Descendants - In Reverse

XIII - Sentidos Destintos


—Ainda falta algo – resmungou Carly, colocando a colher suja na boca e fazendo uma careta – Parece tão... Sem graça! Não acha, Lady?

Ela estendeu a colher para a cadela deitada no chão, que cheirou, e voltou a deitar a cabeça.

—Ah, obrigada... Grande ajuda – ela suspirou, jogando a colher sobre o ombro, ouvindo o estalo dela caindo na pia.

—Não tenho certeza, mas... Eu acredito que não se possa entrar com animais na cozinha – falou uma voz risonha, enquanto Laurent cruzava a cozinha até a geladeira. – Vou ter que contar a diretora.

—Não pode deixar passar? Só uma vez? – Carly perguntou, fazendo um biquinho – Eu meio que estou sem opções hoje...

—Por que diz isso? – ele riu, erguendo uma sobrancelha.

—Meus amigos sumiram, tipo, completamente – ela deu os ombros – E meu chocolate quente também não está tendo muito avanço! Preciso de alguma companhia antes que comece a quebrar tudo!

—Poderia, você sabe... Ter ido jantar com o resto dos alunos – ele sugeriu, e ela revirou os olhos. – O que?

—Sozinha de novo! – ela exclamou, o encarando – Todos aqui tem medo de mim, e os que não tem me acham uma cabeça oca avoada. Quem sentaria comigo?

—Eu sentaria – ele sorriu – E não acho você avoada.

—É claro que acha. Todos acham – ela resmungou – Não faz mal, eu sou!

Ele riu, andando até a panela, colocando um dedo dentro e levando a boca.

—Você tem a estranha mania de comer com as mãos – ela comentou, sentando sobre a bancada e balançando os pés. – Então, o quão horrível está?

—Nem um pouco – ele falou, se afastando até a geladeira – Só precisa de um pouco de Chantilly, e... – ele seguiu até um armário, pegando duas xícaras e um potinho com um pó marrom – Canela!

Ela assistiu enquanto ele montava as xícaras, com perfeição, e entregava uma para ela. Ela olhou desconfiada para a xícara antes de dar um gole.

—Oh, Poodles! – ela exclamou, arregalando os olhos – Isso está incrível!

...

Assim como a ponte, Maison percebeu, só precisava de um pouco de tempo para aprender a lidar com a moto. E quando isso aconteceu, ele percebeu que realmente gostava da sensação de liberdade que passava estar sobre ela. Talvez por isso Boa se arriscasse tanto por ela. Talvez ela também sentisse falta disso.

Ele se surpreendeu quando percebeu que haviam passado do caminho para a escola, seguindo em direção a cidade. Aquela hora da noite, quase tudo deveria estar fechado, ele não fazia ideia de onde estavam indo, até que ela parou em uma loja escondida, com janelas brilhantes entre as vitrines escuras do centro da cidade.

—O que estamos fazendo aqui? – perguntou ele, confuso, enquanto desciam da moto. Ela riu.

—Lembra quando eu disse que queria aprender a grafitar? – ela perguntou, e ele assentiu – Bem, decidi que você vai me ensinar!

—Eu não lembro de ter concordado com isso – ele franziu a testa.

—Bem, pode voltar a pé para a escola se quiser – ela seguiu andando até a porta da lojinha.

Ele riu, seguindo ela. Como alguém podia ser tão não ameaçadora assim?

A lojinha se mostrou uma coisa gigantesca e totalmente sem sentido, haviam latas de tinta e pinceis espalhados por prateleiras gigantescas sem padrão nenhum, mas com o familiar cheiro de tinta que ele se acostumou durante os anos na ilha.

—Rapunzel não se deu muito bem com o negócio de princesa – riu Boa, que andava em frente a ele – Aparentemente, ela também não se dá muito bem com horário, então a loja fecha ao meio dia e abre a meia noite!

