Cindy encarou a porta, mesmo depois de Boa sair e todos se dispersarem. O que o projetinho de rainha pensava que era para falar com ela desse jeito? Para defender aquelas pessoas miseráveis e humilha-la daquela forma? Para ameaçar expulsa-la da festa?

Ela sabia desde o começou que trazer eles para Auradon Prep era uma má ideia, e agora as coisas se tornavam ainda mais claras. Eles chamavam atenção demais, tinha peculiaridades demais, e eram bons demais em diversas coisas. Não eram apenas um problema, eram uma ameaça. E ela odiava se sentir ameaçada.

Ela olhou para os três sentando-se a mesa, furiosa. Por ela, eles iriam embora de Auradon o quanto antes. Aquela era a sua escola. E ela começaria seu plano aquela noite.

...

Maison correu atrás de Boa, com cuidado para não se aproximar demais. Ela parecia bastante irritada, ele pensou, não apenas superficialmente brava, parecia realmente furiosa, enquanto marchava pela grama com os sapatos de salto alto prendendo na terra. Ela por fim parou, os tirou e atirou longe.

Ele abriu a boca para falar algo, mas ela o cortou – Por favor, Maison, se não quiser que eu me irrite com você também não pergunte se eu estou bem? – ela falou, série, lhe encarando – Por que claramente eu não estou nada bem.

Ele sorriu – Eu percebi – ele falou, despreocupadamente. Ela lhe encarou – Não posso rir também?

—É só que... A maioria das pessoas não riria nessa hora – ela deu os ombros, seguindo descalça pela grama. Ele a seguiu – Mas você não é como a maioria das pessoas, com certeza já viu coisas mais aterrorizantes do que uma princesa perdendo a cabeça, não é?

—Acho que uma ou duas, talvez – ele falou, enquanto desciam uma pequena colina até a entrada do bosque aos fundos de Auradon Prep. Ela parou, sentando-se no chão e encostando-se em uma árvore. Ele acabou sentando-se ao lado dele – Mas estou impressionado, nunca vi você tão terrivelmente irritada, princesa fera?

—Princesa Fera? – ela ergueu uma sobrancelha, e ele apenas deu os ombros.

—Sabe mais uma coisa que os últimos dezesseis anos me renderam? Bons ouvidos e paciência infinita, não é fácil viver com a minha mãe – ele falou, tentando manter o tom de brincadeira – Então, se quiser conversar...

—Você deveria voltar para a festa – ela suspirou, desmanchando o cabelo perfeito – Não precisa se preocupar comigo.

—Eu nunca me preocupei com ninguém além de mim Boa – ele falou, rindo – Me deixe me preocupar com você, pelo menos. Você está com raiva. E eu entendo bastante sobre raiva.

—Não estou com raiva, Maison é só que... Eu não escolhi nascer uma princesa. Eu nunca pedi para ser a Rainha! Mas parece que tudo que eu digo ou faço não é certo para uma rainha – ela começou a falar, sem nem se dar conta – É assim desde os meus cinco anos. É como se eu já tivesse a coroa desde que nasci, só não tivesse o poder! Eu não tenho poder sobre nada, nem sobre a droga da minha vida!

Ela arfou, os olhos se enchendo de lágrimas.

—Eu só queria ter possibilidades. Ter a chance de escolher sair da linha uma vez. De não estar sempre no centro, sempre sobre o muro, sempre no fogo cruzado. De saber que mesmo Cindy tem oportunidades, e eu não! – ela colocou a cabeça no colo dele – Todos os dias na minha vida são a mesma coisa, de novo, e de novo, e de novo, e vão seguir assim pelos próximos trinta, ou cinquenta anos. Ou mais. E eu estou cansada de tudo isso... Eu só tenho dezesseis anos... Eu já estou tão cansada de tudo isso...

