Desastre Do Amor

Capítulo 3: Primeiro Dia dos Namorados casados


Eu e Abby estamos casados há quase um ano. Nunca me imaginei casado tão novo. Na verdade, acho que nunca me imaginei casado. Por toda a minha vida as palavras de minha mãe que eu encontraria um grande amor ecoaram meus pensamentos, mas por mais que o fundo do meu peito acelerasse com essa expectativa, a minha cabeça dura não aceitava que isso realmente aconteceria comigo. Comigo? Logo eu que usa as mulheres e depois não me importava mais com elas? Que tinha o sexo como lema de vida, mas nunca o amor? Quem eu amava antes de Abby? Meu pai, meus irmãos e Shepley, que além de meu primo é meu melhor amigo. Nunca, nunca mesmo amei outra mulher sem ser minha mãe. Ser um mulherengo convicto por tantos anos fez com que minha esperança de amar ficasse só nas palavras da minha genitora.

Sem dúvida nenhuma nós vencemos. Muito foi dito sobre nós desde o início quando nos tornamos amigos até nos casarmos. Quer dizer, até depois de casados. Eu acho que existem três tipos de pessoas em relação ao meu relacionamento: as que não aceitam nosso casamento, achando que é só fogo de palha; as que não só acreditam, mas torcem muito por nós e as que até acreditam na gente, mas torcem para não durar. Das fofocas da nossa primeira aparição pública até nossa aparição pública com alianças nós ouvimos muitos absurdos, mas jamais deixamos nossa amizade e amor não vencer. Ele tinha que vencer, nós merecíamos isso. Ou melhor, continuamos merecendo. Foi por isso que quero que essa data seja comemorada com muita alegria, amor e com uma grande surpresa para a minha amada: Minha vida!

A ideia é levá-la para jantar, mas não vai ser um jantar comum, será um saudosista. Quero que ela vá comigo no mesmo lugar que nos vimos pela primeira vez. Eu lutando e ela assistindo, com um semblante confuso, assustado e desafiador. Abby sempre foi para mim isso: um desafio. O que me fez amá-la mais ainda. Só que sei que ela ficará perturbada, então pretendo disfarçar. Para isso contarei com a ajuda do meu pai, Shepley e do Trent. Faltam duas semanas e não posso perder tempo. Peguei meu celular e liguei primeiro para meu irmão:

- Trent, presta atenção no que vou te dizer.

- Fala Sr.Maddox casado! Como vai minha irmãzinha? Porque é só com ela que me importo. Você eu estou pouco me fudendo.

-Ai! Cala a boca, porra! Presta atenção em mim, Trent. Preciso de um favor seu.

- Mentira?Agora me conta a novidade irmãozinho. Você sempre precisa de mim.

-É sério, cara! Cala a porra dessa boca e me escuta.

-Hã...

- O Dia dos Namorados está chegando e eu quero fazer uma surpresa para a Abby. Quero que ela tenha uma data memorável e inesquecível. Para isso, vou fazer uma surpresa.

- Ok, onde eu entro nessa história?

- Seguinte, eu a levarei para jantar em um restaurante onde servem massas. A ideia é ela achar mesmo que será um jantar simples, apaixonado e comum de qualquer casal.

- Caralho, cara! Você é tão ruim marido assim? Para isso você precisa de mim? Quer que eu te ajude a mastigar também?

- Cala boca, seu idiota! Não é nada isso. Isso vai ser só uma forma de despistar a Abby. Quero levá-la em outro lugar, mas não quero que ela se oponha, então criei esse disfarce.

- Onde é esse lugar? Por que ela se recusaria? Trav, Trav, Trav, não vai fazer merda. Não mais do que você já faz. Amo todas as mulheres, mas admito que você fez certo de sossegar essa sua bunda. Abby é perfeita para você, te ama, te compreende...

-Paroooou! Eu sei disso! E eu também a amo e ela é mesmo perfeita para mim. Vou levá-la ao Bartlen. Foi lá que nos vimos pela primeira vez, foi lá que me encantei por ela e foi lá que... que eu sei que me apaixonei por ela.