—Ao contrário querida – riu uma mulher de cabelos castanhos pela metade das costas, com tinta no vestido e no rosto – Ao contrário!

—Ah, certo... Desculpe – Boa riu, balançando a própria cabeça e abraçando a mulher.

—E então? Onde está Dany? – perguntou a mulher, gentilmente – Ela disse que viria hoje a tarde, mas não apareceu... Estou com a encomenda dela!

—Não vim, com a Dany hoje, Puzzi – Boa falou, um pouco nervosa – Vim com outro amigo, é... Maison? Maison!

—Olá – ele falou, seco, de onde estava parado.

—Então, finalmente largou o Andrew? – Pergunto Rapunzel, se sentando sobre a bancado com os pés descalços balançando – Eu nunca quis dizer nada, mas aquele garoto...

Ela ouviu Maison abafar uma risada e mudou rapidamente de assunto, antes que a conversa sobre garotos se prolongasse ainda mais.

—Então, Puzzi, precisamos de tinta em Spray! – Nada sutil.

—Tinta em Spray? Interessante... É pra um trabalho da escola? – perguntou ela, curiosa, subindo em uma das escadas.

—Não exatamente – ela enrolou os dedos uns nos outros, nervosa.

—Entendo... PEGA! – Rapunzel jogou uma grande caixa para baixo, que Boa agarrou com dificuldade e rapidamente soltou sobre o balcão – O que tem aqui? Tijolos?

—Vejo que sua mãe não avançou muito com você – riu Rapunzel, descendo da escada em um pulo – Ainda bem... Amo sua mãe, mas ela é uma chata quando quer!

—Cuidado, isso pode ser considerada alta traição – brincou Boa, com uma voz ameaçadora – Coloque estas na conta do palácio!

—Você quer mesmo pirar seus pais, não é? – perguntou Rapunzel, e a menina deu os ombros – Você é quem sabe... Até logo querida!

—Quando você vai parar de me surpreender? – perguntou Maison, enquanto andavam pela rua, abandonando a moto em frente a loja e subindo uma colina.

—O que quer dizer? – perguntou ela, confusa.

—Primeiro foi a moto, depois o piercing – ele começou a citar – E agora essa conversa com aquela doida...

—Ela não é... Tudo bem, talvez um pouco – ela fez uma careta, abrindo o portão de uma grande propriedade no fim da subida – Vamos!

—Que lugar é esse? – perguntou ele, confuso.

—Um lugar onde eu venho quando quero ficar sozinha – ela deu os ombros – Era a casa do meu avô, até ele... Bem, minha mãe nunca mais veio até aqui, então acabou sendo um bom lugar para me esconder.

Eles pararam no fundo da casa.

—E essa parece ser uma boa parede para grafitar – ele comentou, e ela sorriu.

—Então acho que eu comecei bem!

...

Aquele com certeza havia sido o pior encontro de toda a vida de Jullie. E se ela estivesse na Ilha, ela já teria dado um belo chute m Philip no lugar em que mais doeria, mas em Auradon ela se sentia fora de sua zona de conforto, como se qualquer passo em falso, ela pudesse ser enfiada em um carro e despachada para a Ilha imediatamente.

Não que isso parecesse realmente ruim no momento, mas sinceramente, como poderia confiar naqueles dois cabeças ocas apaixonados, claramente leváveis pelo humor, e na tonta da Carly para executar um plano maligno sozinhos? Ela era a salvação deles...

—Então, espero que tenha se divertido hoje – falou Philip, sorrindo, enquanto paravam em frente a escola.

—Ah, claro... – ela tentou sorrir, mas sentia seu rosto duro – Foi incrível...

—Aposto que Auradon é bem melhor do que a Ilha, não? – ele perguntou, petulante. Jullie queria socar a cara dele, era a terceira vez que ela ouvia isso na última hora.

—É, diferente... – ela deu os ombros.

