Deadline Circus

Isso nunca vai acabar?


Domingo, sete horas.
Japão, Inazuma.

LORELAI

Ela estava com Nagumo no hospital, ao lado do namorado desacordado. Ela estava com raiva dele, mas não totalmente. No fundo ela apenas queria dar um abraço nele e dizer que está tudo bem, mas o seu cérebro dizia para deixar de ser irracional e não ser fraca.

Quando viu que o ruivo abriu os olhos, ela se levantou da cadeira na hora e cruzou os braços. Estava pronta para brigar totalmente com ele, mesmo que seus olhos começaram a ficar marejados ao olhar o garoto.

Segundo os médicos, ele teria que ficar quase um mês fora. Tinha quebrado uma perna e sua mão esquerda tinha perdido o tato, talvez na tentativa de soltar Lorelai, ele deve ter se cortado sem querer. Ela podia se mexer, mas ele não podia sentir nada naquela mão. Estava com as cordas vocais inchadas por conta da força enorme e o tempo em que Benjamin o enforcou, machucando seriamente quase todo o seu pescoço. No momento, ele estava com uma tala no pescoço.

Além dos hematomas que tinha no rosto e no corpo. Lembra-se da médica cortar a sua camisa para verificar, e estava cheio de hematomas roxos pela a barriga. Ela retirou esses pensamentos da mente e olhou o garoto.

Ele não poderia ter lutado após todos chegarem, mas antes disso ele teve que aguentar Benjamin, e o resultado disso tudo foi esse.

— Não fala nada. Suas cordas vocais estão inchadas. — Nagumo fechou a boca. Lorelai se virou para chamar o médico, mas o garoto a segurou pela a saia, fazendo-a parar e o olhar. — O que foi?

Nagumo olhou para os lados. Não tinha como escrever, talvez. Lorelai percebeu do que ele queria falar naquele momento, por isso se sentou na cama e o olhou.

— Nagumo, eu sei sobre a sua família. Deve saber disso. — Nagumo mexeu minimamente a cabeça. — Eu não estou irritada sobre você ser filho de um vampiro com um humano, mas por você não ter me contado isso. Você não confia em mim?

Nagumo soltou a saia de Lorelai. Ela pegou o celular no bolso e foi até o bloco de notas, o entregando. Nagumo pegou o celular, inclinando por um botão a cama e começou a digitar o eu queria falar.

— Eu te contei várias coisas. Contei os piores segredos da minha família, contei às coisas que me deixavam envergonhada e até mesmo você foi o primeiro que eu contei sobre o caso de Benjamin. — ela falou. Nagumo parou de digitar e a deu o celular a ela.

Desculpe-me. Eu estava com medo de perdê-la.

— Não me venha com essa. — Lorelai entregou o celular a ele. — Eu contei que o meu irmão incendiou a casa que o meu falecido pai morreu, contei sobre o vício de bebidas da minha mãe quando ela descobriu a traição. Contei até mesmo que eu sou estéril.

Nagumo continuou a escrever e mostrou a ela.

Sei que está irritada com tudo isso, mas eu estava com medo de várias coisas. Eu imaginava você com nojo de mim e logo em seguida a minha mãe morrendo na minha frente pela as mãos de todos do Deadline.

Lorelai se segurou para não socar Nagumo naquele momento.

— Você acha que eu contaria isso a alguém? Você não confia em mim? — Nagumo negou e começou a digitar. — Nagumo, para de escrever agora! — ela gritou, e Nagumo assim fez. — Você achava que eu ia contar a alguém?

Ele afirmou com a cabeça, olhando para o pé quebrado. Lorelai deu um riso rápido e sarcástico.

— Eu nunca ia contar a alguém. Eu nunca vou, na realidade. — Lorelai pegou o celular da mão de Nagumo. — Eu só... Estou decepcionada por você não confiar em mim, e olha que fui à única namorada que o aturou e não lhe traiu. Fui à única que saiu de casa no meio da noite de neve para ir até a sua e cuidar da sua febre. Eu até mesmo peguei a sua catapora enquanto cuidava de você. Talvez você confiasse mais nelas, que nem ligavam para você, certo?

Lorelai forçou os olhos para não chorar.

— Confiava mais na Hasuike do que a mim? — Nagumo mexeu a cabeça de leve em negação. — Porque parece.

Ela se levantou, pegando as suas coisas. Ao colocar o seu casaco, ela escutou o barulho como se alguém tentasse se levantar. Ela se virou, vendo Nagumo fazendo cara de dor sem ao menos mexer o pé ou se erguer.