- Ao Bartlen? Cadê a data memorável e inesquecível? O lugar é horrível, Travis! Nada romântico. Só para te lebrar: é dia dos namorados.

-Eu sei, eu sei, mas foi lá que me apaixonei por ela. E dando um bom jeitinho, vai ficar tudo como ela merece.

-Me deixaeu ver se adivinho?! O jeitinho sou eu?

- Sim, você e Shepley... se ele puder ajudar. Posso contar com você?

- Porra, Travis! Porque você só me mete em furada, cara!

- Trent...

-Tá, tá, eu ajudo! Mas não por você, seu bosta! Por minha irmãzinha!

-Obrigado, cara! Te devo essa!

-Você me deve várias...

- Eu sei – digo com um sorriso no rosto- Sei que posso contar com você. Muito obrigada, irmão! De verdade!

-Tá bom, Travis! De nada. O que eu não faço pelo casal Maddox mais lindo do mundo, né?!

Eu tive que rir da frase do meu irmão. Ele é um babaca, mas eu o amo e posso sempre contar com ele.

- Ah! Cara! Preciso de mais uma coisa...

- Olha a exploração já!

-Sério, seu idiota!

-Fala...

-Quero dar uma pulseira para Abby. Mas não é qualquer pulseira. É uma especial. Quero que tenha nela a nossa história. Assim, ela sempre se lembrará de mim.

- Irmãzinho, acho difícil alguém não se lembrar de uma criatura como você, mas...

- Você pode me levar a sério, por favor?

- Tô te zuando. É que eu nunca imaginei que você seria tão romântico. Na boa, uma viva para a Abby. Essa garota faz milagres. Vou ver com papai se ele conhece alguém que possa te ajudar. Sabe como é... o nosso Velho conhece todo mundo. Te mantenho informado.

- Obrigado, Trent! Só cuidado para a Abby não desconfiar.

-Deixa comigo! Eu sou bom nessas coisas.

- Te amo, cara! A gente vai se falando.

- Também te amo, seu babaca! E olha, faço isso não só pela Abby, mas por vocês dois.

Tá bom, meu irmão conseguiu me emocionar. O que o casamento fez comigo?

- Bom, você é meu irmão. É o mínimo que esperava de você – e eu tive que rir de mim mesmo.

- Cala boca, Trav! Vai a merda! Tchau! Qualquer novidade eu te ligo.

E eu desliguei o telefone as gargalhadas. E sabe qual o melhor? Que eu sei que meu irmão também estava. Se tem uma coisa que eu desejo para todos os meus irmãos é que cada um encontre a sua Abby e sejam tão felizes como eu sou.

Depois de desligar com Trent, liguei para Shep. Era a vez de contar para ele a minha ideia e ver se ele topa me ajudar.

- Shepley, cara, tudo bem? Você está sozinho ou está com Mare?

- Oi cara! Tô sozinho. América foi tomar banho. E sabe como ela é... Isso vai levar tempo. – nós dois rimos.

- Ótimo! Quer dizer que tenho um tempo para falar com você.

- O que houve?

- Dia dos Namorados está chegando e quero fazer algo muito especial para Abby e preciso de sua ajuda.

Contei para Shep todos os meus planos. É claro que ele ficou louco quando disse que queria fazer a comemoração no Bartlen. Ele queria me convencer a ficar mesmo com o restaurante que serve massas. Só que eu estou decidido. Quero fazer isso para Abby. Quero fazer isso por Abby. Relembrar aquele dia não deve ser tão ruim, afinal, foi o dia que ela entrou na minha vida e que eu entrei na vida dela.

Depois de muito insistir, Shepley viu que não me convenceria, então topou me ajudar. Sabia que poderia contar com meu primo. Eu sempre posso e é por isso que ele é meu melhor amigo.

- Como você vai fazer para conseguir o espaço no dia anterior para que eu e Trent possamos arrumar, Travis?

