Dejà Vu

Tell us about yourself, Angel...


Então aqui vai nada. Como Buffy mesma diria. Depois daquele pequeno “encontro” fui a busca de Giles e Wes. Agora eu estou sentado em uma daquelas mesas enormes de madeira utilizadas para reuniões – quero dizer tecnicamente estou sentado na cadeira de madeira com estofado vermelho de camurça, mas você entendeu. Estas mesas são bem parecidas com as que haviam na antiga biblioteca de Sunnydale High School, ainda assim estou sentado observando-os e sendo observado com tamanha curiosidade.


Porque, bem devo admitir assim como todos os outros, eles pareciam os mesmos. Talvez Giles parecesse um pouco mais paternal, Wes muito parecido com seu outro eu e não o eu “sentinela”, talvez até mais fashion. Tenho certeza que Cordy é responsável por isso.


È bom revê-los, mesmo que seja uma grande faceta. Mas ei, o que não é?


Giles retirou seus óculos e fez aquele mesmo movimento de limpá-los, em seguida levou-os ao seu rosto novamente.


Foi Wesley quem começou com um sermão calmo e pausado:


– Bem, é muito bom tê-lo aqui conosco finalmente Sr. O’Connor. Definitivamente vai ser muito bom a sua ajuda com o treinamento e a pesquisa. – Disse compartilhando um olhar com Giles, como quem dissesse que ele era o próximo a falar.


– Liam, estou certo? Posso chamá-lo assim? – Eu estava prestes a respondê-lo quando ele caminhou até a janela, não encarando Wesley ou a mim.



– Eu ouvi dizer que você foi um vampiro, se importa de nos contar a respeito, Angel? Pode nos esclarecer? Ou talvez – disse virando e me encarando, tantos sentimentos em seus olhos – você posso nos contar sobre os seus planos!? Você deseja matá-los ou machucá-los de alguma forma?


Não conseguia acreditar no que ele estava me perguntando.


– O quê? Mas é claro que não! Giles, por favor, você precisa compreender! – Eu estava tentando permanecer o mais calmo possível, mais isso não era algo muito fácil de fazer.


– Então, diga-nos o que você sabe. - Ele me encarou com seus profundos olhos verdes por trás de seus óculos.


– Ótimo, obrigado. – Respirei fundo, levantando–me e comecei a caminhar. Isso não será nada fácil.


– Eu conheço todos vocês. Na verdade eu conheci todos vocês. Primeiro foi Buffy, após um meio-demônio me procurar e me dar uma razão para viver, sair dos becos escuros e dos bueiros e procurar a minha redenção. Buffy vivia em Los Angeles com seus pais Joyce and Hank Summers, seus pais estavam constantemente discutindo, e as coisas pioraram quando Buffy descobriu sobre seu chamado – sobre ser uma caçadora.


Agora eu caminhava, estava ansioso, e andar sempre me manteve alerta.


Quando tinha 15 anos conheceu seu sentinela, e em um de suas primeiras batalhas com um mestre vampiro Merrick foi morto. Depois disso em seu baile de formatura do colegial ela queimou o ginásio escolar para salvar seus amigos. Este foi o fim para seus pais, se divorciaram. Quando descobriu chorou em seu quarto, pude vê-la através do espelho, era como se pudesse sentir sua dor.


A Sra. Summers resolveu se mudar da cidade de Luz, e foi parar em Sunnydale, e eu logicamente segui seus passos. A próxima vez que a vi antes que ter algum contato com ela foi em Sunnydale High School, eu estava escondido nas sombras quando a vi descer as escadas, ela tinha seu coração aberto a sua frente para que todos o vissem, era linda.


Eu podia sentir os olhos de Giles e Wesley em mim. Eles queriam que eu continuasse. Se eles soubessem como era difícil.


– Buffy estava prestes a reconstruir a sua vida, longe das caçadas, das patrulhas. Mas assim que entrou na biblioteca da escola, você – disse apontando diretamente para Giles, sem acusá-lo, depois passei a mão sobre meus cabelos, em um sinal de nervosismo – estava esperando por ela para entregá-la nada mais do que um Codex sobre vampiros.


– Logicamente ela disse que não. Mas Buffy pensa demais, e depois de quase ver uma menina ser morta ela concorda com isso. Ela então conhece Xander e Willow e durante um período eram só vocês quatro. Depois Cordelia namorada do Xander entra no time, assim como Oz namorado de Willow.


