Capítulo XXVII - Deep Six

Eles foram teleportados para a Metro Torre depois de colocarem os vilões que restaram na cadeia. O Sol já estava nascendo e a sala de justiça parecia mais uma enfermaria gigante a essas alturas. Muitos heróis estavam gravemente feridos, outros tinham machucados leves e ajudavam a cuidar de seus parceiros de equipe.

Greg e Cassandra ajudaram Tony a chegar em uma maca e colocaram o moreno ali.

— Tira essa máscara, seu doente! — Cassy mandou, vendo que ele havia perdido muito sangue.

— Não — ele respondeu, simplesmente.

— Seu pescoço tá branco, eu preciso ver como seu rosto está!

— Chama um médico de verdade, por favor — insistiu, vendo-a bufar e sair batendo o pé.

Damian carregou Yuki até uma maca ao lado da do detetive sem rosto e a deitou ali com cuidado.

— Tony, como você está? — a oriental perguntou, com um sorriso.

— Provavelmente vou morrer por perda de sangue ou choque, mas fora isso tô numa boa — ele ergueu um polegar, fazendo um sinal positivo para ela. — E você?

— Vou ficar com uma marca de queimadura pelo resto da minha vida, mas tô feliz por termos conseguido.

Todos correram para falar com seus pais, contando tudo o que havia acontecido e deixando a maioria deles de queixo caído.

Grace apareceu pelo teletransporte e andou até onde seus amigos estavam.

— Grace! Minha Nossa, estávamos preocupados — Kate correu até a loira e a abraçou com força.

— Uau, calma, eu sou dura na queda, aquele Zeus não conseguiria me derrubar — ela sorriu.

— Por que não veio correndo? — Scott perguntou, também abraçando a loira.

"Porque não quero sumir de novo!" — Pensou, mas não disse isso.

— Fiquei cansada, ainda bem que consegui falar com o Senhor Incrível para ele me trazer aqui, ou teria ficado presa em Gotham.

— Damian — todos se viraram quando Melissa chamou o moreno e depois entrou em uma sala privada.

Ele a seguiu e Grace encarou os dois com uma expressão confusa.

— Sabemos tanto quanto você — Apolo deu dois tapinhas nas costas da amiga.

§

— Espera um pouco, quer dizer que a Mel e o Damian não são gêmeos?! — Cassandra quase gritou. — Isso é impossível.

— Eles nasceram no mesmo dia e são filhos do mesmo pai e mãe, porém não passaram nove meses em um útero juntos — Talia explicou.

— Como assim? — Selina sentou-se sobre a mesa da sala de reuniões e cruzou as pernas.

— Os dois foram feitos de forma não natural em uma máquina. Depois de ser fecundada pelo seu marido, coloquei meu óvulo na máquina que gerou o Damian, mas eu quis ter um plano B, caso ele não desse certo, então fiz a Melissa também. Usei um pouco de lavagem cerebral neles para seu instinto assassino fluir e para que se tornassem assassinos por natureza.

— Agora vejo o quanto realmente me ama, mamãe — Melissa ironizou.

— Você é só um clone do Damian, vale tanto para mim quanto um saco de terra no oceano.

— Ok, agora chega — Selina se levantou e andou na direção de Talia. — Pode falar o que quiser para mim, mas se falar com ela dessa forma novamente, vou te mostrar o quanto minhas garras são afiadas.

— Não falo com vadias — Talia retrucou.

— Selina — Bruce colocou a mão no ombro da esposa, guiando-a para longe da Al Ghul. — Por que nunca me contou sobre o Damian?

— Porque meu plano era exatamente o de você levar a Melissa para que no futuro ela pudesse me ajudar a derrubar sua preciosa cidade e o resto desse país.

— Só não contava com o fato de que a minha maninha é boa demais para ser uma vilã — Cassandra sorriu.

— O que o meu pai fez foi errado, e minha família e amigos terem escondido parte da minha vida de mim foi muito errado, mas precisa saber que a raiva que eu senti, não superava o amor que sinto por eles. Eu nunca os trairia dessa forma e só o fiz porque precisava te deter — Melissa disse, encarando sua mãe. — Agora sei que tudo o que meu pai fez foi para me proteger de você, porque você é uma maluca assassina!

— Olha como fala comigo! — Talia vociferou.

— Ela pode falar do jeito que quiser — Selina voltou para a conversa.

— Não se intrometa, vadia! — a Al Ghul gritou.

— A única vadia aqui é você! — Mel retrucou. — Eu sei o que fez com o meu pai, praticamente obrigou ele a dormir com você e ainda escondeu por cinco anos que tinha dois filhos com ele. A Selina foi mais mãe para mim do que você jamais será, então para de falar com a minha mãe assim.

