Dead Players

Capítulo 10- Esqueletos no Armário


—Desgraçados! —Esbravejou uma voz. De trás de uma prateleira saiu um menino, olhos cristalinos, aparência elegante e cabelos bem arrumados. Fred poderia o descrever como um galã de novela.

Ele fora na direção de Fred e o empurrou com o ombro. Fred caiu na água, não estava prensando atenção em tudo aquilo que estava acontecendo, queria apenas ir ajudar Eva, que, provavelmente já havia se afogado. Caiu com as costas na água e afundou.

Por segundos pensou em desistir, estava cansado daquilo tudo, Eva havia morrido, Samuel provavelmente iria vencer, se ele morresse agora, que diferença iria fazer?

Seu coração parecia que iria pular para fora, apesar de estar dentro d’água, sua boca estava seca e respiração forte. Pode sentir algo encostar em seu braço, era gelado e metálico, quando olhou, viu que era a pistola. Mesmo não sabendo se ela iria funcionar, pegou. Levantou-se.

Emergiu rapidamente, viu o menino de olhos claros por cima de Samuel, tentando prender o arqueiro no chão e falhando em acertar socos na cara do mesmo. Com as mão tremendo, ele levantou a arma.

— Parem! — Fred gritou.

Augusto lançou um olhar de ódio para Fred, com certeza o fato de Samuel ter matado a parceira dele não o deixara feliz. Samuel conseguiu se soltar e se levantou rapidamente, pegou uma flecha na aljava e a colocou na linha. Augusto não tinha saída, a certeza que iria morrer era a mesma que não tardaria para o Jogo acabar.

Ele abaixou a face, e os cabelos escuros, agora molhados, caíram para frente. Fora levantando o rosto aos poucos, seu olhar diamantino agora não tinha mais o brilho que costumava ter, estava opaco, como se estivesse morto. Os ombros começaram a abaixar e levantar, como se estivesse rindo. A fumaça pálida e branca começou a sair de suas respirações.

— Vocês humanos são interessantes. —Ele balbuciou. — Fazem de tudo para o bem próprio.

— Vocês humanos? — Fred perguntou, não conseguiu ver sentido na frase de Augusto, ele também era um humano como eles, ou não?

Augusto, rapidamente, levantou um braço e com um gesto mexeu o pulso. A pistola na mão de Fred voou em direção a ele, como se ele tivesse a puxado com uma linha invisível. Samuel soltou a linha, mas a flecha desapareceu durante a trajetória. Fred ficou boquiaberto, aquilo era impossível!

As risadas de Augusto se intensificaram, com outro gesto de mão, Samuel saiu de seu lugar e fora flutuando na direção dele. Fred não teve reação. Augusto pousou Samuel no chão e lhe aplicou uma gravata, Fred conseguiu ver que, as poucos Samuel estava perdendo o ar dos pulmões.

— O que você é?! —Perguntou assustado. Sua voz tremia como suas mãos, que mais pareciam estar levanto um choque elétrico.

Augusto levantou a pistola, a colocou contra a cabeça de Samuel, como um bandido fazia com um refém. Um sorriso sadio se apossou do rosto do menino de olhos claros.

— Vocês mataram a Amanda. —Disse entre risadas. —Eu estava começando a gostar dela. Agora vocês vão pagar!

— Do que está falando? — Fred não cessou com as perguntas. —E, como você faz isso?

—Fred, Fred, Fred. —Ele repetiu o nome do menino, colocou mais força na gravata que fazia em Samuel . —Existem mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar a nossa vã filosofia.

Fred não entendeu a citação, mas sabia que já tinha visto aquilo em algum livro de historia.

— Que tal mais um joguinho? —ele sugeriu com tom sádico. — Acho que não irá se importar.

Fred pode sentir sua mão coçar, quando olhou para os dedos, pode ver uma arma em sua palma. A pistola flutuava em pleno ar, Fred a pegou. Apontou a arma na direção de Augusto, tentando fazer mira para não acertar Samuel.

— Vamos lá. —Disse o menino. —Você tem dez segundos para me acertar ou acertar seu amigo. Valendo.

O dedo indicador de Fred formigava, e algo dizia para ele não apertar o gatilho. Já haviam se passado cinco segundos, e ele não havia feito nada. O barulho agudo de mais uma janela quebrando ecoou pelo local, e a água começou a entrar com mais força. O nível subiu e o liquido gelado já banhava a barriga deles.

—Acabou. —Augusto sorriu.

Com um movimento rápido, ele apontou a pistola para Fred. O barulho do tiro fora tão rápido que Fred não teve tempo de processar, quando se deu por si já estava com uma bala alojada em seu braço esquerdo. Olhou para a enorme ferida que havia se aberto, o sangue que jorrava coloria a água ao seu redor de rubro.

Augusto voltou a pistola para o lado da cabeça de Samuel, e com um tiro ceifou a vida do garoto. Os miolos de Samuel se espalharam e começaram a boiar pela água. O Jogo havia acabado para mais alguém.

—Não! —Fred gritou, as palavras finalmente havia desentalado em sua garganta.

— Agora resta apenas eu e você, Fredzinho. —Ele disse, seu sadismo e descaso já estavam enchendo a paciência de Fred. —Mas acho que você não irá durar por muito tempo.

