Deadly Hunt

Consequências do Passado


“Quando brigamos, nós brigamos como leões

Mas então, nós amamos e sentimos a verdade

Nós perdemos nossas mentes em uma cidade de rosas

Nós não vamos tolerar nenhuma regra

Eu não digo uma palavra

Mas ainda assim, você tira o meu fôlego e rouba as coisas que eu sei

Lá vai você, me salvando do meio da multidão.”

Sam Smith – Fire on Fire

Capítulo XIV – Consequências do Passado

֎

— Ally, me diz a verdade. – Pede Austin com a voz calma e a expressão séria. Sinto meu corpo tensionar e engulo seco, temendo a pergunta que eu sabia que viria a seguir: - Você está grávida?

A pergunta vinda como uma afirmação deixava claro que não havia mais para onde fugir. A hora de termos a conversa que eu havia evitado até mesmo pensar havia chegado. No entanto, diferente do que imaginei nas poucas vezes em que me preparei para a revelação de minha gravidez, eu não estava pronta para lidar com a situação.

Durante meus vinte e oito anos de vida, eu já havia estado diante de diversas perigos e conflitos. Lutei em guerras, comandei exércitos e até mesmo lidei com decisões que poderia destruir a vida de bilhões de pessoas, mas pela primeira vez, eu sentia o pânico me consumir. Não por achar que Austin não ficaria feliz com a notícia de que seria pai. Eu apenas não queria pensar que eu e a criança podemos morrer a qualquer momento.

Por mais que não fizesse sentido algum, não pensar no meu real estado de saúde no momento fazia eu sentir que não corria perigo algum. Eu nunca soube lidar com o medo e fugir parecia a melhor solução. Mas agora, olhando para os olhos achocolatados de meu marido que esperava uma resposta, eu me sentia pequena, exposta e indefesa, apenas por não saber como acabaria reagindo quando colocasse para fora tudo que venho escondendo de Austin nos últimos anos, incluindo a minha arriscada gestação.

— Sim. – Respondo baixo, experimentando uma infinidade de sentimentos mexerem comigo e o olhar que meu marido me lança ao ouvir aquela simples palavra me destrói ainda mais. Ele estava feliz. Genuinamente feliz. O orgulho, o amor e a admiração mesclavam entre si no mar de chocolate, sem nem mesmo imaginar o peso desse fato.

— Ally! – Ele ri, ainda parecendo não saber como reagir. Austin então me puxa para perto de si e me abraça, sem conseguir controlar sua euforia. – Eu serei pai de novo? Oh Deus! Isso...isso é incrível!

Correspondo ao abraço, aproveitando do calor e da segurança que aquele gesto me passava. Ele se afasta um pouco e distribui uma série de beijos pelo meu rosto, antes de se abaixar na altura da minha barriga e acariciar o local com um amor único. E ao ver a cena, tudo que consigo fazer é permitir que as lágrimas descessem pelo meu rosto, acariciando os fios dourados de Austin, enquanto ele encostava o rosto em meu ventre. Como eu poderia dizer a ele? Como contar que nosso sonho de termos mais filhos poderia nunca chegar a acontecer por culpa do meu corpo, fraco demais para lidar com uma gravidez?

— Eu te amo tanto. – Sussurra Austin, voltando a me encarar. – Obrigado por ser minha esposa. Obrigado por ser a mãe de Enzo e dessa criança que virá.

E essas palavras só fazem meu choro se intensificar. Austin me encara surpreso e não demora muito a me puxar para um forte abraço ao perceber que eu não estava bem. Afundo meu rosto em seu peito e permito que toda a dor que venho guardando dentro de mim saísse por meio das grossas lágrimas que manchavam minha face.

Era como se a ficha tivesse finalmente caído. E se meu corpo não for capaz de suportar a gravidez e eu acabar perdendo o bebê? E se eu não resistir ao parto e acabar falecendo? O que será do meu pequeno Enzo se perder a mãe tão jovem? Austin será capaz de suportar a dor de me perder ou perder essa criança? Ou pior ainda, eu serei capaz de suportar a dor de perder o bebê? Perguntas como essa começam a surgir em minha mente e meu desespero se tornar ainda maior.

— O que aconteceu, Ally? – Pergunta Austin com nítida preocupação.

— Me perdoa. – Sussurro entre soluços, enquanto aperto ainda mais o nosso abraço. – Me perdoa, Austin.

Austin então me puxa suavemente, tentando me encarar, mas eu ainda não estava pronta para encarar seus olhos novamente. Não quando eu havia visto tanta luz e expectativas neles.

— Meu amor, por favor, olha para mim. – Pede Austin com o tom de voz calmo e suave. – Por favor, Ally.

Respiro fundo algumas vezes, usando seu aroma e a melodia de sua voz como calmantes. E após reunir a pouca coragem que havia dentro de mim no momento, afasto-me o suficiente para que Austin conseguisse me encarar. Carinhosamente, ele limpa meu rosto e deixa um carinho consolador em minha bochecha. Permito-me aproveitar do gesto, fechando os olhos, enquanto tento esvaziar minha mente por um momento.

