Demigods Avengers

{Arco Gênesis} Capítulo Sete – O amor é julgado e o sol perde o calor [Apollo]


Empire State, Nova Iorque – Horário: manhã, às 08h25min A.M

Era pura cacofonia enquanto os deuses exaltados discutiam entre si. Todos estavam com os nervos à flor da pele e tentavam fazer suas vozes se sobressaírem em meio ao caos de pessoas falando apressadas e simultaneamente. Sempre aumentando o tom de voz até que...

―CHEGA!!!!

Então, todos os presentes se calaram em choque ao ouvir de quem pertencia tal grito. Héstia. A mulher que sempre mantinha a calma e quase nunca erguia a voz, porém, quando o fazia, era para todos se prepararem. A deusa parecia estar com uma enxaqueca horrível enquanto esfregava suas têmporas repetidas vezes. Nem eu aguentava mais ouvir o resto dos deuses discutindo sem que a minha cabeça pareça que quer explodir.

―Nós vamos manter a calma e o silêncio até Zeus chegar para resolvermos a situação! Ficar discutindo não vai adiantar nada!Nós não temos certeza nenhuma no momento e nosso irmão foi resolver um assunto no Acampamento a pedido de Dionísio, então eu não quero ouvir mais nenhum pio até ele chegar!EU FUI CLARA?!

―Sim, Héstia. ―todos nós respondemos em uníssono e temerosos com o que Héstia poderia fazer.

Todo o problema começou quando um dos deuses menores, Boréas, apareceu pedindo com urgência para falar com o mesmo. Já era um indício de que ia dar merda e eu nem preciso usar meus poderes pra saber disso.

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Eu estava ouvindo música no meu bom e velho Iphone enquanto Ártemis estava conversando com Atena. Hera nos encarava entediada e, de vez em quando, estreitava os olhos para mim e minha irmã; é verdade, ela ainda não gosta muito da gente. Héstia encarava a paisagem com o olhar perdido enquanto Ares competia queda de braço com Hefesto. Hermes tirava um cochilo em seu trono. Perséfone conversava com sua mãe e tentava incluir o marido. Afrodite estava excluída da conversa com as outras deusas, para variar.

Quando Boréas abriu as portas, entrando afobado e ofegante. O cabelo castanho cacheado na altura dos ombros completamente bagunçados, as bochechas pálidas coloridas de vermelho e os olhos, cor de topázio, preocupados. Ele curvou-se respeitosamente diante de nós. O deus menor do vento norte carregava uma pequena maleta de couro e parecia estar escondendo dos deuses.

―Meus senhores, eu preciso de uma conferência urgente com Lorde Zeus. É importante. ―sua expressão demonstrava o quão inquieto estava ao olhar a sala em busca de Zeus. ―Diga a ele que Boréas tem notícias.

―Do que se tratam essas notícias que você tem, Boréas? ―Hera perguntou curiosa enquanto estreitava os olhos e franzia o cenho.

Provavelmente, lê-se: absolutamente Hera pensava tratar-se de mais uma traição de Zeus. Entretanto, meu pai deixou de se envolver com mortais desde a mãe da Thalia e do Jason, sim, eu sei sobre o acampamento romano, afinal, eu sou o deus das profecias. Nada acontece sem que eu saiba antes. mas, ela não iria acreditar em mim. Então, a pergunta que fica é: de que se tratam essas notícias que Boréas traz?

Admito que até eu estou curioso para saber o que é. Mas, estranhamente, estou com uma sensação ruim. Afrodite permanecia em silêncio enquanto encarava Boréas, que parecia querer evitar seu olhar ao prestar atenção a Hera. Algo me diz que Afrodite está envolvida nisso. Estava preso em minhas divagações, quando sou atingido por uma visão.

Todos os olimpianos formavam uma enorme roda ao redor de Afrodite, que estava presa com algemas de supressão enquanto se debatia, tentando inutilmente escapar do aperto férreo de Ares e Hefesto. Ela parecia chocada e desesperada ao olhar todos, que pareciam recriminá-la. Ártemis exibia uma expressão presunçosa ao olhar com desprezo para Afrodite e eu me sentia impotente diante disso.

―Você está banida do conselho olimpiano e não é mais a deusa do amor!Seus poderes ficarão selados e dormentes até segunda ordem, Afrodite!―Hera ordenou furiosa enquanto apontava para Afrodite. ―Seus filhos atuais não irão perder os poderes e presentes que possuem, mas, por simples compaixão e piedade de nossa parte. Eles não merecem uma mãe piedosa tão sórdida e desprezível como você. ―disse menosprezando a jovem deusa, que estava em prantos.

―Esperaremos somente o retorno de Zeus e iremos dar início ao rito. ―Atena declarou resoluta, recebendo acenos de concordância por parte dos outros.

