—Muito bem meninos, preciso de ajuda – falou Jullie, no vestiário apenas com uma calcinha preta e a camiseta do time tapando menos do que o necessário – Qual desses shorts eu uso?

Os meninos coraram, desviando os olhos das suas pernas perfeitas. Ela estava adorando aquilo, era tão graciosamente fácil constranger as pessoas de Auradon.

—Muito bem time, o treinador quer... – Andrew Sleeping entrou no vestiário, se deparando confuso com aquela cena, e a encarando. Diferente dos outros ele não parecia constrangido, nem sequer exaltante, apenas irritado – O que você pensa que está fazendo?

—Os meninos estão me ajudando a escolher o que usar pro jogo – ela balançou os shorts – Não é mesmo meninos?

—Eu não acredito – ele a encarou, incrédulo, e se virou para o time – Vocês, aquecimento. O treinador está chamando, andem. E você... – ele se virou para Jullie – Vai se vestir, certo?

Ela fez um biquinho – Mas eu não sei o que vestir...

—Você só pode estar brincando – ele grunhiu.

—Era de esperar que vocês em Auradon tivessem algum humor – ela reclamou, se apoiando contra um armário – Você parece aquele anão, qual o nome? Ranzinza? Não... Era...

—Zangado – ele falou.

—Isso – ela concordou – Você parece mais o Zangado do que um Príncipe Encantado.

—Bem, a Charming por aqui é a Cindy – ele deu um esboço de um sorriso.

—Olha só, ele sabe brincar – ela sorriu – Isso me faz pensar...

—O que? – ele ergueu uma sobrancelha.

—Se não seria eu a lhe deixar tão nervoso – ela riu.

—Por que você me deixaria nervoso? – ele perguntou descrente.

—Eu tenho a impressão que algo dentro de você morre de medo de mim – ela deu um passo na direção dele – E em geral, estou certa sobre essas coisas. Eu entrei no seu preciso time, talvez me veja como uma ameaça? Não seria terrível perder sua vaga de Capitão para uma garotinha da Ilha?

—Você nunca seria capitã... – ele afirmou.

—Por quê? – ela riu – Por que sou uma garota?

—Não – ele deu os ombros – Por que o time me escolheu, por confiar em mim. Por saber que eu seria um bom líder. Você é uma estranha a todos aqui... Não é de confiança!

—E você é? – ela sorriu maldosamente – Veja bem, foi você que pediu para ficar sozinha com uma garota quase seminua... O que deve estar passando na cabeça dos seus amigos nesse momento?

—Você...

—Acho que vou ficar com o short preto mesmo – ela de os ombros, se afastando. Andrew vislumbrou as pernas dela por um segundo, antes de dar as costas ao vestiário e seguir para se juntar ao time. Ele sabia que deixar aquela garota entrar no time seria um erro.

...

“Que ansiedade. Faltam 47 segundos. Estamos empatados. Falcões de Sherwood dois, Cavaleiros Lutadores dois. Que jogo entre os maiores rivais de Auradon!”

Jullie suspirou, desamarrando e amarrando os cabelos mais uma vez. Carly estava pulando feito louco com as animadoras de torcida, mas parecia tão feliz que ela nem se deu ao trabalho de pensar em caçoar dela depois.

“Enquanto as equipes se reúnem nas posições na Zona de Morte. E parece que o técnico Jenkins vai mexer no time”.

—Sua vez garota – falou o treinador, dando um capacete e um bastão para ela – Não me decepcione.

“E no campo Jullie, da Ilha dos Perdidos. É a primeira vez que vemos uma garota num campeonato de Tourney, mas se ela for tão talentosa quanto é bonita os Falcões terão problemas!”

“Chegamos a um ponto importante aqui. A partida recomeça! VAMOS LÁ!”

“Um passe longo para Jullie, parece que os garotos confiam mesmo na novata. Jullie lança para Andrew. Jeremy dos Falcões pega a bola, mas é bloqueado por Andrew! Jullie recupera a bola. Lá está ela, entrando na zona de morte... Isso é Tourney ou é balé? Já não sei mais dizer! Jullie passa para Andrew, e que bloqueio de Laurent... Ele que estava tão apagado até agora, ressurge. Andrew manda para Jullie, ela corre, atira... Que defesa do goleiro dos falcões, Philip!”

—Vamos lá time! – grita o técnico – Vamos vencer!

“Faltam 23 segundo. O jogo é dramático, e... Parece que Carlotta de Vill do grupo de torcida quer falar alguma coisa”.

Jullie vira rapidamente para Carly, lendo seus lábios. Trollsquete. É claro!

Ela gritou para o garoto mais perto dela, que por azar era Andrew. – Vai pela esquerda, eu vou pela direita!

—Qual é o plano? – perguntou ele, desconfiado.

—Vai ter que confiar em mim – ela deu os ombros, ele pareceu contrariado, mas começou a se afastar para o outro lado do campo.

“Passe longo para Jullie, ótimo salto garota! Jullie tem posse da bola, Laurent bloqueia! Jullie passa para Andrew, que passa para Jullie, que devolve para Andrew... Andrew devolve para Jullie, que passa para Laurent. Jullie está correndo em direção... A Andrew?”

—O que está fazendo? – Andrew grita confuso.