— Por que não me conta o que aconteceu? – Sugere meu marido de forma tão doce que era como se estivesse falando como uma criança. Volto a abrir meus olhos. – Está tudo bem, meu amor. Não importa o que aconteça, eu vou estar aqui e nós vamos enfrentar qualquer dificuldade juntos. Você não está sozinha, principalmente agora. Confie em mim, por favor.

Suspiro e limpo meu rosto. Respiro fundo novamente, tentando cessar o choro incontrolável de poucos instantes. Eu nem mesmo sabia por onde começar. Havia tanto a ser dito. Por alguns minutos, apenas meus soluços eram audíveis no quarto. Austin permanece em silêncio, esperando pacientemente que eu dissesse enfim o motivo de tanto desespero. Era como se ele soubesse que eu precisava desse tempo para reorganizar meus pensamentos ou ao menos, pensar em uma forma mais fácil de dizer tudo que estava preso em minha garganta naquele momento.

— A minha gravidez... – Começo a falar, mas me interrompo para respirar fundo mais uma vez, sentindo que o choro poderia vir novamente. – A minha gravidez não é uma gestação convencional.

— O que quer dizer com isso? – Pergunta Austin com certa preocupação em seu tom de voz, ainda que estivesse tentando manter a calma.

— Como você deve se lembrar, quando eu engravidei de Enzo, eu tive diversas complicações ao longo da gestação e mais ainda durante o parto. – Relembro e ele balança a cabeça lentamente, concordando, parecendo tentar entender aonde eu queria chegar. – Algumas vezes, situações como essa podem comprometer o sistema reprodutor da mulher ao ponto de impedir que seja possível engravidar novamente. Em casos extremamente raros, é possível que a mulher engravide, no entanto, a criança acaba se desenvolvendo fora do útero, o que as pessoas chamam de Gravidez Ectópica. Em geral, nessas circunstâncias o bebê se anexa em regiões onde não estão preparadas para acolher um embrião em crescimento, desta forma, não é possível que a gravidez continue. Isso porque o corpo da mulher reconhece o bebê como uma ameaça e começa a tentar expelir o embrião de todas as formas. Por outro lado, se a gravidez for levada adiante, as chances de a mulher sobreviver são quase nulas, porque conforme o bebê vai se desenvolvendo, ele vai alargando a região onde se encontra até que o órgão se rompa e a mulher morra por hemorragia. Por esse motivo, é necessário que o parto ocorra antes do previsto.

Respiro fundo mais uma vez e encaro Austin, que se encontrava em estado de choque. Meu marido me encarava com os olhos opacos e sem qualquer reação. Por outro lado, eu sentia como se meu coração pudesse sair pela minha boca a qualquer momento. As lágrimas haviam voltado a descer sem meu consentimento, mas eu já não me importava mais. Silenciosamente, choro, enquanto acaricio minha barriga e observo o loiro a minha frente.

— Você está me dizendo que... que sua gravidez... que ela é uma Gravidez Ectópica? – Balbucia Austin, atordoado. Balanço a cabeça, confirmando. Eu já não tinha mais forças para falar. Talvez fossem os hormônios da gravidez ou apenas a bomba de sentimentos que estava guardando a tanto tempo havia estourado e eu não conseguia mais me fazer de forte ou tentar pensar positivo e acreditar que tudo ficaria bem.

Seus ombros recaem e ele leva as mãos ao rosto, esfregando a face com brutalidade, enquanto sua respiração se tornava pesada a cada instante. Austin então volta a me encarar e ao ver o quão destruída eu estava naquele momento, ele volta a me abraçar. Não demoro a sentir suas lágrimas sobre meu ombro. Meu marido me acolhe ainda mais contra si. E naquele momento, por pior que fosse a situação, eu não me sentia sozinha.

Austin estava chorando comigo, por mim, por nós. Um choro silencioso, angustiante. A dor que antes eu sentia sozinha, agora estava sendo compartilhada. O loiro ansiava por essa gravidez tanto quanto eu. Sonhamos e tentamos diversas vezes durante muitos anos com isso. Perdemos as contas de quantas noites passamos em claro, imaginando como seria ter mais uma criança para completar a nossa família. Mas, mais do que isso, esse choro também representava que minha vida pode estar com os dias contados. Um futuro incerto, com possibilidades assustadoras.

Quando conseguimos nos acalmar, Austin me afasta delicadamente e me encara. Ele deixa um beijo no topo de minha cabeça e encosta nossas testas. Um suspiro cansado escapa de seus lábios antes dele voltar a se distanciar para me encarar. Ainda havia muitas perguntas sem respostas. Não apenas sobre a gravidez que eu estava escondendo há algum tempo, mas também sobre as consequências das ações de meus pais de antes mesmo de assumirem o trono de Krósvia.

— Ally, o que pretende fazer? – Questiona meu marido, chamando minha atenção. – Pelo que disse, a gravidez pode ser interrompida.