– Eu? Bem, eu entro na história somente para causar problemas, dores e despedaçar corações. Eu até poderia explicar toda a épica história de amor de Buffy e Angel, mas acredite dói demais, e vocês não precisam saber disso.


– Irei narrar o que aconteceu, mas não quanto os fatos passados me afetaram. Lembro-me que o mestre vampiros e seus aliados tentam cumprir uma profecia, onde Buffy deveria morrer aos dezesseis anos. Ela foi ao seu encontro, foi mordida e o mestre estava prestes a conseguir aquilo que queria, eu e Xander a alcançamos ela estava morta, mas Xander realizando RCP conseguiu trazê-la de volta. No entanto estes minutos foram suficientes para acordar outra caçadora – Kendra. Com uma vida perfeita e regrada junto ao seu sentinela. Ela foi morta por Drusilla enquanto Buffy estava ocupada demais com Angelus.


Faith é ativada após a morte de Kendra, diferentemente de Buffy e Kendra ela tinha um passado difícil, ainda assim Buffy e ela tinham uma amizade, e tiveram suas inseguranças, mas que perdurou durante os anos. Além disso, a sentinela resignada a Faith estava atrás de uma luva que lhe dava poderes, assim que a conseguiu tentou nos matar e acabou morrendo na batalha.


Como se isso não fosse suficiente, no aniversário de dezessete anos de Buffy eu perdi minha alma, após um momento de pura felicidade – acho que não preciso explicar mais do que isso. – Vi os dois arquearem a sobrancelha entendendo o que eu havia dito e provavelmente agradecendo mentalmente por eu não ter mais explícito.


Tornei-me Angelus, e com a ajuda de Spike e Drusilla infernizei a vida de vocês, machuquei e matei seus amigos, e tentei acordar o demônio Acathla para trazer o inferno a terra, mas Buffy me derrotou e fechou o portal com meu sangue, me mandando ao inferno.


Eu mal podia conter as lágrimas, mas eu estava fazendo o meu melhor, respirei e continuei.


Quando retornei do inferno perdido e machucado, lá estava ela apesar de tudo para me ajudar e me guiar novamente. Mantive-me o mais afastado dela possível, era seguro, mas doloroso. Depois surgiu o Prefeito, que tecnicamente queria matar todas as pessoas em Sunnydale com a sua Ascensão, com isso Faith após assassinar uma pessoa por engano e colocar a culpa em Buffy, Faith trocou de lados e ficou conhecida como a caçadora psicótica. Ela ficou contra nós, e uniu-se ao prefeito – ela se sentia traía, assustada e perdida. Estes foram os fatores que fizeram com que ela se afastasse. Quem iria saber que todo o tempo tudo o que ela queria era estar perto de Buffy e da Gangue do Scooby? Ser aceita por eles?


– Eu não entendo. Ela tendo machucar todos eles?


– Ela tentou me matar, Sr. Giles.


– Como? – É claro que eu não estava surpreso em ouvir a pergunta óbvia de Wesley, ele sempre as fazia.


– Me envenenando. – E logicamente Wesley começou com suas explicações.


– Mas eu ouvi dizer que a única cura para vampiros envenenados é...


– O sangue da caçadora. – Disse terminando seu pensamento.


– Eu quase me esqueci de dizer que no meio de tudo isso que você veio, Wesley. Para ser o sentinela de Faith. Você falhou. Esse foi um dos problemas também. Desculpe-me, eu sei que é difícil para vocês ouvir essa realidade. – Falei mexendo em meus bolsos.


– Continue Angel. – Disse Giles me assegurando.


– Mudei-me para LA após a Ascensão. Lá conheci Doyle outro meio-demônio que tinha visões, um ótimo amigo – talvez um dos melhores. Ele trabalhava comigo e com Cordelia que após tentar e falhar em sua carreira artística acabou por se juntar aos dois renegados. Ela foi quem me manteve sã a maior parte do tempo. Como ela mesma costumava dizer eu penso demais.


Eu continuo contando a eles sobre Los Angeles e minha vida, sobre vida da gangue do Scooby antes e depois de Buffy dividir seus poderes, falo sobre suas mortes - mesmo assim deixo de lado o quanto elas me afetaram. Continuo até chegar ao ponto que eles tanto queriam – a criação do Sistema.



E após alguns anos de Batalha e o meu retorno e o de Spike para a gangue, ele como um humano, eu como um vampiro com a alma permanente. Buffy estava casada e grávida de seu primeiro filho, e não seria eu que iria destruir a felicidade dela.


