao seu lado. - Você faltou na Aula! Tem ideia de quanto a Primavera ficou brava?! Ela quase descontou na gente!!

— E eu ligo para isso por acaso? - Ela nem fizera questão de olhar o irmão. E ele sabia que ela não faria isso.

— Eu sei que não. Até não me importo que você não ligue para os outros; mas para mim? Eu sou seu irmão!

— E?

— Pandora!! - Ele passou a mão pelo cabelo, se segurando para não responder a ela. Ele sabia bem o que ela deveria estar sentindo após ter visto Pitch e Ingrid Black em coma e depois os Guardiões. - Olha, eu sei que você está mal e tudo mais...

— Nem vem Petter. Faça-me o favor de nem tocar nesse assunto!

— São minha família também!

— E o que você quer que eu diga! - Ela parou de olhar para o sol para olhar para ele, e Petter viu como os olhos da irmã estavam num tom de azul escuro, quase cobalto. - Que eles pareciam mortos?

— Não... Eu só quero que você pare de agir como se tivesse sofrido tudo sozinha! Como se estivesse sozinha!! Caso você tenha se esquecido, nós só temos um ao outro!! Até conseguirmos libertar nossos pais, somos só eu e você!! - O tom de azul do olhar dela se suavizou e eles voltaram a olhar o pôr-do-sol.

— E você não sabe como eu gostaria que não fosse assim...

— Eu sei... Eu também não queria. Eu quero que você entenda que eu também sinto tudo isso... Mas parece que você quer se sentir a vítima e tudo mais!

— Vítima Petter Black?? - Ela olhou mais uma vez para ele e suas mãos tremeram. - Eu não me faço de vítima! O problema é que você não viu o que eu vi! Você não viu tudo!! Eu te descrevi tudo, mas não é a mesma coisa!! - Ela parou de olhá-lo ao sentir a garganta se fechar. - Simplesmente não é...

Os últimos de raio de sol do Oeste desaparecerem no horizonte, e os gêmeos, instintivamente, olharam para o céu acima de suas cabeças, esperando algo que eles sabiam que não viria. Então Pandora se virou para ir embora, deixando o irmão sozinho no terraço.