Talia pareceu pasma com as palavras da filha e ficou em silêncio por longos segundos.

— Você vai se arrepender disso. Vocês todos vão! — Talia olhou para Bruce, que permaneceu calado. — Damian, vamos embora.

O moreno permaneceu no lugar, encarando a mãe com uma expressão neutra em seu rosto.

— Damian! — ela gritou, irritada.

— Nenhum dos dois vai voltar para Nanda Parbat com você, Talia — Bruce disse.

— Você não pode tirar o meu filho de mim, Bruce, não fez parte da vida dele por vinte e um anos — a vilã deu uma risada cínica.

— Você tem duas escolhas: Ou fica no Arkham, onde poderá receber a visita dos dois de vez em quando, ou volta para seu país e nunca mais chega perto deles — o Wayne respondeu, seus olhos fixos na mulher a sua frente, mostrando nada além de ódio e irritação. — Já causou muitos problemas, e me sinto um idiota por não ter acabado com isso tudo antes. Se eu vir você na minha cidade de novo, não vou hesitar em te colocar na prisão. Não me importo que seja a nova líder da Liga dos Assassinos, ou quem seu pai foi.

— E eu ainda acho a prisão muita folga. Se voltar aqui e eu te encontrar, arranco seus olhinhos da sua cara — Selina disse e em seguida deu um sorriso amigável.

Talia olhou para Damian e então para Melissa, os dois pareciam imparciais quanto suas decisões.

— Você sabe as consequências dessa escolha não sabe, Damian? — ela o viu assentir. — E ainda assim quer ficar?

— Estou disposto a correr o risco, e tenho certeza que a Mel também — o jovem respondeu.

A Al Ghul virou as costas para eles e deixou a sala, seus passos pesados e cheios de raiva.

— Vamos deixar ela ir? — Cassy olhou para a porta e depois para seus pais.

— Nunca provaríamos que ela tem algo a ver com tudo isso, então não podemos colocá-la na cadeia ainda — Melissa explicou.

— Entendi. E sobre o que ela tava falando? Que consequências são essas?

— Nada com que vocês precisem se preocupar — Damian afirmou.

— Bom, acho que temos um novo membro da família! — Selina se aproximou do moreno e lhe deu um abraço, que ele retribuiu com hesitação. — Bem-vindo, Damian Wayne!

— Irmão novo! — Cassandra também o abraçou. — Agora vamos fazer você pedir desculpas para o pessoal do DS e ver se eles te aceitam! Você também, Mel.

Melissa revirou os olhos enquanto era arrastada por sua irmã para o lado de fora da sala. Os três andaram até onde todos estavam e viram Dorian indo na direção deles.

— Fala, cowboy! — Cassy disse, mas ele passou direto por eles e foi para a saída. Achou estranho e se aproximou de seus colegas. — O que houve com ele?

— Muitos heróis não voltaram da luta contra o Coração Negro, o Vigilante foi um deles — Rusty explicou.

— Ah, que droga... — Cassandra pareceu triste por um segundo. Nem imaginava o que sentiria se perdesse seus pais. — Alguém devia ir falar com ele.

— Ele prefere ficar sozinho — Natasha disse.

Apolo viu Melissa se aproximar atrás da irmã e andou até ela, lhe dando um abraço que a fez até sair do chão. A morena ficou surpresa, mas abraçou o namorado com a mesma vontade, abrindo os olhos para ver todos os seus amigos olhando para ela com uma expressão de dúvida. Sem sair do abraço, Melissa apontou na direção de Tony, que estava de pé ao lado de Miles com o braço enfaixado.

— Ah, sim, isso tudo foi minha culpa — o detetive disse, coçando a nuca.

— O quê?! — Cassy andou até ele e deu um soco em seu braço machucado, fazendo-o soltar uma exclamação de dor. — Seu psicopata! Como assim foi culpa sua?

— Depois que a Mel foi "resgatada" por vocês, ela me procurou para contar tudo o que havia descoberto. Eu apanhei um pouco por ter escondido tudo aquilo dela, acho que toda a raiva foi descontada em mim, na verdade — Tony explicou, tendo a atenção de todos os heróis agora. — Ela disse que precisávamos acabar com os planos deles logo, mas eu tive uma ideia melhor. Se ela se mostrasse de confiança, poderia nos fornecer informações que não sabíamos e ainda poderíamos destruir eles por dentro.

— E por que não nos contaram? — Grace perguntou.