—Agora que te mostrei a cidade, talvez pudesse me dar um desconto no próximo jogo – ele riu, ela sentiu um gosto amargo na boca.

—Acho que não vai rolar – ela falou, séria, mas ele não parou de sorrir, e deu um passo para frente. Ela deu um passo para trás, batendo as costas na parede da escola. Ele colocou a mão na parede, ao lado do rosto dela.

—Então acho que vamos ter que achar outro modo de você me agradecer – ele avançou. Ela virou o rosto – O que foi?

—Não acha que é muito cedo para isso? – ela perguntou, tentando se afastar, mas ele escorregou a mão até seu cotovelo, e segurou o pulso dela com o outro braço, a pressionando mais contra a parede.

—Ah, qual é Jully, é só um beijo – ele riu, enquanto ela virava o rosto – Garanto que isso não é grande coisa de onde você vem.

—Me larga – ela falou, firme, o empurrando. Ele a pressionou mais.

—Por que não desconta toda essa raiva me beijando? – ele riu, passando a mão pelo rosto dela

—Me larga, agora, ou eu vou te machucar – ela ameaçou, girando o pulso e segurando o dele com força – E acho que nós dois sabemos que eu posso!

—Se fosse me machucar, acho que já teria machucado – ele riu.

—Se eu fosse te beijar, também já teria beijado – ela contra atacou, apertando as unhas com força no pulso dele – Agora, me solte!

—Alguém já disse que você fica linda irritada assim? – ele provocou, Jullie estava prestes a ataca-lo, quando alguém o puxou para longe dela, a fazendo se desequilibrar por um momento antes de se recuperar.

—Acho que a moça mandou solta-la – falou Andrew, que segurava Philip pelo colarinho – Ou será que eu ouvi errado?

—Já não passou da sua hora de dormir, Andrew? – debochou o garoto, recebendo um soco na cara. Andrew o soltou, deixando que ele caísse no chão.

—Achei que já tinha dito para não arrumar confusão na minha escola, Philip – Andrew o encarou, com aquele ar nobre que fazia qualquer pessoa implorar para estar ajoelhada aos pés dele. Ele passou o braço sobre os ombros de Jullie – Isso também se estende a minha garota!

—Desculpe cara, eu... Eu não sabia que ela estava com você... Eu... – ele saiu correndo, antes de poder falar qualquer coisa realmente louvável.

—Obrigada – sorriu Jullie, se afastando dele.

—Não tem de que – ele sorriu de volta, tirando o casaco – Você deve estar com frio. Está machucada?

—Não, só o meu orgulho – ela deu os ombros, mas aceitou. O casaco de Andrew tinha cheiro de suor, mar e algo extremamente masculino. Eles se sentaram em um dos bancos, se se importar em entrar na escola. – Nem acredito que aceitei sair com aquele idiota.

—Todos fazemos coisas idiotas as vezes – Ele brincou, e ela o empurrou com o ombro – Por que não se livrou dele? Eu sei que você podia...

—Eu... Não quero ser só a garota que resolve tudo com os punhos, o que as pessoas veem a primeira vista – ela suspirou – Acho que te devo um pedido de desculpas...

—Pelo que? – ele perguntou, surpreso.

—Você não é, como um Zangado. Eu estava errada, você é mesmo um príncipe. – ela piscou, a luz da lua refletindo em seus olhos âmbar – E príncipes devem ficar com princesas, é a ordem natural das coisas. Eu não deveria ter pirado mais cedo, você não tem culpa de eu ter embaralhado tudo na minha cabeça...

—Fico feliz que agora eu pareça um príncipe pra você – ele sorriu, pegando a mão dela sobre o branco de mármore frio – Mas nem sempre os príncipes escolhem a princesa...

—Não precisa – ela tirou a mão, contrariada – Não quero que sinta pena de mim, Andrew...