— Eu vou ter o bebê. – Digo, decidida e o encaro preocupada. – Você não quer?

— Claro que eu quero. Mas também não quero perder você. – Confessa, suspirando. – Você sabe que sempre foi meu sonho ter uma família grande, mas eu amo você, Ally. Sabe que eu iria até o inferno para te proteger, se fosse preciso. Então se você decidir interromper a gravidez, eu vou entender. No entanto, se deseja ir em frente com ela, vamos enfrentar essa situação juntos. Eu não sei o que posso fazer e confesso que estou assustado. Essa... essa situação é... eu não sei. Mas qualquer que seja a sua escolha, eu ficarei ao seu lado, porque sei que não importa o que eu diga, quando você toma uma decisão, ninguém consegue te fazer mudar de ideia.

— Obrigada. – Sussurro, voltando a abraçar meu marido. Eu realmente estava surpresa por sua reação. Diferente de Oliver e Dez que estavam insistindo incessantemente que eu deveria interromper a gravidez, Austin resolveu me apoiar, ainda que eu veja que não está totalmente seguro em minha decisão.

É claro que eu entendia os três homens e o motivo de estarem tão contrariados. Era nítido que as chances de que eu sobrevivesse a essa gravidez são praticamente nulas, mas eu não conseguia simplesmente aceitar tão facilmente assim ter que descartar a vida que tanto almejei.

— Eu também estou com medo. – Revelo, encarando meu marido, enquanto coloco minha mão sobre seu rosto. – Mas eu quero tentar, Austin. Nós estamos tentando e sonhando com isso há seis anos. Talvez possa ser uma decisão precipitada, mas o nosso futuro é tão incerto. Com tantos perigos, eu sei que esse é o pior momento para eu estar grávida... – Suspiro. Era difícil organizar meus pensamentos. – Eu não sei o que o futuro nos reserva. A verdade é que independente de estar grávida ou não, minha vida correria perigo da mesma maneira, por isso quero viver o momento.

— Ally, quando nos casamos, eu prometi estar com você em todos os momentos, sejam eles bons ou ruins. É claro que eu preferia não estar em uma situação onde você e o nosso filho corra risco de vida, mas se é isso que você quer e está disposta a enfrentar, então é isso que faremos. Eu te disse. Você não está sozinha. O que quer que seja, nós superaremos qualquer obstáculo juntos, assim como temos feito nos últimos dez anos. – Afirma Austin com a segurança que eu tanto precisava.

— Eu amo você. – Sussurro, sentindo o peso que assolava meu coração se esvair aos poucos.

Austin sorri e me beija. Um toque singelo e carinhoso, uma caricia que aquecia meu coração. Ele aprofunda o beijo e o conduz sem pressa alguma. Meu corpo se torna leve, totalmente entregue. O amor que compartilhávamos era intenso e acolhedor. Nossas bocas transmitiam tudo o que estava guardado em nossos corações sem precisar que palavras fossem ditas.

— Eu também amo você. – Declara, assim que nos separamos. Ele então acolhe meu corpo contra o dele e nos faz deitar novamente. Sobre seu peito, sinto suas mãos acariciarem minhas costas, enquanto sua mente parecia ir para longe. – Há quanto tempo você sabe?

— Desde o dia em que você me viu chorando no laboratório de Oliver. – Revelo, enquanto faço círculos imaginários com os dedos sobre o tecido da camisa de meu marido. – Há umas duas semanas.

— Por que não me contou, Ally? – Questiona e consigo sentir um pouco de mágoa em suas palavras.

— Eu estava com medo e confusa. Há tantas coisas que preciso te contar, que venho escondendo há muitos anos de você. Tive medo que me julgasse e mais ainda que tentasse me convencer a interromper a gravidez assim como Dez e Oliver tanto tentaram. – Respondo com sinceridade.

— Ally... – Austin suspira, parecendo decepcionado. – Além deles dois, mais alguém sabe da sua gravidez?

— Bárbara, Elena e Taynara. – Afirmo, pegando meu marido de surpresa.

— Espera um pouco, você disse Taynara? – Pergunta o loiro, incrédulo. Balanço a cabeça, confirmando. – Mas..., mas ela não tinha...

— Taynara está viva. – Respondo com firmeza. – Mas prefiro que conversemos sobre esse assunto pela manhã, após o café da manhã. As paredes passaram a ter ouvidos. Além disso, para que entenda tudo o que está acontecendo, eu preciso te mostrar alguns documentos. Até lá, não conte a ninguém sobre minha gravidez e muito menos sobre Taynara estar viva.

Austin me observa por um tempo e, por fim, acaba suspirando, dando-se por vencido. Ele balança a cabeça, concordando. Respiro aliviada e me aconchego melhor sobre o corpo de meu marido, que me envolve com intensidade. Observo seu rosto e sinto meu coração bater mais rápido. Não importa quantos anos se passem, eu ainda me sinto totalmente atraída por Austin, quase como uma adolescente.

