Eram duas da tarde quando a mãe de Larissa batia em sua porta.

_Lah, acorda. Liguei na escola dizendo que você não estava se sentindo bem por isso não estava na aula hoje. Já são Duas da tarde. Vem comer alguma coisa, marquei uma consulta com o psicólogo para semana que vem.

Larissa se sentou em sua cama, percebeu que seu diário ainda estava em cima das cobertas. Havia passado a madrugada inteira escrevendo. Respirou fundo e foi em direção ao banheiro. Viu que estava sujo de sangue e seria uma luta enorme para limpa-lo. Com certeza seria ela mesma que teria de limpar.

Ligou o chuveiro para tomar um relaxante banho. Só não sabia se tirava os curativos e deixava escorrer água pelos pontos ou ficava sem lavar o pulso. Acabou tirando o curativo. Os pontos eram profundos, não sabia que havia se cortado tanto. Se não tivessem entrado em seu quarto naquele momento, talvez estivesse morta.

Parou de pensar nisso. Fez sua higiene matinal, mesmo sendo duas da tarde. Escolheu um vestido branco com pequenas flores vermelhas de estampa. O vestido era rodado e lhe caia perfeitamente. Olhou-se no espelho. Tinha os cabelos loiros acastanhado e caiam como uma cascata de ondas em suas costas. Sua pele branca estava pálida, talvez de fome. Colocou varias pulseiras e sua munhequeira em cima do curativo, não queria que ninguem percebesse seus cortes. Arrumou o quarto e desceu para a cozinha.

Sua mãe estava sentada no sofá com uma mulher conversando, era a mãe do Tom. Elas se conheceram no trabalho. Ambas trabalham em uma empresa de cosméticos e ficaram grandes amigas. Larissa sempre estranhou o porquê de sua mãe nunca ter comentado sobre o Tom. Mas também, ela nunca havia contado para sua mãe sobre nenhum de seus amigos, elas não tinham uma relação muito achegada. Lah sempre fora muito quieta, e sua mãe nunca fez questão de se aproximar da garota.

_ Ola Lah. – A mãe do Tom a cumprimentou, e logo retornou sua conversa com a mãe da garota. Hoje era folga delas, por isso sempre combinava de cada folga uma ia na casa da outra.

Entrou na cozinha e procurou na dispensa pão e geléia, era sua refeição favorita, apesar de sempre que comer ficar com a consciência pesada por medo de engordar.

Assim que terminou de comer, foi até seu quarto pegou seu Diário novo e o velho. Resolveu dar uma volta pelo parque, não queria ficar em casa, precisava tomar um ar fresco.

Durante o caminho foi cantando uma musica qualquer, queria ocupar sua mente com qualquer coisa, e fazia questão de ignorar completamente o ocorrido de ontem.

Sentando em um banco da praça, Larissa observa a linda e bem cuidada praça. Estava vazia nesse momento, as crianças estavam na escola, e os jardineiros que cuidam das plantas já fizeram seu trabalho e foram embora. Tudo estava calmo.

Abrindo seu velho diário, procurou a pagina que contava o dia que havia chegado àquela cidade. Já fazia um ano que morava lá. Tambem era seu ultimo ano na escola. Nem imaginava que dali dois meses tudo terminaria e teria de seguir um rumo em sua vida.

“Querido Diário.

Já arrumamos toda a mudança, essa cidade é grande, bem maior do que minha antiga. Sinto falta de meus amigos, sinto uma solidão. Meus pais estão ocupados, na verdade eles sempre foram ocupados demais para me dar atenção. Principalmente meu pai, que faz de tudo para me ignorar. Não estou exagerando diário, é a verdade. Minha mãe me da atenção, mas não posso considerá-la minha amiga, como todas as mães devem ser. Ela só é minha mãe. É triste, queria poder desabafar tudo com ela, a amo tanto. Meu quarto é grande e tenho um banheiro só para mim. Gostei da vista também, a janela do meu quarto da perfeitamente para um roseiral que tem no final do nosso bairro. Esse é o melhor bairro da cidade, segundo meu pai. Já que eles conseguiram um bom emprego aqui, resolveram comprar uma casa melhor. Mas ainda sinto falta da minha antiga casa, principalmente da parede do meu quarto onde eu sempre marcava minha altura quando ia crescendo. Amanha começa minhas aulas, é horrível ter de entrar para uma escola, no meu do ano e não conhecer ninguém. Minha mãe está me chamando, acho que é para jantar. Até mais diário.”