―Eu sou inocente! ―Afrodite gritava com lágrimas escorrendo e manchando seu belo rosto de maquiagem. ― Inocente!Eu não fiz isso!Juro pelo...

Estava tão irritado com a sensação de impotência que decidi mandar um ‘foda-se’ pra regras enquanto saia de meu torpor e me interpunha entre as divindades furiosas e a Afrodite assustada. Ao mesmo tempo, esbravejei para eles, um tanto suplicante e tentando ser justo:

―Parem com isso!Ela tem direito a um julgamento justo, pessoal!

Fui chutado da visão ainda meio atordoado com o que vi. Meu instinto estava certo, as notícias que Boréas traz têm relação com Afrodite. O problema é que elas podem incriminá-la de algo que ela afirma, de forma, convicta ser inocente. Quando notei que Boréas estava prestes a mostrar a maleta, eu saltei rapidamente do meu trono e segurei a maleta.

―Gente, vocês não acham melhor esperarmos Zeus e confrontá-lo juntos sobre isso? ― perguntei nervosamente enquanto Hera estreitava seus olhos castanhos em minha direção. ―É que isso parece ser super importante, sabe.

Eu definitivamente sou péssimo em improvisos. Ou melhor, Hera só me assusta pra caralho!Sério, como Zeus consegue trair esse ser que domina a arte de fuzilar alguém com os olhos?!Contudo, isso não vem ao caso. Eu preciso impedir isso, pelo menos, enquanto não descubro que provas são essas. Algo me diz que Afrodite está sendo usada nessa história toda.

―E por que você não quer que, ao menos, vejamos do que se trata?―Hera perguntou desconfiada e eu engoli em seco sob seu olhar. ―Tem algo que você não queira que saibamos?

―Não, nadica de nada. ― neguei rapidamente enquanto balanço a cabeça negativamente, de forma, efusiva. ―É que eu só quero continuar ouvindo música em paz e vocês fuxicando nesse troço não conseguirão ficar calados. ― tentei disfarçar o máximo possível.

Os outros não pareciam totalmente convencidos, principalmente, Afrodite. “Droga de poderes de empatia.” Praguejei mentalmente fazendo careta, porém, me recompus rapidamente. Ares estava animado com a ideia de causar alvoroço entre os deuses enquanto Hefesto demonstrava estar genuinamente desinteressado. Atena estava ocupada discutindo com Poseidon e Ártemis estava conversando com Héstia.

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Empire State, Nova Iorque – Horário: manhã, às 09h45min A.M

Consegui, com esforço e engenhosidade, distrair Hera o bastante para não olhar a maleta, entretanto, não o suficiente para que ela se esquecesse da mesma. Boréas mantinha o objeto consigo e sempre sob sua vista, temeroso de perdê-la pelo que pude perceber. “O que tem nessa maleta de tão incriminador?” Essa era a dúvida que me carcomia por dentro e nada parecia fazer sentido. Qual é a culpa de Afrodite?

Afrodite é impulsiva?Sim. Consumista?Sim. Cruel e calculista?Não. Afrodite está sempre visitando shoppings, museus e qualquer lugar com arte, ou beleza – ou, com ambos – ela nunca fica muito tempo em um único lugar, exceto seu templo. Mas, o problema é que ela também é muito sentimentalista e romântica idealizadora, escondida sob a máscara de artificialidade e superficialidade. Afrodite se provou bastante gentil e compassiva enquanto me consolava pela perda de Dafne. Eu realmente amei essa ninfa e quis fazer tudo certinho, contudo, a deusa do amor me fez entender que existem momentos em que amar é deixar ir.

Eu nunca – nem em vários milênios – esperava esse tipo de maturidade e gentileza dela. Então, como prova de gratidão, quando Afrodite está em seu templo, eu vou visitá-la e ficamos horas batendo papo sobre música e arte em geral. Ela não é má, mas, após anos em um casamento sem amor faz com as pessoas cometam erros. Eu não desejo mal a ela e até entendo algumas de suas atitudes, por isso, tento não julgá-la de maneira tão brutal.

Foi quando Zeus abriu as gigantescas portas de mármore e ouro, tirando-me de meus pensamentos, enquanto adentrava no recinto e atraia olhares de todos os presentes inclusive o meu. Boréas curvou-se respeitosamente diante do mesmo e, com uma voz retumbante, disse:

―Boréas, venha comigo. ― e gesticulou para que o deus menor o seguisse em direção ao corredor com quartos. ―Temos assuntos de natureza confidencial. Depois, eu irei dar início à reunião do conselho. ― terminou de forma solene.