Fecho meus olhos e inspiro o aroma de seu suave perfume, que me embriaga e me envolve por inteira. Austin então apaga as luzes dos abajures para que pudéssemos pegar no sono, afinal, enfrentaríamos um complicado dia pela frente ao amanhecer.

[...]

O dia amanheceu e nenhum de nós dois havia conseguido dormir. O cansaço era evidente em nossos rostos, que por sorte, poderia facilmente ser associado a festa de comemoração de nosso décimo aniversário de casamento. Descemos para tomar o café da manhã com nossa família e, com exceção de Lawrence e Dez que não estavam na mesa, todos pareciam um pouco cansados, mas animados.

— Bom dia. – Cumprimento e vejo um olhar debochado de Bárbara. Ela provavelmente desconfiava que Austin e eu havíamos brigado. Reviro os olhos e me sento à mesa, enquanto todos me cumprimentam de volta. Noto então que as crianças também não estavam tomando o café da manhã. – Onde estão as crianças?

— Dormindo. – Responde Manu, sorrindo aliviada.

— A noite foi tão longa que todos eles resolveram nos dar um descanso. E como eles pareciam tão cansados, resolvemos dar uma manhã de folga para eles. – Explica Jade, suspirando cansada. – Eu amo essas crianças, mas temos que admitir que eles parecem estar sempre ligados nos 220 volts. É difícil acompanhar.

— Eles parecem ter se divertido muito ontem. – Comenta Austin, colocando um pouco de café em sua xícara. – Foi realmente uma excelente ideia ter reservado um lugar cheio de brinquedos para eles passarem o tempo.

— Com certeza. Fazia algum tempo que Manu e eu não conseguíamos dançar e nos divertir tanto igual ontem a noite. – Comenta Prince, rindo.

— Foi uma bela noite mesmo. – Concorda o rei Theo, sorrindo.

— Eu me emocionei tanto que por muito pouco não fiquei desidratada de tanto chorar. – Brinca minha sogra, sorrindo para nós com doçura.

— Foi realmente emocionante. – Concorda o rei Mike, colocando a mão sobre a da esposa. – Ainda não consigo acreditar que já fazem dez anos que vocês se casaram.

— O tempo passa muito rápido. – Digo e todos concordo com nostalgia. Levo minha mão ao colar em meu pescoço que havia ganhado de Austin durante a festa de comemoração. – Mas foi realmente divertido comemorar esse marco com vocês.

— A festa de ontem foi incrível. – Comenta Juliana, passando um pouco de geleia no pão que segurava. Ela de longe parecia a mais animada naquela manhã. – Eu jamais estive em uma festa tão chique e emocionante. As pessoas eram tão agradáveis que nem pareciam que eram monarcas poderosos e influentes. Eu conseguia sentir a riqueza deles de longe.

— Eu não faço ideia de que tipo de festa você frequentava, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. – Retruca Ansel, encarando Juliana com tédio. – E por que será que eu não estou surpreso que você tenha prestado atenção na riqueza deles?

— Pelo menos eu sou sincera quando algo chama a minha atenção. Já você, eu não posso dizer o mesmo. – Provoca a espiã, fazendo Ansel se encolher e parece ficar sem graça pela insinuação da garota.

— O que quer dizer com isso, Juliana? – Pergunta Manu, interessada.

— Não é nada. Ela que fica imaginando coisas. – Responde Ansel, fuzilando Juliana apenas com o olhar. No entanto, ao contrário do que o loiro gostaria, isso parece divertir ainda mais a espiã, que abre um sorriso malicioso.

— É. Quer dizer, ele apenas ficou extasiado com a minha beleza naquele vestido que a Trish me emprestou ontem, Manu. Nada demais. Mas claro que ele falar “uau” assim que me viu e me encarar atordoado foi apenas coisas da minha imaginação. – Afirma Juliana e todos na mesa passam a encarar Ansel com olhares maliciosos.

— Eu não estava extasiado. – Resmunga Ansel, sem jeito.

— Mas ela estava mesmo maravilhosa. Aquele vestido ficou muito bonito em você, Juh. – Afirma Trish e não demora a abrir um sorriso malicioso. – Não tem problema em admitir que você ficou encantado com ela ontem, Ansel.

— Trish tem razão, Ansel. Até mesmo o conde Valentim não conseguia parar de olhar para Juliana de tão linda que ela estava. E olha que ele tem a fama de ser um verdadeiro narcisista. Então não precisa se sentir envergonhado por admitir que Juliana foi uma das damas mais belas da noite. – Complementa Jade, divertindo-se com o nítido desconforto de Ansel.

O homem se ajeita na cadeira e encara Oliver como se estivesse pedindo uma ajuda, mas assim como os outros, o cientista também estava se divertindo com a situação. Observo o rosto machucado do homem que havia brigado com meu marido na noite anterior. Ambos estavam de olho roxo e nariz machucado.

— Não olha para mim assim. A Juliana estava realmente muito bonita. – Afirma Oliver e Ansel bufa, arrancando risadas altas.

