Defenceless

Capítulo Trinta e Nove


— O que foi isso? - Aaron perguntou, levantando-se do sofá e vendo Natalie se aproximar de Anna.

Os três encaravam a porta pela qual Hunter havia acabado de sair como um furacão. Então, os olhos de Aaron e Anna se voltaram para fitar Natalie, que ficou em silêncio por alguns segundos antes de levantar os ombros.

— Eu não sei...

— Bom, talvez eu o tenha provocado... - o rapaz encolheu o corpo quando viu Natalie o olhar surpresa. Fingiu sentir-se culpado. - Não achei que ele fosse ficar tão irritado.

— Aaron?! - a castanha o repreendeu. Era verdade que não precisava de muito esforço para Hunter explodir, mas Aaron realmente devia ter ultrapassado os limites, pois o castanho parecia estar além da sobriedade. Ela soltou o ar de maneira impaciente, ficando de costas para ele. – Francamente, vocês são dois idiotas... (GIF)

— Achei que ele estivesse levando na brincadeira... - Aaron abriu os braços, contornando a garota para olhá-la. – Desculpa.

— Deixa pra lá. – Natalie passou a mão nos cabelos, tentando se recompor. – É melhor irmos, não é?

— Não. - Anna lançou um olhar desconfiado a Aaron enquanto puxava a bolsa que já estava sobre a mesa de vidro e lançava um olhar a Natalie. Um olhar que significava "conversaremos depois". Aquilo fez Natalie prender a respiração só de pensar. – Hunter veio pra me buscar pra um jantar na casa do Hans. É melhor eu descer primeiro pra vocês não se cruzarem de novo. Além disso, se eu não for logo, é capaz de ele colocar esse prédio abaixo.

**

Anna encontrou o carro de Hunter estacionado um pouco à direita. Mal entrou e o rapaz sequer a esperou afivelar o cinto, dando a partida imediatamente.

A morena o observou discretamente. As mãos dele pareciam segurar o volante com tanta força que as juntas dos dedos estavam esbranquiçadas. O rosto do rapaz estava fechado, e Anna concluiu mentalmente que nunca havia visto uma carranca como aquela. Era um misto de ódio, prepotência e decepção.

Pensou em perguntar o que havia acontecido só para criar uma abertura para conversar. O problema era que ela já sabia exatamente o que havia acontecido, já que o quarto de Natalie era bem ao lado do seu, e mesmo com a música alta foi impossível não ter escutado a discussão entre ela e Hunter. Bastou entreabrir a porta do próprio quarto para ouvir cada detalhe.

E havia ficado possessa. Considerou invadir o quarto da amiga e descer a porrada nele. Estava cansada de ver a maneira como Hunter agia com Natalie. Apenas não o fez porque sabia que a castanha a odiaria para sempre. Além do mais, Natalie era grandinha e sabia muito bem se defender. Prova disso foi o que a escutara responder para Hunter. Fez uma anotação mental para parabenizar a melhor amiga em uma próxima oportunidade.

Tudo bem. Ela não interviu na discussão no quarto, perfeito. Porém... Anna não seria Anna se não desse o seu próprio recado a Hunter Saxton.

— Você tá forçando a barra. - ela finalmente decidiu quebrar o silêncio insuportável que pesava ali. Havia desconsiderado completamente a abordagem delicada.

Hunter olhou-a rapidamente com uma expressão indignada estampada e um tanto quanto surpresa em seu rosto, mas voltou a atenção à direção do carro.

— Não sei do que você tá falando. - ele respondeu secamente sem olhá-la.

Anna respirou fundo em resposta, mostrando-se impaciente.

— Não é encurralando a Natalie e jogando coisas na cara dela que você vai conseguir alguma coisa. Just saying. – espremeu os olhos, encarando-o friamente.

O castanho deixou uma risada de escárnio lhe escapar da garganta, jogando a cabeça minimamente para trás enquanto ainda dirigia.

— Quem disse que eu quero alguma coisa com ela?

Foi a vez de Anna rir escrachadamente, imitando o movimento da cabeça que ele havia feito anteriormente.

— Quem disse que você não quer alguma coisa com ela? Porque tá bem estampado nessa sua cara de anjo. – ela usou um tom cínico. – Você tá louco pela Natalie, Hunter. Admite que fica menos feio.

Hunter respirou pesadamente, tentando controlar a raiva que ainda não parecia ter se dissipado. Forçou o maxilar e continuou em silêncio, o que fez Anna usar um tom frio:

— Eu vou te dar um único conselho. – viu-o estreitar os olhos sem encará-la. – Eu conheço a Natalie há mais de dez anos... E pelo último relacionamento dela, eu posso afirmar que você, com esse seu jeito estúpido e essa vida toda errada, é a última coisa que ela precisa. Minha amiga já sofreu muito, e não merece que caras como você tornem tudo ainda pior. – Ouvir Anna dizer que Natalie havia sofrido muito o fez sentir um incômodo no peito. – Você quer saber por que o Aaron tem um espaço na vida dela? – Hunter sentiu as mãos formigarem só de ouvir o nome de Aaron novamente. – Porque ele oferece segurança. É um cara legal e está sempre ao lado dela. – Anna voltou a olhar para a frente, mas agora usava um tom mais ameaçador. – Se você não for capaz de oferecer pelo menos 10% do que ele oferece, é melhor se afastar... Porque se você machucar a minha amiga mais uma vez... É comigo que você vai se entender, e eu não tô brincando. Eu acabo com a tua raça.

