Você não entende o que eu tenho que passar.

— Victor Valete

...

Era a primeira vez que Mal não via as cores de Auradon. Havia nuvens no céu e parecia que iria chover, mas mesmo com esse fenômeno raro no reino, a garota não estava liberada das tarefas que Bela havia a colocado para fazer.

O Baile de Natal estava chegando. E Mal teria que ajudar Bela a escolher os arranjos, panos, talheres, vestidos, cadeiras, mesas, lugares e experimentar comidas – não que esta última coisa ela esteja reclamando.

Se com três semanas já está tudo uma loucura, não queria ver quando faltasse apenas três dias para o baile.

— Onde está Evie? — Bela perguntou entregando um garfo para Mal.

— Está na casa de Branca de Neve.

— Acho muito entusiasmante a relação das duas! — Bela comentou. Começaram a trazer as comidas para elas experimentares.

Mal balançou a cabeça concordando e olhou para sua frente. Tinha vários pratos enfeitados e decorados. Seria uma longa tarde.

— Hm... este é o melhor! Diga a Madame Samovar que este está com certeza no cardápio. — Disse Bela para o garçom. A mais velha olhou para o relógio — Mande chamar Lumière.

O garçom fez reverência e saiu. Bela se virou para Mal.

— Vamos deixa-lo cuidar do resto. Preciso da sua opinião com meu vestido — ela riu e pegou a mão de Mal. As duas andaram boa parte do castelo até chegar ao ateliê do alfaiate real.

...

— Mais um! — Victor gritou para o cara do outro lado da bancada.

O sino da taberna de Úrsula soou e Daiana entrou no lugar. A garota estreitou os olhos quando viu o amigo ter o copo enchido novamente. Ela pulou para o lugar vago e, antes de Victor bebesse, ela virou o líquido. Fez uma careta quando sentiu sua garganta queimar.

— Vodka? Em plena quarta? — Daiana ergueu uma sobrancelha. — Me vê a conta dele? — Gritou ao barmen.

— E desde quando se importa comigo?

— Me importo com meus amigos. E, infelizmente, você está nessa lista — Daiana tirou o dinheiro e pagou o que Victor devia. — Agora me conte onde esteve o dia inteiro.

O meio loiro apontou para o seu redor, fazendo Daiana respirar fundo para não atacar o amigo.

— Ah pobre do seu fígado — ela se levantou e pegou o braço de Victor passando pelo seu pescoço. Sabia que assim que ele levantasse, iria tombar. — Por que esteve aqui?

— E te interessa?

— Uau, você fica pior quando está bêbado. E bem mais pesado. — A garota o levou para fora. Bryan estava esperando os dois e foi ajudar Daiana a segurar Victor.

— Por que ele está assim?

— Bebeu. E muito. O motivo? Também quero descobrir — A loira disse. — Mas depois, porque temos que encontrar com seu pai — virou-se para Bryan.

— Espera, ele sabe? Sabe que estamos tentando descoblir que...

— Eu sei, eu estava com vocês da última vez que vocês foram até meu pai. — Bryan disse arrastando Victor para a loja de penhores.

— Ele está muito bêbado. — Daiana revirou os olhos.

...

A chuva caia rápida, Rose mal percebera que ela havia engrossado. Se saísse, iria ficar ensopada e, ficando ensopada, poderia pegar um resfriado. Não queria isso, principalmente com o final do semestre se aproximando, prometera a muitas pessoas que ajudariam com os estudos.

Debruçada na grade do coreto, podia ver os guarda-chuvas se abriam à medida que a chuva engrossava, mas estavam longe demais para ver que havia alguém no coreto. O jeito era esperar a chuva passar para que Rose pudesse voltar à escola.

A morena se assustou quando ouviu o piso ranger. Alguém tinha entrado no coreto. E quando se virou, viu que era Gil. Ele se assustou também ao ver Rose.

— Hm. Oi — ela disse primeiro com um pequeno sorriso.

Ele passou a mão nos cabelos ensopados sorrindo quando respondeu o cumprimento dela.

— Onde estava? Quero dizer, por que não estava na escola? — Ela perguntou cruzando os braços para se encolher do frio.

— Passeando por aí — ele deu de ombros, Rose murmurou alguma coisa que Gil não conseguiu decifrar. — E você?

— Lendo. — Apontou para a mochila no canto seco do coreto. — Acho que você não tem um guarda-chuva...

— Não, desculpe — ele balançou o cabelo molhado novamente para afastar da testa.

— Ei! Não me molhe — protestou a garota desviando dos respingos de água.

A chuva havia diminuído e Gil estava indo quando percebeu que Rose estava no mesmo lugar olhando para a água.

— Ah não. Por favor não me diga que você está com medo da água — ele resmungou.

— Eu só não quero me molhar! — Rose protestou.

— É de açúcar?

— Não quero ficar resfriada. — Ela deu de ombros. — Ei, o que está fazendo?

— Não vou te deixar sozinha. — Ele disso indo para seu lado. — Então o que quer fazer?

— Não precisa ficar comigo, eu sei me virar.