— Obrigada, Oliver. Você deveria aprender um pouco com ele como se faz para elogiar uma mulher, Ansel. – Juliana provoca novamente, bebendo seu suco com um olhar presunçoso em seguida.

— Será que podemos ter um café da manhã com tranquilidade? Já basta eu ter levado um tapa por nada. Além disso, todos vão mesmo ignorar que um mero representante de Kenedias bateu no rei de Krósvia? Isso é realmente um absurdo! – Exclama Elena, soltando seu veneno logo cedo.

— Elena! – Theo a repreende no mesmo instante.

— Ele não é um mero representante de Kenedias, tia Elena. Oliver é o competente cientista que está prestes a descobrir a cura para uma bactéria que tem matado centenas de crianças nas últimas semanas, então tenha mais respeito. – Intervém Austin, surpreendendo a todos, inclusive Oliver, que o encara embasbacado. E eu também não conseguia acreditar que meu marido estava mesmo defendendo o cientista, então tudo que faço é o encarar admirada.

— Você deveria era se envergonhar por sair nos tapas com esse “competente cientista”, Austin. Você é o rei de Krósvia, mas olha só para você. Essa atitude o faz parecer mais com um moleque do que com o homem que governa um país...

— Por que não cuida da sua vida, Elena? – Questiona Mimi com um olhar mortífero, interrompendo a irmã. – Ninguém tem culpa se você é uma pessoa tão amargurada e infeliz. Eu realmente tenho pena do Theo que é obrigado a suportar essa sua personalidade inconveniente.

— O quê?! – A mulher se exalta no mesmo instante pelas palavras afiadas da irmã mais nova. – Como você ousa, Mirela? Isso é o tipo de coisa que se fala para sua irmã mais velha? Você é uma rainha! Aprenda a agir como uma. E você, Théo? Por que não me defende?

— Elena, por favor. Vamos apenas tomar nosso café da manhã em paz. – Pede o homem, visivelmente cansado. – O que acontece na vida de Austin e Ally só se desrespeita a eles.

— Eu levei um tapa! Ela bateu na própria tia do marido! A mulher que é casada com um dos aliados mais importantes do país que ela governa e você vem me dizer que eu não tenho nada a ver com isso? – Elena ficava cada vez mais vermelha e exaltada.

— Eu tenho certeza de que se Ally te bateu foi porque você mereceu. – Mimi me defende, olhando com fúria para Elena. – Eu conheço minha nora muito bem para saber que ela é totalmente contra a violência, assim como conheço muito bem a cobra que tenho como irmã. E eu no lugar dela teria feito muito mais do que...

— Mimi. Pare por favor. – Pede meu sogro, preocupado com o que poderia vir a seguir. A situação estava começando a sair do controle.

— Cobra? Você ouviu isso, Théo? – Indaga Elena, furiosa. – Eu vou ensinar você a respeitar a...

— Já chega! – Ordena Théo, segurando a esposa que ameaçava atacar Mimi. – Controle-se, Elena!

— Mas...

— Mas nada. Nós somos convidados nesse país e devemos nos portar como tais. O que Ally fez não me agradou, mas conversarei com ela mais tarde para entender o que aconteceu. Eu já ouvi a sua versão e agora quero saber a dela, somente depois disso tomarei alguma atitude. Enquanto isso, assim como está exigindo de todos, comporte-se como a sua posição social. – Exige o homem com um olhar duro sobre a esposa. – Nós estamos tomando o café da manhã e não nos preparando para a guerra.

— Théo tem razão. Lamento ter passado dos limites, Ally. – Desculpa-se Mimi, após respirar fundo para controlar os ânimos.

— Está tudo bem. – Digo, ainda atordoada pela calorosa discussão de instantes antes. – Vamos apenas tomar nosso café, afinal, teremos um longo dia pela frente.

Todos concordam e passam a comer em silêncio. Sinto os olhos de Bárbara sobre mim. Passo a encará-la de volta com a mesma intensidade. Ela está aprontando algo. Sinto uma mão aperta a minha por debaixo da mesa e ao notar que se tratava de Austin, entrelaço nossas mãos e o encaro por alguns instantes, sentindo-me um pouco mais calma. Suspiro e volto a tomar meu café da manhã.

— Bom dia. – Cumprimenta Lawrence adentrando a sala de jantar junto a Dez, mas ao notar o clima tenso seu sorriso desaparece e ele passa a nos encarar confuso. – Aconteceu alguma coisa?

— Nada demais. – Digo, após passar os olhos por cada pessoa sentada a mesa. Faço um discreto gesto com a cabeça e Lawrence logo percebe que eu gostaria de fazer um pedido. Com seriedade, o homem apenas concorda lentamente e se aproxima de mim. – Reviste meu escritório e meu quarto e garanta que não existe nenhum aparelho espião.

— Como desejar. – Sussurra em resposta. Ele se aproxima de Jade, deixa um beijo em sua testa e vai colocar em prática o que eu havia ordenado.