— A Mel quis contar, só que eu não deixei. A atuação de vocês não é muito boa e precisava parecer que ela estava mesmo do lado dos vilões — Tony deu de ombros e isso só o fez receber outro soco dado por Cassy. — Tá eu mereço isso, mas o plano deu certo, não deu?

— Certo até demais — Kate comentou, olhando para Melissa, que agora já havia se separado de Apolo. — Pode ter voltado para o nosso lado e estar na nossa equipe, mas destruiu a confiança que eu tinha em você. Agora somos colegas de equipe, não amigas.

A morena sentiu-se péssima ao ouvir isso, porém sabia que a loira tinha razão de estar com raiva.

— Não espero que confiem em mim como antes, e também não vou me desculpar porque foi tudo culpa do Bertinelli, mas quero que saibam que eu fiz isso para o bem de todo mundo — ela olhou para Kevin, que tinha um leve sorriso no canto dos lábios.

— Tenho que dizer, bom trabalho para vocês dois. Só que se da próxima vez fizerem isso, vou deixar a Zoe transformá-los em lesmas por tempo indeterminado.

— E eu quero muito isso — Zoe sorriu.

— O Miles já colocou chifres em você ou é impressão minha? — Mel retrucou, vendo a maga bufar de raiva e parecer pensar em centenas de maneiras de matá-la.

— Ai, que lindo! Estamos completos de novo! — Grace gritou e abraçou o máximo de pessoas que conseguiu. — Podemos começar fazendo uma nova base, maior dessa vez, com vários andares, piscina, área de treinamento, lazer, com quartos também, porque eu quero tipo um escritório só meu para eu guardar meus doces, uma cozinha...

A velocista continuou a listar centenas de coisas, tão rápido que todos mal podiam acompanhar.

— Pessoal! — todos se viraram para Cassandra. — O Damian quer dizer uma coisa — ela sorriu e cutucou o irmão com o cotovelo. O moreno suspirou e tentou dizer o que a mais nova havia lhe dito sem soar como um idiota.

— Me desculpem por tentar matar vocês e por ser um vilão, prometo não fazer isso de novo — ele olhou para Cassy, que fez um sinal positivo com ambos os dedões.

— Por que eu não acredito nisso? — Tony murmurou e Cassandra ergueu o punho fechado na direção dele.

— Cala a boca que você não pode falar nada, mentiroso de uma figa! — ele se esquivou para não ganhar outro golpe e ficou atrás de Greg.

— Acho que vai ser ótimo ter alguém como ele do nosso lado — Joe disse, sorrindo.

— Pois é, sermos seus inimigos não tava sendo muito produtivo — Scott riu. — Qualquer um que ganha do Apolo nas espadas me dá medo.

— Então o Damian tá na equipe? — Yuki abriu um enorme sorriso e segurou o braço do Wayne, que conseguiu retribuir o sorriso dela.

— Vamos precisar de ajuda para impedir que aqueles meta-humanos criminosos saiam por aí destruindo tudo, a ajuda dele será apreciada — Kevin disse estendendo a mão na direção de Damian, que a apertou. — Bem-vindo ao Deep Six.

— Gente, a Liga toda veio me agradecer por salvar eles, foi tão incrível! — Ethan correu para perto dos heróis. — Será que vão fazer uma estátua de mim ou... — ele congelou ao ver Damian parado ao seu lado.

— Você é o cara que quebrou a minha criptografia? — Damian perguntou, sério.

— Depende... Vai me matar por isso? — o moreno riu, nervosamente.

— Queria que me mostrasse como fez.

— Como é? — Ethan olhou confuso para o mais alto e para seus amigos.

— Não posso deixar acontecer de novo, não acha? Queria saber como não deixar ninguém quebrar essa criptografia — Damian deu um leve sorriso para Ethan.

— Ok... Tudo bem... Por um segundo achei que eu já era — ele soltou o ar que havia prendido.

— Podemos ir no McDonald agora? Tô morrendo de fome! — Grace gritou e pulou nas costas de Scott, querendo que ele a carregasse como quase sempre fazia.

— Damian nunca comeu no McDonald — Melissa comentou, sorrindo para o irmão.

— O quê?! Não, chega isso é demais! Aquela mulher te torturava se você nunca comeu lá — Grace apontou na direção do moreno. — Você só sabe o que é vida depois de comer um Big Mac!

— Verdade — Miles assentiu com a cabeça. — O que estamos esperando?

Assim que chegaram ao fast-food, surpreenderam a todos os atendentes por estarem usando seus uniformes e por Zoe e Natasha não terem exatamente pessoas normais. Eles sabiam que logo precisariam voltar a serem heróis, então aproveitaram o máximo de tempo para serem apenas amigos saindo juntos.