Dear Mr. Potter

Capítulo Nove: Amigos


Sábado era o dia mais alegre em Hogwarts. A noite cheirava a comidas maravilhosas, os alunos comiam até não aguentar mais e sorrisos eram vistos por todo o salão. O teto enfeitiçado do castelo estava totalmente estrelado e iluminado por velas, lindo como nunca antes.

Na mesa da Grifinória os alunos tagarelavam sobre os testes para o time de quadribol. Seria o último ano que Sirius participaria e James estaria como capitão do time. Pretendiam dar o melhor de si e conseguir a Taça das Casas, para fechar seu último ano letivo com chave de ouro.

Enquanto todos estavam empolgados e radiantes devido à festividade em Hogwarts, o jovem Black estava mais disperso que o habitual. A memória do dia anterior estava extremamente vívida em sua memória, como se houvesse acontecido há poucos minutos. Ele olhava incessantemente para a mesa das serpentes, porém Frida estava de costas para ele. Não havia encontrado com ela em nenhum momento na sexta, nem no sábado de manhã. As meninas haviam dito que ela estava reclusa em seu dormitório, estudando para suas provas.

Não notou quando Alice se aproximou, sentando-se a frente de Sirius. O rapaz então balançou a cabeça e voltou sua atenção para a garota de cabelos curtos, que sorria de maneira travessa. Alice era a única garota próxima a ele com quem nunca havia flertado _tirando Lily, mas aí era outra questão_, pois a considerava mais como uma irmã.

—Desculpe, o que disse? _Ele perguntou confuso e Alice revirou os olhos, porém apoiou os cotovelos a mesa e chegou com o rosto mais para frente, como quem vai contar algo secreto.

—Se eu fosse você, iria atrás dela, Black _ela comentou baixo. Os alunos em volta não prestavam atenção nos dois, apenas Frank que estava sentando ao lado da namorada e com um dos braços em torno dos ombros dela._ Você pode enganar os tontos dos seus amigos ou até a si mesmo, porém a mim não.

—Do que está falando, Alice? _Ele arqueou uma das sobrancelhas e até mesmo Frank revirou os olhos e sorriu pela lerdeza de Sirius.

—Você jura que ainda não entendeu do que ela está falando, cara? _Frank perguntou passando uma das mãos pelo cabelo curto, recebendo um sorriso da namorada. Alice voltou novamente à atenção para Sirius e continuou:

—Sei que eu sou o mais próximo de garota que você pode considerar uma amiga, afinal, é um galanteador e nunca tentou algo comigo, o que eu agradeço. Então, como eu sou a menos lerda de seus amigos e até bem mais esperta que você, seu puro-sangue esquisito, sinto informar, mas ela não vai vir atrás de você.

—Está falando de Frida?

—De quem mais eu estaria falando? _Ela perguntou como se fosse extremamente óbvio, franzindo as sobrancelhas em uma careta._ Você está aí parado, olhando para a mesa dos Sonserinos tem mais de 20 minutos. Ela não vai se virar e acenar, ou sei lá, sorrir pra você depois da noite anterior. E sim, eu sei o que aconteceu. E, por incrível que pareça, eu sou uma das poucas garotas que te conhecem e não te considera um completo canalha. Então, ou você resolve isso, ou então, nada mais de loiras pra você.

Sirius e Frank olhavam espantados para Alice. Claro que sabiam que ela era do tipo de garota a frente de seu tempo e que falava o que pensa, mas não esperavam por ela estar tentando ajudar Sirius, de certa forma

—Somos amigos, Alice _o moreno admitiu para a moça de cabelos curtos._ Mas eu não faço ideia do porquê de você estar falando disso comigo.

—Porque eu estou tentando colocar um pouco de juízo nessa sua cabeça cheia de cabelo, Black.

—Não existe nada entre mim e a Malfoy _informou o Black indiferente, fingindo prestar atenção em seu jantar._ Não que isso seja da sua conta, mas não tem nada acontecendo entre nós. Nos conhecemos há dois meses, qual é?

—Você tem certeza disso? _Ela perguntou arqueando uma sobrancelha.

O rapaz iria retrucar, no entanto avistou a jovem de cabelos prateados se levantar e sair da mesas das serpentes, saindo do salão antes do jantar terminar. Alice seguiu o olhar dele, assim como seu namorado fez, notando onde seu amigo havia perdido seu olhar. Ela sorriu com o que vira e voltou os olhos para o rapaz a sua frente.

