Deep Six

Capítulo XIV - Algo parecido com um plano


Nenhum deles teve muito tempo para perceber o que havia acontecido. Em um segundo estavam no barco e no outro haviam sido jogados para dentro de um container de metal e estavam voando pelos ares. A primeira coisa que Apolo sentiu foi Grace caindo bem em cima de si e seu rosto sendo imprensada contra a parede de metal.

— Mas que porcaria está acontecendo?! — Batgirl gritou e logo tudo voltou a se mover, levando todos a baterem no teto.

— Apolo, você é o único aqui dentro que voa! — Speedy gritou e, sem demora, o herói segurou o teto com as duas mãos e começou a voar, fazendo o container parar de cair e todos voltarem para o chão do mesmo com um estrondo alto.

— Tá todo mundo bem? — Yuki pergunta, ouvindo alguns gemidos de dor, não só de Canário e Batgirl e Scott, mas também dos reféns.

— Isso! Salvei o dia de novo — Grace comemorou com um sorriso no rosto.

Quando Apolo se preparou para descer, algo segurou o container bruscamente e de um segundo para outro, eles começaram a ser puxados para baixo por uma força que nem o herói conseguia impedir. Quando as portas foram abertas por uma mão azul gigante, um Superman nada contente os esperava do lado de fora, assim como Joe e Natasha.

— Alguém quer me explicar o que significa isso? — Kal-El olhou para cada um individualmente e Grace se encolheu atrás de Melissa.

— Estamos ferrados agora — Scott disse e se levantou, saindo junto com os outros.

O som das sirenes de polícia e dos caminhões de bombeiros começou a encher a noite rapidamente e todos iam na direção do que havia restado do navio em chamas. No minuto seguinte, Flash apareceu ao lado de Superman, o que só fez Speedy dar um gritinho apavorado e tentar correr, mas caiu no chão por conta dos ferimentos em suas pernas.

— O que aconteceu? — Barry se colocou ao lado da filha rapidamente.

— Vamos explicar tudinho quando encontrarmos uma desculpa aceitável e que não nos renda um longo castigo — Grace respondeu e viu seu pai a repreender com o olhar.

— Onde está o Kevin? — Superman perguntou e só naquele momento os heróis perceberam que ele não estava lá.

— Quem vocês acham que jogou o container pra fora do barco? — a velocista respondeu, tranquilamente. Todos pareceram espantados com a afirmação. — Relaxa, ele é filho do Super, vai aguentar uma bomba dessas.

— Ele é metade humano, Grace! — Kate grita, não escondendo o desespero em sua voz.

— Flash — Superman olhou para o amigo, que rapidamente correu até onde o navio ainda pegava fogo. O kryptoniano logo foi atrás dele e deixou a equipe com Natasha e Joe.

— Acho que não pode piorar — Apolo comenta.

— Claro que pode. Vocês não sabem como estão ferrados — Natasha faz questão de respondê-lo. — Senhor Incrível, manda o Deep Six e a gente para a Metro Torre, por favor — ela diz pelo comunicador.

— Meu jato está aqui, não preciso da... — antes que Batgirl pudesse terminar, uma luz azul cobriu seu corpo e ela, assim como os outros, apareceram no meio do hall da Metro Torre.

Alguns heróis da Liga como Fogo, Nuclear, Senhor Incrível e Zatanna podiam ser vistos andando por lá, mas o local estava praticamente vazio. Apolo foi o primeiro a ver Dinah e sua mãe vindo na direção deles e percebeu por suas expressões de que não receberiam elogios.

— Tem ideia do que fizeram hoje? — Mulher-Maravilha cruzou os braços e encarou os heróis.

— Com certeza não explodimos aquele navio, porque foi a... — antes que Scott terminasse, Dinah o interrompeu.

— Vocês não explodiram só um navio, mas boa parte do porto também, junto com alguns prédios da área.

— A Duela tinha mais bombas que o previsto então — Batgirl sussurrou.

— Fazem alguma ideia de como isso é sério? — Diana levanta a voz. — Pessoas estão em perigo, não sabemos se houveram mortes. O que estavam fazendo lá?

— Estávamos tentando fazer o que a Liga não faz, que é impedir que esse soro continue nas ruas — Melissa respondeu, porém foi Grace quem prendeu a respiração em nervosismo. Só ela mesmo para responder a Mulher-Maravilha daquela forma, qualquer outro teria baixado a cabeça e se encolhido em um canto.