— Lawrence não vai tomar café da manhã? – Pergunta Trish, buscando melhorar o clima que havia entre nós, enquanto o marido se senta ao seu lado.

— Ele já tomou. – Responde Dez, dando de ombros. – Nós saímos mais cedo hoje para treinar os soldados e aproveitamos para comer mais cedo também.

— Algum motivo para isso? – Questiona Prince, estranhando o treinamento em um horário diferente do habitual.

— Não exatamente. Depois do ataque a Boise, Lawrence e eu achamos melhor preparar nossos soldados para o pior. Não sabemos quem e nem o que motivou o roubo do quadro, mas é óbvio que estão tentando atingir a rainha e iniciar uma nova guerra. Prefiro pecar por demasia do que sofrer por subestimar um inimigo. – Responde meu melhor amigo com seriedade.

— Você está certo, Dez. Nós temos muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo. Deter a bactéria é nossa maior prioridade, mas devemos estar preparados também para um possível ataque inimigo. – Destaca Manu, pensativa.

— Não se preocupem. – Digo ao ver meus amigos ficarem tensos com a possibilidade de uma nova guerra. – Eu... não... – Interrompo-me para encarar meu marido que me encarava com intensidade. Sorrio e aperto sua mão com mais firmeza. - Nós não permitiremos que a mesma guerra que ocorreu há dez anos volte a acontecer. Apenas confiem em nós.

— No que depender de nós, faremos de tudo para descobrir quem está por trás desse ataque misterioso. – Afirma Austin, sorrindo confiante. – Além do mais, temos os melhores soldados e aliados em Krósvia. Independente de quem tente nos destruir, eu tenho certeza de que juntos, venceremos qualquer inimigo.

[...]

Quando o café da manhã enfim terminou, cada um seguiu para seus afazeres dos dia. Meus sogros precisaram voltar para Serafine, afinal, o país ainda continua sendo um dos mais afetados pela bactéria LP. Após nos despedirmos, Austin, Dez, Juliana e eu seguimos para o meu escritório. Os compromissos pela manhã foram adiados. Eu estava decidida a contar a Austin tudo o que vinha acontecendo sem seu conhecimento em Krósvia e no mundo, ainda que o medo continuasse a me desencorajar cada vez mais.

Como imaginei, eu estava sendo vigiada e, podia apostar facilmente, que a mente por trás disso era Taynara Miller. Lawrence estava em minha sala e possuía alguns pequenos aparelhos em mão. Os objetos de espionagem aparentavam ser de última geração e carregavam o símbolo de Domynic, um pequeno país que por muitos anos foi explorado por Krósvia após a Guerra dos Vinte Dias.

— Não permitam que ninguém entre nessa sala até que a reunião termine. – Digo aos guardas que estavam na porta da sala. Os homens se posicionam assim como ordenado, enquanto Austin e os outros entram na sala. Tranco a porta e me aproximo da mesa onde estavam os aparelhos de espionagem. – Domynic. Parece que finalmente temos provas de que todos eles estão juntos.

— Sim. – Concorda Lawrence, terminando de desativar o último aparelho. – Mas isso não é realmente uma surpresa.

— Eles estão mais ousados do que eu imaginava. – Comenta Dez, analisando uma das câmeras que Lawrence havia encontrado. – Como conseguiram entrar aqui e instalar esse tanto de objetos sem que ninguém visse?

— Obviamente temos um espião entre nós. – Responde Juliana, assumindo a sua postura mais séria.

— Sobre o que exatamente vocês estão falando? – Questiona Austin, encarando-nos com curiosidade.

— Então resolveu contar a ele? – Pergunta Lawrence. Concordo e ele suspira, aliviado. – Não sabe o quanto eu esperei por esse momento.

— Acho melhor você se sentar, Austin. A história é longa e bastante complicada. – Sugere Dez, acomodando-se no sofá do escritório. Lawrence e Juliana fazem o mesmo, enquanto eu me sento em minha cadeira de frente para os três.

— Certo. – Concorda meu marido, acomodando-se ao lado do melhor amigo. – E então? Por que existem câmeras e escutas em seu escritório com o símbolo de Domynic?

— Antes de tudo, você se lembra da história que te contei sobre como Edgar se tornou um inimigo de Krósvia? – Questiono e Austin assente, concordando.

— Sim. Seu pai armou para Edgar e o irmão dele. O submundo acabou matando a rainha e as filhas do rei de Elpízoume, enquanto ele foi preso, acusado de matar o rei de Krósvia, que na época era o seu avô. – Relembra Austin, pensativo. – Você me disse que as pessoas pensavam que esse rei já havia morrido dentro da prisão, por causa dos anos de tortura que ele devia estar enfrentando.

— É. Isso era o que eu pensava até receber uma carta de Victor Dobyne no dia de nosso casamento. – Respondo, pegando a carta que venho guardando há dez anos. Entrego a Austin, que pega o envelope desconfiado, antes de começar a ler. – Como pode ver, meu pai destruiu a vida desse homem e como consequência, ele e o irmão decidiram se vingar de Krósvia. Mesmo com a morte de meus pais, ele não ficou satisfeito.