— Eu sei disso, mas não vou te deixar sozinha. — Ele sorriu.

— Então tá, mas eu não vou sair andando pela chuva.

— Ah, que bom que falou então. — Gil riu e agarrou a garota, jogando-a para cima de seu ombro. — Você consegue pegar sua mochila?

— EI! — Rose gritou no susto. — Me solta.

— Você disse que não queria andar pela chuva. Bem, assim você não está andando — o garoto riu enquanto pegava a mochila de Rose. — Podemos ir?

— Você não é nem um pouco normal. — Rose revirou os olhos. — Me deixe descer!

— Shh... aproveite a vista.

— Sua bunda? — Ela perguntou corando. E se sentiu aliviada por Gil não a ver. — Eu vou com você, andando pela chuva.

— E é bom você ir, porque se não, eu ainda te carrego. — Ele a soltou. Rose demorou um tempo para se acostumar com os pés no chão. — Vamos? — Gil estendeu o braço. Rose riu, mas saiu andando sem ele. — Uau, me deixou no vácuo.

Ela continuou rindo e fechou os olhos ao sentir as gotas caírem, começando a molhar. Quando os abriu, Gil estava bem próximo dela. Rose lutou para não corar.

— O que foi? — Ela perguntou mordendo o lábio.

— Nada... eu só... ah, esquece.

— Não, fala.

— É bobagem.

— Nada pode ser tão bobagem assim. — Rose sussurrou. — Pode dizer, não vou te julgar.

— Você é tão diferente de tudo — ele disse encarando-a. —, e eu gosto disso.

Ela abriu a boca para responder, mas não conseguiu. Apenas sentiu suas bochechas esquentarem. Gil riu baixo e passou o polegar pela sua bochecha, Rose continuou sem reação e parecia que ele estava se divertindo com isso.

— Fico lisonjeada — ela disse fechando os olhos.

— Hm... só isso? Pensei que ganharia algo mais — ele sussurrou.

Desculpe, não estou interessada — Rose abriu os olhos.

— Usando a mesma frase do mesmo dia que nos conhecemos. — Ele revirou os olhos rindo. — Mas eu acho que agora sabemos que é mentira — ela não disse nada. — O que foi?

— Você tem a incrível habilidade de me fazer não processar nada... — ela comentou o encarando. Gil sorriu de canto e aproximou seu rosto do dela. Eles, finalmente, iriam se beijar. Mas Rose espirrou, fazendo os dois acordarem para o mundo. — Ah! Eu te disse que iria ficar resfriada!

...

A Ilha dos Perdidos ampliava o clima de Auradon, ou seja, se estava muito calor, aquilo seria o inferno. E como havia chuva em Auradon, na Ilha estava começando a nevar. E Victor observava os pequenos flocos se acumularem em sua janela. O garoto já tinha quase todo o álcool tirado do corpo.

— Posso entrar? — A voz de Daiana soou atrás da porta. Victor não deu uma resposta e ela entrou mesmo assim. — Trouxe para você.

Era água e comprimidos para dor de cabeça. Victor olhou para ela e depois para a neve.

— Ah, pelo sapatinho de cristal! DIGA ALGUMA COISA! — Ela gritou.

— Não grita! Eu estou te ouvindo. — Ele se mexeu e tomou o remédio junto com a água.

— Que bom, agora pode me falar o que aconteceu? Por que estava lá bebendo? Pensei que tinha parado.

— É, eu também. Só que fiquei sozinho com meus pensamentos de por que tinha que fazer aquilo com Isabelle e tive um surto. — Ele disse seco.

— Você é um guarda, apenas estava cumprindo ordens.

— Eu não quero fazer isso. É impossível. Odeio seguir regras.

— Mas vive falando se começar a xeretar, seu pai te mata.

— Você não entende o que eu tenho que passar. — Ele balançou a cabeça e cruzou os braços voltando a observar a neve. Levou um pequeno susto quando viu Daiana tomando seu rosto em suas mãos.

— Então me explique. Me deixe saber o que você passa.

Victor havia beijado Daiana e aquilo pegou ambos de surpresa. Ela passou seus dedos pelos fios do garoto, retribuindo o beijo. Ele pegou Daiana no colo e a jogou contra a cama.

— Agora não... e nem hoje. — Ele disse voltando a beija-la.

...

Era tarde quando Kaya estava andando pela escola. Não tinha nada de bom para fazer e não estava cansada. Precisava ajudar Uma com o blog, então estava tentando achar alguém que estivesse rebelando as regras.

Achou um aluno em pé – ou melhor ex—aluna. Mal estava na cozinha pegando um copo d’água. Kaya se transformou em gato para não ser reconhecida pela garota e entrou na cozinha para ver melhor o que a garota estava fazendo.

— Para... sai da minha cabeça... — a loira sussurrava com os olhos fechados. — Só existe eu em minha cabeça.... Você não está aqui...

Mal respirou fundo e tomou a água. Quando abriu os olhos, a gata pode ver que estavam em um tom verde vivo. A loira deixou a cozinha, mas Kaya sabia que não estava indo para o quarto.

Aquilo seria um problema.