Dentro do Espelho

Fadas Não Existem


– Ela voltou – Disse o médico – Ainda temos esperanças.
Meu corpo estava inerte em cima da maca, rodeado por alguns enfermeiros que me davam choques cardíacos com o auxilio de uma máquina.
De certa forma, parecia que eu via a cena pelos olhos de outro alguém. Pelo reflexo do espelho.– Doutor, o que eu houve com a menina? – Perguntou uma doce enfermeira negra.
– De acordo com os amigos, tentou suicídio e sofreu algum dano na laringe que a fez vomitar sangue – Respondeu o homem.
A máquina que media os batimentos cardíacos apitava num volume normal, um pequeno gráfico aparecia na tela indicando que meu coração estava saudável. Mas o que havia de errado comigo?
– Quando estava sendo transportada sofreu uma parada cardíaca. – Continuou o médico.
– Meu Deus! Que pena. Ela parece ser tão jovem, e olha essa pele. – Disse a enfermeira colocando a mão no meu rosto – É tão bela.
De repente o bip da tela ficou mais frenético, o gráfico começou a ondular loucamente e meu corpo começou a se convulsionar enquanto eu assistia sem poder fazer nada. Assistia como se eu não estivesse ali.
– Por favor, alguém... – Disse a enfermeira. Porém ela nunca terminou a frase.
Meu pé se ergueu e chutou o tórax da mulher. Meu corpo, veloz como um raio, se posicionou e saiu da cama, rasgando uma parte da roupa de paciente que eu usava. Um dos médicos gritou quando dei um salto há dois metros do chão e acertei seu rosto com meu pé.
– Alguém chama os seguranças! – Gritou um dos enfermeiros.
Mas já era tarde. Eu soube que já não iria adiantar quando a pessoa que deveria ser eu abriu os olhos e mostrou o tom tão azul como os quatro oceanos.
Hope.
A garota pegou um dos braços de uma médica loira e foi possível ouvir o barulho dos ossos quando ela o quebrou. A mulher nem teve tempo de reagir quando o joelho de Hope acertou seu nariz. Médicos e mais médicos saiam correndo e gritando, e pude ver quando Diane apareceu em frente á um deles, saindo de um corredor.
– Mas que diabos? – Gritou ela.
Hope lhe fitava com olhar sobre-humano, o mesmo admirar de um carnívoro para sua presa. A caçada havia começado.
Meu corpo se lançou contra Diane, porém a garota já havia saído pelos corredores, obrigando meu demônio a ir atrás.
O hospital deveria ser o Teresa White, que ganhou esse nome por ser todo branco, desde o forro até os pisos. Hope seguiu Diane pelos corredores sobrepostos e tive a mínima esperança de que minha amiga pudesse fugir.
Bem, não foi o caso.
A demônia conseguiu encurrala-la numa grande sala de espera. Que tipo de arquiteto coloca apenas um corredor para uma sala de espera?!
– Skie – Disse Diane suando – Você não é assim, Sky. Livre-se disso. Sou eu, a Di.
Fiz uma cara atônita, como se estivesse com medo. Meu corpo começou a tremer e uma pequena lágrima caiu do meu olho direito. Um truque.
– Eu não consigo, Di. – Disse Hope – É mais forte que eu. Elas são mais poderosas, por favor, me ajude.
Hope se ajoelhou e colocou a mão sobre o estomago como se sentisse dor. Diane, sempre boa, se aproximou da garota. Apenas mais um passo e o lobo abateria o cervo.
Não seja estúpida! Ela está mentindo! Diane, não sou eu! Não sou!
Eu tentei gritar, tentei espernear e me comunicar. Mas eu já não estava ali, e minhas boas intenções não foram páreas para o que aconteceu em seguida.
Diane passou a mão sobre os cabelos loiros de Hope, e isso foi tudo. A garota demônio pegou pelos cabelos multi coloridos da minha amiga e socou seu rosto contra a mesa de vidro no centro da sala. E socou de novo e depois de novo.
O sangue voou das artérias da garota e nem um grito de dor se ouviu. Hope pegou seu crânio e jogou contra a janela, fazendo com que vários pedaços de vidro tingidos de rubro caíssem no chão.
– Namárië – Disse Hope, tirando o corpo de Diane dos pedaços cortantes.
Adeus, ela quis dizer em élfico.
Olhei para os olhos violetas dela, mas eles agora estavam tão azuis, quase brancos.
A vida se foi de seu corpo, levando a doce cor lilás de seu olhar. Azul de certa forma se tornara a cor do luto.