Demigods Avengers

{Arco Gênesis} Capítulo Cinco – Planos e um passado desconhecido


Τάρταρος, Profundezas – Horário: manhã, às 08h25min A.M

Gaia estava cuidando de seu filho adormecido calmamente enquanto esperava receber notícias de que era possível subir. Kronos ainda estava doentiamente fraco e pálido, seu aspecto era semelhante ao de um aidético em estágio final. Quando um buraco abriu-se no chão diante dos dois e dele uma voz surgiu malévola e cruel disse:

―Precisamos de aliados a nossa causa, Gaia. Enquanto seu filho se recupera, precisamos reunir tropas o bastante para dizimar Zeus e seus guerreiros.

―Eu sei disso. Um dos poucos espiões sobreviventes disse que o clima no Olimpo está sombrio, o que significa coisas boas para nós. Mas precisamos de mais semideuses. Não tem como conseguirmos liberar os gigantes?

―Tanto os gigantes, deuses menores e roubar ciclopes para trabalhar em nossas forjas. Todas essas ideias requerem tempo, paciência e poder. Poder que não temos para arriscar nesse momento. ―a voz explicou exasperada, recebendo um olhar sombrio de Gaia. ―Não estou dizendo que vocês são fracos, mas o poder de vocês ainda está em reconstrução. Você ainda está se recuperando de um sono de milênios, com o seu domínio sendo corrompido e destruído pelos mortais enquanto Kronos passou mais um ano e meio no Tártaro, depois de ter escapado de um castigo de mais de cinco séculos. Nenhum de nós está em forma de enfrentar os quatorzes Olimpianos juntos, seríamos destruídos na melhor das hipóteses.

Gaia cruzou os braços sobre o peito enquanto estreitava seus olhos significativamente para a voz. Ela ainda estava ofendida, de certa forma, com o que a voz havia dito.

―Desta vez, Gaia, não cometeremos o erro de Kronos em subestimar o poder bruto e em não treinar exaustivamente nossas tropas até estarem em um nível de combate. ―A voz avisou em tom de ameaça e Gaia estreitou seus olhos em desafio.

―Admito que meu filho foi um tanto quanto prepotente ao tentar dominar o Olimpo com seu exército não estando 100% preparado. ―Gaia disse defensivamente enquanto encarava fixamente o lugar de onde provinha a voz. ―Mas os deuses não teriam ganhado a guerra, se não tivessem a ajuda dos três filhos centrais, principalmente, daquele garoto de Poseidon. O maldito que mandou meu filho ao Tártaro. ―acrescentou com um brilho letal nos olhos e uma expressão de ódio puro.

―Eu ainda tenho algumas cartas nas mangas, mas, primeiro precisamos nos livrar do deus das profecias que pode se tornar um problema ao adivinhar nossos planos e a deusa do amor que pode controlar nossos soldados. Esses dois são nossos maiores alvos. ―a voz dizia contemplativa com um toque de malícia em suas palavras. ―Tem algo em mente, querida Gaia?

―Talvez, conhecendo a praga do meu neto caçula como conheço, teríamos que usar sua paranóia contra ele. ―Gaia pousou a mão sobre o queixo e uma expressão pensativa fez-se presente em seu rosto. Quando um brilho cruel surgiu em seus olhos e um sorriso maldoso desenhou-se em seus lábios cor de carmim enquanto ela dizia: ―A peste ainda vai estar buscando por todos os espiões, devotos de nossos planos e monstros para culpar. Então, por que não botarmos a vadia manipuladora na jogada como agente dupla?Nós sabemos que ela não era, a pergunta é: Será que Zeus sabe disso?

―Não acha um pouco arriscado?―a voz contra-argumentou duvidosa. ―Isso poderia revelar a identidade de nosso espião e perderíamos um peão muito valioso.

―Quem disse que seria o nosso peão valioso, você não tem nenhum herdeiro dela em busca de vingança por abandono ou por outro motivo qualquer?―Gaia retrucou sarcástica com um erguer de sobrancelhas. ―Só Caos sabe o quanto os Olimpianos se reproduzem com facilidade. ―resmungou para si mesma, desgostosa, enquanto fazia careta. ―Teve notícias do Acampamento?

