Capítulo único

Jake abriu os olhos e a única coisa que foi capaz de fazer foi sorrir ao vê-la, linda... deslumbrante, como sempre, sentada na poltrona do canto, lendo um livro.

— Olá, supergirl...

— Você acordou!

A mulher correu para a cama e se jogou ao lado de Muller, deixando que ele a aninhasse em seus braços e depositasse um beijo carinhoso em sua testa.

— Dormiu bem? - Ele apenas balançou a cabeça afirmando. - Estava com saudades.

— Eu também...

Ela deslizou os dedos pelo braço do mercenário, o examinou vendo como estavam os ferimentos, e ele sorriu novamente, era tão carinhosa a maneira como ela cuidava dele. Era impossível não se sentir amado, e isso por muitas vezes o assustou, ainda assustava para se dizer a verdade, e isso, o fez fugir por um tempo, quando o sufoco na China acabou, se recusou a fazer o seu caminho até ela, mas era impossível resistir ao magnetismo inegável que os atraía.

E desde então, estavam juntos, ou o mais juntos que podiam com a vida louca que levavam, Sherry em suas missões pelo governo, e Jake em suas “missões” pelo mundo, ou melhor, por ele mesmo, adoraria deixar de ser um mercenário e envelhecer ao lado dela em uma vida normal, mas não havia mais nada que ele soubesse fazer, era uma máquina, de desferir golpes e disparar tiros, era bom, não, era ótimo naquilo e não conseguia parar, havia aprendido a não cobrar tanto e as vezes fazia apenas para ajudar alguém, mas precisava de ação nos seus dias.

Mesmo com ela lhe pedindo vez após outra para abandonar aquela vida e ficar ao lado dela pra sempre, ele não parava, por mais que seu coração se partisse toda vez que a deixava na cama ainda dormindo sem saber quando e se voltaria, ele ia, e ele voltava, e ela o cuidava e o amava e se deixava ser amada por ele de volta, porque essa, foi outra coisa que ele aprendeu a fazer e não sabia mais viver de outra forma que envolvesse não amar aquela mulher.

Então fizeram um acordo, nem um nem outro tentaria mudar a maneira como se sentiam, iriam simplesmente viver e amar, e estava funcionando, há meses, por mais que Birkin temesse que ele não voltasse, cada vez que ele abria a porta e se despedia dele, a agente prendia a respiração até ele voltar, e quando o som da porta se abrindo o trazia de volta, ela soltava o ar aliviada, e cuidava dos seus machucados e ele dos dela, mesmo que não físicos, mas emocionais.

A verdade é que se tornaram os melhores amigos um do outro, Sherry tinha Claire e Leon, os amava muito e jamais os abandonaria, mas com Jake... Era diferente, apenas ele a entendia por completo, apenas ele sabia o que era se olhar no espelho e temer diariamente se tornar como seus pais, Muller era o único que sabia como era se sentir completamente sozinho e abandonado no mundo.

Por isso, eles conversavam muito, por horas as vezes, e riam e zangavam e tiravam o peso das costas um do outro. Era incrível.

— Quanto tempo você vai ficar dessa vez?

— Eu não sei, espero que pelo menos uma semana.

— Eu queria mais...

— Já conversamos sobre isso, Supergirl.

— Sim, mas... eu só... tenho medo de que um dia você não volte mais.

— Eu sempre vou voltar pra você, sempre!

— Promete?

Ele levou a boca até o ouvido dela e sussurrou:

— Prometo.

Sherry levantou os olhos examinando o rosto de seu amado, aqueles olhos... aquela expressão... ele voltaria, como sempre voltou, não havia o que temer, levou os lábios aos dele matando a saudade do beijo, era intenso, como sempre quando se tratava dos dois, as línguas pareciam sedentas para sentir o sabor do outro, e de fatos estavam, não perderam mais tempo, Sherry vestia apenas uma das camisetas de Jake que havia nas gavetas reservadas para ele em seu apartamento, que na verdade era dele também, Jake possuía tudo naquela casa, espaço, objetos pessoais, e a dona dela, e ele adorava isso, adorava ter pra onde voltar, adorava ser totalmente dela, não havia qualquer parte dele que não amava aquela mulher desesperadamente, e foi com esse desespero e urgência que arrancou a peça de seu corpo, a observando apenas com sua calcinha azul rendada, “como era possível ela ser tão linda?” foi o que ele pensou, e também ajudou-a a se livrar da roupa íntima, podendo admirar seu corpo nu, naquela cama, totalmente entregue a ele, e ele a ela, sem dúvidas.

