Podemos fazer o seguinte então: você nos conta tudo o que está acontecendo e vamos continuar com o plano para esfregar na cara da sua mãe.

— Kaya Cat

...

Kaya abriu a porta dos garotos com urgência. Não estava importando com o que eles estavam fazendo, apenas queria mostrar que Isabelle estava escondendo coisas importantes dos amigos.

— Porta. Existe para vocês baterem. — Gil comentou levantando o cabelo da testa suada. O garoto tinha acabado de voltar da academia da escola, iria tomar banho, mas parece que os planos tinham mudado.

— Eu até bateria, mas isso é muito importante. — A de cabelos rosas disse fuzilando Isabelle e entregando duas cartas para os garotos.

Gil passou um papel para Harry que tentava entender o que era tão importante.

— Está escrito com charadas. — Observou Harry. — Não estou entendo.

— Ah merda, esqueci que vocês não falam charadas. — Kaya revirou os olhos tomando os papeis dos garotos. — A primeira diz: “Tem alguma coisa de errada, Bad Wolf disse que a mãe de Isabelle vem querendo pozinho mágico desde a saída de Malévola da Ilha. O que está acontecendo? – Daiana e Victor.”

— Não leia a segunda. — Isabelle pediu. Mas Kaya estava brava demais para aceitar o pedido da amiga.

— “Belle, por favor me diga o que está acontecendo. Nossos pais estão agindo estranhos e bem, meu pai anda preocupado com Malévola. Ele acha que a bruxa pode fazer alguma coisa e estragar os planos. Você sabe qual é o verdadeiro motivo de estar aí? Não sei porque estou te perguntando isso, já que você não respondeu meu último bilhete, mas eu me preocupo realmente com você. Sei o que fiz não foi certo, mas tem muita coisa por trás disso e não dá para eu explicar agora. Por favor, me responda. Ass, Victor” — Kaya disse olhando para a amiga.

— Não acredito que você escondeu isso de nós. — Gil disse erguendo uma sobrancelha. — Somos seus amigos e estamos juntos nessa.

— O pior é que ela vem encontrando com o meu pai, trocando recadinhos que vossa majestade diz. — Kaya sentou-se na cama.

— Ela tem um motivo. — Uma se pronunciou. — Espero que tenha.

— Acha que dizer para vocês que minha mãe não quer mais nós no plano? — Isabelle ergueu uma sobrancelha. — Já temos o plano só falta...

— Bem, era melhor ter dito isso. — Gil deu de ombros. — Paramos por aqui e vejamos o que sua mãe vai fazer.

— Não, não funciona assim. — A ruiva balançou a cabeça. — Eu preciso mostrar para minha mãe que dou conta. Que sou capaz. Isso é questão de honra.

— Não sei vocês, mas no País das Maravilhas levamos muito a sério. — Kaya suspirou. — Podemos fazer o seguinte então: você nos conta tudo o que está acontecendo e vamos continuar com o plano para esfregar na cara da sua mãe.

— Simples. — Harry disse.

— Vamos conseguir. — Uma disse abraçando o ombro da amiga. — É trabalharmos juntos e sem segredos.

— Vou com Mal à Base Militar da Montanha. Não sei quando, mas vou — Isabelle suspirou por fim, quebrando o silêncio que envolveu o quarto por alguns segundos. — Ela quer ver a mãe, e ninguém está dizendo a verdade para ela. Então, não sei o que me deu, vou com ela e posso ver o que tem lá. Ela vai me ajudar a resgatar o País das Maravilhas, não sei como.

— Ou nos colocar dentro do Castelo da Fera. — Harry sorriu tendo uma ideia. — A festa da família vai acontecer daqui a algumas semanas e é sempre lá.

— Distração perfeita. — Uma balançou a cabeça. — Continue amiga dela. Talvez ela solte algo que nos ajude — Harry iria comentar alguma coisa, mas o toque do celular de Isabelle fez com que todos prestassem atenção nela. A ruiva leu a mensagem e sorriu de um jeito travesso para os amigos.

— Talvez ela não, mas o bando de princesas que eu vou ter que aturar, sim. — A Copas mostrou a mensagem de Mal, na qual pedia que ela fosse com Mal ao castelo de Audrey para um chá.

— Uou, você está realmente determinada com isso. — Gil comentou.

