Deep Six - Novos Horizontes

Capítulo XXXII - Scott vs. Atlas


Scott entendia que era sua responsabilidade ser um líder para o seu povo durante a ausência de seu pai, e que, no futuro, ele deveria assumir o título de Rei de Atlantis. Isso não tornava governar menos chato aos olhos dele. Tinha tanto para fazer e resolver que não tinha um segundo de paz para visitar a superfície e ver seus amigos. Além disso, precisava lidar com certas pessoas que afirmavam que ele seria um Rei muito melhor do que Arthur por ser um verdadeiro Atlante. Precisava de toda a paciência do mundo para não mandar essas pessoas à merda.

Em sua opinião, ser um adulto responsável era uma droga. Mas, pelo menos, tinha poder o suficiente para fazer algo sobre a possível invasão de Apokolips. Os anciãos não estavam felizes em ter que ajudar o povo da superfície, porém não podiam negar que, caso uma invasão realmente ocorresse, Atlantis seria tão afetada quanto o resto da Terra. Ele também ficou surpreso com o número de generais que apoiava seu plano, possivelmente mais familiarizados com a superfície por causa dos anos trabalhando ao lado de Arthur.

Uma pessoa, no entanto, estava acabando com sua calma nos últimos meses. Assim que entrou na sala de reuniões e viu Atlas de pé ao lado da mesa, soltou um leve grunhido de irritação.

— Você pode tentar não ser desagradável hoje? — ele fez questão de ficar o mais longe possível do general.

— É ótimo saber que o nosso Rei ainda não amadureceu o suficiente para falar e agir como um adulto — Atlas retrucou, sem tom de humor em sua voz. — Mas é bom que tenha chegado cedo, para variar. Quero expressar minha opinião sobre o seu plano.

Scott deu uma leve risada sem humor, sabendo bem qual era a opinião do outro e não tendo o menor interesse em ouvi-la. Infelizmente, em sua posição, não podia se dar ao luxo de só ignorar um dos seus generais.

— Por favor, me ilumine com a sua sabedoria — precisou resistir à vontade de revirar os olhos.

— Sua ideia é, colocando em palavras simples para que possa entender, ridícula e desnecessária.

— Quem era o imaturo mesmo? — ele ironizou antes que Atlas pudesse continuar.

— Temos um exército grandioso para a proteção do nosso povo, e você pretende colocá-los em risco para proteger a superfície, que até hoje só tentou explorar Atlantis! — ele deu a volta na grande mesa no centro da sala, ficando mais próximo de Scott a cada palavra. — Se não começar a priorizar o seu povo, vai ter um reinado tão medíocre quanto o do seu pai.

Scott estava apoiado em seu tridente dourado, apenas ouvindo as reclamações como se as palavras entrassem por um ouvido e saíssem pelo outro. Ele agora estava frente a frente com o outro atlante, que era mais alto alguns centímetros, porém isso não o intimidava nem um pouco.

— Sabe qual é a melhor parte de ouvir você surtar assim? É que eu sei que isso não tem nada a ver com minha escolha de ajudar a superfície — Scott deu um leve sorriso. — Você só está putinho porque autorizei a Malik a ser a nova embaixadora de Atlantis, e ela terminou esse noivado arranjado no segundo em que teve a oportunidade de sair daqui.

Aquilo pareceu tê-lo irritado o suficiente, pois Atlas avançou mais um passo e segurou o Rei pela armadura.

— Você a forçou a fazer isso!

— Só aceita a rejeição, cara, não é tão difícil. Ela não te quer — Scott deu dois tapinhas no ombro do outro, ainda debochado.

— Talvez eu deva fazer uma visita a ela e resolver isso pessoalmente.

Todo o clima mudou com o comentário, porque Scott sabia que não se tratava de uma ameaça vazia. Com um simples movimento, bateu seu tridente no chão e uma onda de poder emanou dele, afastando não só Atlas, mas jogando a grande mesa da sala de reuniões contra a parede mais próxima.

— Não estou gostando da sua atitude, General — ele estava bem sério agora, ainda se apoiando em seu tridente. — É melhor nem tentar chegar perto dela.

— Ou o quê? — Atlas já estava de pé, com uma das mãos no cabo de sua espada de energia.

A porta da sala de reuniões se abriu e Mera entrou, seguida de alguns guardas e outros generais, possivelmente tendo ouvido a comoção. Ela fez sinal para todos pararem antes que pudessem intervir.

— Você não quer fazer isso, Atlas — ele alertou, porém a única resposta que recebeu foi foi o som da espada sendo desembainhada.

Scott precisou usar a base do tridente para parar o golpe desferido em direção ao seu peito. Com um aperto firme na arma, emitiu outro pulso de energia mágica dela, dessa vez forte o suficiente para fazer Atlas atravessar a janela da sala e a barreira mágica separando o Palácio do oceano. O Rei também a atravessou, agora completamente submerso.