Maison não soube o que dizer. Ele desejava saber. Mas apenas acariciou os cabelos dela enquanto a respiração da pequena princesa fera diminuía, até ele perceber que ela havia dormido. Ele suspirou, olhando para o rosto manchado de maquiagem, os cabelos espalhados em seu colo e os pés descalços dela. Como ele poderia trai-la agora? Depois de tudo aquilo? Mas como poderia desistir daquele plano, se era tudo que ele e sua mãe sonhavam? Não era?

Ele fizera tudo errado, não deveria ter se apaixonado por Boa. O amor nunca é uma boa ideia. Ele suspirou, levantando Boa nos braços com facilidade e a levando para seu quarto. Ele nunca tinha entrado no quarto dela, mas nunca conseguiria imagina-lo como realmente era. Paredes azuis escuras com pilastras douradas e uma grande lareira. Moveis de madeira branca, uma cama de dossel de metal dourado, e uma prateleira cheia de livros. Mas o que o impressionou foi um cavalete ao lado da cama, tinha uma pintura inacabada, mas mesmo assim ele reconhecer. Era o velho palácio de sua mãe, na montanha proibida. A pintura era monstruosamente obscura, com corvos voando em volta das torres e uma luz verde brilhante.

Ele nunca se sentiu tão apavorado ao ver uma imagem daquele castelo quanto naquele momento.

Ele puxou um cobertor sobre ela e saiu do quarto, devagar, andando pelos corredores vazios de Auradon Prep. A música do baile muito distante. Ele suspirou, olhando para o corredor vazio. O que tinha feito consigo mesmo?

Estou uma confusão agora Oh, I’m a mess right now
Virado do avesso Inside out
Procurando por uma rendição Searching for a sweet surrender
Isso não acaba assim But this is not the end
Só não sei como resolver I can’t work it out
Como?How?

Ele começo a descer as escadas que levavam para o primeiro andar, a escola estava estava estranhamente escura e deserta.

Atravessando as emoções Going through the motions
Indo além de nós Going through us
Apesar de já saber há And, oh, I've known it for the
muito tempo longest time
E toda a minha esperança And all my hopes
Todas as minhas palavas All my words
estão escritas em sinais are all over written on the signs
Mas você é minha estrada When you’re on my road
Me levando para casa walking me home
(Casa, casa, casa, casa) (Home, home, home, home)

Ele seguiu para o lado de fora, onde a lua e as estrelas iluminavam o céu e a música da festa se tornava um pouco mais audível, seus olhos começaram a brilhar, descontrolados, em fogo verde tremulando.

Veja as chamas em meus olhos See the flames inside my eyes
Elas brilham tanto It burns so bright,
Dá pra sentir o seu amor I wanna feel your love, no
Vá com calma, Easy, baby,
Talvez eu seja um mentiroso maybe I’m a liar
Mas só por essa noite But for tonight
eu quero me apaixonarI wanna fall in love
E te fazer confiar em mim And put your faith in my stomach

Ele seguiu caminhando até o bosque, andando entre as árvores, ofegante, quase correndo. Seu coração batia tão rápido, ele parou, encostando as costas em uma grande árvore, várias corujas saíram voando. Ele levou a mão ao peito.

Veja as chamas em meus olhos See the flames inside my eyes
Elas brilham tanto It burns so bright,
Dá pra sentir o seu amor I wanna feel your love, no
Vá com calma, Easy, baby,
Talvez eu seja um mentiroso maybe I’m a liar
Mas só por essa noite But for tonight
eu quero me apaixonarI wanna fall in love
E te fazer confiar em mim And put your faith in my stomach

A mente dele começou a girar, lembrando de sua mãe, de tudo que ela planejou e de tudo que havia prometido aos vilões. De tudo que ele e os outros já passaram e do futuro que ele prometera aos, não havia outra palavra para descreve-los, seus amigos. E depois de tudo que passará com Boa, do dia do piquenique, dos dias depois, daquela noite. De tudo que contaram um para o outro, e de como ficava feliz quando a via sorrindo.

Por quanto tempo, eu amei minha amada
For how long, I love my lover
Por quanto tempo, muito tempo eu amei minha amada
For how long, long I’ve loved my lover
Agora, agora, por quanto tempo, muito tempo eu amo minha amada
Now, now, for how long, long I love my love

...