―Não muito recentes, mas, por que essa súbita curiosidade?―a voz perguntou desconfiada. ―Você não liga para as crias dos deuses.

―Não está sabendo, meu querido?―Gaia perguntou tentando disfarçar sua alegria sinistra enquanto exibia um sorriso macabro. ―Os deuses estão facilitando o nosso trabalho. Parece que a prole de Poseidon foi exilada do Acampamento depois de ter acidentalmente destruído algumas cabanas e ter mexido com a barreira, tudo isso após um surto de fúria.

―O rapaz tem potencial. ―a voz comentou absorta em pensamentos. ―Podemos recrutá-lo para nossa causa, ainda mais depois de tal traição explícita. ―propôs para a fúria de Gaia.

―Eu não tolerarei aquela desgraça trabalhando comigo, marque minhas palavras: no momento em que ele entrar, eu saio com meu filho. Moverei céus E terra para te destruir tão bem que seu nome irá sumir dos livros. Você ouviu?―Gaia advertiu em um claro tom de garantia.

A súbita discussão acabou despertando Kronos, que acordou já pegando sua foice para acertar quem o tinha acordado. Quando percebeu que era sua mãe e outra presença misteriosa. Era a dona dos passos que havia ouvido acompanharem sua mãe quando o encontrou antes.

―Olá, sobrinho. ―a voz cumprimentou Kronos de um jeito perverso, que enviou calafrios em sua espinha. ―É bom revê-lo depois de tantos milênios.

―Sobrinho?―Ele perguntou confuso olhando para sua mãe. ―Do que está falando?

―Ele é seu tio, Kronos. Hoje em dia, atende pelo nome de Caius Hintermann. ―Gaia respondeu calmamente antes de dizer à voz: ―A memória dele já não é mais a mesma de antes. Perdoe-o, Senhor.

Ásgarðr, Castelo de Odin – Horário: manhã, às 06h45min A.M

―Eu já disse que não, papai!―a jovem loira esbravejava furiosa, praticamente fumegando de raiva, enquanto arremessava o que tivesse em mãos contra o homem. ―E se o senhor tentar me obrigar a um casamento arranjado novamente, eu juro pelo espírito da mamãe que eu vou pedir ajuda ao Loki! ―ameaçou com um sorriso cruel ao vê-lo empalidecer enquanto apontava acusadora para o homem. ―Nem que eu tenho que me tornar a nova senhora Laufeyson!EU NÃO ME CASO OBRIGADA!!―e bateu com extrema força as portas de mogno imperial do seu quarto no castelo de Asgard.

O homem conhecendo o temperamento da filha considerou sua saída uma retirada estratégica, pois, ele sabia que era mais vantagem deixá-la se acalmar. A moça tamborilava os dedos sobre a cômoda, impaciente, esperando o pai se afastar para poder ir à biblioteca. Ela necessitava ter uma conversa urgente com Loki. Se ele não estivesse lá, bem, ela teria que usar medidas drásticas porque seu humor não iria aturar os joguinhos mentais do deus da trapaça. Quando sentiu a presença do seu pai finalmente deixar a ala leste do castelo, ela suspirou satisfeita antes de sair rápida e silenciosamente do quarto. Não sem antes jogar o cabelo para o lado e exibir seu tradicional sorriso ladino enquanto andava.

Ela abriu as portas da biblioteca, conseguindo ver Loki com um dos livros de poções em mãos. Loki parecia bastante compenetrado, mas, anos convivendo com o mesmo faziam-na perceber que ele havia notado sua presença. Os sinais eram bastante sutis: o sorriso malicioso de canto, a movimentação dos olhos ao folhear as páginas se tornou mais lenta, além da exorbitante quantidade de energia negativa liberada em ondas por ela, que a tornava ainda mais perceptível.

―Eu preciso conversar com você, Loki. ―disse friamente enquanto sentava-se em uma poltrona de frente para ele. ―Larga a droga desse livro que eu sei que você não está lendo. ―reclamou bufando irritada, para a diversão do deus.

―O que houve com seus modos, querida Encantor?―perguntou cinicamente enquanto fechava seu livro e o colocava em cima da mesa calmamente, para irritação de Encantor. ―Você parece estar tão afoita. Aconteceu alguma coisa?―replicou com um toque de malícia na voz acetinada.