Ele sentiu o golpe antes de ver seu oponente se aproximar a uma velocidade fora do normal até para um Atlante. A lâmina de energia deixou para trás um corte cauterizado desde o dorso do seu nariz até a parte inferior da sua bochecha esquerda, errando seu olho por pouco. A dor foi insuportável ao ponto de ele sentir seu rosto queimar, porém conseguiu se concentrar o suficiente para bloquear o próximo golpe, mirado em seu peito. Scott defendeu mais duas investidas do outro antes de girar seu tridente e moldar a água ao seu redor para fazer uma barreira praticamente impenetrável.

— É sua última chance! — ele disse telepaticamente.

— Não vou servir a um Rei indigno e patético como você!

Scott precisou resistir à vontade de suspirar, pois não havia ar ali, e apenas desfez sua barreira. Seu rosto ainda queimava e seu coração estava acelerado por conta da adrenalina da batalha, sabia que não poderia pegar leve com ele agora, não quando diversos olhos estavam naquela luta.

— Que seja — os olhos do Atlante assumiram um brilho azulado e ele segurou seu tridente com ambas as mãos.

Usar sua magia ficava bem mais fácil quando a canalizava pelo tridente, além de ficar bem mais poderosa também. Ele a usou para potencializar o raio de energia que acertou Atlas bem no meio do peito, o fazendo se afastar um pouco mais do Palácio, e rapidamente continuou, puxando correntezas e movendo o oceano à sua vontade.

Envolveu seu oponente em um turbilhão de água tão forte que ele não conseguiria sair, mesmo usando sua magia para isso. Resolveu deixá-lo preso ali por alguns segundos, observando seus arredores e percebendo que a maioria dos Atlantes havia se afastado dos arredores, percebendo a luta. Scott, então, girou seu tridente e arremessou a esfera de água que prendia Atlas com toda a sua força contra o chão de pedra, ainda mantendo a concentração na prisão.

Aos poucos, começou a remover a água na parte de dentro da esfera, deixando-a cheia de ar a parecendo pegar seu oponente desprevenido, pois ele tossiu e engasgou antes de se acostumar com o ambiente. Scott entrou na esfera, nem um pouco afetado pela mudança, e rapidamente acertou um golpe com o cabo do tridente nas costas de Atlas, o fazendo cair antes que pudesse se erguer completamente.

O Rei o virou usando o pé e apontou as três pontas da arma em direção ao peito de Atlas. O ódio do outro estava claro em seu rosto, sabendo que um movimento acabaria com ele. Se Scott não estivesse com tanta raiva, acharia a cena engraçada.

— Eu sou o Rei de Atlantis e eu comando respeito! Dei a chance de aprender o seu lugar, mas você escolheu a humilhação — ele gritou, assim como transmitiu a mensagem telepaticamente para todos na cidade ouvirem.

— Você vai se arrepender disso — Atlas vociferou, sua voz tremendo em fúria.

— Eu já assisti filmes o suficiente pra saber que eu deveria te matar agora, mas eu não quero fazer isso — Scott olhou fundo nos olhos dele, seriamente. — Estou removendo o seu título e posição de General. Você será exilado de Atlantis e nunca mais poderá colocar os pés na cidade. No entanto, caso tente causar problemas na superfície, vou atrás de você e vou terminar isso, mesmo que eu não queira o seu sangue nas minhas mãos.

Scott afastou seu tridente e desfez a esfera, deixando ambos cercados por água novamente. Atlas só conseguiu boiar por alguns segundos antes de algemas mágicas aparecerem ao redor de seus pulsos e calcanhares.

— Os guardas vão escoltá-lo para fora — o Rei apenas deu as costas para ele, mandando a mesma mensagem telepática para os guardas, que não demoraram a chegar.

Conforme se aproximava do Palácio, sentia a adrenalina diminuir e a dor em seu rosto aumentar consideravelmente. Mesmo assim, manteve a postura, como se não tivesse sido afetado pelo golpe. Quando passou por sua mãe, que observou a cena, viu que ela tinha um leve sorriso orgulhoso no rosto.

— Por favor, não comenta… — ele disse com um grunhido de dor quando finalmente entrou.

— Vamos cuidar disso — as mãos de Mera se iluminaram e ela as aproximou do rosto do filho, ajudando a diminuir a ferida.

Scott ficou em silêncio até ela terminar, então esperou até que os outros generais deixassem a sala e se voltou para a ruiva.

— Acha que tomei a decisão certa?

— Só o tempo vai dizer, mas é um fato que você não pode ter inimigos no seu círculo de confiança quando tanto está em risco — Mera acariciou o rosto do filho. — Eu sempre soube que você seria um ótimo Rei, minha opinião não mudou.

Ele deu um sorriso, balançando a cabeça em sinal negativo e dando um beijo na mão dela em seu rosto.

— Espero que o Stormwatch resolva essa situação o quanto antes, quero ver a cara do meu pai quando souber que fui um Rei decente — ele brincou, mas podia sentir o peso de suas próprias palavras.

Ele só podia ter certeza disso quando tivesse certeza de que Atlantis e o mundo estavam seguros. Até lá, continuaria tentando.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.