Laurent suspirou, enquanto voltava para os “camarins” improvisados para procurar pelo seu celular. Aquela não estava nem perto da noite calma e divertida que todos planejavam, ele nunca imaginará ver Boa explodindo daquele jeito de novo, a última vez que ele a viu assim foi na quinta série. Ele lembrava que Andrew estava implicando com John, e ela se enfureceu e o fez se desculpar. Foi a primeira vez que ele realmente viu a rainha dentro dela. E naquela noite, vira mais uma vez, enquanto ela confrontava Cindy e os próprios pais.

Talvez por ter sido criado de uma forma diferente, por uma família diferente, ele fosse mais aberto ver as coisas do que as “crianças da nobreza” como sua mãe chamava as vezes. Ele não havia achado aquilo nenhum escândalo, ou quebra de etiqueta, na verdade achava tão nobre quanto qualquer ato que já vira o rei ou a rainha fazer em anos.

Ele entrou no camarim, encontrando o telefone sobre uma mesa, e o colocando no bolso, se virando para voltar para o salão, com uma animação empolgante. Carly parecia realmente estar se divertindo, e ele ficou feliz por isso. Nunca tinha prestado muito atenção nas garotas em volta, mas algo naquela menina de maria-chiquinhas e roupas de pele realmente lhe chamou a atenção.

Bem, não que Carlotta fosse discreta, na verdade, ela provavelmente chamava a atenção de todo mundo que a visse. Ele se pegou tão distraído por seus pensamentos que acabou se chocando contra alguém.

—Cindy? – ele perguntou, quando a menina deu um passo para trás. Parecia um pouco abalada, com lágrimas nos olhos – Você está bem?

—Oi? Ah, claro. Ótima! Só estou indo pegar meu casaco, as pessoas estão começando a ir embora... E a porta está aberta... E esse ar frio não vai me fazer bem – ela deu uma fungada – A propósito, você foi incrível hoje. Foi muito bom ser par de um dançarino como você!

—Sério? – ele perguntou, surpreso – Eu achei que você estava irritada por não estar com Andrew!

—Não, não, é só que... – ela suspirou, dando os ombros – Andrew e Boa sempre tem todos os holofotes. É difícil lidar com isso, ser sempre o terceiro lugar... Meus pais queriam um garoto... O cara que eu gosto me dispensou em menos de sessenta horas – ela começou a chorar, de repente – E Boa... E sempre tentei ficar perto dela, mas ela afasta todo mundo! Viu o jeito como ela gritou comigo hoje? Na frente de todos? Meus pais nem olham para mim!

—Cindy... – ele colocou a mão no ombro dela, um pouco surpreso. Cindy Charming nunca chorava, seu dever era fazer os outros chorarem. Ele deveria ficar desconfiado.

—Não precisa ser legal comigo, eu sei que ninguém gosta de mim – ela fungou. – Na verdade, todo mundo me odeia!

—Não é verdade. Eu não te odeio... Você dança bem e é sempre a primeira a provar cegamente algo que eu cozinhe e leve para o pessoal experimentar – ele sorriu.

—Então, você gosta de mim? – perguntou ela, olhando para ele com aqueles enormes olhos azuis.

—Claro! – ele deu os ombros, sorrindo bobamente.

—Sabe, eu não tinha notado – ela estendeu a mão até a nuca dele, rosando as longas unhas– Você cortou o cabelo. Ficou muito melhor...

...

Carly olhou para Ethan, apaixonadamente encarando Dany no palco. Depois olhou para Jullie, que tentava manter uma conversa com John enquanto fingia que não cuidava Andrew pelo salão. Ela suspirou, se levantando, mais cinco minutos daquilo e ela iria pirar, onde estava Laurent?