- Já falei com o cara que cuida do prédio. Ele vai facilitar para que vocês arrumem tudo e que ninguém entre lá depois.

- Você acha confiável?

- Nada que uns trabalhos de alunos extras não tenham ajudado.

- Travis, você gosta do perigo mesmo...

- Ele é persegue. O que posso fazer. Você já sabe o que precisa fazer, né?

- Já. Pode deixar que ficarei atento com todos os detalhes.

- Obrigado, primo!

- De nada, cara! Você sabe que pode contar comigo, não sabe?

- Sei! Você dará o que para Mare de Dia dos Namorados?

- Um vestido que ela achou lindo e não parou de falar nele. Acho que era uma indireta para eu dar de presente.

- Você acha? Eu tenho certeza! É a América! É claro que ela escolheu seu presente e deu um jeito de você ficar sabendo - nós dois rimos. Não tinha como não rir.

- E você, Trav? O que dará a Abby?

- Darei uma pulseira com toda a nossa história. Quero que tenha nela um suéter, um par de dados, uma miçanga verde com trevos sobre ela, uma miçanga vermelha, uma moto, um baralho de carta, um peru, uma pérola negra, uma chama, um anel e um coração.

- Primo, não posso negar que você virou um romântico.

Eu tive que rir com essa frase de Shep: - Eu sou um homem feliz!

- Olha, melhor eu desligar. Ouvi passos. Mare deve estar vindo para cá.

- Cara, não vai contar nada para a América, hein?! Por favor!

- Pode ficar tranquilo, Trav. Amo América, mas sei bem quem ela é – nós dois rimos de novo.

- Tchau, primo. Obrigada por tudo.

- De nada, cara! Tomara que dê tudo certo.

E assim fiquei com a sensação de parte do dever cumprido. Daqui a duas semanas estarei com tudo pronto para minha mulher comemorar comigo o dia dos apaixonados.

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No dia seguinte, estava indo para uma aula da faculdade quando meu pai me ligou para falar do presente de Abby.

- Oi, pai. Como o senhor está?

- Estou bem, Travis. E você e minha filha?

- Nós estamos bem, pai. Na correria da faculdade, mas bem.

- Trent me falou sobre o seu presente. O que exatamente você quer, filho? Acho que posso te ajudar.

Contei para o meu pai exatamente o que queria na pulseira da Abby. Cada detalhe, explicando a ele seus significados. Meu pai riu no caso do peru, mas me apoiou. Ele ficou satisfeito com minha escolha e falou que ajudaria. Ficou de ver com um colega dele que fazia esse tipo de serviço se tinha como fazer a pulseira e me ligava para confirmar.

Toda vez que tenho essa proximidade com meu pai, meu coração fica cheio de coisas boas. Durante um tempo, depois da morte da minha mãe, ele foi tão distante de nós, que agora que o temos tão próximo nos deixa uma sensação gostosa de família. E se eu conheço bem o meu velho, ele vai conseguir que o colega dele faça o presente. Eu o amo muito. Ter um pai rígido como ele contribuiu muito para o que sou hoje. Devo muito a ele e ao Thomas. Devo muito a Deus por ser um Maddox.

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O próximo passo para que tudo desse certo era fazer a reserva no bar do Rizoli’s. Abby tinha que acreditar na noite de massas e conversa fiada com tom apaixonado. E foi o que eu fiz. Liguei para lá e fiz as reservas. Tudo bem que tive que aturar uma burocracia enorme por uma mesa de dois lugares, fora a chata da atendente que tinha uma voz de papagaio com dor de garganta e disenteria junto. Porém, no fim, deu tudo certo e a reserva estava feita. Se por acaso Abby tentar descobrir aonde vamos, já tenho o que falar para ela. Mais uma etapa cumprida.

Não demorou muito para que meu pai retornasse a ligação e me desse a melhor notícia do dia:

- Filho, meu colega fará sua pulseira. Contei para ele a história de vocês dois e, sinceramente, Travis, não há como não se envolver. Na hora ele falou que faria questão de fazer a pulseira. Falei de todos os detalhes e estará tudo no presente como você pediu. Do jeito que você quer, filho.