— A Liga tem coisas mais importantes com que se preocupar, o que não nos dá tempo para ficarmos de olho em vocês como se fossem bebês — Dinah completa. — Se o Senhor Incrível não estivesse monitorando as cidades, não teríamos visto a explosão e não conseguiríamos mandar ajuda a tempo.

— Tínhamos tudo sob controle, mãe — Kate diz.

— Não foi o que nos pareceu daqui! — Canário Negro também levantou a voz, fazendo a filha desviar o olhar. — Quem é essa?

A loira apontou na direção de Yuki, que estava tão apavorada com a bronca quanto os outros. A oriental permaneceu calada e acenou levemente com a mão, engolindo seco ao receber um olhar de poucos amigos da heroína.

— Yuki Yamashiro, Filha da Katana — Apolo respondeu.

— Não sabia que a Tatsu tinha uma filha — Zatanna diz enquanto se aproxima deles. — Qual é, pessoal, não foi tão sério, eles só estavam tentando ajudar — os defendeu, tentando acalmar as duas estressadas.

— E ainda não terminamos porque quem fez isso fugiu! — Batgirl indagou, irritada por estarem perdendo tempo ali.

— Vamos atrás deles assim que eu consertar minhas pernas — Speedy mancou até a cadeira mais próxima e se sentou nela, esperando seus ferimentos se curarem. — Vai levar só alguns minutinhos.

— Vocês não vão a lugar algum! — Dinah advertiu. — Estão de castigo na Metro Torre até que toda a Liga esteja aqui, assim podemos decidir qual vai ser a punição de vocês.

— Castigo? Sou maior de idade! Você não pode me obrigar a... — Kate parou de falar ao ver o olhar furioso de sua mãe e se sentou na cadeira mais próxima. — Você é quem manda.

— Eu já tava sentada — Grace ergueu as mãos, se defendendo.

— Isso não é brincadeira, precisamos mesmo achar esses malucos! —Melissa cruzou os braços e Diana a respondeu.

— Podemos cuidar disso, agora vocês vão ficar aqui. Já que querem agir como crianças irresponsáveis, os trataremos como tais — a amazona lançou um olhar de desaprovação para o filho e seguiu para o teletransporte quando uma luz azul se acendeu e Flash e Superman chegaram.

Kate se levantou rapidamente e correu até o kryptoniano, que tinha um Kevin desmaiado nos braços.

— Ele vai ficar bem — Flash assegurou, acalmando a loira e a impedido de se colocar no caminho de Clark para ele poder chegar a ala médica rápido. — O garoto é doido, mas corajoso.

— Barry, chame o Lanterna e o Batman, precisamos ter uma conversinha sobre nossos filhos — Canário Negro diz, carrancuda. — Vou ligar para o Arqueiro vir também.

— Não acha que estão exagerando? — Zatanna interfere mais uma vez. — Esse soro está mesmo causando problemas. Se deixássemos eles explicarem, talvez pudéssemos ajudar a pegar os responsáveis.

— Zee, eles não tiveram nem permissão de criar essa equipe — Dinah a lembra. — Ainda são muito novos para entenderem como é difícil assumir uma responsabilidade dessas, precisam de mais treinamento, mais disciplina e...

— Pais que tenham mais fé em nós — Kate termina, recebendo olhares surpresos dos quatro. — Não somos mais crianças. Cometemos erros que vocês mesmos cometeram quando tinham a nossa idade, então tentem ver pelo nosso lado e parem de ser tão críticos sobre tudo!

A loira suspirou e umedeceu os lábios, tentando não olhar para sua mãe. Com passos largos, ela se dirigiu até a ala médica para ver como Kevin estava. Diana trocou olhares com Dinah e foi para a sala de reuniões sem dizer uma palavra.

— Vá chamar o Lanterna e o Batman — Canário Negro disse para Flash e o velocista assentiu, correndo até os controles principais.

— É, Yuki, escolhemos uma péssima hora para te apresentar a Liga da Justiça — Grace diz, colocando a mão sobre o ombro da oriental.

— Uau, nunca senti tanto medo na minha vida — ela deu um meio sorriso. — É divertido sair com vocês.

— Kevin foi mesmo muito esperto por colocar todos no container — Joe fez uma observação.

— Muito burro também. Podia ter voado para longe antes da explosão, pra isso serve a super velocidade — Natasha acrescentou.

