Defenceless

Capítulo Sessenta e Dois


Mesmo sendo vítima de chantagens e ameaças advindas dos integrantes da Elite Four – com exceção de Hunter, que mal lhe dirigia a palavra –, Natalie se negou a mostrar o resultado das fotos que ela já havia tratado enquanto eles foram à cafeteria Starbucks. Ela quase considerou se trancar no banheiro até que Judith chegasse. Por sorte aquilo não demorou muito a acontecer.

— Judith...! Judith, graças a Deus! Eles estavam quase me mantendo em cativeiro aqui. – Natalie correu para de trás da assessora de maneira divertida quando ela adentrou o estúdio.

— Mas o que houve? – Judith arregalou os olhos quando viu Thomas vir em seu encontro.

— Ela não nos deixa ver as fotos, isso não é justo. Gerard sempre deixava.

— Eu não sou o Gerard. – Natalie levantou as sobrancelhas sarcasticamente. Judith se virou para castanha, ficando entre ela e Thomas. Os outros garotos também se aproximaram. – Na verdade eu tenho um pedido pra fazer. – a garota mordeu o lábio inferior um pouco nervosa. A assessora assentiu para que Natalie prosseguisse. – Gostaria de pedir que me dessem um prazo até amanhã à noite para entregar as fotos. Eu tenho uma proposta pra vocês e gostaria de apresentá-la decentemente.

Thomas sacudiu o corpo como uma criança quando algo lhe é negado. Judith olhou Natalie profundamente por alguns instantes, um tanto quanto orgulhosa da garota da sardas à sua frente.

— Permissão mais do que concedida. – Judith deu um breve sorriso. – Acho que agora estamos progredindo.

— Desculpe? – Natalie franziu a testa.

— Sinto que vamos descobrir em breve do que você é realmente capaz. Mal posso esperar! – Judith apertou o ombro de Natalie levemente, como que a encorajando. Interrompeu o gesto quando o alarme do celular dela despertou. – Dear Lord, já são quase cinco horas! É melhor seguirmos para o Smoothie King Center e iniciarmos a passagem de som o quanto antes!

**

A ansiedade estava tomando conta de Natalie. Era a estreia oficial dela como fotógrafa da Elite Four, e não podia estar mais nervosa. Até parecia que era ela quem iria performar no palco diante de milhares de pessoas.

Faltavam apenas vinte minutos para o início do show. Natalie foi até a coxia para checar a plateia e quase caiu para trás quando viu toda uma multidão ocupando o estádio de cima a baixo.

Aquilo era mesmo real. Ela estava ali. Como queria poder dividir tudo aquilo com Anna...! Sentia-se ligeiramente culpada por ainda não ter trocado sequer uma mensagem com a melhor amiga... mas sentia-se também injustiçada pelas duras palavras que a morena lhe disse naquela noite. Anna havia lhe atirado suas próprias dores e confidências como se não soubesse a verdadeira história sobre o fim do relacionamento dela com Izaac. Natalie até tentou relevar o fato de Anna estar bêbada, mas aquela era uma ferida que infelizmente ainda não havia cicatrizado.

Respirou fundo e tentou afastar aqueles pensamentos. Estava na hora de ela fazer uma coisa de cada vez, e naquele momento, precisava focar no seu trabalho. Tudo o que ela conseguisse produzir naquela noite seria essencial para a apresentação do projeto que ela queria entregar à equipe.

Voltou quase correndo para o camarim onde a banda estava terminando de se aprontar.

— Elite Four à postos, quero uma foto. – se não a conhecessem diriam que aquela sentença fora praticamente uma ordem.

Thomas, Luke e Hans se aproximaram quase que instantaneamente quando Natalie empunhou a câmera. Hunter veio a passos lentos e arrastados. Quando passou por ela não conseguiu evitar levantar as sobrancelhas, formando a sua famosa expressão blasé:

— Já tá abrindo as asinhas?

Natalie manteve o controle e ignorou a provocação a muito custo. Observou Hunter se aproximar dos amigos para posar. Posicionou-se ao lado de Hans sem muita vontade, apenas apoiando seu corpo no ombro do loiro, que tinha o rosto segurado por Luke. Thomas estava na outra extremidade, apontando para Luke e arregalando os olhos. (GIF)

Natalie deu uma piscadela para os meninos em agradecimento antes de começar a segui-los com a câmera no modo de gravação de vídeo.

— Atenção, Elite Four! Sete minutos! – Um dos staffs anunciou.

A banda seguiu pelos corredores a caminho do palco enquanto Natalie estava em seu encalço, filmando. Em meio ao trajeto, eles cumprimentavam membros da equipe da iluminação e outros encarregados com tapinhas nas costas e apertos de mão rápidos.

A garota correu para frente deles para conseguir um novo ângulo. Atrás do palco, dois roadies apareceram para entregar os microfones aos seus específicos vocais.

— Dois minutos! – Natalie ouviu alguém gritar. Seu coração estava saindo pela boca de nervoso sem nem saber por quê. Viu os garotos formarem um círculo e não perdeu tempo em filmá-los enquanto eles juntavam as mãos no centro.

