Chloe acordou sentindo uma forte dor de cabeça. Custara a dormir na noite passada e o choro não a ajudou muito. Raras foram as vezes em que Chloe chorou tanto, mas quanto mais as horas na madrugada passavam, mais cruel a verdade lhe atingia: Lúcifer havia partido de vez.

O céu estava nublado, mas a claridade da manhã a incomodava. Ela sentou na cama extremamente grande e confortável de Lúcifer; foi incapaz de ir embora. A detetive se recordou de uma vez, há um tempo, em que acordara naquela cama. Estava bêbada e tinha levado um pé na bunda de Dan, achara que tinha dormido com Lúcifer naquela noite, mas só teve a estranha surpresa de que ele sequer a tocara na ocasião.

Chloe tocou os lençóis, imaginando Lúcifer ali, sentindo o cheiro forte do perfume importado a qual tanto estava acostumada a sentir todas as manhã num novo caso; era como se tentasse guardar ao máximo a presença dele em sua memória. Podia até ouvir o som da garrafa de whisky em seu bar no outro cômodo, por um momento estranhou o som até entender que não deveria ter mais ninguém ali. Pulando da cama, correu ao bar na esperança de vê-lo, na fé dele ter sido negligente só mais uma vez, mas era somente Maze.

—Oi, Decker. – disse Maze enchendo um segundo copo e entregando a Chloe.

—Oi. – Chloe murmurou desolada pegando a bebida, sentindo toda a sua esperança se esvaindo. Maze segurou seu copo e o fitou, como se passasse um turbilhão de pensamentos em sua cabeça. Com amargura, ela gritou arremessando o copo cheio ao outro lado da sala. O som agudo retumbou no último andar da Lux, sentindo o peso da solidão.

—Eu não acredito que ele me deixou! – gritou Maze pegando a garrafa de Whisky e a tacando também para longe. Chloe não se assustou com a reação de Mazikeen, sequer a impediu, apenas sentou no chão segurando o copo ainda com força. Quantas vezes Lúcifer não tocara em seu piano com este copo lhe fazendo companhia?

—E agora, Maze? – Chloe murmurou após alguns instantes, quando sentiu que o demônio não iria tacar mais nada. Maze a olhou pensando.

—Eu não sei! – ela grunhiu. – Eu não posso sair da Terra sem o Lúcifer! Mas se eu pudesse eu me arrastaria só para busca-lo.

—Eu também. – ela sussurra se levantando.

Chloe chegou na delegacia com seus óculos escuros e correu atrás de café na copa. Enquanto entornava o líquido na boca sentiu os braços finos da pequena Ella envolvendo-a.

—Bom dia, Deckerzinha! – ela cantarolou.

—Bom dia. – murmurou Chloe com a voz rouca.

—De óculos? Da última vez que a vi com um você tinha terminado com o... – Ella parou de falar e olhou em volta. – Cadê o Lúcifer?

—Foi embora, Ella. – disse ajeitando os óculos e andando até sua mesa para ver qual seria o caso do dia.

—Embora? Como assim “embora”? – insistiu Ella a seguindo.

—Ele teve que partir. Questões pessoais, mas não irá voltar. – Chloe folheava os papéis fingindo que se importava com alguma coisa hoje.

—Que isso, Chloe. Não fique assim! Ele sempre volta! Lembra? Ele sempre voltou.

—Só que dessa vez é diferente. Está tudo bem, Ella. – disse sorrindo. Ella abriu um sorriso triste e puxou levemente seus óculos até a ponta do nariz revelando os olhos inchados e tristes da detetive.

—Não está tudo bem! – ela pegou sua mão e a olhou com seu jeitinho doce. -Ele sempre volta. – Ella garantiu.

Continua...