— Pois é. Vamos ver se esse imbecil tá vivo, se estiver eu vou matá-lo — a morena odiava quando ele bancava o herói dessa forma, se arriscando para salvar os outros. Ela sabia que era isso o que heróis faziam, mas se preocupava com o amigo e detestava pensar que ele poderia se ferir gravemente.

Melissa faz o mesmo caminho de Kate até a enfermaria e os outros a seguem. Scott se abaixa um pouco e Grace sobe em suas costas, só assim para ela se locomover, pois suas penas ainda não haviam se curado totalmente. Quando chegaram a sala grande e cheia de equipamentos modernos, viram o jovem deitado em uma maca com uma máscara de oxigênio no rosto. Superman conversava com um médico enquanto Kate estava sentada ao lado de Kevin e segurava sua mão.

— Não ouse interromper esse momento fofo — Grace sussurrou para Melissa, que revirou os olhos e se aproximou deles.

— Como ele está? — perguntou para a loira.

— Não sofreu queimaduras, mas ficou debaixo d'água por muito tempo, vai demorar um pouco para acordar.

— Ótimo, vou ficar esperando porque quero bater na cabeça dele com uma cadeira quando acordar.

— Por que acha que estou aqui? É pra bater nele e não deixá-lo fugir quando acordar — Kate deu uma risada e Mel sorriu.

— O que estavam fazendo na Metro Torre? — Scott perguntou a Natasha, deixando Grace na maca vazia mais próxima.

— Joe ficou entediado e me arrastou para cá na tentativa de encontrar uma missão — ela lançou um olhar de desdém para o atlante. — Agora provavelmente vão nos chamar para limpar a bagunça de vocês.

— Se não tinham nada para fazer podiam ter nos ajudado! — Batgirl reclamou, se virando para os dois.

— Não nos deu um comunicador tipo o dos Titãs para entrarmos em contato, nem o Senhor Incrível conseguiu encontrar vocês — Joe se defende.

— A Mel disse para cortarmos contato com a Liga para eles não encherem nosso saco — Apolo repetiu as palavras da namorada.

— Falei que precisamos daqueles aparelhos que brilham quando precisarmos de ajuda, você não me ouviu — Grace resmungou, balançando as pernas conforme sentia seus ferimentos se fechando.

— Vou cuidar disso — Batgirl respondeu secamente.

Superman terminou de falar com o doutor e saiu rapidamente quando Canário Negro o chamou. Os heróis sabiam que o pessoal da Liga iria começar a reunião para decidir o que fariam com eles, e não seria coisa boa. Quando as portas automáticas se abriram novamente, uma figura com uma jaqueta jeans e blusa preta entrou na sala. A pele falsa cobrindo seu rosto já anunciando sua identidade por si só.

— Estão mesmo de castigo? — Tony perguntou, dando uma risada.

— O que faz aqui, Bertinelli? — Melissa não tirou os olhos de Kevin, mas reconheceu a voz atrás de si.

— Depois que o Questão morreu, fiquei encarregado de organizar os registros da Liga. Sou um membro não oficial — o detetive se aproximou da maca de Kevin e inclinou levemente a cabeça para o lado. — Seu namorado?

A morena apenas apontou para Kate, que olhou surpresa para ela e deu um tapa em sua mão.

— Quem é o cara sem rosto? — Natasha perguntou. Como sempre a thanagariana não confiava em ninguém que fosse estranho para ela, e ele era bastante estranho.

— Tony Bertinelli — se apresentou, olhando para todos na sala. — Já sei quem são.

— Claro que sabe — Melissa ironizou, se virando para ele.

— Vejo que encontrou a Yuki — ele andou até a oriental. — Feliz aniversário antes que eu me esqueça.

— Obrigada... — ela pareceu confusa, mas ficou feliz por ouvi-lo dizer aquilo.

— Pera, é seu aniversário? — Grace se pôs de pé e correu até Yuki. — Meu Deus, temos que comemorar! Vamos aproveitar que vamos ser mortos em alguns minutos e comer nosso último bolo de chocolate.

— Aceito o bolo — Scott ergueu a mão e Natasha revirou os olhos. — O quê? Vai dizer que você é boa demais para comer com meros terrestres?

— Não comecem a brigar, formam um casal bonitinho — Yuki comenta, fazendo Grace cair na gargalhada e Natasha sair da sala, irritada. — Falei a verdade.

— Totalmente! — a velocista recuperou o fôlego. — Vem, vamos catar um bolo nesse lugar, precisamos comemorar!

