Defenceless

Capítulo Quarenta e Oito


— Ainda não acredito que você conseguiu convencê-la! – Hans gargalhou quando ele e Hunter já estavam no corredor do prédio das garotas.

— Nem eu, se quer saber. – Hunter também riu. – Por um minuto achei que ela fosse recusar assim mesmo. – o castanho apertou o botão para acionar o elevador.

O loiro colocou as mãos nos bolsos de trás da calça.

— Você gosta dela mesmo... Não é? – ele perguntou sério, olhando o amigo pelo canto dos olhos. Sabia como Hunter não gostava muito de falar sobre os sentimentos dele.

— Hm... Por que, Irish? – o rapaz limpou a garganta. – Você tá interessado nela?

Hans soltou o ar impacientemente enquanto os dois entravam no elevador.

— H, me poupe!

— Tô te perguntando numa boa. – o castanho abriu os braços. Hans sabia muito bem que ele não estava perguntando “numa boa”. – É só responder.

— Não fala merda, ela é minha amiga. – Hans apertou o botão “L” de Lobby, e as portas se fecharam.

— É? Desde quando? – Hunter levantou uma sobrancelha, olhando seriamente para o melhor amigo. – Acho que eu perdi essa parte da história, Hans. Não sabia que amigos se encontravam para tomar vinho juntos...

No fundo, sabia que devia uma explicação a Hunter. Afinal de contas, Hans era o melhor amigo dele, e estava na cara o quão Natalie importava.

Em todos os anos de amizade, Hans nunca havia visto Hunter tão envolvido com uma garota da forma que ele parecia estar envolvido com Natalie. Não sem nem ao menos terem tido algo. Muito menos depois de Alina... Hunter Saxton nunca mais havia se importado com nenhuma garota, e todas as vezes em que esteva com alguma delas, era por pura diversão.

Havia algo de diferente na maneira com que Hunter olhava para Natalie. Até mesmo na maneira que a tratava – afinal, desde que a conheceram, Hunter percebeu que não conseguiria tratá-la como as outras. Ela não se permitia ser desrespeitada.

Lembrou-se do amigo chamando-a de “love” e percebeu que nunca o via visto chamar alguém daquela forma. Nem mesmo as namoradas anteriores. Era sempre “cutie”, “baby”, “sweetie”... Mas “love” era a primeira vez.

Assim que saíram do elevador, Hans segurou Hunter pelo ombro e eles pararam no hall de entrada do prédio.

— A gente acabou se encontrando na livraria POR ACASO no final de semana. Ela falou de um livro que estava a fim de ler e que estava em falta lá. E eu tinha o livro. – Hunter prestava atenção em cada palavra do loiro. – E ela foi lá em casa pra pegar, a gente trocou uma ideia e vimos que tínhamos muitos gostos em comum. – os olhos verdes se estreitaram em sua direção. – Foi só isso.

As narinas de Hunter se abriram por alguns segundos quando ele se lembrou da foto de uma garota de boné que havia sido clicada saindo do condomínio de Hans nos últimos dias.

— Não era a Serena na foto... Não é? – a mandíbula do castanho saltou no mesmo instante.

Hans mordeu o lábio superior antes de responder.

— Não. Era a Nats. – Viu o corpo de Hunter se inclinar para trás e ele passar a mão pelo rosto com certa brutalidade, puxando o ar com força e desviando o olhar. Hans o puxou para perto novamente. – Não aconteceu nada, Hunter. Sério. SÉRIO. – repetiu a última palavra segurando o amigo pela camisa para que ele voltasse a olhá-lo, pois este estava tentando sair de perto. – Eu não faria um negócio desses, cara. Eu sou seu amigo, lembra?

— Você não tem lá um histórico muito bom com relação a amizades, Hans. – Hunter passou a mão no cabelo com força, jogando-o para o lado. – O Ellijah e o Jack eram seus amigos também... Lembra? – falou com um tom irônico.

— Eu sei, eu sei... – o loiro abaixou o rosto. – Mas você é meu irmão. – seus olhos azuis procuraram os do amigo, encarando-o profundamente. – Acredita em mim. Não tem nada a ver.

Hunter encarou Hans de volta. Viu a seriedade de cada traço do loiro e assentiu, molhando os lábios e respirando fundo. Seu corpo parecia mais relaxado.

— Ok... Esquece isso. – ele bateu no ombro de Hans. – Vamos embora porque faz muito tempo que eu não acordo seis e meia da manhã. Tenho que encontrar o Ellijah cedo pra ir com ele até a NYU.

Hans deu risada enquanto acompanhava os passos de Hunter.

— Acho que você nunca teve tanto gosto pra acordar cedo como terá amanhã. – tirou o celular do bolso. – Acho que agora podemos passar o contato da Nats pro Steve, né?

**

Natalie sequer havia conseguido dormir de tanta ansiedade. A cada momento que consultou o relógio, calculou quanto tempo faltava até que ela estivesse cara a cara com Ellijah Scott. Seu estômago embrulhava só de pensar e ela ficava repetindo a si mesma que não gritaria. Aliás, mesmo que ela quisesse, não conseguiria gritar. Já havia conhecido outras celebridades que ela admirava, e toda vez parecia que uma alavanca era acionada e ela agia naturalmente, mesmo que por dentro estivesse gritando.

— Anna, já estou indo! Deseje-me sorte! – a castanha gritou enquanto jogava a mochila nas costas e ia para a porta.

— Espere por mim! – Anna veio correndo e prendendo o cabelo em um coque ao mesmo tempo.

— Onde você vai? Não está na sua hora ainda. – Natalie a olhou confusa.

