O dia seguinte amanheceu ensolarado e radiante. Maze, depois de sentir o inferno tão perto sentiu sua energia revigorada. Ela e Lúcifer se reuniram para acertar questões da Lux e os bens pessoas de Lúcifer logo cedo.

—A Lux ia ser leiloada mês que vem caso você não aparecesse para assinar a hipoteca. Tive que ir atrás de muitas pessoas para estender o prazo. – informou Maze mostrando os papéis a Lúcifer. - Ainda bem que voltou antes de chegarmos a esse ponto.

—Sabia que tinha deixado meus bens em boas mãos. Obrigado, Mazikeen. – Maze sorriu orgulhosa.

—Aliás, e aquele climão entre você e a Decker ontem. Fiquei até excitada! – Lúcifer sorriu.

—Acho que nunca fiquei com tanta vontade como ontem. – ele confessou.

—Pega leve com a Decker! Você sabe, seja especial. Ela gosta dessas coisas bregas.

—Tudo que a Detetive até então me mostrou é monotonamente delicioso, irei no tempo dela. – Os dois encerraram o assunto e voltaram a atenção aos papéis. Um pouco mais de uma hora alguém surgiu no elevador.

—Eva. – Lúcifer cumprimentou ligeiramente surpreso.

—Lúcifer! – ela o abraçou aliviada. – Ah que bom que você voltou! Eu sinto muito mesmo por ter induzido tudo isso.

—Fiquei tranquila, Eva. Você só foi um peão nisso tudo. Meu Pai era o culpado. Mas, como pode ver já está tudo bem!

—Fico feliz, de verdade! – ela se afastou dele. Lúcifer olhou para Maze que até então não tinha levantado a cabeça dos papéis.

—Eva, fique a vontade. Eu tenho que buscar a criaturinha da Detetive agora. – e então se retirou deixando as duas mulheres sozinhas.

—Oi, Maze! – Eva sentou no banco onde Lúcifer estava no bar.

—Oi. – Maze murmurou. – Como foi sua redescoberta na Itália?

—Bem! Na verdade, foi assustador perceber o quanto eu não me conhecia. Do que tudo que até então eu gostava eu só gostava porque os homens gostavam. – ela estendeu o braço sob o bar e pegou a mão da Maze.

—Maze, sei que está chateada comigo e com toda razão. Você merece alguém bem melhor que eu, mas eu sinto falta de sua amizade. Eu me diverti muito caçando os bandidos com você. Sinto muito ter sido tão boba, mas eu precisava me conhecer para tentar me envolver de novo, não queria mais ser só a mulher de alguém. – Maze a olhou e suspirou.

—Você fez certo, Eva.

—Sério?

—Sim, estou feliz que esteja se encontrando. - comentou Maze, surpresa com as próprias palavras. Linda vai sentir muito orgulho.

—Então podemos recomeçar?

—Claro, você foi ótima como caçadora! Vai me ajudar muito- Maze sorriu e Eva e a abraçou.

Lúcifer estacionou em frente ao prédio da escola fundamental de LA. Ele viu a pequena aberração saindo pela porta, procurando por ele. Lúcifer ficou ligeiramente surpreso ao ver que ela estava maior do que da última vez, e cabelo fino geralmente preso em chiquinhas agora estava solto. Ele saiu do carro e acenou para a pequena Decker.

—Lúcifer! – ela gritou correndo na direção do homem e se jogou sob seus ombros. Lúcifer ficou surpreso, mas riu do ato inesperado.

—Olá, criaturinha! Você está crescendo muito rápido. – ele comentou meio frustrado. Ela sorriu.

—Nem tanto, olha. – ela apontou pro próprio buraco na boca. – caiu essa semana meu dente de leite!

—Adorável. – Lúcifer sorriu.

Trixie entrou no carro e os pés ficaram balançando no ar do conversível. Ela olhava curiosa cada cantinho do veículo sem dizer nada. Quando Lúcifer deu partida no carro é que ele começou a ficar ligeiramente desconfortável. O que iriam fazer? Não tinha ideia de como passar a tarde com uma mini mulher. Com certeza isso foi uma péssima ideia, ele pensava, acho que vou leva-la a delegacia e deixa-la com Dan.