— Bem queridos, uma rainha faz de tudo por seus súditos. — Isabelle sorriu.

— Não se esqueça: você ainda não é uma rainha. — Uma disse, recebendo um olhar de Isabelle.

— Ah minha amiga, espere e verá. Não desisto tão fácil das coisas. — Isabelle sentou-se no sofá e cruzou as pernas. — Enquanto eu estou no ridículo chá, quero que vocês comecem a bolar um plano para quando formos à Terra do Nunca, o dia da gloriosa — ela comentou num tom de deboche — excursão é amanhã.

...

— Por que você a convidou? — Evie perguntou assim que entrou na limusine com Mal e Isabelle.

— Ah, oi para você também. — A ruiva revirou os olhos. — Sabe, eu não me importo de vocês me julgarem, mas façam isso quando eu não estiver aqui. Assim não vou responder de má vontade.

— Eu estou mudando e chama-la...

— Eu sou a única “princesa” que você tem mais afinidade. — Isabelle a cortou. — E nem adianta você dizer o contrário Evie, porque eu tenho uma linhagem real.

— Eu adoraria que você estivesse se atrasado, feito a gente ir na frente. — Evie sorriu virando-se para a garota. — Seria melhor, porque aí você ficava aqui.

— Não, a Bertha iria voltar para me buscar, porque ela precisa de mim e de você também.

— Parem vocês duas — Mal gritou. — Parecem duas crianças. Isabelle, eu não gosto de você. Evie, eu te amo, mas para de ciúmes.

— CIÚMES? — Evie riu muito alto. — Ciúmes eu tenho é quando você dá mais atenção para seu namorado do que para mim, sua melhor amiga. Isto é apenas marcando território.

— Ah calem a boca. — Isabelle se ajeitou no banco. — Vocês me dão nojo, não sei porque aceitei o convite.

— Se te provocamos isso, imagina quando chegar ao chá. — Evie sorriu cutucando o ombro da amiga.

...

Não demoraram muito para as três chegarem no castelo do Rei Phillip, o futuro reino de Audrey. Isabelle saiu com uma cara de nojo ao ver todas aquelas rainhas e princesas elegantes sorrindo e rindo para tudo e todos. O lugar estava muito enfeitado, até mesmo para os padrões de Evie. Faltava apenas os unicórnios e arco-íris para completar a paisagem.

— Bem-vindas! — Aurora em pessoa cumprimentou as garotas.

Ao inferno, Mal pensou.

— Ah que gentileza — a ruiva havia ativado o modo falsidade. Ela fazia isso quando estava extremamente entendida e queria acabar com tudo ali. Evie e Mal conheciam Isabelle para poder falar realmente isso.

— Você deve ser Isabelle Carmim de Copas, não é? — A mais velha sustentou o sorriso. — A filha da Rainha de Copas.

— Exato.

— Uau, fico feliz em conhece-la! — Aurora indicou para as três entrarem no jardim. Havia várias garotas espalhadas pelas mesas decoradas. — Se precisarem de alguma coisa, podem me chamar, ou alguma empregada.

Mal conduziu as meninas para uma mesa que estava mais afastada de todos. Isabelle logo sentou-se e disparou:

— Aurora parecia bem com sua presença.

— Ela é igual você: esconde muito bem a falsidade. — A loira respondeu jogando os cachos para trás. — Bem, eu não sei o que fazemos agora...

— É um chá da tarde, as garotas só vêm aqui para fofocar — Evie disse. — Talvez nem bebam chá de verdade.

— Você também pode utilizar para ganhar destaque. — Isabelle comentou olhando ao redor. — Sabe, apoio político e tudo mais.

— Como você sabe disso?

— Apenas observe e você verá — a ruiva deu de ombros. — É preciso de aliança para um projeto ser aprovado, e acho que alguém tinha algum interesse em te convidar, Bertha.

Audrey vinha cumprimentar as garotas com um sorriso grandioso em seu rosto. Começaram falando sobre como ia a vida, depois passaram para o tópico de namoro e falaram sobre outras coisas. Isabelle começou a se desligar da conversa no momento que elas falaram em casamento e namoro.

