Deep Six

Capítulo XII - A questão


— Duas horas! Fico fora por duas horas e vocês conseguem quase ser mortos! — Grace gritou. — Sério, o que vocês seriam sem mim? Agora além de ser babá do meu irmãozinho vou precisar cuidar de vocês também?!

— Fecha o bico por dois minutos, por favor. Você não parou de reclamar desde que voltamos — Scott mergulhou dentro do tanque de água e sentiu-se muito mais aliviado, tendo o corte em seu peito se curando lentamente pelo contato com a água.

Grace usou sua super velocidade para subir as escadas do tanque e fechar uma escotilha, para depois trancá-la por fora.

— Vai ficar de castigo agora, menino peixe! — a loira deu língua para ele e voltou para onde os outros estavam.

Kevin já havia enfaixado a perna e o braço de Kate, enquanto Melissa terminava de colocar a atadura ao redor do abdômen de Apolo.

— Duela tem um novo amiguinho e ele é bom no que faz — Mel retirou sua máscara, junto com suas luvas. — Vai demorar para encontrá-los.

— Podemos pedir ajuda — Kate sugeriu.

— Vamos ligar para a Katana e ver se ela está disponível — Batgirl se levantou e atravessou a ponte luminosa para o outro lado.

Quando estava prestes a se sentar na cadeira de frente para o computador, sentiu uma mão em seu ombro e se virou, vendo Apolo a encarando com seus olhos claros repletos de preocupação.

— Mel, eu ouvi o que aquele cara falou, ele só queria te deixar irritada e fazer você se sentir vulnerável... Não precisa ter poderes para ser uma ótima heroína.

— Não é sobre os poderes, — ela desviou o olhar por um momento. — Sempre que enfrentamos um maluco desses eu fico mais machucada que vocês. O Scott só precisa entrar na água e você esperar algumas horas para se curar... Eu sou a mais vulnerável, e odeio me sentir inútil quando estou perto de vocês.

— Isso não é verdade! Se não fosse por você querer ajudar as pessoas quando começou a investigar o soro, nós não teríamos impedido tantos desastres e nem nos conhecido — Apolo colocou uma das mãos na cintura dela e a outra em sua bochecha. — Sem contar que é a pessoa mais corajosa que já conheci, então inútil é última coisa que você é.

Melissa deu um meio sorriso e posicionou a mão na nuca dele, puxando-o levemente para mais perto e o beijando. Eles se separaram após alguns segundos e ele segurou a mão dela, a levando de volta para onde os outros estavam.

— Eu conheço um cara que pode nos ajudar — eles ouviram Kate dizer para Kevin. — Mas ele é bem paranoico, então é melhor que apenas eu vá.

— Costumo ser boa em tirar a timidez das pessoas, vou com você caso ele não queira cooperar — Melissa a viu dar um leve sorriso.

— Acredite, ele vai cooperar porque ele adora estar certo, e geralmente está — Kate andou até uma pequena área reservada para eles poderem trocar de roupa. — Ele é um fã seu, Mel.

— Uuhhh, concorrência, Apolo! — Grace provocou, cutucando o braço do moreno com seu cotovelo. — Se ele for gato você vai ficar com ciúmes?

— O que é ciúmes? — o moreno perguntou, tão inocentemente que Kevin quase não segurou o riso.

— O que o Kev sentiu quando viu a Kate dançando com o Scott na festa da Mel — a loira riu quando Kevin ficou um pouco vermelho nas bochechas e começou a tentar falar algo para contradizê-la, porém as palavras não saíam.

— Enquanto tenta sair dessa, nós vamos ir encontrar esse cara — Melissa disse para o amigo, ela e Kate, agora, trajando roupas civis.

— Não vai demorar, ele vive aqui em Gotham — Kate falou e andou até o elevador.

Melissa deu um beijo rápido em Apolo e a seguiu, deixando os quatro na base.

§

Melissa já conhecia cada canto de sua cidade, mas aquele lugar ela realmente nunca havia visto. Um prédio antigo em Downtown de cinco andares, onde só haviam cinco apartamentos ocupados. Kate subiu as escadas até o quarto andar e seguiu pelo corredor, tendo a morena bem atrás de si.

Quando chegaram a uma porta marrom parcialmente descascada, a loira tocou a campainha.

— Entrem! — uma voz masculina gritou do lado de dentro e as heroínas trocaram olhares.