—Só... Pense no que eu lhe falei _ela comentou._ Resolva tudo antes que seja tarde demais. Além disso, não acho que você seja um cara ruim. Ou um grande canalha cafajeste. Apenas um cara buscando alguma coisa qua ainda não faz ideia do que seja.

O Black fitou os olhos castanhos esverdeados da amiga e assentiu, voltando o olhar para o pedaço de pudim a sua frente e voltando a vagar por seus pensamentos. "O que raios está acontecendo?" Ele se perguntava.

Olá mãe,

Sei que não tenho escrito para você e papai tem algum tempo. Não se preocupem, estou bem. Apenas ocupada e preocupada com as aulas. Na verdade, há muitas coisas que estão me afligindo.

Devem saber sobre o ocorrido com a mesa da nossa casa aqui em Hogwarts, já que as notícias voam como o vento. Bem, eu sei quem fez essa brincadeira. E o pior, é um dos meus amigos.

Vocês sabem que eu não sou muito popular entre minha própria casa. Eu ainda acho que eu teria me encaixado melhor na Corvinal junto com Sabina, Jacob e Wilhelm. Mas eu até tenho alguns amigos entre as serpentes.

Enfim, agora não são mais só Lily e Alice minhas amigas na Grifinória. Muitos deles não gostam de mim, assim como muitos em toda Hogwarts. Mas esses que me suportam são incríveis. E bem, um deles que enfeitiçou a mesa.

Sei que é idiotice da minha parte ser amiga de alguém assim, mas ultimamente as coisas vêm ficando tão estranhas. Não sei como prosseguir. Nós nos...

Frida interrompeu sua escrita ao avistar Edward descer de seu dormitório. Rapidamente rasgou a carta e a guardou os pedaços dentro de seu casaco, a pena e o tinteiro ela rapidamente mandou com o feitiço Wingardium de volta para o seu lugar. Começou a olhar pela janela, onde estava sentada no parapeito e fingir que nada estava acontecendo.

Os passos de Greengrass se intensificaram e pareciam se aproximar. O rapaz loiro se aproximou e se sentou em frente à Frida. Os olhos dela se voltaram da janela para o rosto do rapaz, que sorria presunçoso.

—Como está, minha querida? _Ele perguntou sorrindo, levando a mão ao rosto de loira que, com um movimento rápido, tirou a mesma.

—Não estou com pasciência hoje, Edward _ela comentou recolhendo as pernas, deixando os joelhos próximos aos seios e o voltando a encarar a janela.

Edward apenas segurou firmemente o queixo da jovem, fazendo-a olhar para ele. O sorriso do rapaz havia desaparecido e uma expressão de fúria havia tomado sua face.

—O que quer dizer com "não estar com pasciência"? _Ele perguntou exaltado._ Você não tem que estar disposta ou deixar de estar. Quando eu quiser falar com você ou qualquer coisa com você, você tem é que agradecer por estar te dando atenção.

—Poupe-me, Greengrass _ela rebateu, puxando com até certa brutalidade a mão do rapaz que segurava firmemente seu queixo._ Vai atrás de Avra, ela sim agradece por sua atenção. Não sou um objeto que pertence a você.

—Está me dispensando, Malfoy? _Ele já falava em um tom de voz alto, se for pensar que estavam no meio da noite e todos os alunos já dormiam.

—Não estou dispensando você, Edward _ela o respondeu seca._ Não tem como eu fazer isso se não têm absolutamente nada entre nós. Acha que eu não sei que toda essa aproximação que deseja é apenas pelo nome de minha família? Você vive se esgueirando pelos cantos dessa escola com a McCormick, ou acha que eu não sei? Não passa de um interesseiro nojento. Eu abomino vo...

Antes que ela pudesse interromper sua frase, um tapa fora desferido em seu rosto. Frida fechou os olhos com força e respirou fundo.

—Essa vai ser a última vez que você irá encostar essa sua mão imunda em mim _ela advertiu.

—Retire tudo o que disse antes que seja tarde, minha querida _ele acariciava a bochecha onde ele havia acertado, enquanto a loira ainda apertava os olhos com força._ Sabe que odeio fazer isso com você, não sabe? Mas é tudo para o seu bem. Eu amo você.