- Obrigado, pai! Tenho certeza que ela vai adorar. Isso é muito importante para mim.

- De nada, filho. Vocês venceram. Vocês merecem. Eu amo vocês!

- Nós também te amamos, pai!

Dessa maneira, o presente que eu sonhei e planejei para minha esposa ficaria pronto. Não demoraria muito, ela levaria consigo todos os dias a nossa história de amor. Uma história que parecia impossível para todos, menos para nós que lutamos o tempo todo por nós mesmo. Nem sempre foi uma luta fácil, boa ou descomplicada, mas que foi amorosa e leal. O que sinto por ela ultrapassa meu amor próprio, meus impulsos, meus medos, minhas dúvidas, minha força, ultrapassa minha vida. Sem Abby é como se eu não conseguisse respirar, e para viver é preciso respirar. Para eu viver, eu preciso da minha amada.

Quase um ano casado com ela me fez reviver. Eu a amo mais que tudo no mundo todo!

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Duas semanas se passaram e o grande dia é amanhã. Mais tarde vou encontrar Trent e Shepley para organizar a\\\\surpresa de Abby e ainda tenho que buscar a pulseira. Só hoje ficará pronta.

Não tinha muito que arrumar. Os meninos vieram mesmo para me ajudar a limpar o local e colocar a mesa no lugar certo. Queria só que estivesse num bom canto para eu colocar meu celular. Coloquei nele a música que dançamos no aniversário da Abby,Thing For You Hinder, e quero muito dançar com ela. Traz lembranças boas e verdadeiras. Fora isso, a mesa estaria com um pano vermelho simples, mas arrumado, onde amanhã eu traria um cesta com vinho e algumas comidinhas para jantarmos aqui. Deixamos também um espaço pronto onde trarei pétalas de rosas para jogar nela depois de nossa dança. Tudo tinha que ficar organizado para que eu não desse nenhum furo. Shepley e Trent deram suas opiniões e colocamos tudo em ordem. Por fim, providenciamos lugares para eu e Abby podermos nos sentar. Eu sou brutamontes, mas quero poder ser romântico pelo menos uma vez e por deixar completamente claro meus sentimentos.

Deixei os dois finalizando tudo e fui buscar a pulseira. Primeiro passei na casa o meu pai para buscá-lo. Nessas duas semanas falei com o colega dele algumas vezes por telefone para saber como andava a pulseira, mas só hoje vou vê-lo pessoalmente. Confesso que estou muito ansioso para ver como ficou, se foi exatamente como planejei.

Ao chegarmos na lojinha onde a pulseira estava sendo feita, meu pai logo cumprimentou o colega.

- Oi Joseph! A pulseira ficou pronta ou não?

- Jim quanto tempo. Como você vai?

- Eu vou bem e você?

- Bem também. Muito bom te rever.

- Para mim também. Deixa eu te apresentar meu filho Travis.

Eu estava reparando todos os detalhes da lojinha. Era pequena, simples, mas com ar de família. Parecia que transbordava sentimentos ali dentro e, de alguma forma, isso me deixou tranquilo quanto ao meu pedido.

- Muito prazer, Joseph. Eu sou o Travis.

- Eis aí o grande homem apaixonado. Rapaz, o que você me pediu não foi fácil, mas quando seu pai contou sua história aceitei na hora o desafio. Você é novo e a juventude está muito mudada. Ver um casal com tanto amor me emociona e me inspira. Espero sinceramente que você goste do resultado da pulseira.

Essa fala de Joseph me fez abrir um largo sorriso na hora. Olhei para o meu pai com uma cara de satisfação e ele respondeu com um grande sorriso, o que me fez ficar mais confiante ainda. Nesse momento tive certeza que a pulseira não poderia estar menos que incrível.

