Em um condomínio de casas de classe média no Queens, um homem estaciona seu humilde carro sedan na garagem de sua casa. O homem aparenta estar cansado. Possui 35 anos. Por ser míope, ele usa óculos especiais. Possui cabelo ruivo e é bem magro. O nome deste homem é Ben Urich.

Ben sai de seu carro e fecha o portão. Ao passar pela garagem de sua casa e sentar na poltrona da sala para respirar um pouco, ele leva um susto ao ligar a luz. Demolidor estava ali na sua frente, sem sua máscara.

—Você me assustou, cara. - disse Ben, se recompondo.

—Desculpe. Não era minha intenção. - a voz do Demolidor é uma mistura amarga de decepção e falta de confiança.

—Matt, o que houve? Você sabe que pode confiar em mim. - a voz do jornalista é reconfortante.

Faz pouco mais de um mês desde que Ben Urich descobriu a identidade secreta do Demolidor. Na ocasião, publicaria a informação no Clarim Diário e o mundo inteiro saberia quem ele era. Porém, a que custo? Um homem arrisca sua vida toda noite, de máscara para proteger sua vida pessoal, fazendo coisas que não se orgulha e, se clicasse em enviar, tudo se misturaria e Matt Murdock teria um alvo nas costas. Não valia a pena. Por outro lado, ganhou um amigo e um informante das ruas – além de um ótimo advogado para os inúmeros processos que ele recebe.

—Houve o atentado à Torre Fisk. Eu sei de algumas coisas úteis - Matt conta a Ben tudo o que sabia.

Depois da conversa, e de várias anotações para apuração futura, Ben guarda a caneta e os óculos e pergunta o que Matt vai fazer.

—Você o ajudará? Esse tal Justiceiro? Eu sei sobre a ficha criminal dele. Envolve assassinatos, tortura, sequestro. Ele é psicótico.

—Eu sei, Ben. Não pretendo ajudá-lo do jeito que pensa, eu sigo uma justiça e ele segue outra completamente diferente. Mas eu queria que não divulgasse essa história, apenas contasse à polícia, gente de confiança na polícia. Toda proteção será bem-vinda.

—Farei o possível. - Demolidor vira-se e põe sua máscara. Ele sairia pela janela, mas foi interrompido antes - Faça o que achar certo. Independentemente do que aconteça, terá meu apoio. - declarou Ben.

O vigilante agradece e sai pela janela, sumindo novamente naquela noite fria.

...

Em uma garagem secreta, a van preta de Frank Castle estaciona. Esta, no entanto, não corria numa velocidade extraordinária. Era bem mais tecnológica no teto e os vidros eram à prova de bala.

Ao ser desligada, Frank Castle desce e vai até seu parceiro, Microchip. Micro, como também é chamado, usa uma jaqueta amarela e uma barbicha ruiva. Também ruivo é seu cabelo bagunçado. Micro usa óculos para sua miopia.

—Então, convenceu? - pergunta Micro, sentado diante de um notebook.

—Não do jeito que eu queria, mas ele vai ajudar.

—E agora? Qual o plano? - Justiceiro observa seu parceiro.

—Continua o mesmo. Matar o Mercenário e, se tiver chance, mato o Fisk e quem contratou o Mercenário. Você tem acesso à câmera interna da prefeitura, então será meus olhos lá dentro.

Frank pousa as armas em uma mesa, tira a camisa preta de caveira e deita no sofá. Micro, animado, olha para o companheiro de trabalho.

—Que foi?

—Você vai gostar do que achei. - Micro mostra para ele a tela do computador.

A imagem mostra o rosto de um homem, o sorriso absurdamente psicopata e o rosto marcado com um alvo na testa.

—Então, esse é ele?

—É. O nome dele é Lester e digamos que ele nunca erra um alvo. Tudo o que precisamos saber sobre ele está aqui.

—Ótimo. - Frank começa a ler as informações.

...

Na manhã seguinte, Matt está na cafeteria ao lado de seu sócio, Foggy Nelson, novamente conversando sobre as notícias da última noite. Foggy comenta sobre as notícias que aparecem na televisão

—Dois estupradores foram encontrados ontem a noite. Um está morto e o outro ficou inconsciente de tanto apanhar. A testemunha disse que seria estuprada caso o Demolidor não aparecesse.

—Baita diabo da guarda, não acha? - Diz Foggy.

—Ele virou um assassino agora?

—Quem sabe? O cara se veste de demônio, deve ter algum distúrbio. Mas, não o condeno. Eram estupradores, afinal. Pelo menos manteve um deles vivo para ser julgado e condenado. Se ele acordar algum dia.

—Concordo, mas não acho que ele matou o cara. De qualquer forma, vamos defender a moça.

Foggy insistiria na conversa, mas a notícia na televisão muda para a torre Fisk e Matt ouve atentamente. A apresentadora fala sobre os rumores de um atentado ao local. Mesmo com a polícia negando, a apuração dos jornalistas chegou à conclusão que dezenas, quase centenas de pessoas foram mortas na Torre. Fisk não estava entre elas. As câmeras de vigilância não mostram nada.

—Aparentemente, Wilson Fisk não estava no local durante o atentado - continuou a apresentadora - O empresário, segundo o próprio, estava longe dali e não quis confirmar o atentado, porém garantiu presença no evento beneficente organizado pela prefeitura de Nova York esta noite.

—Matt, você está bem?

—Estou. Por quê?

—Não sei, parece distraído e preocupado com algo.

—Sim, eu me distraí com a notícia na televisão. Se Fisk sofreu um atentado, por que ele iria a um evento público? Não faz sentido, é muita vontade de morrer.

—Bom, espero que não aconteça nada por lá, afinal nós também vamos.

—Como é?

Foggy mostra dois convites para o evento na prefeitura. Entretanto, fica constrangido e os guarda. Depois, puxa novamente um e entrega na mão de Matt.

—Matt, nós temos dois convites, esqueceu? Recebemos ontem na nossa sala.

Matt analisou com os dedos aquele convite. Tinha esquecido totalmente deles, ou seja, nem adiantaria negar ajuda ao Frank. Ele irá de qualquer forma para salvar a vida de Fisk e do outro cara. Foi bom ter sido avisado pelo Justiceiro, afinal de contas.

—Está distraído de novo, Matt.

—Desculpa, Foggy. Acho que precisamos ir. Temos trabalho a fazer. - Matt pede a conta, pega a bengala e se levanta.