—Saia daqui, Greengrass _ela abriu os olhos e o encarou séria._ Vá embora. Não vou mais deixar você me fazer de capacho ou usar chantagens para eu te perdoar pelo que fez. Nunca mais você encostará sua mão nojenta em mim ou falará comigo. Vá embora.

—Você quer realmente isso, Malfoy? Seu pai foi o único da família que não teve um herdeiro, e sim uma filha. E ainda por cima vai fazer o que? Você já é a ovelha negra da familia, Frida. A única herdeira mulher e a que tem amigos sangues-ruins, se envolve com os leões. É uma vergonha. Eu sou sua melhor opção, assim como você é minha, quando sair dessa escola.

—Não, você não é a melhor ou minha única opção _ela retrucou se levantando do parapeito.

—E quais são? Aqueles sangues-ruins com quem você anda? _Ele foi a seguindo até._ Regulus? Você nem gosta dele, o considera como um irmão mais novo. A não ser que você esteja de caso com o outro Black.

Frida não respondeu, apenas seguiu caminhando em direção à entrada do salão comunal. Por que ele tinha que ser tão grande?

—Então é isso? Vai ser mais uma Malfoy que se juntará com os Black? Vai me trocar apenas por ele ter um nome melhor que o meu? Só pela família ser...

—Cale a boca, Greengrass _ela o interrompeu, saindo do salão e seguindo caminhando pelos corredores frios e escuros de Hogwarts, em direção à Torre de astronomia. Edward já não a seguia mais e ela poderia relaxar por enquanto.

De tanto caminhar pela escola durante as madrugadas, Frida sabia como não ser vista e ser totalmente silenciosa. Achava que era por isso que muitos não sabiam quem era ou muitos começavam a notar a sua existência a partir daquele ano, já que fizera amizade com os rapazes, de certa forma, os mais conhecidos de Hogwarts.

Apesar de sua aparência extravagante e até anormal, devido aos cabelos quase brancos, ela só saía durante as noites e não interagia muito em Hogwarts. Porém, nesse último ano as coisas andavam diferentes. Queria fazer o que tivesse vontade e não o que era esperado dela.

Chegou à torre de astronomia e subiu as escadas calmamente. Ao chegar, no fundo da sala avistou Remus Lupin. A loira estranhou ver o amigo sentado com um livro em uma mão e a varinha iluminando em outra. Os olhos chocolate dele levantaram dos livros para o rosto da loira e ele sorriu.

—Olá, Frey _ele a cumprimentou.

—Oi, Remus _ela sorriu._ Estou atrapalhando?

—Não, claro que não _ele respondeu fechando o livro. Em seguida fez um gesto com a cabeça indicando o seu lado, convidando a Malfoy a se sentar._ O que faz acordada até essa hora?

—Às vezes não consigo dormir _ela comentou se sentando ao lado do rapaz._ E você? O que faz aqui? Você não me parece do tipo que infringe regras da escola.

—Precisava de um tempo para espairecer, sabe? _Ele respondeu e ela assentiu.

—Sei bem como é isso.

O silêncio se instalou na torre. O rapaz gesticulou com a cabeça novamente o local ao seu lado e ela se aproximou, sentando-se ao lado do amigo.

Frida gostava de Remus. Achava sua companhia agradável e ele um ótimo amigo. Claro que ela sabia que ele era um lobisomem, afinal, a jovem era bem inteligente e só alguém extremamente desligado não notaria. As cicatrizes espalhadas pelo rosto e braços, sua agitação em dias de lua cheia, além do fato de parecer sempre com medo de machucar os outros.

O rapaz era alto e magricela, com os cabelos loiros escurecidos até próximos aos ombros e olhos cor de chocolate. Tinha orelhas um pouco pontudas e cicatrizes no pescoço e próximas ao queixo. Apesar de sua aparência ser até meio animalesca, Remus possuía um sorriso dócil e gentil. E claro que a jovem loira adorava sua companhia.

—Tudo parece estar ficando tão complicado, Remus _Frida suspirou pesadamente.

—Quer falar sobre isso? _Ele perguntou e ela negou com a cabeça._ Então quem sabe um ombro amigo?

Ele estendeu um braço e ela apoiou a cabeça em seu ombro. O rapaz a envolveu com um dos braços e afagou o ombro dela. Frida se aconchegou nos braços do amigo, enlaçando os eu em torno da cintura do mesmo.

