– Conte-me mais- Disse Christine se recostando na poltrona e tentando parecer forte. – Erik morreu, eu sei disso, eu voltei na Ópera e coloquei o anel no cadáver dele.

– Ele é mais esperto que nós dois, de fato achamos uma caveira com um anel, mas era de mentira assim como o cadáver em que você colocou o anel. Ele planejou tudo, veio até minha casa parecendo fraco, se lamentou e foi embora. Mas eu sei para onde ele foi.

– E onde ele teria ido, se me permite a ousadia?

– Tenho certeza que ele foi para a Pérsia, ele é muito amigo da sultana e deve estar escondido lá.

– Está bem, mas por que vocês não deixam ele em paz? Ele apenas que viver normalmente.

– Ah, criança, eu adoraria que as coisas fossem tão simples, mas Erik corre perigo e ao mesmo tempo é o perigo.

– Fale mais.

– Olha, vou ter de te contar mais do que você gostaria de saber, você está pronta?

– Sim.

– Erik veio para a Pérsia com o circo, seu pai o vendeu depois de ver que a mãe dele sentia medo, porém tentava conviver com ele, no circo, ele não tinha ninguém, mas fez amizade com o mágico, que o ajudava a pegar livros da biblioteca particular do dono do circo, eles não contavam que nosso Fantasma era um gênio, absorvendo todo o conhecimento dos livros, eles fizeram uma parada na Pérsia, e lá Mazenderã, ainda uma criança, se impressionou com Erik, pedindo para seu pai uma apresentação particular, o pai dela conseguiu a tal apresentação e enquanto levavam o garoto, ele se impressionou com tal inteligência, quando a apresentação acabou, ele o comprou do circo e pediu para ele, um garoto de 16 anos ainda, ajuda para construir a nova ala de seu palácio, oferecendo como pagamento uma quantia boa de dinheiro e a liberdade dele. Ele ajudou a construir, projetando e supervisionando. Enquanto isso ele teve também contato com Mazenderã, nosso Fantasma já era sensitivo e percebeu o destino da garotinha: Se casar com um marido que podia ter várias mulheres mas restringia sua esposa de qualquer contato com outros homens, como falar, e ela também seria muito agredida, pois cobravam das mulheres saber coisas que nunca se preocuparam em lhes ensinar. Sabendo disso, ele deu algumas aulas secretas a menina, inglês, francês, história, matemática, música, artes, e quando ela ficou um pouco mais madura, como seduzir e tratar homens. Erik nunca teve interesse amoroso nela, com o tempo o sultão soube das aulas e ficou preocupado com a filha, mas descobriu que tudo tinha boas intenções, “As horas rosas de Mazenderã” se tratam das últimas aulas que ela teve, com a construção da primeira câmara dos suplícios, torturas e aulas de como matar alguém. Foram grotescas com contesto violento demais, é por isso que hoje em dia nossa sultana é tão poderosa. Voltando ao assunto, um dia o nosso Fantasma saiu do palácio, com sua máscara, para beber um pouco, mas havia um homem tão bêbado no bar que arrancou e máscara dele e zombou de seu rosto, fazendo com que Erik ficasse tão bravo que matou o homem, enforcado, com as próprias mãos. Todos no recinto ficaram horrorizados e avisaram a polícia, é aí que eu entro na história, era novato e trabalhava na parte investigativa, fizeram um bom trabalho em esconde-lo, mas eu cheguei muito perto, o sultão me ofereceu dinheiro para parar a investigação, mas não aceitei, naquela época a Mazenderã já era esperta e então investigou minha vida inteira, descobriu que minha mãe era doente e então lhe deu tratamento, salvando-a. Acredite, Christine, não existe sentimento mais forte que culpa e gratidão, ela havia feito aquilo com óbvios segundos interesses, mas não pude prender seu amigo, a culpa pesava sobre mim, eu fui até ela e falei para levar o Fantasma para outro lugar, bem longe dali, e eu teria que ir junto. Ela aceitou e despachou-o para a França, junto comigo, ele tinha seus 24 anos, chegando em Paris, ele viu a Ópera Garnier, um esqueleto ainda, se ofereceu para colaborar na obra, como engenheiro brilhante que é, as obras avançaram espantosamente, e em 4 anos tudo estava pronto, ele pediu que seu nome não fosse citado e construiu secretamente uma casa nos subterrâneos, quando já tinha seus 30 anos, te conheceu, e agora depois de 11 anos, estamos aqui. Eu parei as investigações na Pérsia, mas nem todos pararam, apesar das claras ordens do sultão, aquele homem que morreu era popular e podem fazer o assassinato de Erik parecer um acidente, ele não pode se arriscar a matar outra vez, Christine, ele é maluco, os assassinatos na Ópera comprovam, ele tem de estar acompanhando por alguém, então ele vítima e assassino ao mesmo tempo, entende?

Christine se sentou, a história era longa, longa demais, mas ela entendera:

– E o que você quer que eu faça?

– Traga ele de volta.

A garota se sentou, incrédula:

– Eu? Não, você deve estar brincando, eu magoei ele, deixei ele sozinho e você fala isso? O máximo que vou receber será um laço de Punjab em volta da minha garganta.

– Você está iludida, um amor que nem o dele não some assim, você pode convencê-lo, tenho certeza.

A soprano estava branca, só de pensar no que passara da última vez que esteve ao lado de Erik, Deus, como o destino era cruel, Raoul estava sendo ruim com ela, bem longe do sonho que era, agora ela podia escolher, salvar alguém que havia lhe ensinado tantas coisas e correr sérios riscos ou ficar com um marido ciumento e conviver com a culpa:

– Eu irei, mas Raoul, ele nunca irá aprovar tal coisa.

– Para isso mesmo ele está embarcando numa viagem de três meses, para chegar na Pérsia são duas semanas, contando com isso, você tem 6 semanas para convencê-lo e ainda sobra uma semana para voltar e ficar em casa.

– Sei que é loucura, mas eu vou.