A loira não esperou pela opinião de Yamashiro, apenas a segurou pelo braço e a puxou para fora da enfermaria. Nesse momento, Kevin deu um pulo da maca, removendo a máscara em seu rosto rapidamente e respirando pesadamente.

— Shh, Kev, fica calmo! — Kate colocou as mãos no peito dele e o empurrou para que se deitasse. — Estamos bem, você está bem.

Ele olhou em volta e pareceu finalmente se acalmar, vendo que a heroína estava certa. Seus músculos, porém, ainda estavam tensos e demorou até ele relaxar o bastante para se deitar novamente. Melissa parecia procurar por algo bem pesado para quebrar na cabeça dele, mas ao receber um olhar de Kate como se a loira falasse "Agora não!", a morena sossegou e cruzou os braços.

— Não quero fazer isso de novo — Kevin murmura, fechando os olhos e passando a mão no rosto.

— Peça ajuda na próxima, também posso aguentar uma explosão daquelas — Apolo sorriu e se aproximou do amigo.

— Tive que pensar rápido.

— E pensou logo em nos proteger — Melissa se pôs ao lado do namorado e encarou Kevin com uma falsa antipatia. — Tem que parar de ser altruísta por um minuto, assim a Kate se apaixona por você.

O herói sentiu uma grande quantidade de sangue subir para seu rosto. Se antes ele estava pálido, agora parecia um tomate. A loira, no entanto, não retrucou ou tentou bater em Batgirl, apenas continuou a segurar a mão do amigo e observá-lo com certa preocupação.

— Bertinelli, preciso de um favor — Melissa se virou para o detetive.

— Mais um? Sua lista está crescendo, Wayne — ele zombou, achando graça da forma como ela revirava os olhos e retorcia os lábios quando estava irritada ou sem paciência.

— Duela e os amiguinhos escaparam. E apesar de termos explodido grande parte do soro, ainda existe muito mais espalhados por aí.

— O que quer que eu faça?

— Tentamos conseguir uma amostrado soro para analisarmos melhor em um laboratório, talvez descobrir uma cura para essa coisa...

— Quer que eu consiga para vocês — ele continuou e Mel assentiu. — Tudo bem, mas vou precisar de ajuda.

Antes que ela pudesse se oferecer, o herói apontou na direção de Apolo.

— Do grandão ali, do garoto peixe e do Lanterna Azul — ele diz.

— O quê? Não, eu também quero ajudar!

— Foi mal, já formulei um plano na minha cabeça e você só iria atrapalhar. Não leve para o lado pessoal — Tony deu dois tapinhas no ombro dela e andou até a saída.

— Fez isso só para deixá-la irritada, não foi? — Joe adivinhou e apesar de não poder ver as expressões faciais de Tony, sabia que o moreno estava sorrindo.

— Deixá-la irritada é divertido.

— Por onde começamos? — Apolo perguntou, já preparado para outra briga.

— Rua Lott, 23. Um grupo de traficantes tem escondido uma grande quantidade desse soro lá há semanas.

— E você sabe disso desde quando? — Scott o seguia como os outros para a porta lateral da Torre, não querendo chamar atenção dos seus pais. Eles já estavam enrascados de qualquer jeito, uma fugida não faria mal.

— Desde que chegaram. Um bom detetive sabe a hora de agir, sabia que a Batgirl pediria minha ajuda, mas contava com a ajuda do Kevin. Você vai ter que servir por dois, Apolo — Tony andou até um Pontiac GTO 1967 azul. — Podem entrar.

— Vou voando mesmo — Apolo odiava carros, aviões e qualquer coisa que o deixasse confinado por muito tempo. Tudo isso o deixava extremamente enjoado.

— Não podemos chamar atenção, esquece sua claustrofobia por cinco minutos e entra por favor — Tony abriu a porta do motorista e entrou, deixando o herói sem saber como ele havia descoberto aquilo.

Depois que todos haviam entrado, o detetive começou a dirigir rapidamente pelas ruas, tanto que fez os três se perguntarem se ele planejava não chamar atenção. Tony parou o carro minutos depois e Apolo foi o primeiro a sair, quase arrancando a porta. Sentia-se enjoado por conta do trajeto e da velocidade com que o mascarado correra, mas se recompôs no mesmo instante.

— Façam o que eu mandar e não tentem bancar os heróis lá dentro, sei como tem mania de fazer isso o tempo todo — Tony pegou uma besta de tamanho médio e prendeu em seu cinto. — Quem quer entrar primeiro?