Decidimos que devíamos criar um mundo melhor. Ou algo assim, em teoria. A Batalha estava se tornando cada vez pior e logicamente precisávamos terminá-la ou pelo menos retardá-la.


– Como? – Estava tão absorto em meus pensamentos que quase havia me esquecido que não estava falando sozinho. Sorri, fazia muito tempo que não me sentia feliz – por mais que as circunstâncias não fossem as das melhores. Respondi aos dois homens.


– Um contrato. Escrito em papiro e assinado com sangue. Desde aquele dia nosso mundo e o mundo sobrenatural e ou demoníaco viveu em uma espécie de harmonia.


– Isso não parece ter funcionado não é mesmo Sr.O’Connor? Eles destruíram o sistema, e agora pensam que estão no controle! Eu não vejo como podemos mudar isso! – Disse Wesley sua raiva direcionada a mim, como se a culpa fosse minha.


– Acredite Wes, digo Wesley, eu entendo sua raiva. Mas não havia nada que eu pudesse fazer sozinho. Eu perdi cada um deles, e os poucos que restaram eu me distanciei.


– Você quer dizer que eles tiveram filhos, netos, bisnetos, tataranetos e bem não tenho tanta certeza de como a linhagem continua. – Disse Wesley em quase um sussurro.


– Sim. Eu respondi, e mais uma vez eu estava lutando contra as lágrimas, mas logo descobri que não era o único. Ambas os homens estavam atônitos e abismados pela á minha pequena biografia. Se eles soubessem o quanto eu desejava morrer no dia em que Faith me encontrou, eles não estariam tão surpresos.


– Isso deve ser horrível.


– Viver? – Perguntei a eles não os olhando, na verdade eu não deveria estar olhando para lugar algum, considerando que as memórias continuavam a passar como um filme pela minha mente. Respirei profundamente antes de dizer.


– Sim. Mas do que imaginam.


– Sentimos muito. – Disse Giles polidamente. – Talvez devêssemos terminar a noite. Afinal foi um longo dia para todos nós. – Olhando-me solidariamente ainda falou:


– Especialmente para você.


– Na verdade, eu ainda acho que o dia das irmãs Summers foi ainda mais difícil.


– Talvez, talvez. – Finalmente disse retirando seus óculos e limpando-os, enquanto Wesley fazia o mesmo movimento, antes de repor-los no rosto.

Cara, será que pode ficar mais estranho e distorcido do que isso?


Enquanto Angel e os Sentinelas conversavam


No quarto das meninas, Faith é a primeira a falar.


– Sério meninas, vocês não acham que ele se parece com alguém? Ele me parece familiar...


– Ah Faithy… você beijou o cara, é claro que ele parece familiar para você. - Diz Anya em um tom brincalhão e sexy, sacaneando a amiga.


Faith simplesmente se virou, revirando os olhos e murmurando:


– Vou checar a B e a D. Ver se elas estão bem. Kay?


– Claro. – Disseram Tara e Willow juntas, sabiam que apesar de Will ser uma das melhores amigas de Buffy e Tara ter se afeiçoado a loira também, Faith ainda era a “super” amiga como ambas gostavam de chamá-la. Era de todas há mais extrovertida, brincalhona e estava sempre disposta a ajudar. Faith tornou a olhar para as meninas e sorri para as duas bruxinhas saindo.


Naquele mesmo momento Buffy entrava vagarosamente no quarto da irmã. Ela precisava saber como a pequena se sentia. Deus sabia que ela queria mesmo era desaparecer, dissipar a imagem de sua mãe como uma vampira atacando ela, e a visão de si mesma transformando a amada mãe em pó. Tudo o que passava em sua mente era poeira e sangue, mas agora ela tinha que ser forte, segurar suas lágrimas e apoiar sua irmãzinha.


– Ei Dawnie. – Disse Buffy na forma mais calma e doce que conseguiria.


– Oi Buff. – Respondeu Dawn baixinho, sem se mover. Buffy sentou ao seu lado na cama, a irmã ainda de costas para ela, de repente ela vira subitamente e entre soluços e lágrimas diz a irmã:


– Prometa! Prometa agora que você não irá me deixar sozinha! Que não vai me mandar para o papai! Eu não quero viver com ele e aquela mocréia Buffy!


Buffy segurou o riso ao ouvir as palavras ridículas proferidas pela irmã. Tocou seu rosto suavemente secando suas lágrimas e disse:


– Mas é óbvio que não. Nunca Dawn! Você é minha maninha, e eu prometi a mamãe que se algo acontecesse com ele eu ia cuidar de você, prometi a ela e a mim mesma, okay? Você não vai a lugar nenhum.