A ruiva se levantou e foi passear pelo lugar. O jardim era grande, havia várias flores espalhadas por todos os cantos. Apesar de ser a primeira vez que pisava naquele castelo, tinha a sensação de que já esteve ali. Talvez fossem as flores, que se substituídas por rosas, dariam o jardim do Castelo dos Corações. Instintivamente, Isabelle pegou o Cetro dentro da balsa e sussurrou:

— Copas... — as diversas flores foram transformadas em rosas vermelhas. A garota sorriu consigo mesma ao ver aquela bela paisagem e começou a andar pela extensão toda. Ela sabia que aquilo era apenas uma ilusão, mas não deixava de acreditar que seu castelo e seu reino voltariam para ela.

A garota podia ter certeza que ouvira alguém lhe chamando. Olhou ao redor, mas não encontrou ninguém. Continuou a andar na esperança que fosse algo de sua cabeça.

Venha, Isabelle — ela pode ouvir mais alto. — Me pegue.

Um vulto passou em sua frente e logo depois ouviu uma risada fina, sua risada de quando era mais nova, e uma garota com cabelos vermelhos vivos correndo em sua frente. Não podia acreditar, era impossível aquilo, mas a garota era Isabelle com cinco anos.

Me espera Wine. — A garotinha pediu seguindo o vulto.

O que estava acontecendo? Aquilo era real? Ou apenas uma ilusão? Não, sabia de alguma forma que aquilo já acontecera. Então era uma lembrança?

Isabelle ouviu mais alguns risos e seguiu sua versão mais jovem. A pequena ergueu os braços e saiu gritando para o vulto, o garoto Wine.

Está com você — ela disse abraçando-o. Mais risos.

Isabelle não conseguia ver direito o rosto de Wine, estava embaçado. Não conseguia ver ele todo, para ser exata. Tudo era um borrão nele, mas algo era nítido, uma única coisa: uma caixa de baralho que saia do bolso do garoto. Isabelle já havia visto aquela caixa, o bordado era familiar.

Corra então. — O garoto disse sorrindo, vendo a menina saltar de seu colo e sumir entre os arbustos de rosas. Por um momento, parecia que o garoto estava encarando a verdadeira Isabelle. — Force sua mente, você consegue se lembrar.

A ruiva pareceu mais confusa ainda e quando sentiu uma mão em seu ombro, gritou.

— CALMA! — Rose aumentou o tom da voz sentando-se perto da garota, na fonte. Como Isabelle havia aparecido ali na fonte? — Você estava perdida em seus pensamentos, desculpe.

— É, pois é. O que você quer?

— Nada, só te achei meio sozinha e vim te fazer companhia. — A morena deu de ombros tomando um gole da xícara de chá. — Parece que aqui não é seu ambiente.

— Fui obrigada a vir.

— Mal te trouxe não foi? Pensei que vocês duas não se dessem bem.

— Não te interessa. — Isabelle disse firme.

— Certo, me desculpe.

— Por quê é tão educada assim? — A ruiva ergueu uma sobrancelha.

— Não gosto de magoar as pessoas — a garota disse dando de ombros. — Mas eu também não deixo as pessoas me magoarem.

— E essas pessoas têm nomes? — Isabelle perguntou. Entenderia se a garota dissesse não, mas a resposta “você o conhece” foi uma surpresa. — Não ligue para Gil, ele é um cafajeste. Por mais que eu não queira admitir, você é uma fofa.

— Então ele é sempre assim?

— Sempre. Uma já ficou com ele, se quiser alguém para conversar, ela é a ideal — tentou sorrir sincera, mas não deu muito certo. — Não sou boa com conselhos.

— Tudo bem — a morena riu. — Você é uma pessoa legal aí dentro, bem lá no fundo.

— Ah, está citando o Max para mim?

— Acaba grudando sabe? Ele vive falando isso de você. — Rose levou a mão a boca. — Eu não disse isso, quis dizer outra coisa... eu... falei demais.

— Max Hatter fica falando de mim?

— Coisas boas, não se preocupe.

— Ally deve me odiar ainda mais por isso. — A ruiva sorriu, Rose não entendeu, mas também não iria perguntar por que disso.

— Ela ainda gosta do Max. Tome cuidado.

— Não tenho medo de uma nanica como ela.

— Ally pode ser bem... — Rose mordeu o canto interno da bochecha tentando achar a palavra adequada — persuasiva quando odeia alguém.

— Sei lidar com pessoas assim, não sei porque está preocupada. — Isabelle sorriu, estava tendo uma ideia para tirar a loira oxigenada de uma vez por todas de sua vida.