O Mercenário anda até um beco e entra naquele mesmo carro preto de seu chefe. O assassino está de mau humor. Apesar de ter derrotado o Justiceiro e o Demolidor além de atirar em um anônimo, ele não receberá seu pagamento. Não todo. Ele não cumpriu seu objetivo a tempo e agora encara seu chefe, que não está bravo, mas também não está feliz.

—Você fez um bom trabalho, Fisk sabe que alguém pôs um alvo nele e é muito bom que ele saiba disso.

—Eu concordo - Mercenário responde ainda de mau humor.

—Aqui está seu pagamento. - O chefe do Mercenário pega uma pasta e entrega para o assassino. Ver aquele dinheiro quase fez um sorriso aparecer no rosto do assassino, mas quis permanecer indiferente. – O serviço não foi completo, mas você fez um bom trabalho.

O homem sai da sombra do carro e revela o rosto idoso e enrugado, com cabelo totalmente grisalho e liso.

—A Maggia realmente ficou impressionada com seu trabalho, Mercenário. Pretendemos usá-lo mais uma vez no futuro, se possível.

—Pensarei no caso, chefe.

—Por favor, não me chame de chefe. Me chame de Cabelo-de-Prata. – O idoso gargalha - Lembre-se: Confidência com meu nome ou arranjarei um jeito de bloquear seu dinheiro.

...

O dia amanhece em Hell's Kitchen. Matt Murdock despertou mais cedo que o costume. Ele não trocou de roupa, ainda está fantasiado como Demolidor. Ele segura uma fotografia e a toca. Nela, um homem alto e já com o rosto desgastado está ao lado de uma criança que veste roupa do NY Yankees, um time de beisebol da cidade. O garoto também segura o taco de beisebol. Matt não pode ver, mas os dois são ele mesmo e seu pai.

Matt sente a textura da imagem e sabe que esta é a imagem de sua primeira ida a um jogo de beisebol. Foi um dia muito especial para ele, pois viu o Yankees derrotar seu maior rival, o Boston Red Sox. Na mesma semana, sofreu o acidente que o fez perder a visão, mas apurou seus outros sentidos. Desde aquele dia, percebeu que sua vida mudaria para sempre.

Quando o alarme toca, Matt Murdock deixa a fotografia em cima da mesa ao lado da cama e retira sua roupa. Mesmo sentindo-se um fracassado, Matt ainda era um advogado. E fez uma promessa para si: Jamais deixar sua vida de Demolidor interferir na vida de Matt Murdock.

...

Matt chega à cafeteria e senta-se à mesa de sempre. É muito triste não ter a companhia de Foggy esta manhã. Falhou com ele, que está no hospital. A Nelson & Murdock estará mais triste hoje, sabe disso. Talvez nem precise abrir, ele irá visitar seu sócio.

—Descafeinado. – Diz para a garçonete, que anota o pedido.

—Seu amigo não vem hoje?

—Não, ele... Sofreu um acidente. – Lamenta, abaixando o rosto.

—Sinto muito. Ele é uma graça.

Matt concorda com a cabeça. Ouve a notícia na televisão. A repercussão da noite anterior, com uma vítima no hospital, vítima de um confronto entre vigilantes. Demolidor foi visto fugindo da cena, assim como o Justiceiro. Tudo aconteceu poucos quarteirões antes do City Hall, o mesmo lugar em que Wilson Fisk e Norman Osborn foram salvos por um jovem que não quis se identificar. Na declaração oficial em entrevista ao Clarim Diário, Fisk garantiu que todos os esforços serão feitos para encontrar o responsável pelo atentado.

...

Malhando na academia particular de sua torre, Fisk pensa em tudo o que aconteceu. Osborn realmente era inocente, a menos que esteja fingindo muito bem. Mercenário foi pago por algo, teve a oferta coberta e mesmo assim atentou contra sua vida. Teve sorte de o garoto Parker aparecer na hora certa e, principalmente, aquele corpo magro ter uma grande força para movê-lo de lugar.

“Mercenário pagará caro pelo que foi feito”, pensa Fisk enquanto ergue pesos. “E eu vou descobrir quem o pagou para me matar, custe o que custar”.

...

Matt chega ao hospital no Queens e entra no quarto de Foggy, que está acordado. O paciente sorri ao ver o amigo trazendo uma caixa de chocolates, mesmo sabendo que seria confiscada pelo hospital.

—Obrigado, amigão.

—Sinto muito pelo que aconteceu.

—Por quê? Você não estava lá, Matt. O Demolidor estava, ele prometeu que eu sobreviveria. O pior é que eu ouvia a sua voz.

Matt ficou calado e desvia o rosto, coçando o nariz.

—Você é o Demolidor?

—Não, Foggy. – Mente. – Talvez seja um instinto interior seu que me quisesse para ajudá-lo na hora mais urgente poss...

—Ah, cala a boca. – Diz rindo. – Blá blá blá de gente que sente culpa. Não foi sua culpa, ok?

Matt concorda com a cabeça. A enfermeira entra na sala e pede para ele sair. Matt obedece, mas do lado de fora encontra Ben Urich.

—Ben.

—Matt. Bom saber que Foggy está lúcido.

—Sim, é muito bom. – Matt se aproxima do jornalista e sussurra. - Ele escapou. Alguém o contratou para matar o Fisk e eu vou descobrir quem era.

—Boa sorte. Eu vou ajudá-lo, meu amigo. E sobre Frank Castle?

—Nem sinal. Sinceramente, prefiro não procurá-lo. Depois de ontem, ele não vai querer me ver tão cedo.

—Foi tão ruim assim?

—Frank tinha a arma na cabeça dele, eu atrapalhei e o Mercenário escapou. Deveria ter deixado atirar.

—Tudo bem. - Ben dá leves tapas nas costas do advogado. - Você agiu certo, Matt. É seu código de conduta, seu modo de agir. O mínimo de mortes possível, certo.

—É... Mas, talvez meu método não seja bom o bastante, Ben. - Desanimado, Matt caminha para longe do amigo.

...

—Olha em todos os lugares, Micro. – Diz Frank, bebendo uma cerveja. – Aeroporto, rodoviária, pedágio.

—Estou olhando e configurei o computador para reconhecê-lo.

—Escolhemos errado, Micro. O Demolidor é um covarde, jamais deveria tê-lo chamado para enfrentar o Lester.

—A ideia foi minha, Frank.

—Sim, a culpa é sua na verdade. Mas, eu aceitei e contei sobre o que aconteceria. Sinceramente não valeu a pena, agora temos um advogado no hospital e um assassino à solta recebendo dinheiro de todo mundo.

O computador de Micro apita. Ambos olham com esperança, mas só o que veem é a gravação da noite anterior. Veem o advogado ferido ao lado de um cego. Em certo momento, o cego se separa e vai à procura de uma mesa. Ele encontra-se com o garoto que salvou Fisk.

—Que curioso. – Comenta Micro.

—O quê?

—O cego desaparece das gravações logo após o disparo do tiro em Fisk e Norman Osborn.

Micro digita algo no teclado, então olha a gravação da câmera externa. Lá está o cego trocando de roupa e pondo uma máscara. A máscara do Demolidor.

—É, parece que sabemos quem é o Demônio de Hell’s Kitchen. Um advogado cego. Muito irônico, não acha?

—Grande coisa. – Resmunga Frank, virando a garrafa. – Exclua a gravação dele fantasiado. Eu odeio esse cara, mas odiaria mais ainda que alguém soubesse quem ele é.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.