Ele riu, balançando a cabeça como se ela tivesse dito a coisa mais absurda do universo – Acredite, eu não sinto. Sinto pena de mim...

Ela queria revirar os olhos, dizer que não havia nada nele para sentir pena. Ele era malditamente perfeito. Mas em vez disso ela se viu pegado a mão dele de novo. – Ah, eu sinto... E muito...

—O que quer... – ele começou a perguntar, mas ela já havia avançado. Era estranho que tivesse desesperada para fugir dos braços de um garoto a dez minutos, e agora jogava-se sobre outo. Mas ela não entendi direito essas coisas, talvez não fizessem mesmo sentido...

Ela sentiu seu corpo amolecer, como se pudesse cair para trás se Andrew tirasse a mão de sua nuca, como se tudo o peso de seus ombros sumisse. Ela provavelmente nunca tinha passado tanto tempo beijando alguém, nunca ninguém tinha a beijado tanto. Ela sentiu o casaco dele deslizar de seus ombros e se afastou, surpresa pelo vento gelado. Ele riu quando ela encolheu, tremendo, pegou o casaco do banco e o passou sobre seus ombros novamente.

—Vamos entrar? – ele sugeriu, e ela apenas assentiu.

Ele seguiram em silêncio pela escola vazia, andando até o quarto dela e de Carly. Ele não falou nada, só a beijou de novo e ela entrou no quarto. Enquanto ouvia os passos se afastando no corredor, ela percebeu que ainda estava com o casaco dele.

—Andrew! – ela sussurrou, colocando a cabeça para fora do quarto. Ele se virou. Ela hesitou por um minuto – Boa Noite...

—Boa noite – ele sorriu, e seguiu pelo corredor. Ela fechou a porta, rindo. Podia devolver amanhã. Ou depois; ou depois... Afinal de contar, os velhos hábitos custam a nos abandonar, não?

...

Boa sentiu sua pele arrepiar com a respiração de Maison no pescoço dela. Estava esfriando de repente, e o hálito dele era quente. Ele segurou seus pulsos.

—Você não precisa ter medo, é só tinta em spray, não vai te morder – ele falou, rindo, enquanto a ajudava a segurar as latas de tinta melhor - Ok, agora vai lá!

Ela se sentiu gelada assim que ele se afastou, dando espaço para que ela pintasse.

—Isso mesmo, está quase pronto – ele falou, sorrindo, assim que ela acabou – Só falta um pedaço em cima. Sobe...

Ele se ajoelhou de costas para ela.

—O que? – ela exclamou, surpresa – Maison, acho que eu não consigo...

—Precisa confiar em você – ele riu, enquanto ela passava, hesitante, uma perna pelo ombro dele – Por que eu confio que não vai nos derrubar!

Ele a ergueu com facilidade, a deixando a altura da ponta inacabada do desenho. – O que eu faço agora?

—Isso é com você – ele riu sob ela, a fazendo se desequilibrar por meio segundo antes de tocar na parede e começar a espirrar tinta. – Acabou?

—Já! – ela assentiu, apenas para lembrar que ele não podia vê-la. – Como ficou?

—Hã... – ele resmungou, fazendo o peito dela apertar antes de senti-lo rindo – Você tem um talento nato!

—Ah, claro... Sou o Papai Noel nas horas vagas também – ela ironizou, enquanto voltava a solo firme, o relógio soava onze horas. – Ah, já é tão tarde... Melhor irmos, temos muito chão a andar até a escola!

—E a sua moto? – ele perguntou.

—Cama atenção demais... Não quero ter uma reunião com a diretora a está hora da noite – ela suspirou, enquanto andavam para fora da propriedade, um vento forte os atingia – Frio!

Ele tirou o casaco, estendendo para ela. – Toma!

—Não precisa!

—Deixe de ser teimosa, Boa— ele falou, jogando o casaco sobre ela – Ninguém quer ver a futura rainha doente, não é mesmo?

Não é mesmo?