O vento soprou forte pelo campo verde na parte de trás do hospital, balançando a grama de um lado para o outro, trazendo o cheiro da natureza até o nariz sensível de Armin que estava sentado ali, aproveitando algum momento de paz. Ele, junto com a tropa, havia acabado de passar pelos sustos da última expedição. Ainda não conseguia acreditar que haviam conseguido trazer Eren de volta. A missão tinha falhado completamente, estava tudo um desastre, titãs sendo arremessados sobre eles, os cavalos caindo, total desespero. Mas, então, de repente, os titãs irracionais simplesmente se voltaram contra o Blindado e eles conseguiram fugir. "O que aconteceu?" Essa era a pergunta que tirava o sono de Armin desde que chegara.

O loiro fechou os olhos e respirou fundo tentando se afastar daqueles pensamentos. Buscou em sua mente um foco e então outra cena terrível passou pela sua cabeça; quando ele viu Jean ser arremessado bem a sua frente após não conseguir desviar de um dos titãs. Armin arregalou seus olhos num azul amedrontado, seu coração pulsou rápido como se ele tivesse voltado no tempo. O desespero de ver Jean desacordado fez com que ele pulasse do cavalo e corresse até o moreno sem pensar duas vezes, o que, no mesmo instante, o Arlert soube que foi a decisão mais burra e imprudente que ele, como soldado, poderia ter feito. Afinal, se não fosse pelo o tal "milagre" que os salvou, Armin, com o Kirstein em seus braços, teria sido comido pelo titã que estava bem a sua frente.

Respirou fundo de novo. Aquilo já havia passado. O importante era que o loiro conseguira pegar Jean e subir em um dos cavalos, e que a volta foi inesperadamente tranquila. Sim! Era nisso que deveria pensar por enquanto.

O Arlert levantou da grama e bateu as palmas das mãos no uniforme para limpá-lo. Um sorriso fraco se formou em seus lábios ao imaginar a bronca que levaria do capitão Levi se o superior o visse agora. Armin se prendia a essas pequenas coisas cotidianas para não se ver enlouquecer em profundo medo. Eram os seus sonhos que o mantinham de pé. Era isso que lhe dava forças para sustentar Eren, Mikasa e, bem... O loiro virou-se e, com a cabeça erguida, olhou para uma das janelas no prédio do hospital enquanto o vento soprava novamente, brincando com os fios dourados de seu cabelo. Ele queria vê-lo logo.

**

A porta de madeira do pequeno quarto no segundo andar do prédio se abriu lentamente, revelando um Armin inesperadamente tímido. Ele sorriu para Jean que estava do lado de dentro sentado sobre a única cama do cômodo, que, ao notá-lo, acenou com a cabeça para que entrasse.

— Jean, - o menor chamou pelo companheiro após fechar a porta, enquanto se aproximava. - como você está?

— Dizer que não estou bem seria falta de consideração da minha parte com todas as pessoas que morreram ou que voltaram... - Jean revirou os olhos frustrado, buscando a palavra certa para se expressar. - incompletas. Sendo assim, eu estou bem.

A resposta brusca do Kirstein deixou Armin silencioso. Ele sabia que o moreno não era do tipo cauteloso com as palavras e nem tão positivo, mas ainda assim ele poderia ser grato por estar melhor do que a maioria.

— Não faz essa cara. - Jean quebrou o breve silêncio entre eles ao notar o cenho franzido do loiro após o que ele disse. - Eu estou fisicamente bem, e sou grato aos médicos e - ele pausou um instante enquanto desviava o olhar dos olhos atentos de Armin. Seu rosto estava ligeiramente corado e ele sabia que o Arlert perceberia. - eu sei o que você fez por mim. - sussurrou.

— Eu não fiz nada. Sinceramente! - o rosto de Armin estava todo avermelhado enquanto desesperadamente tentava recusar algum mérito. Jean olhou-o novamente então, juntando as sobrancelhas numa expressão de repreensão.

— Não vem com essa! Eu não estaria aqui se não fosse por você! - falou firme, provavelmente mais alto do que planejou, o que o fez controlar a própria voz imediatamente. - Eu fui descuidado. Você quase morreu por minha culpa.

— A-ah! N-não! Não foi sua culpa! - o nervosismo evidente de Armin estava cada vez pior. Ele realmente não queria que Jean achasse aquilo. O menor, na verdade, não acreditava que tinha chances de sobreviver desde o início. Tudo o que ele tinha era seu cérebro e um sonho, mas isso não poderia protegê-lo de ser comido, então não era mesmo culpa do Kirstein.