— Pare, você tem que se deitar. — Lorelai ajeitou Nagumo na cama novamente.

Sem mesmo Lorelai perceber, o garoto a agarrou, abraçando-a. Lorelai não se conteve a aquilo, e ela começou a chorar. Fraca, dizia a mente dela.

— Eu... — a voz saiu baixa e fina, como se tivessem tocando um violino desafinado. — Te... Amo. —Lorelai fechou os olhos, sentindo as lágrimas quentes no rosto. — Não... Se... Compare... Com... Hasuike.

— Não fale, eu já avisei. — Lorelai disse ainda de olhos fechados. — Não tem como não me comparar com as suas ex-namoradas. Todas bonitas, mais baixas que você. Isso significa que não tinha aquelas piadas que você odeia sobre como você tem que pegar um banco para me beijar.

Nagumo pegou o celular da mão dela, começando a escrever algo no bloco de notas na frente dela.

A diferença entre você e as minhas ex-namoradas é que você não será uma delas. Eu creio que nós vamos se casar adotar bebê gordinho como você gosta, e eles será um amor de pessoa. Vamos ter um cachorro para chamar de Suzuno e um gato preto para chamarmos de Victor. Vamos morar em uma casa simples em Belfast, e o nosso aniversário de casamento é no meu aniversário, assim nenhum de nós vamos esquecer.

Lorelai soltou uma risada com o texto, limpando as lágrimas.

— E eu irei cuidar do trabalho enquanto você cuida da casa, porque eu não sei cozinhar direito. — a morena disse, colocando uma mecha atrás do cabelo. Nagumo fez sinal de aprovação com a mão. — Espera, você leu o meu diário?

Nagumo parou e fez sinal que estava todo dolorido. Lorelai pegou o travesseiro, se soltando dele e começou a bater no mesmo. O médico entrou no momento, e não sabia de ria ou parava para o bem do paciente.

— Você leu o meu diário, idiota!

***

Duas semanas depois.

Segunda-feira, três da tarde.
Japão, Inazuma.

YASMIN

— A Yuume arranjou um encontro?! — ela perguntou, indignada ao lado de Lorelai. As garotas riram, e Yuume afirmou com a cabeça.

— Com o Victor. — Lorelai comentou. — Victor é péssimo em encontros. Se bem que nesse não vai ser um parque, e sim num restaurante chique. Leve a carteira, ele não paga.

— Ok. — Yuume fingiu que anotava aquela dica.

— Seirin está sempre conversando com o Enzo ou o Goenji, Carolina roubou o coração do Kidou e do Sakuma... — Carolina a cortou.

— Eu não roubei o coração de ninguém. Eles que vivem querendo conversar comigo e sair também. — Carolina disse, batendo na mesa.

— Ok, Kidou e Sakuma vivem atrás da Carolina a pedindo para sair. — Carolina afirmou com a cabeça. — Savannah e Hiroto estão no mundo do casal perfeito. Lorelai e Nagumo, mesmo que tivessem discutido rapidamente há duas semanas, eles continuam namorando e sendo fofos um com o outro, chegando a ser irritante.

Ela fez uma pausa.

— E eu aqui, de vela. — Yasmin começou a fazer gestos.

Não é por querer sair com alguém que Yasmin estava assim, mas ela percebeu que tem um monte de meninos a tratando como se fosse algo assustador que não pode ser tocado. Ela já gostava de alguém, na realidade aparentava gostar de duas pessoas, e uma delas está de repouso em casa por estar doente e a outra está no hospital desde o acontecimento de Benjamin.

Sobre Benjamin, o garoto estava bem. Todos sabiam dele naquele momento, e por mais que alguns o odiavam, ele tinha alguns amigos. Entretanto Benjamin ainda não é um caçador, ele decidiu treinar como aprendiz mais um pouco e fazer mais algumas terapias, por mais que nunca estaria completamente curado.

— Se algum menino falasse comigo, eu entenderia o que está acontecendo. — ela sussurrou.

— Yasmin. — Yasmin olhou para trás ao ouvir a voz masculina, dando de cara com Yuri, um dos Morozov.

— Um homem que não seja homossexual! — Yasmin gritou e as meninas caíram na risada.

—Eu sou bissexual, para início de conversa. Mas eu amo o Souji, e você não faz o meu tipo. — Yasmin não sabia se ficava feliz ou triste por isso, mas decidiu ignorar. — Enfim, eu soube que você e mais uma menina vão ser professoras da Irene.