“Ela acabou de me ameaçar?”, soltou o ar indignado. Olhou-a diretamente quando pararam no semáforo vermelho e viu que a morena sustentou o olhar de forma séria e imponente. Hunter passou a mão pelos cabelos, recompondo-se e deixando a expressão blasé tomar o seu rosto – embora as palavras de Anna ainda ecoassem em sua cabeça.

— Você. É. Louca. – riu de canto.

Anna sorriu vitoriosamente, calando-se. Sabia que ele havia entendido o recado.

**

Hunter não conseguia simplesmente disfarçar. Ficou o jantar inteiro quase mudo. Algumas vezes até ria das piadas que os amigos faziam na mesa, mas era mais para tentar amenizar sua cara de enterro. Não estava nem prestando atenção no que acontecia direito.

Não era necessário que Anna contasse o que havia acontecido, porque qualquer um ali poderia chutar e acertar que o motivo pelo qual ele estava daquele jeito se chamava Natalie Kalkmann.

Usou a hora do jantar para analisar tudo o que Anna havia lhe dito uma hora atrás no carro.

“[...]- Eu conheço a Natalie há mais de dez anos... E pelo último relacionamento dela, eu posso afirmar que você, com esse seu jeito estúpido e essa vida toda errada, é a última coisa que ela precisa. Minha amiga já sofreu muito, e não merece que caras como você tornem tudo ainda pior. [...]”

Natalie nunca havia comentado nada sobre o último relacionamento amoroso que teve. Também, passavam tanto tempo brigando que era difícil achar uma brecha para esse tipo de conversa. E no fundo sabia que seria mais um assunto para virar discussão entre eles, já que ele também teria de compartilhar suas experiências. Já até conseguia imaginar Natalie sendo cínica diante de todos os envolvimentos que ele já havia tido.

“[...]- Você quer saber por que o Aaron tem um espaço na vida dela? Porque ele oferece segurança. É um cara legal e está sempre ao lado dela. Se você não for capaz de oferecer pelo menos 10% do que ele oferece, é melhor se afastar. [...]”

Pressionou os próprios lábios. Sentia raiva só de pensar no que Natalie e Aaron poderiam estar fazendo naquele momento, sozinhos, no apartamento dele. Sentia que estava sendo deixado para trás. Se Aaron e ele estivessem em uma corrida, Hunter concluiu que já estaria comendo poeira.

O rapaz a conhecia há dois anos, isso lhe dava vantagem o suficiente com relação aos gostos, sonhos e receios dela. Fechou os punhos sobre a mesa e resolveu tomar um gole de sua cerveja para disfarçar.

Vez ou outra os demais se entreolhavam na mesa. Tinham vontade de perguntar a Hunter o que estava acontecendo, mas sabiam que expô-lo daquela forma não ajudaria em nada. Já conheciam o gênio do amigo. Porém, não conseguiam ignorar o quão estavam preocupados.

Analisando o ambiente, Anna pensou pela primeira vez se não havia pegado pesado demais com Hunter. Havia ficado tão nervosa com o que estava acontecendo com Natalie que simplesmente não mediu as palavras. Não conseguia se controlar quando alguém mexia com seus amigos, principalmente com a melhor amiga.

O problema é que Hunter precisava escutar aquilo. Estava sempre tão preocupado em atingir Natalie que parecia nunca ter parado para pensar o que ela já vivia passado antes dele. Anna era uma das únicas pessoas que realmente sabia o quanto Natalie havia sofrido por causa de Izaac, e o jeito como ela, sempre afastando as pessoas e fugindo de envolvimentos, era reflexo das cicatrizes que o ex-namorado havia deixado nela.

Anna saiu de seus devaneios ao sentir a mão de Luke apertar a sua carinhosamente debaixo da mesa. Ela finalmente olhou para ele e lhe deu um sorriso apenas com os lábios. O rapaz aproximou o rosto e depositou um beijo delicado na lateral do pescoço dela, arrancando-lhe arrepios no mesmo instante.

— AE. – Thomas chamou, fazendo uma concha com as duas mãos cobrindo a boca. – Arranjem um quarto!

Anna jogou o guardanapo de pano que estava sobre o próprio colo na direção de Thomas enquanto se juntava ao coro de risos na mesa.

— Isso tudo é inveja, Tom? – provocou Luke antes de dar um gole do corpo de cerveja.

— Claaaaro. Agora é a hora que ele joga na cara. – Tom respondeu, balançando a cabeça negativamente em tom de brincadeira, arrancando ainda mais risadas do grupo. – Ô Anna, você não tem nenhuma amiga gatinha pra apresentar pra mim não? Mas sem contar a Natalie, porque né... – ele apontou discretamente para Hunter, que lhe mostrou o dedo do meio no mesmo instante. Todo mundo segurou o riso naquele momento.

— Vou te fazer uma lista depois. – Anna deu uma piscadela para Thomas.

— Hey, e eu? – Hans se esticou na mesa.

— Irish, Irish... – Hunter deu algumas batidinhas nas costas do loiro de leve como se lhe chamasse a atenção.

— Ok, era só brincadeira!

Anna pensou em perguntar o porquê de Hans ter falado aquilo de maneira tão subjetiva, mas acabou desistindo. Se ninguém se pronunciou à respeito, é porque talvez não fosse para ser comentado.