— Mas se ele pegou prisão perpétua, ele ainda deve estar preso, certo? – Pergunta Austin, devolvendo a carta.

— Isso seria ótimo, mas coincidentemente, após completar os dez anos que ele prometeu, a prisão onde ele estava preso pegou fogo e ele foi dado como morto, quando encontraram a sua identificação. Coincidentemente também, houve um aumento considerável de armamentos ilegais em Krósvia e uma movimentação incomum no submundo. – Conta Lawrence, sem esconder sua frustração.

— Então ele conseguiu fugir da prisão e ser dado como morto. Muito conveniente. – Comenta Austin com ironia. – Por que não me contou isso antes?

— Quando eu recebi essa carta, pedi que Dez e Lawrence iniciassem uma investigação sobre o paradeiro de Victor. Descobrimos que ele estava preso em uma prisão de segurança máxima em Krósvia, cobrindo a sua sentença. A ESEK, Exército de Segurança Espiã de Krósvia, então foi criada para que tivéssemos sempre atentos as ações de Victor. Com Dez e Lawrence no comando, imaginei que conseguiríamos impedir que ele conseguisse sua vingança, então preferi ocultar essas informações. Pensei que seria tolice nos preocuparmos à toa, por isso não te contei. mas fui ingênua. – Pego mais um envelope e entrego a Austin. – Assim como um fantasma, o corpo de Victor não foi encontrado e ele foi dado como morto. Obviamente, Victor não deve ter agido sozinho, o que me levava a crer que alguém muito poderoso havia o ajudado. A ESEK continuou as investigações, mas não descobrimos nada, ou pelo menos foi assim até semana passada.

— Vocês encontraram Victor e a pessoa que tem o ajudado. – Supõe Austin, enquanto lê os relatórios sobre a morte de Victor.

— Não. – Austin levanta o rosto para me encarar depois de ouvir minha resposta. – Manu os encontrou. Lembra-se quando eu te disse ontem à noite que Taynara estava viva?

— Espere um pouco. Taynara é a cúmplice de Victor? – Ao ver os rostos insatisfeitos de todos na sala, meu marido tem a sua resposta. – Merda! Isso é pior do que eu imaginava.

— Sim. E veja isso. Esse vídeo se passa em uma das fronteiras de Krósvia com Serafine. – Digo, mostrando o vídeo da câmera de segurança que Manu havia me dado dias antes. – Como mostra no vídeo, Taynara está envolvida com a entrada de armamentos ilegais em Krósvia e mais do que isso, ela queria que soubéssemos disso.

— Acha que ela ainda possui o controle do submundo? – Questiona Austin, preocupado.

— Eu tenho certeza que sim. – Respondo com sinceridade.

— Então isso significa que enfrentaremos mais inimigos do que imaginamos. Deduz o loiro, pensativo.

— E é aí que entra Domynic. – Explica Dez, suspirando em seguida. – Desde a Guerra dos Vinte Dias, quando o país se tornou escravo de Krósvia, eles esperam por sua vingança. Para a nossa sorte, na última guerra, eles estavam passando por bastante dificuldades financeiras, então não puderam participar, mas após Leon Tolstoy assumir o trono do país, eles tiveram um crescimento impressionante. Com isso, o poder bélico do país aumentou junto a sua tecnologia. Domynic tem os motivos e poder e Taynara a inteligência e influência. Sabíamos que seria questão de tempo até que eles se unissem.

— Então temos um espião de Domynic entre nós. – Comenta Austin, relembrando as palavras de Juliana.

— Isso ainda não temos certeza, mas com certeza temos aliados de Victor e Taynara entre nós. – Responde a espiã, enquanto eu coloco o vídeo da câmera de segurança que mostra Bárbara matando uma criança no dia de nossa luta.

— Pelo visto vocês já sabem quem são. – Supõe meu marido e eu viro o notebook para que ele conseguisse ver o que eu tanto desejava mostrar a ele.

— Sim. Esse vídeo aconteceu no dia em que Bárbara entrou em nosso quarto e nós duas acabamos lutando. – Digo, mostrando as duas mulheres saindo de dentro da casa abandonada na periferia de Füssen, após o disparo dos tiros que mataram a criança e uma cadela que estava prenha. – Observe o carro onde essas duas mulheres entram. Manu verificou a placa e confirmou que esse veículo é um dos oficiais de Krósvia e foi usado para levar e buscar Bárbara e Elena, que haviam saído por supostamente estarem muito abaladas com a briga que sua prima e eu tivemos.

— Bárbara e minha tia mataram a criança e o cachorro? – Pergunta Austin, sem acreditar. – Isso não faz sentido. Quer dizer, minha tia é realmente amargurada, invejosa e mal-amada, mas não acho que ela chegaria tão longe assim. Por que elas fariam isso?

