Boa andava inquieta de um lado para o outro entre os alunos amontoados em frente ao jardim frontal de Auradon Prep. Que pareciam ao mesmo tempo receosos e eufóricos com a novidade inesperada. Ela havia conseguido se afastar de Andrew e de seus comentários negativos e agora estava quase que escondida atrás da banda.

Ela olhou em volta. Cindy estava ali perto, encostada na parede da escola lixando as unhas perfeitas e longas do jeito que Boa nunca conseguiu deixar as próprias. Logan estava concentrado em um vídeo game portátil demais para se preocupar com o mundo em sua volta.

Ela suspirou olhando para a estrada ainda vazia, seu coração estava apertado. E se Andrew estivesse mesmo razão e ela estivesse cometendo um grande erro? Ela não era sua mãe, seria possível que conseguisse extrair o melhor daqueles que foram criados nas trevas?

—Ai está você – falou Andrew se aproximando ela, mostrando um grande sorriso cheio de dentes brancos e perfeitos que fazia sentir como se fosse a joia mais preciosa do mundo. Era por isso que ela o amava. Ela não era linda e confiante como Cindy, ou sequer desastradamente adorável como Dany, mas ele a fazia sentir a menina mais especial de Auradon.

O que ela era, ele disse uma vez, afinal quantas outras daquelas meninas governariam o reino inteiro?

—Oi – ela sorriu de volta.

—Por que está escondendo aqui? – perguntou ele, desconfiado – Sabe, ainda não é tarde para parar toda essa loucura...

—Não estou me escondendo. – ela mentiu. Havia se tornado muito boa nisso nos últimos tempos, indo contra tudo que aprendia nas aulas – O sol estava me deixando com dor de cabeça, só isso.

—Bem, espero que esteja melhor, a Fada Madrinha está pedindo para nós dois ficarmos perto dela – ele falou, passando o braço pelos ombros dela – Parece que estão acabando de atravessar a ponte.

Ela conteve o impulso de emitir sua surpresa, mordendo lábio inferior. Havia tudo acontecido tão rápido, ela pensou que pelo menos teria tempo para que todos assimilassem a ideia, mas tudo aconteceu, literalmente, de um dia para o outro.

—Ai estão vocês – sorriu a Fada Madrinha tão amável quanto de costume, mesmo depois de tanto tempo sem usar magia ela tinha aquela aura brilhante em volta de si. Talvez fosse apenas resultado de seu humor inabalável, ou do amor que todos tinham por ela, mas isso ela nunca saberia ao certo. Era apenas uma das certezas do mundo – Meus melhores alunos... Eles devem chegar a qualquer... Ah, ai estão.

Tão rápido quanto surgiu da estrada a limusine parou em frente a escola, a banda começou a tocar, todos começaram a sorrir e acenar com suas bandeirolas, e a porta abriu relevando das garotas com as mãos cheias dos mais diversos itens.

E tão rápido quanto começara, a alegria se dispersou e Boa se assustou com o silêncio atrás de si. E se todos tivessem fugido correndo? Será que tudo seria tão ruim quanto Andrew dissera?

Do carro outros dois alunos saiam, o primeiro garoto tinha cabelos azuis e pele bronzeada, era alto, com um porte forte e postura perfeita, quase, se não até mesmo mais principesco do que Andrew.

Ele sorriu ao ver as garotas brigando como se não fosse nada demais.

Em seguida o último dos quatro saiu do carro. O segundo garoto era tão forte e belo quanto o outro, de uma forma diferente. Tinha aquela força que vinha de músculos suaves, postura despreocupada e expressão confiante, a pele era pálida e o os olhos verdes vibrantes contra os cabelos púrpura. Ele olhou para as duas garotas com desgosto.

—Vocês duas podem, por Lúcifer, parar de brigar como duas crianças? – ele perguntou, com uma voz cortante – Estão assustando nossos... Anfitriões.

As duas pararam, vendo pela primeira vez as pessoas em volta. A morena levantou em um pulo, rapidamente, enquanto a outra teve ajuda do garoto de cabelos azuis.

—Deixe onde encontroou – cantarolou a Fada Madrinha, lhe tirando do transe em ver aquelas quatro figuras – Estou dizendo para largar isso!

A menina morena começou a jogar tudo de volta para o carro.

—Isso não – grunhiu a segunda – É a minha bolsa!

—Mil desculpas, foi sem querer – a outra falou, mas não parecia estar arrependida aos ouvidos de Boa.

—É claro que não – falou a outra, com um tom que Boa reconheceu como sarcasmo, Não havia muito disso em Auradon, mas era mais ou menos assim que ela imaginava enquanto lia seus livros. Teria que se acostumar com isso agora.

—U-la-lá – murmurou a garota morena, olhando para Andrew de cima a baixo – Meu nome é Jullie. Sei que é um prazer me conhecer!

Boa se espantou quando Andrew sorriu, depois de tudo que havia falado contra os recém chegados.

—Bem vindos a Auradon Prep. – falou a Fada Madrinha para Jullie – Sou a Fada Madrinha. A diretora.

—“A” Fada Madrinha – perguntou o garoto de cabelos roxos – Como... Bibidi-bobidi-bo?

—Bibidi Bobidi Isso ai – ela sorriu.