―Como se você não soubesse, Loki. ―respondeu revirando os olhos enquanto cruzava os braços sobre o peito. ―Tenho certeza que minha resposta foi em alto e bom som para todo o castelo ouvir. ―continuou de formar sarcástica enquanto Loki sorria amplamente com a resposta.

―Sim, por sinal, devo agradecer-lhe pela dose de caos matinal que me brindou essa manhã. ―disse animado antes de estalar os dedos, criando um conjunto de chá. “Seu amigo e o chapeleiro maluco compartilhavam mais traços do que gostaria.” Era o que ela pensava. ―Foi glorioso. Mesmo que Odin tenha pensado que tenha sido moi*, o causador de tal atrito, então eu tive que lhe explicar que pode não parecer, porém, eu tenho mais o que fazer da minha imortalidade que ficar fazendo intriga nesse castelo. ―disse indignado enquanto revirava os olhos e bebericava seu chá. ―Eu tenho uma -quase— vida também sabia?―continuou fazendo um biquinho de raiva, para a diversão de Encantor.

Ela achava adorável quando o deus da trapaça fazia bico porque a lembrava de quando eram crianças e viviam fazendo travessuras pelo castelo. Encantor sentia saudades de quando a vida era mais simples, de certa forma. A mulher suspirou cansada enquanto tomava mais um gole de seu chá. Quando seus pensamentos foram interrompidos por Loki, que colocou sua mão sobre a dela, que estava em seu colo.

―Obrigado por me fazer sentir tão revigorado após essa explosão de poder tão intensa. O caos e os gritos que acordaram meio castelo foram ótimos. ―agradeceu com um sorriso sincero -uma raridade- pintado em seus lábios. ―Agora, o que te irritou tanto?Sif implicando com você novamente?Sabe que eu posso acidentalmente colorir o cabelo dela de novo, né?Ou até mesmo tentar criar uma nova poção. ―acrescentou com um sorriso predatório e um olhar sombrio com um brilho de malícia.

Encantor gargalhou, até seu estômago doer, enquanto jogava a cabeça pra trás. Uma risada livre de cinismo e malícia. Uma gargalhada que não dava há bastante tempo. Loki sorriu de canto satisfeito antes de retornar sua mão para o livro, quando Encantor segurou seu pulso no meio do caminho e olhou bem dentro dos olhos dele. Esmeralda e ametista conectados.

―Me desculpe, Loki. ―ela se desculpou timidamente. Fazia tempos que não conseguiam se encontrar para criar poções e feitiços juntos. ―Eu usei a sua fama como deus da trapaça pra tirar o meu pai da minha cola e eu sinto muito por isso. Nós tínhamos jurado manter as personas criadas fora de discussões, principalmente, por isso.

Ela estava sendo sincera, a última coisa que queria era magoar o deus. Loki era seu único amigo masculino e também seu único amigo no geral. As mulheres a odiavam pela beleza e as deusas era pela beleza somada ao seu poder enquanto os homens só queriam usá-la e tê-la como troféu. É por isso que não entendia essa obsessão de seu pai em casá-la desde que se tornara de idade. Se havia uma coisa que Encantor amava era sua liberdade. A mãe de Loki sempre havia dito que Encantor era um espírito livre assim como Loki, por isso se davam bem.

―Encantor, pra ser sincero, é legal saber desse poder criado pelo medo. Eu me sinto importante assim e outra, duvido que se você não usasse isso, ele iria parar de te atazanar. ―respondeu com seu tradicional sorriso arrogante e piscava seu olho para ela. ―Mas, parece que não é só isso que tira o seu sono, não é?

―Loki, você já pensou em uma vida que não seja aqui em Asgard?―perguntou curiosa recebendo um cenho franzido e uma expressão indecifrável como resposta. ―Como a Terra, sabe, se você não se tornar rei e nem casar com a Sif. ―brincou para tentar aliviar o clima estranho que ficou no recinto com sua pergunta.

―Aquilo foi só uma fase, que eu já superei. —respondeu petulante e a expressão carrancuda.

―Uma fase que te fez chorar como quando éramos crianças e o Odin te ignorava. ―retrucou resoluta com um olhar altivo enquanto Loki encolhia os ombros e desviava o olhar para a janela. ―Quem te consolou fui eu, Loki. ―acrescentou com a voz mansa e suave.