Hera faltava só começava a roer as unhas enquanto andava de um lado a outro no lugar. Afrodite analisava tudo com seus olhos astutos. Héstia parecia estar preocupada enquanto Hades permanecia entediado e Poseidon ainda estava discutindo com Atena. Eu estava digitando rapidamente em meu celular um plano básico para garantir um futuro seguro para Afrodite. O pobre aparelho quase soltava fumaça com o calor causado pela velocidade com que eu digitava na tela. Então, eu parei, pois, Hera estava começando a me irritar. Sério, a ansiedade dela estava tirando minha concentração pra tentar enxergar “algo mais”. Pluguei meus headphones com minha playlist j-pop no volume máximo pra tentar passar o tempo e acalmar meus nervos. Fechei meus olhos.

Senti alguém cutucar meus ombros. Era Hermes. Ele apontou para Zeus, que havia voltado para o salão de reuniões. Olhei o relógio do Iphone. 11h45min. Zeus parecia decepcionado enquanto Boréas permanecia ao lado segurando novamente a maleta.

―Sei que muitos de vocês se perguntam sobre o que Boréas veio fazer aqui, principalmente, por ser hoje e o que ele carrega de tão importante. ― Zeus disse enquanto recebia acenos de concordância, inclusive o meu. ―Mas, as notícias que ele traz não são boas para nós.

―O que quer dizer com isso, Zeus?― perguntei genuinamente preocupado enquanto Ártemis me olhava com surpresa.

―Quer dizer, que temos um espião entre nós desde o início e não me refiro a você, Ares. ―Zeus explicou para nosso espanto. Então, era uma traição dela?Tem alguma coisa errada. ― Durante os últimos meses, Hera pôde perceber uma ausência maior minha, eu estive investigando: espiões, fiéis e qualquer adepto da filosofia de Kronos. Boréas tem me ajudado nesse trabalho e, juntos, conseguimos depoimentos de vários semideuses, monstros e outras criaturas antes de mandá-los para o submundo. ― eu arregalei meus olhos, isso mudava as coisas. Afrodite poderia sofrer o mesmo destino que Kronos. ―Entretanto, depoimentos mais recentes apontam para uma divindade aqui presente sendo uma aliada muito importante, que quase brindou a vitória a Kronos. ―Zeus parecia estar analisando nossas reações ao que dizia pelo que percebi. ―Algumas denúncias foram muito graves desde sabotagem a contar nossos planos. Essa divindade traidora irá ser levada para maiores questionamentos e depois de constatada sua culpa, ela será levada para o tormento eterno. ―completou com um sorriso cruel, que demonstrava uma alegria sádica ao contar o castigo.

Eu suspirei em alívio por ele ainda não ter revelado nomes, mas, a expressão no rosto de Zeus causou calafrios percorrerem minha espinha e senti meus pelos se eriçarem até o último fio. Tenho certeza que irei ter pesadelos por um bom tempo. Porém, minha preocupação maior é Afrodite. Eu queria gritar de frustração nesse momento. Meu alívio não durou muito tempo, por causa do que Boréas disse a seguir:

―Iremos começar por ordem alfabética.

Meu sangue gelou nesse momento e eu pensei em tudo que iria dar errado. Eu preciso tirá-la de lá. E quando eu preciso de um plano, meu cérebro fica em branco. “Então, está na hora de ser impulsivo como a Afrodite. Que meu improviso de certo.” Pensei engolindo em seco antes de ser atingido por outra visão.

Eu e Afrodite estávamos juntos, e devidamente uniformizados, em frente ao Constance Billard School*, um dos colégios de elite mais privilegiados em toda Nova York. Ela segurava minha mão e a apertava, de tempos em tempos, tentando se confortar. Mas, Afrodite parecia diferente. Seu rosto ainda possuía o formato de coração, entretanto, os olhos azul-anil estavam emoldurados por lentes quadradas, os lábios carnudos de batom rosa – diferente dos tradicionais tons de vermelho – e exibindo um sorriso tímido de covinhas, o cabelo longo e de cor dourada foi mudado para um estilo curto. O uniforme servia para mostrar sua estrutura curvilínea com pernas esbeltas e bem moldadas.

Eu conseguia sentir meu estômago se revirando enquanto eu engolia em seco, ao mesmo tempo, os portões do colégio estavam sendo abertos para revelar o... Percy?[“Mas que droga ele estava fazendo ali?”] Ele também estava usando o uniforme do colégio, porém, alguns botões da camisa estavam abertos e sua gravata estava frouxa assim como o blazer estava dobrado em seus braços. Tirando isso, ele estava impecável.

Sem tirar seus olhos da tela de seu smartphone, que parecia ser o modelo mais recente do mercado, ele começou com sua introdução do colégio para nós.