—Eu achava que as coisas seriam melhores, agora, sabe? _Perguntou Frida, sem querer receber realmente uma resposta vinda de Remus._ Mas parece que as coisas só vêm se tornando mais e mais complicadas.

—Se é por causa do Sirius que está assim, não precisa se preocupar _ele comentou apoiando o queixo na cabeça da loira.

—O que você sabe? _Ela perguntou curiosa. Não que fosse isso que a afligisse, mas queria saber o que um dos amigos próximos de Black teria para dizer.

—Nada, mas dá pra notar quando o seu problema é ele e vice-versa _ele respondeu.

—Eu sei que ele quer algo, Remus. Não foi por acaso que ele se aproximou do nada. Se ele quisesse apenas... Sei lá... O que ele quer com todas as garotas, ele já teria pedido ou dado algum jeito. Você poderia me dizer o que é. Ele não precisa saber disso. E de qualquer forma, não é como se eu não fosse descobrir alguma hora.

Remus pareceu hesitar e Frida levantou a cabeça de seu ombro, fitando-o com seus grandes olhos esverdeados. O jovem lobo suspirou e se deu por vencido.

—Ele fez uma aposta estúpida com James _ele começou._ Que conseguiria seduzir você e te levar em um encontro para Hogsmeade. Afirmou que qualquer garota poderia ser conquistada, até mesmo uma Malfoy.

Ela olhou para além da torre e ficou em silêncio. Remus mantinha o olhar sobre ela, tentando antecipar qualquer reação da jovem. Frida voltou os olhos novamente para o amigo e sorriu.

—Eu já suspeitava _ela deu de ombros.

—Não fique triste, tenho certeza que ele vai perceber o quão idiota vem sendo e irá te pedir desculpas. Ele gosta de você.

Ela novamente deitou sua cabeça no ombro do rapaz.

—Não estou triste _ela comentou._ Irei apenas acabar logo com isso. Não é como se eu realmente estivesse preocupada.

—Mas eu estou _ele admitiu.

—Você é meu melhor amigo, sabia? _Ela perguntou sorrindo enquanto olhava para além da torre.

—Eu já suspeitava _ele respondeu sorrindo.

—Convencido _ela deu um leve empurrão com o corpo em Remus, que gargalhou alto.

— Acho que posso dizer que você também é a minha, Frey.

Ela se aninhou mais no abraço de Lupin e suspirou pesadamente, fechando os olhos com força antes de abri-los novamente.

—Acho que Sirius é um dos meus menores problemas agora. Ele eu consigo me livras facilmente...

—Qual é o problema então? _Remus perguntou curioso.

—Acredita em destino, Remus? _Ela perguntou voltando os olhos esverdeados para o rosto marcado por cicatrizes de sua maldição. O lobisomem analisou a pergunta por um tempo e negou com a cabeça._ Acha que alguém pode estar destinado ao sofrimento ou a ser uma pessoa ruim? Uma pessoa sem escolhas.

—Por que esse assunto, Frey?

—Eu não sei. Sinto-me perdida.

—Se foi o destino que quis que eu me tornasse um monstro, talvez tenha algum propósito. Algo maior que nós, que esteja planejando algo que não conseguimos entender agora. Se não, foi apenas uma ocorrência do acaso. Desagradável, porém algo que poderia ter sido ou não evitado. Um destino não nos dá opções, apenas uma falsa sensação de livre arbítrio _Remus explicou seu ponto enquanto Frey o escutava atentamente.

Ela então olhou para frente, encarando a penumbra da noite. Seu maior medo era não ter controle sobre a própria vida, não podendo evitar que coisas ruins acontecessem consigo ou com pessoas ao seu redor. Não admitia, porém sentia medo de ser destinada a passar o resto de uma vida miserável com alguém tão desprezível como Edward Greengrass. Ou se ver presa no ciclo vicioso de sua família como comensais da morte, seguidores do Lorde das Trevas.

—Obrigada por estar aqui está noite _Frida agradeceu e aconchegou a cabeça sobre o ombro do amigo lupino ele não poderia prover respostas para suas dúvidas, nem dissipar seus medos que não proferia em voz alta, porém conseguia lhe transmitir uma breve sensação de conforto e acolhimento. Não estava sozinha._ Apesar de ter sido eu que atrapalhei a sua noite aparecendo aqui.

—Sempre que precisar _ele acrescentou e beijou os cabelos da amiga, voltando seu olhar para a noite a sua frente.