Deitou por cima de seu corpo, e aspirou seu perfume em seu pescoço, ficando inebriado pelo aroma inconfundível da mulher que amava mais que a própria vida.

— Você é feliz assim, Sherry? Sabendo que não vamos oferecer um ao outro mais do que já temos oferecido.

A mulher se surpreendeu com aquela pergunta, de repente.

— Sim, eu sou muito feliz, estando com você. Só volte para mim.

— Sem dúvidas... Eu te odeio, Sherry.

— Eu te odeio, mais...

Ela o puxou pelo pescoço, levando as bocas novamente a se beijarem, eles não tinham coragem de falar “eu te amo” um ao outro a princípio, então inventaram esse código, que permaneceu como uma piada interna, da qual eles não se cansavam.

— Por que você ainda está usando essa cueca?

Sherry perguntou entre os lábios do rapaz, o fazendo esboçar aquele sorriso sarcástico que ela adorava, e prontamente se livrou da única peça que estava usando naquele fim de tarde chuvoso.

E se amaram mais uma vez, com toda paixão e desejo que sentiam, marcando o corpo um do outro com arranhões, mordidas e beijos espalhados por cada parte deles, gemendo e suando juntos, aproveitando cada segundo do tempo que tinham, sentindo-se em casa nos braços um do outro e demonstrando todo amor que sentiam em cada toque, não havia outra maneira de fazerem, era apenas assim, e eles adoravam.

...

Os meses foram passando, o amor ainda estava lá, é claro, mas... não dava mais para continuar, eles realmente achavam que podiam, que conseguiriam e iriam dar um jeito, mas estava ficando cada vez mais difícil de conciliar para se verem, e quando se viam, se cobravam, brigavam, e o os momentos de prazer foram substituídos por culpa.

Até que um dia, Sherry pediu para que ele não voltasse mais, e para sua surpresa, ele obedeceu, ela o odiou por não ter lutado, odiou de verdade, sem trocadilhos, por ter desistido tão fácil, Birkin queria que ele batesse o pé e dissesse que não iria, que ela era mais importante, mas não foi o que aconteceu, foi o oposto disso.

Mais de três meses se passaram sem que tivesse nem uma só notícia dele, e isso a martirizava diariamente, não era pra ser assim, era pra ele voltar, como sempre!

Ouviu o som de batidas na porta e sentiu alivio, era ele, correu para abrir pensando em se jogar nos seus braços e beija-lo, mas para sua surpresa, eram outras pessoas.

— Leon, Claire... entrem...

Birkin abriu passagem para os amigos que se sentarem no sofá.

— A que devo a visita dos dois ao mesmo tempo?

Era realmente incomum que os dois aparecessem sem avisar e juntos, todos tinham agendas muito conturbadas.

— Sherry, nós... Precisamos falar com você.

— Ok, Claire, pode falar.

Redfield olhou para Kennedy que prosseguiu

— Nós temos algo para contar... Hoje recebi uma ligação e imediatamente liguei para Claire, pedindo para que ela viesse e pudéssemos juntos contar algo a você.

— O que aconteceu?

Birkin automaticamente sentiu um nó na garganta com medo da resposta., mesmo antes de Claire falar

— É sobre o Jake...

— Ele foi encontrado morto no Leste da África...

— Nós sentimos muito, Sherry...

A Supergirl teve a impressão de que seus amigos continuaram falando, mas não podia afirmar com certeza, pois não estava mais nesse mundo, não sabia dizer o que estava sentindo, só sabia que de repente o ar lhe faltou aos pulmões e que e era como se a Terra tivesse congelado, enquanto sua mente tentava processar o fato de que ele se foi... de uma vez por todas agora, Jake Muller, era apenas uma lembrança, ela o mandou ir, e ele não voltou, jamais voltaria, do que adiantava ela ter “poder de cura” quando ele curava apenas as feridas físicas, enquanto sua alma sangrava tanto, e nada podia fazer, porque aquele que costumava ajuda-la com isso, não estava mais presente, e jamais estaria, ele havia ido embora, pra sempre, ela estava sozinha de novo e assim continuaria.

Porque ele se foi, definitivamente.