‘Til the very end.— eles disseram em uníssono.(GIF)

— E aí, New Orleeeeeans! – Hunter gritou antes mesmo de aparecer no palco, e a multidão o ovacionou insanamente. O vocalista correu pelo palanque seguido de seus companheiros enquanto a primeira música se iniciava.

Natalie esperou que todos fossem para o palco para dar a volta pela dianteira para ficar na área inferior e poder continuar o seu trabalho com as fotos. Pediu a um dos staffs que lhe trouxesse suas lentes grande-angular e teleobjetiva para fotos mais amplas e mais próximas.

Assim que o staff trouxe as lentes, ela trocou a que estava usando pela grande angular e guardou as outras duas em sua bolsa transversal. Começou a sua corrida ao redor do palco em busca dos melhores ângulos enquanto o show prosseguia.

Encontrou Luke e Thomas sentados na beirada do palco conduzindo o público e configurou a câmera para o modo preto e branco para registrar aquele momento. (FOTO)

Sorriu abobada por alguns instantes, assistindo ao show ao mesmo tempo em que ouvia as fãs em histeria, gritando e cantando às suas costas. Tirou mais algumas fotos dali e foi para o outro lado enquanto reconfigurava a máquina.

Ao longo do show, foi tirando fotos não só dos garotos, mas dos fãs segurando cartazes, da banda de apoio, do estádio lotado e tudo mais que tivesse direito.

Após umas sete músicas, Natalie decidiu acabar com a vergonha e subir as escadas laterais do palco, quase na coxia. Precisava de mais cliques diferenciados se quisesse apresentar uma boa proposta à Judith e Steve no dia seguinte.

Hans a notou rapidamente quando ela empunhou a câmera na frente do próprio rosto. Ele se virou e lhe mostrou a língua. Ela riu sozinha. (FOTO)

Quando focou sua câmera em Hunter, este desviou e foi para o outro lado, como se tivesse a intenção de provocá-la e dificultar o seu trabalho. Natalie soltou o ar impacientemente e cruzou o palco por trás da banda de apoio. Viu o cantor de cabelos compridos fazer pose para uma fã com o dedo indicador e o dedo médio levantados enquanto segurava uma garrafinha de água com a outra e se apoiava no pedestal do microfone. (FOTO)

Ficou observando Hunter por algum tempo, estudando-o avidamente enquanto a voz rouca dele encharcava o estádio em seu solo e a fazia sentir que seu estômago se derreteria. Viu-o colocar a língua para fora para divertir as fãs e bateu mais uma foto. (FOTO)

Ele era realmente encantador quando queria. “Quando queria”, o subconsciente de Natalie a lembrou, fazendo-a despertar de seu torpor.

Foi quando os acordes da introdução de “Little Things”, a música favorita dela, começaram a ressoar nas caixas de som do estádio. A castanha prendeu a respiração quando sentiu as esmeraldas de Hunter fixarem-se nela.

Ele não a estava olhando voluntariamente. Era como se imãs estivessem lhe puxando para ela. Tudo se resumia a ela naquela imensidão de luzes refletidas pelo público. Hunter começou a cantar o início da música que falava alguma coisa sobre sardas. E instantaneamente, ele se lembrou da noite em que esteve tão perto de Natalie que poderia contar as sardas dela. Queria poder conectar as linhas imaginárias entre aqueles pontinhos que manchavam aquele rosto, como se fossem constelações que formavam o universo chamado Natalie. O universo do qual ele tanto desejava fazer parte nos últimos dois meses.

Quando Hunter se deu conta do que estava pensando, desviou o olhar do de Natalie, abaixando o rosto enquanto Luke continuava a cantar. Queria não ter raiva dela, mas não conseguia. Queria não ter raiva de Hans, mas era ainda mais difícil. Qualquer mulher em sã consciência preferiria o irlandês a ele. Hans era doce enquanto ele era ácido. Não deveria ter raiva do óbvio. Mas tinha. Por que ela o beijou no capô do carro se queria Hans durante todo aquele tempo? Será que Natalie queria brincar com ele como ele brincava com todas as outras mulheres? Justo quando ele não queria mais brincar?

Hunter afastou-se de Natalie cruzando o palco, e voltou a cantar a sua parte. Natalie contornou a frente do palanque para conseguir um ângulo de Thomas, que logo começou o seu solo. A iluminação estava exatamente em seu rosto, o que fez os olhos verde-mar do rapaz ficarem ainda mais vívidos. (FOTO)

Os rapazes começaram a se aproximar para fixar seus microfones nos pedestais. Natalie correu para a parte de trás do palco, e Luke entrou em seu foco. Deu zoom quando percebeu que a iluminação brincava com a silhueta dele e não perdeu tempo para clicá-lo de costas. (FOTO)

Natalie ficou maravilhada quando se deu conta da visão privilegiada que estava tendo do palco naquele momento. A banda Elite Four estava alinhada diante da legião de fãs que chorava, gritava e cantava as músicas deles de cor, como se fossem hinos. Os flashes dos celulares da multidão refletiam na escuridão do estádio como se fosse o céu coberto de estrelas à disposição daqueles quatro rapazes. Ela conteve um soluço na garganta e respirou fundo. Precisava registrar aquele momento para depois poder compartilhá-lo com a eternidade.