Enquanto muda de folha, Lah se lembra de sua antiga cidade. Bate uma saudade, lá ela tinha amigos e era feliz, apesar de ser afastada de seus pais. Conseguia sorrir sempre e se sentia amada.

“Querido diário.

Já cheguei na escola, ela é muito grande! Não sei nem onde fica o banheiro. Estou na minha sala, as garotas daqui me olham estranho, como se eu fosse uma espécie de animal. Tudo bem que não me visto como elas, com essas roupas de grife. Mas gosto do meu velho All star. A professora já esta na sala, mas ainda não deu o sinal. Depois continuo escrevendo.

...

Caramba diário você não sabe o que aconteceu! Agora estou na cantina, está muito cheio aqui. Mas irei escrever o que aconteceu. Estou feliz e triste ao mesmo tempo. Não sei se conseguirei me acostumar com isso.

Enquanto não dava o sinal para começar a aula, entram na sala dois garotos, muito familiares. Era o Tom e o Dougie. Sim eram eles, nem acreditei. Quando me viram, vieram ao meu encontro.

_ Lah? É você? – Tom logo veio me abraçando.

_ Caramba, não acredito que vocês moram aqui. – quando nos conhecemos não falamos muito sobre nossas cidades, só sabíamos que eram distantes uma da outra.

Assim que terminei de abraçar o Tom, olhei para o Dougie na expectativa de ele vir me abraçar também, queria tanto receber um abraço dele. Mas ele apenas abaixou os olhos e cochichou algo com o Tom e se afastou. Olhei para o Tom sem entender, este por sua vez, apenas se sentou ao meu lado e conversou comigo sobre varias coisas, menos sobre o Dougie.”

Antes de terminar de ler, Lah olha ao seu redor quando percebe que tem alguém na praça. Era o Tom. A garota fechou o diário e aguardou o garoto se aproximar.

_ Lah, como você esta? – disse assim que se sentou ao seu lado.

_ Bem e você? – a garota força um sorriso confiante.

_ Não minta para mim. Eu te conheço. Por que você foi ao ensaio ontem? Você sabia que o Dougie iria estar la.

_ Ele... – Ela sabia que tinha que contar a verdade a ele. _ Ele me convidou para ir, só não sabia que era para tirar uma com minha cara. – Uma lagrima escorre de seu rosto.

_ Eih, não fica assim. Ele sabe que você o ama, ele nunca faria isso para te magoa. Não é atoa que ele faz de tudo para não ficar muito perto de você, com medo que você vá se machucar.

_ Isso é mentira Tom. Então por que ele me convidou para ir la ontem? Por quê? Foi para esfregar na minha cara que tinha voltado com aquela ruiva falsa. – agora a garota chorava e muito.

_ Ele não sabia que ela iria la, pode acreditar. Quando chegamos lá, ficamos conversando. Percebi que ele estava feliz, só não disse o por quê. Assim que a Lidia chegou, o rosto dele ficou pálido. Ele a puxou para dentro, e depois você chegou. – Assim que disse se levantou e pegou a garota pelas mãos. _ Não fique assim Lah. Seja o que for que vocês tenham conversado, o Dougie nunca te magoaria.

_ Preciso ir para casa Tom. – assim que disse, abraçou o amigo e foi em direção a sua casa.

Precisava ficar sozinha. Precisava pensar.