—Tem uma sorveteria na outra esquina. Vamos tomar um sorvete? – ela perguntou. – o médico disse que faz bem pra gengiva. – ela alegou apontando o buraco na boca.

—Sei, o “médico”. Bom, então vamos tomar um sorvete! – Lúcifer anunciou. Tomamos sorvete e a deixo na delegacia então.

—Achei que tinha abandonado a gente. Minha mãe andava muito triste. – Trixie comentou.

—Ela andava, é? – Lúcifer quis saber.

—Sim, nunca vi a mamãe daquele jeito. – Trixie pareceu murchar aos poucos.

—Bom, agora eu estou de volta. E para ficar! – ele sorri.

—Minha mãe falou que você estava numa missão muito importante! É verdade? – Lúcifer pensou um pouco.

—Bom, acho que foi sim.

—Ela dizia com muito orgulho que você tinha ido embora por uma causa nobre. Por isso não fiquei brava por você ter nos deixado! – Trixie comentou.

—Jamais seria capaz de deixar vocês. – Lúcifer diz e percebe o quanto isso era sincero. – Chegamos.

Ele estacionou e Trixie pulou do carro para escolher um grande pote de sorvete.

—Qual você deseja? – Lúcifer perguntou a ela.

—Aquele grandão com chocolate. – ela encostou o rosto no vidro admirando o grande pote de sorvete de chocolate e jujubas.

—Capricha pra ela. – ele pediu ao atendente cheio de espinhas. Não era exatamente um favor que estava prestando, muito menos receberia algo em troca, mas satisfazer o desejo da criaturinha dava uma sensação tão boa quanto seus favores mal intencionados a desconhecidos.

—Bom, agora que tem seu sorvete, acho que vou te devolver ao seu pai.

—Podemos ir só num lugar antes disso? – pediu a menina com os olhos brilhando. Os mesmos olhos que Chloe fazia quando queria muito algo, ele sorriu sabendo que seria incapaz de dizer não. O feiticeiro sendo enfeitiçado, adorável.

—Diga. – ele abriu a porta para ela entrar no carro com o pote de sorvete, temendo que a menina sujasse seu estofado de couro.

—Podemos ir no topo da 4 avenue?

—O que tem lá?

—Vamos! Por favor! – ela insistiu.

—Ok, ok! – Lúcifer concordou contrariado e deu partida.

Ele contornou a praia e subiram a estrada morro acima. Lá tinha uma pequena pracinha, com estacionamento para carros e alguns banquinhos, nada de grandioso. Mas, quando Lúcifer estacionou ficou surpreso com a vista da Los Angeles que tinha dali, podia ver o parque ao longe, a praia, o comercio costeiro.

—Minha mãe uma vez me contou que o vovô trazia ela com um sorvete para verem o pôr do sol. Eu queria muito saber como é a sensação.

—Mas o detetive babac... seu pai?

—Ele sempre estava muito ocupado na época, aí eu não pedia. Eu achei que podia ter a oportunidade agora. – ela balançou os pezinhos e olhava o sol tocando o horizonte. Lúcifer não sabia o que dizer, mas sentiu que era algo importante.

—Bom, é uma vista muito bonita. – Ele comentou se acomodando no banco e apreciando o sol. – devia ter comprado um sorvete para mim também se eu soubesse.

—Aqui, eu pedi o grande para isso. – ela sorriu e estendeu uma colher extra que ela havia pego. Lúcifer surpreso pegou a colher e provou o sorvete.

—Obrigado. – ele disse, incapaz de fazer seus comentários sarcásticos. Havia sido pego de surpresa, e não sabia descrever a sensação estranha que aquela situação lhe causou. No fim das contas, quem havia recebido uma tarde maravilhosa havia sido ele.

Chloe ligou para Lúcifer meia hora depois para saber se estava tudo bem. Ele comentou que ainda estava com a mini Decker na praça. Os dois haviam sentado no balanço do parquinho e Trixie tentava empurrar Lúcifer.