Ela seguiu pelo salão, subindo as escadas pela lateral do palco, e seguindo para os corredores onde garçons e garçonetes apresados circulavam, assim como algumas mulheres mais velha rindo, indo e voltando do banheiro, e o pessoal que cuidava da iluminação. Até mesmo por um rei ela passou, surpresa ao perceber que ele falava em uma concha.

Cansada, ela fez toda a volta pelos bastidores, perguntando para uma senhora se ela vira Laurent. Ela deu um sorriso doce, e disse que o virá entrando na sala onde os alunos ficaram antes das apresentações, e lhe apontou o caminho. Ea seguiu, encontrando a sala vazia. Talvez ele já tivesse voltado ao salão. Ela concluiu que, se seguisse por aquele caminho, chegaria ao outro lado do palco.

Desejou ter feito a volta, por que quando dobrou o corredor viu os dois. Mesmo na luz fraca que vinha do palco logo a frente, ela reconheceu a pele amendoada de Laurent e os cabelos mais loiros impossíveis de Cindy. O garoto estava prensado contra a parede, enquanto a loira o beijava.

—Acho que encontrou seu celular – falou Carly, furiosa. Ela ouviu sua voz saindo como um rosnado. – E pelo visto você e Cindy estavam tendo uma “ligação” muito interessante!

—Oh, Carly! – exclamou Cindy, dando um pulo para trás – Você... Eu não... – ela deu um tapa em Laurent – Por que você fez isso?

—Eu? – ele exclamou, mas Carly já tinha corrido para o outro lado. Ele encarou Cindy, chocado – Você... Sinceramente, o que ganha com isso?

—Ah, pare de choramingar... – ela riu, desdenhosa – Você não devia estar correndo atrás da sua namorada?

—Eu mudei de ideia, Cindy. Eu realmente te odeio – ele falou, antes de sair correndo – Carly!

Cindy se encostou na parede, tirando um espelhinho e um batom vermelho da bolsa, sorrindo para o próprio reflexo – Eu sei disso!

Passo um, completo!

...

O salão já estava quase vazio. Jullie suspirou, vendo as últimas pessoas conversando em pequenos círculos. Ethan havia ido para uma mesa bem na frente, perto do palco, onde ainda babava por Dany, e Carly desaparecerá completamente. Ela estava prestes a ir embora quando Andrew se sentou na cadeira ao lado dela.

—Eu acho que não tive a chance de comentar – ele falou, sorrindo – Você está muito bonita, está noite, senhorita.

—Vai admitir que eu tinha razão? – ela perguntou, mexendo o líquido em as taça, sem olhar para ele – Sobre eu conhecer a sua família.

Ela o ouviu suspirar, em tom de derrota – Você estava certa. Foi uma péssima ideia. O jeito como minha avó olhou para Maison... Entendo o que quis dizer. Imagino que eu olhava para vocês do mesmo jeito, não?

—Você era ainda mais arrogante – ela grunhiu, ainda sem encara-lo.

—Eu conversei com meus pais, antes deles irem embora – ele continuo – E falei sobre vocês todos, que não eram tão ruins...

—Que não eram tão ruins? – ela ergueu uma sobrancelha – estou lisonjeada.

—E eles disseram que adorariam conhecer vocês em algum outro momento – ele continuou, a ignorando – Usando as palavras do meu pai, “incluindo aquela menina bonita que você encarou a festa inteira”

Ela riu, levantando os olhos.

—Eu me pergunto se a menina bonita gostaria de conhece-los – ele falou, sorrindo.

—Eu tenho que responder agora? – ela perguntou dando um sorrisinho – Por que quase todo mundo já se foi, e essa menina bonita aqui esperou a noite inteira que um certo príncipe chamasse ela para dançar...

Ele sorriu, pegando a mão dela e seguindo para a pista de dança, onde apenas alguns casais mais velhos dançavam as últimas músicas lentas. Jullie sabia que aquela paz passaria logo, sabia que a coroação se aproximava e que em breve o caos reinaria. Que ela e Andrew não nasceram para durar. Mas por hora, ela encostou a cabeça em seu ombro e fechou os olhos, deixando que ele a guiasse.