— Sou eu a “mais uma menina”. — Savannah sorriu a Yuri, que apenas deu um sorriso forçado e cômico, logo voltando à cara de sono que tinha.

— A minha mãe está perguntando se vocês poderiam começar hoje. O pai dos...

— Padrasto. Elas já sabem do meu pai. — disse Lorelai. — Ele é o irmão mais novo do meu pai, e é um amor de pessoa. Ele e a minha mãe tem uma história dramática e digna de novela. — a mesma comentou.

— O padrasto dos Salazar está ocupado com outras coisas, sem falar que a Irene não quer olhar tão cedo para cara dele por ele a chamar de “cunhada”, e a minha mãe não tem tempo de ensiná-la essa semana porque está tudo um caos desde Takuya. — Yuri disse.

— Eu fico curiosa. — Seirin disse. — Porque você ou o Ivan não ensina?

— Eu sou a inteligência que o Ivan não tem, e o Ivan é a força que eu não tenho. Nós não somos bons professores de caçadores, não temos paciência. E já tivemos que a aturar bastante a Irene todos esses anos. — Yuri respondeu.

— E o Dimitri?

— Nós temos amor à vida do planeta. — Yuri falou a Seirin, que apenas se afundou na cadeira dizendo baixinho “Eu tentei”. — Dimitri e Irene no mesmo local faria um estrago grande.

Yasmin e Savannah fizeram uma pequena careta. No final, elas tinham prometido a Irene.

— Sim, nós vamos. — elas se levantaram. — Agora?

— Sim, e eu acho que vocês vão precisar disso. — Yuri ergueu as mãos, entregando um kit de primeiros socorros a cada uma. Ele entregou o papel com o endereço da casa a Yasmin. — Se precisarem de alguma coisa, Pavel vai estudar na sala de estar e o Dimitri vai estar no quarto, com febre.

Yasmin engoliu em seco. Tinha esquecido que o Dimitri estava doente. Ela queria vê-lo, mas desde que atuaram como se ela tivesse morta, toda vez que o vê é como se o seu coração estivesse tentando fugir do seu peito. Ela também sempre se sentia assustada e preocupada com ele, e de algum modo ela se arrependia de não o abraçar e o consolar quando o pai dele morreu.

Dimitri tinha ficado mais irritado esses dias, sem falar que ele tinha desmaiado no meio do Circus, algo que ela crê que nunca iria ver. Por mais que todos dizem ser febre, Yasmin sabia que era estresse. Dimitri vivia se irritando com algo, e toda vez que ela perguntava algo, o mesmo a ignorava.

Yuri deu as costas ao ser chamado por Ivan. Savannah a chamou umas quatro vezes, e apenas na última vez a garota caiu na real e olhou a menina, que fazia sinal para elas irem. Elas mexeram no kit de primeiros socorros.

Respiraram fundo.

— Nós vamos dar aula para a amostra grátis feminina do diabo? — Savannah perguntou a Yasmin quando elas saíram do Deadline.

— Bem, ela não deve ser tão forte assim.

***

Segunda-feira, três e vinte.
Japão, Inazuma.

CAROLINA

Carolina sentiu uma leve pena das meninas. Imaginou que ela poderia ir ser professora de Irene, mas segundo Lorelai: Ia ser como tacar uma Little Boy¹ com uma Fat Man² ao mesmo tempo em um quintal e esperar para ver o que acontece.

Ela se levantou da mesa, indo na direção do refeitório beber um pouco de água. Mas no caminho, Kidou começou a acompanhar.

— Soube que as meninas vão cuidar mesmo da Irene. — Carolina afirmou. — Na última vez que eu fui professor da Irene, eu cortei uma mecha do cabelo dela sem querer em um ataque. Ela não ficou muito feliz e pegou a faca que o Pavel estava usando para cortar uma maçã que comia enquanto nos via treinar e enfiou na minha mão.

Ela assobiou surpresa. Kidou mostrou a cicatriz que tinha na mão até hoje.

— Ela teve que cortar o cabelo todo e deixar crescer novamente, porque ficou realmente muito diferente. — Kidou disse. — Naquela época ela não era tão forte, por mais que fosse violenta de vez em quando. Mas agora que ela teve umas aulas com a mãe, creio que ela deve estar bem forte.

Carolina entrou no refeitório, pegou uma água e saiu. Ela olhou Kidou.