— Disse a ele que estávamos vindo?

— Não que eu me lembre — Kate deu um sorriso de canto.

As duas abriram a porta e entraram no apartamento, percebendo não ter móveis do lado de dentro, mas sim centenas de estantes de metal repletas de arquivos e caixas. Perto da janela havia um computador com dois monitores e algumas câmeras postas em lugares estratégicos das paredes. O chão estava coberto por papéis, porém tudo parecia bem limpo. Na paredes elas viam centenas de fotos, a maioria de pessoas e estavam ligadas as outras por fios vermelhos. Aquilo tudo era uma grande bagunça organizada.

— Wayne, Queen, a que devo a honra? — a mesma voz que elas ouviram antes voltou a falar. As duas olharam para todos os lados na tentativa de vê-lo, mas ele não estava em nenhum lugar visível.

— Não precisa ter medo, ela não morde — Kate disse, se referindo a Melissa.

— Estou bem aqui onde estou, mas obrigado por me fazer sentir mais seguro - ele deu uma leve risada.

— Precisamos de respostas, pode ajudar? — Melissa foi direto ao ponto.

— Já ouviram falar nas canetas BIC? — ele perguntou, do nada, fazendo-a olhar para Kate.

— Quem não ouviu falar dessas canetas? — a loira entrou no jogo e Melissa revirou os olhos.

— Esse é exatamente o meu ponto — elas ouviram o som de passos se aproximando e olharam em volta, mesmo não conseguindo vê-lo. — Algumas pessoas diriam ser uma caneta barata, simples e de fácil acesso, tornou-se "convencional" o seu uso no dia-a-dia, mas não é tão simples.

— O que isso tem a ver com...? — Mel foi cortada por ele.

— Documentos secretos encontrados no final do ano de 2001 indicam um envolvimento direto da NASA com a BIC. Também foram encontrados documentos oficiais da NASA, onde estavam registrados estudos sobre uma possível invasão de sondas que nos inspecionam diariamente, desde nossa infância até hoje, em casa, na escola, na universidade, nos hospitais, no trabalho, em tudo. Certamente vocês estão exposto a uma caneta BIC neste exato momento. Por isso elas são facilmente vendidas, para que todos fiquem sob constante vigilância do governo.

— Isso só serviu para mostrar que você é maluco, obrigada — Melissa andou na direção da porta.

— E só serviu para me mostrar que você é mais cética do que eu pensava — ela percebia que a voz dele se aproximava.

— Ele não sabe de nada, Kate, vamos embora.

— Aí é que você se engana. Eu sei de tudo porque investigo tudo, você é quem não sabe de nada — agora ele estava definitivamente mais perto, ela sabia disso.

— Então nos responda e deixa de enrolação!

— Ficarei feliz em responder, — ela ouviu a voz masculina atrás de si e se virou, dando de cara com um garoto alto de cabelos negros e curtos, vestia uma blusa cinza escura com as manhas enroladas na altura de seus cotovelos, fazendo-a perceber que era bem forte, e um jeans azul. Ela poderia dizer que ele estava rindo da expressão espantada dela, mas o rosto do jovem era coberto por uma pele artificial que escondia totalmente suas feições, olhos, boca e nariz. — É só me fazerem as perguntas certas.

— Você é filho do Questão? — ela quase gritou e, dessa vez, ele deu uma risada baixa.

— Na verdade não, Sherlock. Sou Antony Bertinelli, filho da Caçadora. Questão foi meu amigo — ele passa por Melissa e anda até uma mesa, onde se senta e encara as duas heroínas. — Ele morreu há alguns anos.

— Espera, filho da Bertinelli? — Mel deu alguns passos na direção dele, olhando-o com certa dúvida. — Estudamos juntos?

Apesar de não vê-lo há anos e não enxergar seu rosto, ela se lembrava de ter estudado com um Bertinelli.

— Sim! Obrigado por lembrar. Foi no segundo ano do fundamental, eu acho, eu te dei alguns biscoitos no intervalo — Tony disse e ela cruzou os braços.

— Eram de nozes e eu sou alérgica a nozes.

— É, descobri isso naquele dia... Enquanto você estava tentando respirar e começava a ficar azul, jogou uma cadeira em mim e doeu bastante. Depois disso eu resolvi que saberia tudo sobre você — ele tentou não parecer um stalker estranho, só que era isso o que ele era, então apenas disse.