Para minha alegria, o presente ficou perfeito. Joseph conseguiu transmitir tudo que imaginei para a pulseira. Na certa era um cara sensível e atento. Afinal, ficar sabendo de nossa história foi como tê-la vivido. Só assim para conseguir transformar uma história de amor em uma simples, mas maravilhosa pulseira.

- Joseph, ficou perfeita! Muito obrigado! – disse eu emocionado ao ver o objeto em minhas mãos. Percebi que meu pai também estava emocionado.

- Joseph, de fato você fez um excelente trabalho. Tenho certeza que minha filha Abby ficará imensamente feliz.

- Obrigado a vocês dois. Fiz de coração e o melhor que pude. Lamento só não poder dar de presente a vocês, pois vocês merecem. Mas espero de coração que sua esposa adore o presente e que ele seja sempre um símbolo de amor entre vocês dois.

- Com certeza ela adorará! – eu disse ainda sem acreditar na beleza do presente que darei a ela.

Voltei para casa mais do que satisfeito, completamente feliz. Não pude deixar de olhar para meu velho e dizer:

- Muito obrigado por tudo, pai!

Ver seus olhos cheios d’água e seu sorriso no rosto junto com a pulseira que carregava em meu bolso valeu cada centavo que economizei para fazer isso. Que venha o dia de amanhã!

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O dia que eu quero impressionar e arrebatar de vez o coração da Abby chegou. Fomos para a faculdade normalmente com a promessa de um jantar romântico e apaixonado. O dia tinha que ser especial, mas o mais natural possível. Fizemos tudo que costumamos fazer: chegamos juntos, almoçamos juntos e fomos embora juntos. Antes de dar minha aula particular deixei-a em casa. Ela tinha que deixar Totó com água e ração e se arrumar. Abby não é daquelas mulheres que demoram séculos para ficar pronta, mas também não se arruma tão depressa quanto eu. Antes de subir as escadas, ela olhou para mim e disse:

- Trav, sei que você tem que ir dar aula, mas não se atrasa. Se perdermos a reserva ficaremos em casa hoje.

- Eu sei, Flor! Farei de tudo para não atrasar. Pode deixar comigo.

- Ok, Trav! Vou subir e ver como está o Totó. Amo você!

- Eu também amo você! Até daqui a pouco. Ei... vou morrer de saudades!

- Eu também morrerei de saudades! – e ela se afastou com um lindo sorriso no rosto. O sorriso mais lindo e cativante do mundo. Um sorriso que era genuíno e que cada vez que eu via, me fazia me apaixonar mais e mais por ela.

Antes de ir para a aula particular, passei no Bartlen para ver se estava tudo certo. No dia anterior, eu tinha ido com Shep e Trent arrumar tudo. Mas como o grande dia era hoje, quis me certificar que ainda estava tudo devidamente arrumado. E também tinha que levar a cesta com o vinho e as comidas, além das pétalas de rosas para jogar nela após nossa dança.

Para minha felicidade estava tudo em ordem. Do jeito que deixamos ontem. Apesar de achar que Abby vai pirar de início, tenho certeza também que ela ficará muito feliz quando eu mostrar tudo que preparei. E se for pensar, eu sou Travis Maddox, nada comigo é comum.

Depois fui dar minhas aulas muito mais tranquilo. O tempo voou. Não sei se porque meus alunos estavam com muitas dúvidas, o que fez que eu trabalhasse bastante ou se porque eu estava ansioso demais mesmo. Queria logo ver a reação dela e se ela iria mesmo gostar o presente.

Terminado o meu trabalho, eu corri para casa. Precisava ver Abby, beijá-la, olhá-la e sentir seu amor.

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Quando cheguei a casa, Totó estava a minha espera. Aliás, ele sempre ficava a minha espera e quando me via, vinha logo fazer gracinhas e dar pulinhos típico de um cão. Eu achava engraçado, embora às vezes ele exagerasse um pouco. Não tinha como negar que eu, Abby e Totó somos uma família. Ele completa a nossa felicidade e faz com que tenhamos uma responsabilidade.