— Você ACHA que eu vou perder esse momento da sua vida? Caralho, você vai conhecer o Ellijah Scott! – a amiga pulou animada.

— Nem me faleee! – ela pulou junto, rindo em seguida. Colocou a chave na fechadura, do lado de fora.

— Espera, você não vai comer?

— Ai, tô ansiosa duplamente. Pelo programa e pelo Ellijah. Não vou conseguir comer. – Natalie torceu o rosto.

— Ai, meu Deus... - Anna rolou os olhos em resposta.

— Vamos logo, que eu vou conferir a lista de perguntas que o Joshua vai ter que fazer na hora da gravação. – as duas passaram pela porta e Natalie trancou a fechadura.

— Você já não conferiu três vezes?

— Uma quarta vez não faz mal a ninguém.

— Meu. Deus.

**

Quando Natalie e Anna chegaram ao estúdio de gravação do prédio de jornalismo da NYU, Joshua e Bonnie já estavam finalizando a montagem do cenário.

— Bom dia, gente! – a castanha cumprimentou os colegas enquanto deixava a mochila em um canto qualquer.

— Bom dia! – Joshua a abraçou. – Nem acredito que você conseguiu, Kalkmann! – Natalie retribuiu o gesto, sorrindo. – Aliás, desculpe pela grosseria.

— Você já pediu desculpas sete vezes, Josh! Tá tudo bem. – ela riu, soltando-o. – Estávamos todos com os nervos à flor da pele, somos neuróticos e sempre seremos. – Bonnie e Joshua riram. Foram para os fundos do estúdio verificar a iluminação. Quando Natalie viu Anna perto de uma das câmeras, quase surtou. – Anna, não se atreva a encostar nessa câmera. Se você desenquadrar essa merda, eu vou desenquadrar a sua cara!

— Eeeeita, mas entre você e uma roda de caminhão, eu não sei quem que é mais grossa! – Anna riu, abaixando a mão e desistindo de mexer na câmera. – Só te perdoo porque tô feliz por você!

Natalie parou de rir quando sentiu o celular vibrar em seu bolso:

“H. sent an image”

Desbloqueou a tela e foi direto para as mensagens. Quase caiu para trás.

— Anna, me acode aqui que eu não tô nada bem. – ela puxou o ar com força umas duas vezes seguidas e Anna veio correndo para perto dela.

— Que foi? Você tá bem? Não vai me ter um piripaque justo agora, Natalie! – Anna segurou a amiga pelos ombros, mas esta continuava a olhar para a tela do celular.

— Olha isso, pelo amor de Deus! – ela chamou a amiga de novo e Anna veio para o lado dela para também poder olhar o celular.

Hunter havia acabado de mandar uma foto dele e de Ellijah fazendo careta.

— Socorroooo! – Anna deu vários pulinhos, rindo em seguida.

Natalie respirou fundo e digitou rapidamente:

MEU DEUS!

Mal enviou a mensagem e já digitou outra:

ISSO FOI TIPO, AGORA???

Não satisfeita, acionou a câmera frontal de seu iPhone e fez uma expressão surpresa para tirar a foto. Apertou o botão “send”. Ficou encarando o visor do celular com o coração a mil. Não demorou nem um minuto para que o aparelho vibrasse duas vezes seguidas:

H.

Não morra ainda.

H.

Estamos a caminho.

**

Hunter colocou o celular no console de sua Range Rover preta assim que o sinal abriu e voltou dirigir. O castanho possuía dois carros, já que só cabiam duas pessoas no Audi R8. Deu uma risada fraca, como se ainda estivesse lendo as mensagens de Natalie. Ellijah puxou o iPod que estava plugado no rádio para mudar de música de novo.

— Então vamos recapitular aqui... – o ruivo começou enquanto esticava os pés no espaço destinado ao banco do passageiro, onde estava sentado. – Você tá apaixonado.

Fuck you, Scott. – Hunter deu risada enquanto levantou o dedo do meio para o amigo.

— É a única explicação para Hunter Saxton estar acordado às sete e meia da manhã de uma sexta-feira a caminho de uma universidade para ajudar uma garota, que vale à pena frisar, você não comeu porque ela te deu um fora. – o ruivo o provocou, gargalhando em seguida.

— Ok, eu nem sei por que eu ainda conto as coisas pra você. Escroto. – o castanho riu de volta, balançando a cabeça em negativa. – “Apaixonado” é uma palavra muito forte.

Ellijah estreitou os pequenos olhos azuis, incrédulo com a audácia do amigo, e cruzou os braços.

— Ah, fuck you, Saxton! Você me desculpe... Mas eu nunca te vi tão vidrado em uma garota como você tá nela. E pra deixar claro, eu só aceitei acordar cedo assim porque foi realmente uma surpresa essa história. Eu fiquei louco pra conhecer a garota que descobriu o coração do meu amigo. – ele brincou enquanto apertava o botão da porta, abrindo e fechando o vidro do carro. – De uma coisa eu já tenho certeza. Pela foto, ela parece bonita.

— Ela é bonita. Já me viu ficar a fim de mulher feia? – Hunter o olhou de canto e viu Ellijah lhe lançar um olhar sugestivo. – Tá bom, não responda.

— Só acho que você tá dando bola fora, mate. – Ellijah coçou o olho.

— Hm?

— Eu vi as últimas capas que você estampou. Com duas minas diferentes. E nenhuma delas parecia com a Natalie. – ele fez questão de comentar, olhando diretamente para o castanho.

— Ah, elas não foram nada demais, sério.

— Só tô avisando...