— É exatamente como você disse, Austin. Sua tia é uma mulher amargurada e invejosa. Esses são motivos mais que suficiente para ela querer se aliar a Taynara e Victor. – Explica Juliana, encarando meu marido com seriedade.

— Austin, pense um pouco no que vem acontecendo desde que elas chegaram em Krósvia. – Pede Dez, chamando a atenção de Austin. – Quantas vezes Bárbara tem dito coisas estranhas para você? Ela insinuou que Ally te traia com Oliver e estranhamente foi atacada por Ally, quando ela estava doente. Não acha que é muita coincidência?

— Bárbara é uma garota manipuladora, Austin. – Complementa Lawrence, levantando-se do sofá, inquieto. – É nítido que ela está tentando te seduzir para fazer você ficar contra Ally.

— Você disse que Bárbara e tia Elena sabem da sua gravidez. – Relembra Austin, encarando-me com seriedade.

— Ally está grávida? – Pergunta Lawrence, surpreso.

— Eu sabia! – Comemora Juliana, sorridente.

— Ainda não comemorem. – Alerta Dez, expondo sua insatisfação. – A vida dela corre risco.

— Como assim? – Pergunta Lawrence, preocupado.

— Eu explico depois. – Digo, repreendendo Dez com o olhar.

— Não adianta me olhar assim. Você sabe que eu estou feliz por você e Austin finalmente darem um irmãozinho a Enzo, mas eu preferia que você não estivesse em uma situação onde pode morrer a qualquer momento. – Fala o ruivo, suspirando em seguida. – E me surpreende ainda mais que Austin esteja tão calmo quanto a isso.

— Eu não estou calmo. – Afirma meu marido, encarando o melhor amigo. – Eu nunca tive tanto medo de perder Ally como nesse momento, mas acha mesmo que alguém consegue fazê-la mudar de ideia? Nós já brigamos demais. Eu estou cansado disso e sei que ela não pode se estressar, então mesmo com medo e decepcionado por vocês terem escondido tantas coisas de mim, sei que me revoltar não vai ajudar em nada.

— Uau. Eu não esperava por essa maturidade. Nem parece o mesmo cara que estava apanhando do cientista algumas horas atrás. – Provoca Dez, que recebe o dedo do meio como resposta.

— Não diga bobagens. Eu bati muito mais do que apanhei. – Retruca meu marido, revirando os olhos.

— Claro. Se isso te faz se sentir melhor. – Responde Dez, rindo, enquanto Austin continua a encará-lo com raiva.

— Deixando isso de lado, você parecia ter tido alguma ideia, Austin. – Digo, voltando o foco para o que realmente importava. – Bárbara e Elena sabem da minha gravidez. As duas já me confrontaram sobre esse assunto. Esse foi um dos motivos por eu ter dado um tapa no rosto de Elena. Ela me provocou afirmando que o bebê não sobreviveria de qualquer maneira e eu não consegui me conter.

— Então ela sabe até mesmo da sua delicada situação. – Comenta meu marido e vejo seus punhos se fecharem em fúria. Ele estava se esforçando bastante para manter a calma.

— Elena não tem caráter algum. – Afirma Dez, visivelmente frustrado.

— Você sabe que eu poderia dar um fim nela e na cobra da filha dela facilmente, certo? – Relembra Juliana e tudo que consigo fazer é ri. – Eu estou falando sério, Ally. É só você falar que em torturo as duas até a morte.

— Eu sei que você é capaz disso, Juliana, mas ao fazer isso, eu apenas me tornaria meu pai, uma pessoa cruel, irresponsável e inconsequente. Se estamos nessa situação é justamente por atitudes como essa que ele tomou no passado. – Respondo, suspirando. – Mas confesso que sua oferta é bem tentadora.

— Eu sei que sim. – Concorda a espiã, rindo levemente.

— Talvez devêssemos desmascarar as duas. – Sugere Lawrence, pensativo. – Com essas filmagens e relatórios, podemos mostrar facilmente quem elas são de verdade.

— Eles poderiam dizer que isso é montagem e usar diversas outras artimanhas para manipular as pessoas e eu sair como a traidora. Também não quero perder a aliança com Elohim. Apesar da filha e da esposa serem mal caráter, Théo não é assim. – Afirmo, cansada. A verdade é que eu estou em um beco sem saída. Qualquer ação que eu tome nesse momento pode comprometer a imagem de Krósvia.

— Mas e se eu for a isca? – Indaga Austin, atraindo a atenção de todos. – Quer dizer, Bárbara está tentando me seduzir. Talvez se ela pensar que eu estou do lado dela, nós conseguimos arrancar dela informações como a localização de Taynara e Victor ou o que eles têm em mente.

— Isso pode dar certo. – Concordo, pensando na possibilidade. – Mas não será nada fácil convencer Bárbara e Elena de que você mudou de lado.

— Não se preocupe. Eu tenho um plano. – Afirma Austin, dando um sorriso perigoso. – Se elas acham que podem ser cruéis, eu mostrarei a elas que posso ser ainda pior. O que é dessas duas está muito bem guardado. Elas não perdem por esperar.