Depois de três passos dentro de casa e muitos pulos de Totó, me dei conta que sujei a sala com minha bota.

- Que merda! Essa lama que se acumulou na minha bota sujou tudo. Peraí Totó! Deixa-me tirar a bota!

E feito isso, peguei o pano de chão e fui limpar a sujeira. Não queria que Abby gastasse tempo com isso. Ela já tinha limpado a casa antes de irmos para a faculdade, justamente para poder ser arrumar para hoje. Depois procurei saber onde ela estava. Queria parecer tranquilo, mas a verdade é que não sei se conseguiria. Perguntei algo se ela estava em casa e ela respondeu que estava. Percebi logo que ela estava no banheiro e fiquei com muita vontade de ir lá vê-la. Só que antes que eu pudesse fazer isso, ela me repreendeu dizendo para ainda não vê-la. Droga! Que ansiedade horrível! Ainda tentei argumentar que nós não nos vínhamos o dia todo, mas Abby é prática e respondeu logo que só fazia três horas. Só? Para mim foi como o dia todo.

Resolvi voltar para a sala e reparei que tinha um pacote de presente. Fui até o banheiro, bati na porta e quis saber se era para mim. Ela respondeu que era para o Totó. Isso me fez sorrir. Adoro a Abby engraçada. Isso me faz bem. Mas fui obrigado a responder que não era legal da parte dela. Em seguida ela falou:

- Sim Trav, é para você. – isso me deixou com um sorriso de bobo.

- Eu tenho uma coisa para você também, então apresse a sua bunda.

- Perfeição leva tempo.

Perfeição leva tempo? Ela é linda de qualquer jeito: dormindo, acordada, tomando banho, séria, emburrada, sorrindo, brava, engraçada, até mesmo acordando. E olha que normalmente acordamos com uma cara amassada e cabelos feito um ninho. Mesmo assim Abby é sempre, sempre perfeita.

- Se você pudesse se ver pela manhã, você saberia que isso não é verdade.

Quinze minutos depois, eu já estava arrumado com meu jeans, blusa social e gravata. Era uma data comemorativa e Abby merecia o melhor de mim. Estava tranquilamente sentado no sofá, fazendo um cafuné no Totó e tomando uma cerveja, quando minha mulher apareceu em um vestido vermelho. Ela era a visão mais linda do mundo. Meu coração se acelerou e eu tive que dizê-la o quanto maravilhosa ela estava e o quanto eu sou um cara muito sortudo. Ela me abraçou e eu pressionei lentamente os meus lábios nos dela, então os passei também por suas bochechas, passando pela sua orelha, pescoço e clavícula. Ela rapidamente reparou que eu estava de gravata e eu reparei o quanto idiota pareço dessa forma. Só que Abby é muito apaixonada por mim para concordar.

Apesar de ambos os termos nos encanto de tal forma que desejássemos ficar em casa, fazer amor e comemorarmos esse Dia dos Namorados em nossa cama, eu tinha uma surpresa para ela e tive que cortar o nosso barato:

- Isto soa fodidamente incrível, mas nós temos uma reserva. Vamos.

Depois de tê-la ajudado a sair de casa por causa do frio, em meia hora estávamos sentados no bar do Rizoli’s um restaurante italiano local. O lugar estava lotado, tivemos sorte e encontramos dois lugares vagos no bar enquanto aguardávamos por uma mesa. Eu fiquei carrancudo. Isso fazia parte do plano para dar certo. Abby que me conhece muito bem percebeu minha fisionomia fechada.

- O que há de errado? – ela perguntou.

- Eu queria que esta noite fosse especial. E não dessa maneira.

- Este é um dos meus restaurantes favoritos, Travis.

-É, mais ainda é... Mediano. Eu queria que nosso primeiro Dia dos Namorados, fosse, sei lá, notável. Olha para todas estas pessoas aqui, fazendo o mesmo que nós – eu disse parecendo protestar com a situação.