— Que graça, — ela ironizou. — Agora nos fale o que você sabe sobre o soro.

— Não pegou mesmo a parte em que eu disse "façam as perguntas certas", não é? Qual é a graça se forem tão diretas?

— O que a Duela tem feito ultimamente? — Kate perguntou, já que não queria que Melissa xingasse ele ou fizesse algo pior.

—A palhaça consegue ser mais imprevisível que o Coringa, sempre que tento descobrir algo sobre essa garota, ela tenta me matar — Tony inclina levemente a cabeça para o lado. — Por isso perguntei a sua irmã, Wayne, sobre a psicopata.

— Minha irmã?! O que ela tem com isso? — gritou, deixando seus braços mais soltos caso sentisse vontade de socar a cara dele.

— Elas namoraram por uns quatro meses, as duas ainda são amigas — ele se reclinou na mesa, provavelmente estava sorrindo. — E ainda se diz uma detetive? Sua própria irmã estava namorando uma criminosa e você nem fazia ideia.

— O que a Cassy te falou? — Kate se pôs na frente da morena para ela não fazer nenhuma besteira, como bater com a cabeça dele na mesa de metal.

— Que outro dia viu a Duela conversando com uma garota diferente, — Tony fez uma pausa. — Uma garota de pele metálica.

— Titânia. Ela deve ter chamado a maluca para trabalhar pra eles — a loira suspirou, cansada só de pensar em enfrentar a Filha do Coringa de novo.

— Mas a Duela não usou o soro, se não estaria esfregando os poderes na nossa cara — Mel se vira para o garoto sem rosto novamente e dá alguns passos em sua direção. Ele se levanta da mesa para poder ficar mais alto que ela e não sentir-se intimidado. — Sabe onde ela está?

— Sabe como se escreve o número zero em algarismos romanos? — retrucou e a viu ergueu o punho pronta para quebrar o nariz dele com um soco, mas foi impedida por Kate.

— Tony! — a loira puxou a amiga para trás e o advertiu.

— Por sorte pedi para a Cassandra colocar um localizador nela, caso precisasse saber onde a pirada estava — ele abriu uma gaveta e começou a jogar alguns papeis para fora até encontrar um aparelho semelhante a um celular antigo e entregar para Kate. — Vão encontrá-la com isso.

— Obrigada — a loira pegou o aparelho e soltou Melissa. — Estamos de devendo uma, Tony.

— Basta me avisarem se virem alguém chamado Jeffrey Crane na cidade - ele se virou e começou a ajeitar alguns papeis sobre a mesa.

— Não sabe onde ele está, Mr. Sabe Tudo? — Melissa debochou e ele olhou para ela por cima de seu ombro.

— Ele sabe que estou procurando por ele, por isso está se escondendo.

— O que ele fez? Provou que sua teoria da caneta BIC é pura loucura? —Mel zombou e ele passou a mão na pele artificial cobrindo seu rosto para depois se virar para as duas.

— Já tem o que precisam, podem ir.

— Feriu os sentimentos dele — Kate sussurrou para a morena e andou na direção da saída.

— Wayne, tem um minuto? - Melissa parou de andar e suspirou, vendo Kate sair do apartamento.

— O que foi? — ela se virou para ele sem muita boa vontade.

— Quando você tinha oito anos perguntou ao seu pai quem era sua mãe e ele se recusou a dizer. Como já era bem inteligente, invadiu o computador dele na batcaverna e por pouco não descobriu, seu pai a impediu antes que pudesse saber a verdade e a mandou para um colégio interno na Inglaterra.

Melissa trincou o maxilar para não deixar seu queixo cair. Não tinha como ele saber de tudo aquilo. Antes que pudesse interrogá-lo sobre a questão, Tony continuou.

— Coloquei uma escuta pequena na sua mochila um dia depois do incidente com os biscoitos e ouvi tudo. A parte da caverna eu apenas deduzi.

— Você já era maluco quando criança — ela concluiu e ele deu de ombros.

— A questão, Wayne, é que também fiquei curioso pra saber quem era sua mãe. E descobri — Tony deu alguns passos na direção dela, que revirou os olhos.

— E quem ela é, Sabe Tudo? — Melissa passava em sua voz que não acreditava nas palavras dele.