– Promete mesmo? É sério? – Disse Dawn deitando-se novamente, e bocejando.


– Prometo. – Disse deitando ao lado da irmã e a abraçando protetoramente. Neste momento Faith abriu a porta e as olhou. Buffy acenou para a Faith para que se aproximasse.


– Sinto muito, meninas.


– Kay Faithy. – Disse Dawn aconchegando-se ainda mais a sua irmã, ainda fungando.


Faith envolveu as irmãs em um abraço de urso, dizendo que faria tudo ao seu alcance para ajudá-las.


Quando Dawn finalmente adormeceu, Buffy e Faith deixaram o quarto silenciosamente, era hora de ver os sentinelas e dar a turma as más noticias. Elas sabiam que a maioria já tinha uma idéia do ocorrido, ainda assim não era algo que Buffy ou sequer Faith quisessem falar a respeito. Sabiam que seria difícil. Faith desta vez bancando a irmã mais velha guiou Buffy apertando o seu braço levemente, numa forma de encorajamento. Buffy levantou seus olhos para ela e sorriu, tentando manter a calma.


Ambas voltaram a andar, mas pararam assim que viram Liam. Seus olhos estavam fechados e lágrimas rolavam por seu rosto, preocupando ambas a meninas.


– Liam. – Ele ouviu uma voz rouca e calma, que ele reconheceu sendo de Faith.


– Cara, você está bem?


Ele não disse nada, não fez nada, ele continuou da mesma forma até que ele ouviu a voz de Buffy um pouco mais alta que a de Faith, ainda mais amável e doce.


– Liam.


Ao mesmo tempo ouvi a voz de Giles ao longe me chamando.


– Angel?


– Ficarei bem Sr. Giles. Não se preocupe comigo, no entanto deveria se preocupar com suas caçadoras.


– Angel? ­ Disseram ambas as garotas confusas.


Ele havia secado as lágrimas com a palma da sua mão e rapidamente olhou para elas.


– É um antigo apelido, de outra vida. Podemos conversar sobre isso pela manhã.


– Não. - Disse Buffy segurando seu braço. - Nós podemos falar sobre isso agora. Quem é você?


– Meu nome é Liam Angelus O’Connor, mais conhecido como Angelus a Escória da Europa, e depois somente por Angel. No entanto, é incrível como você tem a capacidade de dizer o meu nome da mesma forma que ela dizia. – Angel fechou os olhou e depois tornou a abri-los, Buffy ainda mantinha-se imóvel a sua frente, linda como sempre.



– Na verdade, é horrível sequer pensar que eu conheço cada um de vocês precisamente como são hoje ou foram. Eu não posso me enganar mais e pensar que esconder essa verdade de você ou de seus amigos - Angel respirou fundo sentia seu coração se despedaçar em mil pedaços enquanto Buffy continuava a encará-lo seu olhar se mudando a cada segundo, ele podia ver a confusão e a compreensão por trás deles, além disso, aqueles olhos verdes amendoados escondiam também afeto. – Digo nossos amigos, porque todos vocês, cada um de vocês fez parte da minha vida e tudo que eu queria era morrer... – Continuou, segurando as lágrimas, enquanto via os olhos de Buffy marejados, não suportando a dor ele caiu de joelhos abraçando a si mesmo.



– Shiuu Angel, está tudo bem. – Dizia Buffy, fazendo círculos em suas costas com a mão, depois acariciou seus cabelos, acalmando-o. – Eu estou aqui, você não está sozinho.




Buffy, Faith, Giles e Wesley viam a cena acontecer a sua frente. Seus corações estavam em pranto por ele. A preocupação estampada em seus rostos. Então virão Buffy se abaixar tocar as mãos de Angel delicadamente com as suas, ele levantou seu rosto encarando-a, ela então chegou perto dele e o mesmo abriu espaço para que ela pudesse se aconchegar a ele, os dois se abraçavam e choraram, era como se ambos dependessem um do outro para sobreviver.


Ele chorava por seu passado, ela por seu presente. Para ela era inexplicável a segurança que sentia ao seu lado, o amor, o desejo. Ela nunca havia sentido isso com nenhum homem antes. Talvez Faith realmente estivesse certo e ela nunca tivesse conhecido o cara certo, e afinal de contas sua vida não era um mar de rosas.