Christine deixou a pequena sacola de mercado na porta da casa, hesitou antes de bater, mas deu pequenos três toques, a porta se abriu somente um pouco e a moça entrou rapidamente, o interior da casa era escuro, com apenas um castiçal para iluminar, o Fantasma estava novamente de máscara, e falou rapidamente:

– Lugar horrível este que seu marido escolheu para morar, não é?

– Não queria morar aqui, mas ele fez questão, agora, por que me chamou aqui?

– Queria saber da gravidez, é meu filho que está aí.

– Está bem, só que Raoul faz questão de me fazer comer umas comidas estranhas.

– Pode parar.

– O quê?

– Não quero você comendo coisas que esse visconde de nariz empinado fala que é bom, coma quando sentir fome. Quanto ao que ele recomenda, jogue fora as escondidas.

– Não é porque quero te contrariar, mas ele se CERTIFICA, que eu coma, mudou todos os horários para almoçar comigo.

– Bem, eu vou colocar um pouco de dinheiro na mão do chefe dele, e vamos ver se ele não vai ser obrigado a mudar esses horários.

– Deus, tudo é capaz de ser mudado com suborno...

– É mesmo, sabe, esta é uma cidade com pessoas de língua grande e caráter pequeno, essas velhas procuram fofoca, quando sair, comente com seu marido que o novo vizinho é uma pessoa simpática, e se conseguir comente com elas também, é horrível ter de usar essa coisa outra vez.

– Vou tentar, é, por que você demorou tanto? – O homem se sentou e fez um gesto para que ela também se sentasse.

– Roya me manteve lá, Mazenderã me amaldiçoou quando contei a história para ela, falou que você estava mentindo, mas agora que vejo isso. – Ele apontou para a barriga de Christine. – Vejo que ela estava errada, mas Roya chorou, se agarrou a mim, ela não sabia que você está grávida, mas espero poder criar esse filho e dar atenção a ela, pode confiar, nada faltará a ele, a garota falou que me esperaria para o resto da vida dela, que não estaria completa sem mim, senti pena dela, mas não podia faltar com você.

– Deve ter sido duro.

– E foi mesmo, mas acho melhor você ir, se não vão começar a comentar. – A soprano foi embora, e comentou com as velhas sobre o novo vizinho, as velhas sorriram falsamente, e quando ela voltou para casa, desabou no sofá, algo naquela casa a fizera ficar cansada, o clima era pesado ou talvez fosse ver Erik de máscara novamente, mas ela voltou lá várias vezes, e na segunda vez as coisas fluíram melhor, ele falou mais e até riu, pelo menos amigos eles conseguiam ser, ele passava a mão na barriga dela, e falava sobre como o bebê devia estar crescendo, nunca a soprano havia se sentindo tão confortável dentro daquela cidade, além do mais, o homem era um ótimo cozinheiro, e para que ela pudesse ir com mais frequência a casa, esta tinha uma porta secreta, que ela acessava por um caminho escondido, o bebê era enérgico e chutava muito, e Erik até fez uma piada com isso:

– Aprendeu com o pai, vai enforcar muita gente ainda.

– Isso não é engraçado.

– Que horror, eu que crio senso de humor e você é rabugenta? – Ela riu também, no fim viu que tudo aquilo estava mexendo demais com ela, e se deixou rir um pouco das piadas dele, ele deixou que ela lesse alguns livros, Os Miseráveis estava causando polêmica por denunciar o preconceito na França, e ele já tinha o livro, pois se tinha alguém que entendia de preconceito este era o Fantasma, ele havia sido maltratado desde o nascimento, e sofrerá demais se escondendo, mas agora até ria das coisas do passado, mas a verdadeira surpresa da moça foi quando ela estava vendo os livros na estante, e viu um volume escrito “As horas rosas de Mazenderã”, ela olhou para a cozinha e viu o homem preparando algo, só precisava dar uma pequena olhada, sua mão foi para o livro e o pegou, mas antes que pudesse abrir uma voz falou:

– Christine!

– Ah!

– Deus, maldita seja sua curiosidade, sabia que não devia deixar isso aí.

– Mas, espera, por que você tem um livro com esse nome?

– Não acredito, vou ter que contar isso? – Ele pegou vários outros livros, e os empilhou, era um total de sete, com capas escuras e letras douradas. – São minhas memórias. – Entre os títulos, Christine viu “O Fantasma da Ópera” e “Tristeza”. – Se quiser pode ler, acho que você já sabe tudo. – Christine percebeu que ele estava triste, então apenas disse:

– Eu não preciso disso. – E abraçou o homem, ele se encontrou sem ação por um momento, mas depois a abraçou de volta.

– Sabia Christine, que tem um jornalista chamado Gaston Leroux querendo fazer uma história baseada no caso do Fantasma da Ópera? Se tudo isso der certo eu dou esse livro para ele, mas duvido que alguém se interesse.

– Sabe Erik, algo me diz que muita gente ainda vai se inspirar com essa história. – Mais tarde, a moça voltou para casa, mas ela não queria, de jeito nenhum, voltar para aquela vida, para aquele casamento, para aquele homem... Mas ela foi, e quando chegou em casa, encontrou Raoul e uma das velhas sentados no sofá, eles conversavam, mas quando a moça entrou, o visconde falou:

– Christine, Lorena acaba de me contar o que você fez.

– O quê?

– Anda visitando um homem ás escondidas. – A soprano se sentiu encurralada, precisava de uma desculpa.

– Não posso negar, visitei algumas vezes o novo vizinho, mas foi porque ele tinha vergonha de sair, então levava comida para ele, e ele me dava dinheiro, e além do mais, ele estava depressivo, perdeu a esposa, conversei com ele um pouco, agora, se me acusa de o visitar todos os dias, é mentira, pois bem sabem que eu apenas passeio por ai!

– Bem, se é assim, eu te conheço Christine, sei que tem bom coração, mas pare de visitar o homem, pois este pode ter segundas intenções. – A velha saiu sem dizer nada, mas depois que a soprano olhou para o marido, descobriu, que ele realmente não confiava nela.