―Muito bem, novatos, é o seguinte:

Primeiro – esse lugar não tem boas vindas, oficialmente nós temos um tour e dicas em geral de como se misturar aqui. Entretanto, não espere fazer amizades aqui;

Segundo – aqui, o seu dinheiro é quem dita sua posição na pirâmide social. Então, não tente se associar com quem tem mais que você, se não quiser ser transformado em assistente particular;

Terceiro – estudo aqui há bastante tempo para dizer com toda certeza que você precisa andar na linha, ou terão conseqüências porque não existem segredos nesse colégio. Por isso, sugiro discrição e tentem não chamar atenção para si;

Quarto – vocês estão prestes a entrar em um ninho de serpentes que estão esperando um erro de vocês, então estejam sempre um passo a frente;

Quinto, e último – cuidado com os repórteres e panelinhas em geral. Como já foi dito antes, aqui não fazemos amigos e, sim, aliados promissores. Alguma pergunta? ― questionou enquanto erguia o olhar de seu telefone para nos encarar em choque. ― Apollo?Afrodite?

―Na verdade, agora é Ariel. Ariel Masen. ―ela o corrigiu com um sorriso envergonhado e o rosto levemente rosado.

Novamente, fui expulso da visão, mas, agora possuía a certeza de que meu plano ia dar certo. Afrodite já estava sendo levada por Boréas, levantei-me rapidamente e fui atrás dela. Segurando o cotovelo de Afrodite, eu tentei disfarçar a apreensão ao dizer:

Eu vou levá-la até a sala, você ajuda Zeus a organizar todo mundo pra não ter trabalho. ― terminei oferecendo meu melhor sorriso amarelo e expressão inocente.

Não precisa se preocupar, Lorde Apollo. ―Boréas respondeu sério, mas, eu não ia aceitar “não” como resposta. ― Eu posso levá-la sem problemas. Pode retornar ao seu trono, mi lorde.

―Eu insisto!― tentei parecer persuasivo enquanto dava um sorriso afetado para o deus, que parecia estar estranhando meu comportamento. ―Será um prazer ajudá-los.

―Boréas, deixe o Apollo levá-la. Do contrário, ele só irá torrar a paciência e irá nos atrapalhar. ―Zeus explicou ao deus menor, que assentiu meio a contra gosto. ―Acredite, falo por experiência própria. É mais fácil e menos dispendioso deixá-lo fazer o que quer. Se quiser, pode acompanhá-los.

Boréas nos levou para uma das salas privadas do Conselho e eu acidentalmente mencionei a intimidade da conversa que iria ter com Afrodite enquanto Zeus não chegava. O coitado ficou tão vermelho quanto à blusa do Flamengo e só faltou correr enquanto batia a porta atrás de si.

Di, você precisa sair daqui antes Zeus apareça aqui. ― avisei enquanto a encarava sério antes de começar a procurar meios de bloquear a porta. ―É importante. Eu preciso que você se esconda por um tempo. Não vá para seu templo e nem lugares que são conhecidos por outros deuses.

Apollo, o que está acontecendo? ―perguntou, preocupada, com seus olhos azuis, aflitos enquanto via-me mover várias mobílias para a porta. ―Me explica que eu vou sem pestanejar.

É complicado. Não dá pra falar agora. Eu só preciso que você suma do nosso radar. Rússia, Canadá talvez. Eu ainda tenho a casa escondida, que eu construí em homenagem à Dafne alguns milênios atrás. ― respondi enquanto parava para comprar sua passagem de avião para o Canadá via celular. ―Você confia em mim, Di?

Ela acenou afirmativamente, ainda sem entender bem a seriedade da situação, e eu a abracei bem firme. Apoiando meu queixo sobre sua cabeça, lembrei-me das conversas sussurradas a noite via telefone enquanto Hefesto dormia e em todas as loucuras que inventávamos em seu templo. Tentei segurar a ânsia de chorar porque podia ser a última vez que a abraçaria em um longo tempo.

Por que está agindo como se nunca mais fôssemos nos ver, Apollo? ―questionou angustiada, ainda abraçada a mim. ―Você sabe quem é o espião?

Vá embora sem olhar pra trás, Afrodite. É só o que peço. ― supliquei-lhe enquanto entregava meu Iphone e depositava um beijo em sua testa. ―Você foi uma grande amiga e espero que eu consiga tirá-la daqui, em segurança.

Bateram na porta e eu arregalei os olhos enquanto pedia para esperarem alguns instantes e gesticulava para que Afrodite fosse embora. Ela desapareceu em uma névoa de perfume e brilho. “Meu dever foi cumprido.” Pensei aliviado enquanto Zeus arrombava a porta, furioso, derrubando minha barricada. Eu nunca havia visto meu pai tão furioso. Ele me imprensou na parede e segurava firme meu pescoço. “Está na hora de receber minha penitência por ajudar minha amiga.” Foi a última coisa que pensei antes de perder a consciência.