- Isso não é uma coisa ruim. – Abby quis me convencer.

Nesse momento, uma mulher gritou para todo o salão:

- Maddox? – Essa era a nossa vez de ter a mesa e também a minha deixa para levar Abby para o que programei.

- Vamos – eu disse pulando fora do meu banco. Estendeu a mão para ela falando novamente: - Vamos.

Abby ainda protestou dizendo: - Mas... Ela acabou de chamar nosso nome. – ela apontou para a mulher que gritava nosso sobrenome.

Eu simplesmente sorri dizendo: - Vem Flor.

Saímos de lá e só parei para pegar o jantar no drive-thru e continuei nosso caminho indo para a faculdade. Eu já tinha levado algumas comidinhas e vinho, mas não dava para levar tudo, ficaria frio e não seria uma surpresa tão agradável.

Conforme fomos nos aproximando da faculdade, ela virou para mim e disse:

-Você não esta me levando para a festa de casais da Sig Tau, você está?

É claro que eu não estava. Sou um homem muito apaixonado, mas minha ideia sobre a festa de casais continuava a mesma. E, além do mais, eu também sabia que Abby não gostava. Sua pergunta me fez fazer uma careta.

Eu estacionei em frente ao Bartlen e a cara e Abby não era das melhores.

-Você está brincando, certo?

-Não. – Por que parecia uma brincadeira? Eu sai do meu lado de motorista e corri para abrir a porta para ela. Se era para ser romântico, vou fazer o pacote completo.

Eu peguei sua mão e rapidamente e em silencio nós caminhamos para a parte de trás do prédio. Abby começou a dificultar as coisas:

- Não. – ela disse olhando para a janela do porão aberta.

Eu pulei para dentro do porão antes que eu pudesse protestar mais: - Vem beija-flor.

- De jeito nenhum! – ela fechou a cara.

- Será como nos velhos tempos. – eu fiz uma cara melosa para tentar convencê-la.

- Não, apenas não Travis. Inferno, não! – isso irritação era visível.

- Está ficando solitário aqui. – eu novamente argumentei.

- Essa é uma ideia horrível.

- Você está estragando meu plano. – disparei para ela.

- Você é louco, este vestido nem é meu e você esta me pedindo para arruiná-lo. – ela disse enlouquecida. Sabia que ela ia pirar, mas confesso que não cheguei a imaginar um protesto tamanho.

- À noite esta só começando, ainda é cedo para isto.

Eu fiz de tudo para segurar a risada. Ela simplesmente cruzou seus braços no peito. Pronto! A parada para convencê-la seria dura.

Depois de uma longa pausa a minha voz baixou e de forma desesperada flutuou pela janela: - Por favor.

Ela revirou os olhos e disse: - Tá bom.

Estando dentro do porão do Bartlen, iluminei o caminho com a luz do celular, até chegarmos a uma grande e familiar sala. Pelo olhar de Abby sabia que ela também conseguia ouvir voz do Adam estridente no megafone, gritaria e os garotos bêbados da fraternidade ombro a ombro e do sangue espirrando em seu suéter no momento que nos conhecemos.

- Beija-flor, foi aqui que nós começamos. Onde eu te vi pela primeira vez. Quando você virou a porra do meu mundo de cabeça pra baixo - eu abaixei e beijei sua bochecha, entregando-lhe caixinha onde está a pulseira que comprei para ela: - Não é muito, embora eu tenha economizado para isso.

Ela abriu e um enorme sorriso pelo seu rosto, vendo o lindo bracelete que eu estava te presenteando.

-É a nossa historia. - eu disse.

Ela começou a reparar os pingentes: um suéter, um par de dados, uma miçanga verde com trevos sobre ela.

-Isso deveria significar a nossa aposta. - eu disse apontando para os dados. - E este aqui é pela primeira noite que dançamos. - eu disse apontando para uma miçanga vermelha. O próximo pingente era uma moto e o outro um coração. E ela disse:

-Pela primeira vez que eu disse eu te amo?- E seu sorriso me deixava completamente satisfeito.