— Acha que vou te falar? — ele deu uma risada seca. — O Batman iria atrás de mim e me jogaria da Torre de Vigilância direto no espaço. Ainda tenho um pouco de sanidade para prezar minha vida.

— Então você não sabe.

— Se tivesse continuado a investigação, descobriria a resposta mais rápido do que eu. Tive que ir muito fundo, verificar algumas informações duvidosas e até fazer acordos com criminosos para conseguir descobrir, além de usar um pouco de força bruta de vez em quando — ele puxou uma cadeira e sentou-se nela, encarando Melissa por alguns segundos em silêncio. — Você vai saber que é ela quando a vir.

— Se depender do meu pai eu vou passar a vida sem vê-la — a heroína bufou com raiva.

— Sinceramente, é melhor dessa forma. Você vai saber porque seu pai fez o que fez quando descobrir toda a verdade.

— Não seria mais fácil você me dizer agora? — dessa vez ela praticamente gritou.

— Qual seria a graça? Já estraguei a surpresa pra mim, não vou estragar pra você também — ele rodou na cadeira giratória e começou a examina alguns papéis que estavam sobre a mesa.

Melissa respirou fundo e se acalmou para não acabar com Tony naquele instante. Ela deduziu que o detetive não fazia ideia de quem sua mãe era, então apenas deixou pra lá e seguiu para a porta.

— Mais uma coisa, — ele se levantou e entregou um papel para ela onde havia um número escrito. — O cara com as espadas, ele só não matou seus amigos porque um interferiu na luta do outro. Vocês não podem vencer ele, mas ela pode.

Tony aponta na direção do papel que ela havia pego. Mel leu o número e o nome acima dele, olhando surpresa para o detetive.

— Yuki Yamashiro? Ela é...?

— Filha da Katana? Sim.

— Não sabia que a Tatsu tinha uma filha.

— Ninguém sabe — novamente ela podia jurar que havia um sorriso sob a pele falsa.

— Acha que ela dará conta do Ibn?

— Não... Eu tenho certeza que ela via dar conta dele. A Yuki chegou do Japão ontem e está resolvendo alguns assuntos na cidade, talvez queira ajudar.

— Tudo bem. Deixo você saber se vencermos.

Tony deu um leve aceno com a cabeça e a observou enquanto se afastava, mas a viu parar de andar e olhar para uma parede repleta de fotos e papéis. A morena analisou o que eles diziam por alguns segundos e logo disse:

— As bandeirantes não são responsáveis pelos círculos nas plantações.

— Alguém tem que ser, já que a maior parte dos aliens que conhecemos acham isso ridículo.

— Eu sei. Mas quem, além da mídia, tem a ganhar com essa falsa propaganda alienígena? — ela arqueou uma sobrancelha.

— Ninguém... — ele disse, com certa hesitação e ela não conteve um sorriso ao vê-lo se aproximar da parede e examinar os artigos de jornal e as fotos cuidadosamente com seus olhos. — Eu acho...

— Se não descobrir, passa lá na base que eu te conto — Melissa deu dois tapinhas no ombro dele, que permanecia encarando a parede. — Você já sabe onde fica. Tá escrito no mural atrás daquela estante, onde também tem centenas de coisas sobre o Deep Six, meus amigos e sobre mim.

— Não é mais fácil você me dizer agora?

— Qual seria a graça? — a morena deu um sorriso para si mesma antes de bater a porta atrás de si.

— Achei que você estava tentando esconder o corpo dele depois dessa demora — Kate disse quando a amiga saiu. — O que ele queria?

— Nada demais. Mas vai ser útil no futuro — as duas desceram até o térreo e deixaram o prédio.

— Mais um membro para a nossa "não equipe" — a loira ironizou, usando os dedos para fazer as aspas.

— Shh, tô no telefone — Melissa disse e só naquele momento Kate percebeu que ela estava com o celular na orelha. — Kon'nichiwa, misu·Yamashiro...

— Você fala japonês? — a loira sussurrou, franzindo o cenho, ficando curiosa para saber com quem ela falava.

— Watashi no namae no battogāru (eu me chamo Batgirl), e adoraria te conhecer para falarmos sobre o que procura aqui.

— Batgirl? Quer dizer, a filha do Batman?! Mochiron! (Mas é claro!) Onde posso te encontrar? — a voz do outro lado da linha respondeu, animadamente.

— Em Gotham City.