— Qual é a arma da Irene?

— Ela ainda não usa uma arma. Dizem que ela quer usar um machado um uma espada com um nome estranho, por mais que muitos dizem que ela poderia simplesmente fazer combate corpo-a-corpo que nem Ivan e a mãe. Creio que a sua maior habilidade é a lábia, então pode ser um pouco complicado. —Kidou colocou as mãos no bolso e retirou o celular.

Eles se sentaram em uma mesa. Carolina olhou as garotas, que faziam corações e cantavam uma música de amor a ela, que apenas revirou os olhos e ignorou. Logo voltou a atenção a Kidou, que mexia no celular.

— Mas... — Kidou a olhou. — Creio que você puxou assunto para falar de outra coisa.

Kidou mordeu o lábio por um tempo olhando Carolina. Ela respirou fundo, se virou para frente e bebeu água.

— Eu aluguei um filme. — Kidou falou. — O doador de memórias. E eu estava pensando se você gostaria de ver hoje.

Carolina sorriu a ele, e quando ia responder, ela escuta a porta da sala do chefe, que agora era Violetta, abrir. Todos se levantaram rapidamente, olhando a mulher que descia as escadas. Ao terminar, ela olhou todos.

—Estaria mentindo se eu dissesse que nunca quis que todos se levantassem enquanto eu passasse. —Violetta disse. — Mas podem relaxar, sentem. Vocês tem uma mania feia de fazer isso. Ygor dizia bastante para vocês nunca fazerem isso, é chato.

Todos relaxaram voltando a se sentar, assim como Carolina. Violetta tossiu rapidamente, como se tivesse preparando a voz e olhou a todos. Enquanto ela fazia aquilo, Carolina percebia o quanto a mulher de cabelos azuis era baixinha, mas logo começou a prestar atenção.

— Eu e Ygor estávamos pensando isso bastante antes dele vir a falecer, e creio que agora eu acho que é real. — Violetta cruzou os braços, começando a andar entre as mesas. — Sabíamos que tinha um vampiro que se destacava, mas não sabíamos quem era. No momento, sabemos que é Takuya o que matou Ygor, sequestrou Pavel, atacou a casa dos Salazar e controlou a mente de Benjamin enquanto ele estava sonâmbulo, o deixando violento. Para deixarmos claro, Benjamin já é violento enquanto é sonâmbulo, agora imagine alguém fazendo a mente dele para fazê-lo atacar até mesmo o seu irmão gêmeo que é o único que pode o acalmar completamente nesses momentos.

Ela mexeu de leve no cabelo de Yuri, por mais que ele teve que se abaixar para a mãe poder fazer carinho.

— Sabemos que Takuya é alguém terrível que nos fez sentir muita pena fingindo que ia morrer por conta da mãe maluca. — Carolina concordou com a cabeça. — Mas ele não está sozinho. Takuya nunca iria saber onde é a casa dos Salazar, já que a única que ele tinha contato era a Vanilla, e ela odeia que vão visitar a casa dela por não gostar de visitas, nem mesmo de melhores amigos. Quando Ygor morreu, ele estava sendo seguido desde casa. Isso é claro porque eu pude ver um fiapo do casaco de Takuya, que combinava com o pedaço do casaco rasgado do mesmo cheio do sangue do meu marido. Irene nunca falou com Takuya na vida, e Pavel nunca o levou lá em casa. Sem falar que Pavel, naquela época, estava indo para a casa do tio todos os dias, pois estava fazendo treinamento dia e noite. Ou seja, não tem como Takuya saber onde é a nossa casa. — ela disse. — A hipótese de Takuya ter descoberto isso pela a internet ou algo assim é nula, porque a pessoa que descobre assim tem que ser muito bom em computação, e Pavel percebia que Takuya não sabia ao menos ligar o computador. Ele ter descoberto sozinho é impossível, já que nos dias que ele teve contato com o Pavel, eu fui a única a estar em casa junto a Irene, que sempre estava comigo. E, deixando claro, eu sei quando estão me vigiando principalmente quando estou com a minha filha.

— O que está querendo dizer com isso? — uma garota perguntou. Se não falha a memória, era a irmã mais nova de Kidou, Haruna.

— Com base nisso e em mais alguns fatos, Takuya não está sozinho, como eu disse. — Carolina olhou Kidou, que pensava um pouco. — Isso quer dizer que... — ela parou. — Temos um impostor dentro do Deadline.