—Você tem que dar mais vegetais para essa criança, Detetive. Ela mal consegue me empurrar nesse brinquedo bobo. – Lúcifer comentou enquanto Trixie empurrava Lúcifer pelas costas para o balando se mover. – Ah, ótimo! – ele comentou. – Criatura, sua mãe está perguntando o que quer para o jantar. – Lúcifer murmurou afastando o celular.

—Pizza! – Trixie gritou atrás dele, ainda tentando fazer o balanço se mover mais.

—Pizza para esse pequeno ser sem o dente da frente. – Lúcifer informou a Chloe. – Hora de partir! – ele anunciou.

Lúcifer estacionou na entrada da casa das Decker e suspirou, teve um dia maravilhoso! Estava com a sensação que sente após prender um criminoso num longo dia e isso o deixava ligeiramente surpreso.

—Foi uma tarde e tanto, não acha? – ele perguntou tirando o cinto da menina.

—Foi sim, obrigada Lúcifer! – ela pôs os joelhos no banco e o abraçou de surpresa.

—Tem mais uma coisa! – ele comentou quando ela o soltou. Lúcifer tateou o banco de trás e pegou um embrulho que havia deixado escondido ao canto e entregou a Trixie. – Isso é para você, um agradecimento.

—Agradecimento pelo quê? – a menina perguntou confusa olhando o embrulho.

—Graças a você eu pude voltar! – ele sorriu.

—Vem! Vamos entrar! Quero abrir com a mamãe! – ela puxou Lúcifer pela mãe e os dois entraram.

Chloe estava na cozinha quando os dois entraram. Ela sorriu para Lúcifer e caminhou até os dois.

—Como foi o passeio, macaquinha? – ela perguntou a menina.

—Foi ótimo, mamãe! Eu e o Lúcifer fomos na 4 avenue! Que nem você e o vovô faziam!

—Oh! – Chloe olhou surpresa para Lúcifer. – Isso é... maravilhoso! O que achou?

—Foi muito legal! Tomamos sorvete vendo o pôr do sol.

—É uma vista linda mesmo. – concordou Lúcifer.

—É sim. – Chloe abriu um sorriso saudosa. – E o que é isso? – ela perguntou para o embrulho que Trixie segurava.

—É só uma lembrancinha. – Lúcifer justificou. A menina sentou no sofá e começou abrir animada o presente.

—Eu não acredito! – ela gritou tirando o quimono. – Eu não acredito! Obrigada, Lúcifer! – ela correu e o abraçou de novo. Ele poderia se acostumar com os abraços dela.

—Está bom! Que tal você subir, tomar um banho para provar seu quimono novo enquanto a pizza está a caminho?

—Já volto! – ela sorriu correndo escada acima.

—Como sabia que ela queria fazer caratê? – perguntou Chloe cruzando os braços surpresa.

—Eu sou o Diabo, esqueceu? Eu sei os maiores desejos das pessoas! – ele se gabou. – Depois é só levar ela aqui. – ele tirou dois panfletos do bolso. – Eu gostei dos dois, mas ela pode escolher entre as duas escolas. A matricula está feita nas duas, por via das dúvidas. Eu a inscrevi no horário após a escola, assim não precisam pagar a babá para buscar ela, quando sair da delegacia é só buscar. – ele sorriu.

—Lúcifer, eu... – mas Chloe não concluiu. Ela estava chocada. Como ele havia se atentado a cada detalhe, os horários de Trixie, a babá, o trabalho da Chloe?

—Acho melhor eu ir. Antes que ela desça e queira lutar, não estou pronto para perder para uma garotinha. – Lúcifer comentou olhando o relógio.

—Você não vai jantar com a gente? Eu pedi a pizza grande... – Chloe tocou em seu braço.

—Eu adoraria, Detetive, mas deixei Maze sozinha com a papelada. Diga a Trixie que eu adorei o passeio. – ele disse, esquivando-se e então partiu.

Seria demais para seus sentimentos confusos.

Continua...