―E quem te consolou quando descobriu do lance entre o Thor e a Sif fui eu, Encantor. Quem também chorou como uma criança foi você e quem estava lá planejando uma vingança criativa por você era eu. ―replicou irritado com uma expressão de enfado.

Encantor preferiu não responder, ela sabia o quanto isso ainda era um assunto sensível. Uma coisa particular que Loki preferia manter só entre os dois. Por isso, ela respeitava sua irritação e o entendia.

―Eu só estava tentando brincar e, na época, eu fiquei preocupada, Loki. ―explicou chateada com a grosseria do amigo. ―Pode não parecer, mas eu me importo.

Ambos evitavam se olhar enquanto encaravam a janela para o jardim. Loki permaneceu em silêncio por mais alguns minutos. Era um silêncio desconfortável e Encantor estava prestes a se levantar para sair do recinto quando a voz calma de Loki reverberou o ambiente.

―Você queria saber se eu já pensei em morar longe de todo esse lugar. Desistir de provar meu valor a Odin. ―contestou com uma expressão vazia e os olhos esmeraldinos, opacos. ―Não, eu nunca pensei. Quando era criança já cheguei a imaginar como era o outro lado, ―surgiu um sorriso nostálgico, que trazia certa melancolia junto, em seus lábios. ―mas, eu conheci o mundo mortal em uma de minhas projeções. Era tanta corrupção, violência e destruição. E a dor... Era tanto sofrimento que eu não tenho palavras. Eu deveria estar contente com aquele caos, porém, aquele lugar me trazia horror e eu quis proteger o nosso povo disso. Por isso que eu quero me tornar rei, Encantor. Eu não quero que aquele mundo contamine o nosso.

―Mas e os seres humanos?Eles parecem ser tão encantadores e livres. Cheios de possibilidades. ―Encantor tentou mostrar algo positivo acerca dos mortais. ―Eles têm um dom divino para criar.

―E também para destruir, Encantor. ―Loki advertiu-a de forma cortante. ―Me parece fascinada com mortais, querida. Deseja atravessar o portal?―perguntou-a verdadeiramente curioso.

―Talvez. ―respondeu enigmática. ―Pode ser entre os mortais que esteja minha saída dessa obsessão do meu pai. ―contou, desabafando um pouco de sua frustração.

―Conheço você bem o bastante para saber que já começando a tramar algo. ―Loki disse tranquilamente enquanto colocava mais chá para si. ―Eu sei que dará um jeito de ir a Terra. Você sabe manipular os outros tão bem quanto eu. Então essa é uma despedida?―perguntou e, ao mesmo tempo, encarava-a intensamente com os olhos cor de ametista.

―Acho que sim, eu ainda não tenho um plano concreto. ―confessou com um sorriso triste. ―Mas, está cada vez mais difícil conviver com meu pai sem querer enfeitiçá-lo.

―Façamos uma promessa, então. ―Loki sugeriu com uma estranha animação.

―De quê?―perguntou desconfiada. Ela conhecia Loki e suas promessas. ―Acho bom não ser alguma brincadeira sua, ou você não terá herdeiros. ―ameaçou com um sorriso psicopata e um olhar predatório.

―Quando você voltar a Asgard, eu já serei rei e você será minha conselheira pessoal assim como seu pai é conselheiro de meu pai. ―explicou entre risos enquanto olhava a expressão “ameaçadora” de sua amiga. ―E você tentando ser ameaçadora é parecido com um gatinho tentando intimidar um pitbull.

Encantor não achou graça na piada do amigo e lançou-lhe uma pequena bola flamejante enquanto o fuzilava com os olhos cor de esmeralda. Loki riu ainda mais enquanto consertava magicamente suas roupas.

―Idiota. Nos veremos em breve. ―avisou antes de se encaminhar para a saída da biblioteca. ―Quero um convite VIP para sua coroação, hein. ―disse enquanto fechava as portas novamente.

Mal sabia Loki que essa seria a última vez em que iria conversar fisicamente com sua única amiga. A morte dela na Terra e a sua não-coroação foram o início de sua queda. Tornando-o temível vilão que acabou na prisão de segurança máxima em Asgard.