- Sim!- E eu fiquei feliz por ela ter descoberto sozinha o significado do coração.

- E este aqui é a noite de poker na casa do papai? - Eu sorri de novo com sua descoberta.

O próximo era um peru e ela caiu na gargalhada. Como não se lembrar do dia de Ação de Graças. A próxima pérola era negra. Eu observei dizendo: - Pelo tempo que ficamos separados. O tempo mais escuro da minha vida.

O outro pingente é uma chama. Chama que representava o incêndio do ano passado: Eu não gosto de me lembrar sobre o incêndio, mas é parte da nossa historia, então é parte de nós.- eu disse um pouco sem graça, mas com convicção.

O pingente seguinte é um anel. Representa a nossa união e a nossa vitória. Ela me olhou com muita ternura e amor e disse: -Isto é muito lindo.

- E tem esta sala. Isto é apenas o começo da nossa história, Flor.

Ela colocou o bracelete no seu pulso e eu a ajudei com o fecho. Coloquei em uma mesinha a poucos metros de distância o meu celular. Agora era vez de dançar com ela a nossa música.

Eu coloquei suas mãos em meus ombros, e a música Thing for You começou a tocar. Era a música que nós dançamos na festa de aniversário dela no ano anterior. Ela parecia emocionada. Isso me deixou também emocionado.

- Eu não fazia ideia. - ela disse.

-Do quê?

- Que você era tão sentimental. – ela disse com um sorriso tímido.

-Sim, você fazia. – eu disse do fundo do meu coração.

Ela encostou sua cabeça no meu ombro, felizes por pertencermos um ao outro. Assim que a música parou, ela tocou meus lábios com os ela e me entregou um saco vermelho liso.

- O bracelete é uma coisa difícil de superar. – ela disse com uma voz doce.

- Não importa o que seja beija-flor. Você já me deu tudo que eu sempre quis.

Eu abri o saco vermelho e era um tipo scrapbook com fotos, frases, letras de músicas, tudo que lembrava de nós. Foi a forma dela de me presentear contando a nossa história. Isso foi tão emocionante. Nós tivemos a mesma ideia, embora os presentes tenham sido diferentes.

- Beija-flor, que lindo! Presente melhor você não poderia me dar. Vou guardar isso para sempre.

Depois disso, eu joguei as pétalas de rosa nela, que girava com um sorriso lindo no rosto e repetindo várias vezes que me ama. Foi uma das cenas mais lindas que vi na vida. Não resisti e a beijei intensamente.

O jantar foi sentado no pano que Trent providenciou no dia anterior. Comemos a comida que compramos antes de vir aqui e tomamos o vinho. Era tudo muito simples, mas completamente romântico. Nossa conversa foi sobre nossa vida, nossas aventuras e as histórias que vivemos juntos e contribuíram para que estivéssemos aqui hoje. De sobremesa comemos alguns doces e frutas que eu trouxe na cesta mais cedo junto com o vinho.

Só posso dizer que fui feliz para casa. No fim deu tudo certo. Cada coisa que planejei se concretizou. A pulseira ficou linda e ela amou. Nosso jantar foi romântico como eu queria. O presente que ela me deu me emocionou e tudo que passei nessas últimas duas semanas valeram muito a pena.

Eu não sou do tipo romântico, nem calmo, nem sensato, nem normal, mas sou do tipo intenso. Tudo que eu faço na minha vida é com intensidade de querer e gostar de viver. O meu amor por Abby é a maior das minhas intensidades. Nunca serei capaz de agradecer tudo que melhorei por causa dela e para ela. E nunca serei capaz de ser mais intenso do que o amor que sinto por ela, da necessidade que tenho de viver com ela e por causa dela.

O nosso fim de noite foi uma linda noite de amor, onde nos perdemos um no outro, nos fizemos dependentes um do outro, amantes um do outro, a vida um do outro. Jamais esquecerei esse momento na minha vida. Jamais deixarei de amar Abby Maddox.