—Finja que eu sou uma líder de torcida! – ela sorri. Ele olha para as líderes de torcidas, levantando umas as outras no ar e entende.

“Andrew se abaixa e lança Jullie no ar. Que química. Que equipe. Esses dois fazem mesmo uma bela dupla. Laurent joga para Jullie. Ela rebate, e marca! A novata Jullie vence a partida, e faz uma aterrisagem perfeita!”

“Um final maravilhoso para um dos melhores jogos de todos, o que me faz perguntar se não deveríamos ter colocado garotas para jogar a muito tempo. O que acha Srta. Cindy?”

—Não, obrigada – Grita Cindy do meio das líderes de torcida, com seu melhor sorriso!

“E eles não se cansam de comemorar, a vitória. Os vencedores do primeiro jogo da temporada!”

Jullie nunca foi muito de abraços. Ainda mais se fosse por um bando de garotos suados. Mas eles gritavam seu nome e lhe davam parabéns, e aquela sensação de dever cumprido era o suficiente para fazê-la amar tudo aquilo. Os meninos a levantaram no ar, e ela riu, até que eles a desceram e ela deu de cara com Andrew.

—Trégua? – ela ergueu uma mão e uma sobrancelha.

—Já que você venceu o jogo, e vai continuar no time, acho que vou ter que te aturar... – ele bateu na mão dela – Trégua!

—Nós vencemos o jogo! – ele exclamou, sorrindo – Foi um trabalho de equipe!

—Foi a sua tática – ele deu os ombros, de repente parecendo invejoso.

—Exato, e você foi um bom capitão colocando nossas diferenças de lado e usando ela – ela deu os ombros. Ela saiu andando, ele ficou parado por um minuto e então a seguiu se juntando ao resto do time.

“Muito bem pessoal, agora, por favor, todo mundo dando espaço para a apresentação das líderes de torcida!” pediu Cindy Charming, pegando o microfone. O campo se esvaziou e as meninas começaram a se arrumar. “Dany, por favor, lidere a banda!”

OHAYOHAY!

O barulho de todos gritando estava deixando Boa tonta. Era estranho, quase como se uma nuvem de fumaça entrasse em sua cabeça. Ela não conseguia pensar. O que estava fazendo ali?

—Boa! BOA! – gritou Carly ao seu lado – Você está bem?

—Não... – ela gemeu, dando um passo para trás – Estou tonta... É como s, meu coração... Como se faltasse metade do meu coração!

—Boa, pro seu lugar! – gritou Cindy, marchando até elas.

—Ela não está bem, Cindy – falou Carlotta.

—Para mim, ela parece bem – grunhiu Cindy – Para o topo da pirâmide, rápido!

Maison estava ao lado de Ethan, nas arquibancadas, aquele barulho o estava enlouquecendo...

—Maison – Ethan chamou – Tem alguma coisa errada.

Ele seguiu o olhar de Ethan até o topo da pirâmide de líderes de torcida, onde Boa parecia prestes a desmaiar. Não sabia exatamente o motivo que o levou a correr escada abaixo, mas estava correndo. Ele a viu fechar os olhos e pulou, a segurando antes que pudesse chegar ao chão. Várias pessoas gritaram.

—Ela desmaiou – anunciou Carlotta, enquanto várias pessoas se amontoavam em volta deles. Maison se abaixou, soltando-a na grama, enquanto Carly gritava – Deem espaço para ela respirar!

Andrew atravessou o grupo, se ajoelhando do outro lado de Boa.

—Ela está acordando – falou Andrew, aliviado. Mas quando ela abriu os olhos, foi apenas para Maison que olhou.

—Você me salvou – ela sorriu, abraçando-o – Eu te amo tanto!

—Boa, o que... – Andrew pareceu confuso.

—Desculpe Andrew, não posso mais ficar com você... Eu amo o Maison – ela sorriu, passando a mão pelo rosto dele.

—Bem, eu acho que isso torna tudo mais fácil – suspirou Andrew, se levantando e puxando Cindy pelo pulso, dando-lhe um beijo longe e apaixonado – Estou com a Cindy agora. Espero que não se importe que eu vá com ela na coroação!

Boa olhou para eles com toda a sinceridade brilhando nos olhos – Eu espero que vocês dois sejam muito felizes, como eu estou agora!

Maison sorriu para ela, antes de se virar para Ethan no meio da multidão, irado. Bem, já estava na hora dele entender que nenhum deles tinha ido até ali atrás de um final feliz!

—Boa – gritou Dany, saindo do meio da multidão – Vamos, vamos para a enfermaria.

—Eu estou bem... Eu quero ficar com o Maison – ela choramingou.

—É melhor você ir – ele falou, ajudando-a a se levantar – Ter certeza que está tudo bem!

“E depois de todo esse susto, a princesa está bem. E assim termina esse grande dia para os cavaleiros de Auradon, que enfim recupera o troféu depois de tantos anos!”

Maison viu Dany levar Boa para o castelo, seguida pelas líderes de torcida, entre elas Carly. Viu Jullie com os meninos seguir para a comemoração. Viu Ethan se afastar e sumir na multidão.

E quando se deu conta, todos haviam ido embora, e ele estava sozinho.

Por que todos em volta dele eram uma mentira.