Armin de repente notou que Jean não estava mais interessado naquela conversa, concluindo que, assim como ele, o moreno deveria estar querendo se distrair. Foi então que o menor notou que o amigo estava olhando para suas mãos sobre seu colo, ou, mas especificamente, para a pequena porção de flores que segurava desde que entrou no quarto.

—A-ah. Eu... Eu peguei lá fora. - explicou o loiro, sua voz baixa e tímida. - Eu não queria vir sem nada. - continuou a falar enquanto colocava as flores sobre o criado-mudo ao lado da cama. Era uma pequena porção de flores amarelas e brancas amarradas com uma linha de lã vermelha que ele havia visto solta no cachecol da Mikasa quando se encontraram dentro do prédio instantes antes. - M-me desculpe. Eu não deveria ter trazid...

— Obrigado. - Jean falou de repente. - Por me salvar, e pelas flores.

— Sa-sabe, Jean, essa flor aparece em todos os lugares. É incrível! - Armin começou a falar tentando se desviar do constrangimento de ser reconhecido pelo maior. - Ela é conhecida como dente-de-leão e, embora sejam diferentes, as duas são dentes de leão.

— A amarela e a branca são a mesma flor? - Jean perguntou surpreso se referindo a outra flor que parecia uma bola de algodão.

— Sim! Quando a flor desfloresce ela vira essa bolinha branca. Essas são as sementes. - explicou apontando para a flor. - então elas se desprendem e o vento leva para longe. Por isso elas florescem em todo lugar "do nada". - o menor sorriu entusiasmado. Jean sabia que Armin era do tipo esperto e curioso, e ele gostava disso nele.

O que mais você sabe, Armin? — o moreno perguntou deixando um sorriso bobo surgir em seus lábios enquanto olhava o rostinho feliz do loiro. Uma brisa soprou pela janela de repente fazendo com que suas madeixas douradas voassem, revelando o rosto corado.

— A-ah, eu... Eu li uma vez que essa flor tem um significado bonito. - desviou o rosto para o criado-mudo, evitando os olhos castanhos fixos nele. - O dente-de-leão é associado a ideia de liberdade, por isso simbolizava bem o sentido da vida. As sementes se desprendem e são levadas ao vento para todo tipo de lugar, e lá elas florescem de novo.

— Não se parece com o nosso sentido de vida. - Jean interrompeu de forma negativa, arrependendo-se por estragar uma história tão bonita. Armin estava sério de repente, pensativo, provavelmente sobre o que o companheiro havia dito. - Desculp...

— O dente-de-leão - recomeçou o loiro. - também é símbolo de esperança. - o Arlert estendeu as mãos até o montinho de flores e desprendeu uma delas do laço vermelho, especificamente o tipo branco. - Acreditava-se que se você soprasse uma dessas ao desejar alguma coisa, seu desejo poderia se realizar. - o menor disse com um sorriso fraco nos lábios. Ele se sentia feliz em poder compartilhar aquele conhecimento com Jean. Ergueu seus olhos azuis, encontrando os do Kirstein. - Se desejasse muito ter alguém que se ama e assoprasse, se o vento trouxesse as sementes de volta, ou algo assim, era sinal de que o desejo se realizaria em breve. - disse oferecendo a flor para Jean, ambos com as bochechas um tanto coradas.

— Você acredita nisso? - questionou pegando a flor do menor.

— Gosto de acreditar. - Armin respondeu levantando-se. - Espero que se recupere logo, Jean. E que não perca a esperança. - e sorriu de modo infantil, um sorriso enorme e sincero, enquanto os raios do sol adentravam a janela e refletiam as madeixas amarelas e cheias que se balançavam delicadamente devido a brisa. Foi então que Jean notou o quanto o menor se parecia com tudo o que aquela flor era e representava.

— Sabe Armin, - falou de forma tranquila, olhando-o intensamente. - acho que o dente-de-leão é a minha flor favorita. - e sentiu-se corar diante todo o significado daquele sentimento.

— É a minha também! - disse de forma empolgada, virando-se em seguida e caminhando até a porta. - Eu vou visitar o Eren agora, mas volto o mais logo possível. Melhoras, Jean. - despediu-se e saiu do quarto, deixando-o só.

Jean, tendo um sorriso fraco nos lábios, manteve os olhos fixos na flor em suas mãos por alguns instantes. "O que mais você sabe Armin?”. Questionou-se mentalmente enquanto aproximava o montinho branco até os lábios e, esperançosamente, soprou.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.