—Uau. Eu sempre imaginei como a cinderela se sentiu quando você apareceu, transformando ratos em cavalos com aquela varinha brilhante, e o sorriso amável – ele sorriu – E a... Varinha brilhante!

—Isso foi a muito tempo – a Fada Madrinha sorriu. Boa revirou os olhos por dentro, ela sabia o que viria – E como eu sempre digo: Quem pensa muito no passado perde o futuro.

Ela sempre dizia aquilo. Sempre. Mesmo. Sempre.

Todos se calaram e Andrew lhe deu uma daquelas olhadas, que ela sabia que tinha que falar alguma coisa.

—É muito... É incrível conhecer vocês – ela sorriu – Meu nome é... Boa.

Os quatro pareceram segurar uma risada.

—Princesa Boa, para vocês – falou Andrew – Logo será nossa Rainha.

A garota corou.

—Princesa? – perguntou o garoto de cabelos azuis, se aproximando – Minha mãe é uma rainha, o que me torna um príncipe. Se estiver procurando um futuro rei...

Boa riu, até que aquilo estava sendo... Interessante?

—A Rainha Má não tem status real aqui – falou Andrew, em um tom cortante que ele nunca tinha ouvido antes – Nem você!

Ela sorriu constrangida – E esse é Andrew.

—Príncipe Andrew – ele corrigiu. Ela suspirou, o problema de Andrew era que ele realmente não sabia o momento de ficar quieto – Namorado dela. Não é?

—Boa e Andrew vão mostrar a escola para vocês , então é até amanhã para nós – a Fada Madrinha falou, Boa até esquecerá que ela estava ali – As Portas da Sabedoria nunca se fecham! Já as da biblioteca abrem entre 8h e 23h. E, como sabem, eu gosto de um toque de recolher.

A Fada Madrinha saiu, seguida pela banda, onde Dany havia magicamente aparecido sem seu uniforme.

—Desculpem por isso – falou Boa, sentindo as bochechas corarem – É realmente muito bom conhecer vocês – ela começou a se aproximar para apertar as mãos, e recebeu u soco da garota morena, Jullie, ela lembrou – Uma grande, grande ocasião – Ela apertou a mão do garoto de cabelo roxo, se demorando em um minuto naqueles estranhos olhos verdes que pareciam tão cheios de raiva e dor ao mesmo tempo – Que esperamos que entre para a... História – ela pegou um biscoito da mão da segunda garota – Chocolate?... Como o dia em que um grande laço uniu nossos dois povos.

—Ou como o dia em que mostrou a quatro estranhos onde fica o banheiro – falou o garoto de cabelos roxos.

Ela riu constrangida – Exagerei um pouco?

—Um pouco mais do que só um pouco – ele murmurou.

—Desculpe – ela sorriu – Sou péssima com discursos.

—Sem pressão.

—Então... – Andrew começou, quando o silêncio ficou estranho – Você deve ser o filho da Malévola, não?

—Isso ai – ele assentiu, estendendo a mão. Se Boa não conhecesse Andrew, diria que ele estava bem, mas ela o conhecia uma vida para saber que o aperto de mão estava fazendo-o se remoer de dor por dentro – Maison.

—Bem, já que vamos estudar na mesma escola, acho melhor agirmos como adultos – Andrew falou, e ela o encarou, surpresa. Desde quando ele agia como adulto – Espero que saiba que não culpo sua mãe por tentar matar meus pais. A propósito, eu sou filho da Aurora, a Bela...

—Adormecida – completou o garoto – Sabia que ela tinha um nome. Não que alguém se importe. Mas tudo bem, eu também não culpo seus pais por terem chamado até os gnomos mais sujos, mas não minha querida mãe, para aquele batizado, horroroso!

—Isso mesmo cara, são águas passadas – Andrew bateu no ombro dele.

—Com certeza – concordou Maison, e os dois sorriram forçadamente.

Boa queria se esconder embaixo de uma pedra como um gnomo, Andrew sabia mesmo como estragar tudo ainda mais.

—Vamos conhecer a escola? – perguntou ela, parecia mais um pedido do que uma sugestão – Acho melhor chegarmos logo lá dentro antes que o tempo feche.

—Você acha que vai chover? – perguntou Andrew, e ela suspirou.

—Bem vindos a Auradon Prep, um castelo com mais de 300 anos desde a sua construção, que, a propósito, durou o dobre de tempo – ela falou, e percebeu que aquilo não era importante – e transformada em Escola por meu pai, quando se tornou rei. Bem, na verdade por minha mãe...

Os quatro riram, e ela ficou feliz em saber que talvez não estivesse tudo perdido. Talvez. Se Cindy não aparecesse do nada e começasse a gritar como disse que faria.

Eles começaram a seguir pelos jardins, chegando até a estátua de seu pai. Ela adorava aquela estatua, parou e bateu as palmas.

—AH – gritou a menina de cabelos divididos, pulando em cima da outra que a segurou com uma facilidade impressionante para uma garota tão pequena.

—Ah, desculpe. Carlotta, certo? – perguntou ela, enquanto a menina descia – Papai pediu para que essa estatua mudasse de fera a homem, para que todos lembrem que com o amor tudo é possível.

—Solta muito pelo – perguntou Maison.

—Minha mãe tenta evitar que ele suba no sofá – ela deu os ombros, e se virou, corando, percebendo a besteira que havia falado.