A adrenalina tomou conta do corpo de Fred, ele não pode controlar suas ações. Sua visão embaçou por alguns instantes, e quando focou novamente, ele estava com a arma apontada para Augusto. A dor no braço esquerdo havia cessado, ou ele apenas a ignorava.

— Vamos lá. —Augusto provocou. —Atire em mim, é só isso que vocês humanos sabem fazer, matar uns aos outros. Por que humanos gostam tanto de se machucar? —Rui. —Fred, nós dois sabemos que você não irá fazer isso. Tem medo de mim, medo do que eu possa fazer caso não morra com esse disparo. Humanos temem o que não entendem.

Fred puxou o gatilho. O tiro acertara o peito de Augusto, a poucos centímetros do coração.

As janelas estouraram e a água inundou o local de vez. O teto cedeu e água se apossou da fábrica inteira. Fred não sabia nadar, mas tentou subir. Viu o corpo de Samuel sem cabeça flutuar, ele era um bom amigo, talvez o único e verdadeiro que Fred tivera. Olhou para a esquerda e viu Eva morta, afogada, um fio de sangue escapava pelas narinas.

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Fred abriu os olhos, estava em pé, em um local completamente branco. Não conseguia dizer se era uma sala, já que aquela imensidão alva parecia ser estender infinitamente. Não tinha clima, não tinha vento, não tinha temperatura.

Viu a sua frente uma fumaça escura, que fora se estendendo até virar um circulo envolta de si. Fred recuou alguns passos, mas a fumaça estava atrás dele também. O gás cor de ébano começou a criar forma, de dentro da poeira escura saíram três pessoas. A Morte, uma mulher com capuz e pele pálida, seu rosto não era visível. Ao lado dele estava um menino, ele vestia uma túnica de cor preta, o capuz estava abaixado. Seu rosto era fino, olhos cinzas, pele morena intensa —tom marrom escuro. Haviam Dreadlock’s na parte de cima da cabeça e as laterais eram raspadas.

Do outro lado da morte estava uma menina. Ela tinha cabelos tão escuros quanto a fumaça, sobrancelhas finas e rígidas, a pele era quase tão branca quanto o local onde estavam. Também trajava a túnica escura, e seu capuz estava abaixado.

Fred olhou para o lado, na esperança de encontrar Eva ou Samuel, mas encontrou Augusto. Ele estava ajoelhado, com algemas de metal escuro prendendo seus pulsos.

—Kalil. — Disse a Morte. Seu tom frio e seco fez Fred se arrepiar dos pés a cabeça. —Quanto tempo, não?

— Vão para o inferno. —Augusto esbravejou.

— Não. —O menino dos Dreadlock’s disse. —Lá é uma dimensão ruim, não lembra quando fomos entregar almas?

Fred, que não estava entendendo nada, apenas observava tudo com olhos arregalados. A menina alva deu um passo a frente.

—Kalil, você quebrou uma das leis mais importantes para nós Ceifeiros. Agora será punido! —Apesar de ter aumentado o tom de voz, não parecia estar descontrolada. — Descobrimos a sua conspiração. Estava entrando nós Jogos para roubar almas e tentar superar a Morte.

— Kalil, meu pupilo, você mais do que ninguém deveria saber que é impossível me superar. —A Morte vociferou. —Mesmo recolhendo uma imensa quantidades de almas como você recolhera, e mesmo que apresentasse essas almas para o Criador, ele não iria me destronar.

Augusto iria dizer algo em defesa, mas antes disso a Morte estalou os dedos pálidos que tinha na mão. Augusto então desapareceu, se desfez em fumaça escura.

— O que foi isso? —Fred perguntou. —Quem são vocês?

—Eu sou Leona. —A menina de cabelos escuros disse. —Esses são Jizz e a...

—Morte. —A entidade se apresentou. —Humano, o que você viu aqui foi um julgamento. Kalil, ou como você conheceu, Augusto foi julgado por conspirar contra mim.

—Por que eu estou aqui? —Fred não parou de perguntar. —Eu ganhei o Jogo?

—Não. —A garoto de Dreadlock’s negou. —Você vai substituir Kalil. Você o matou, então agora é o seu dever substituí-lo.

—Ma.. mas. —Gaguejou. —Eu não matei ele, a Morte quem matou.

—Errado. —A entidade negou. —Eu apenas o apaguei, digamos que ele já estava morto.

—Eu vou ser uma Morte? —Fred perguntou.

—Não. —A menina começou a explicar. —Será um Ceifeiro, como eu e Jizz. Apenas recolhemos as almas das pessoas que morrem e as entregamos para a Morte, ela coloca essas almas no Jogo. Entende?

—Entendo...

Fred não podia falar nada em protesto, não estava discutindo com seus pais ou com seus irmão, agora estava falando com entidades superiores à ele.

—Espere. —Hesitou. — Se eu não ganhei o Jogo, quem ganhou?

— Eva. —A Morte respondeu. —Ela foi a ultima a morrer.

—Mas espera um pouco, e Samuel? Ele morreu depois dela...

—Você tem razão. —A Morte anuiu com a cabeça. —Ele morreu depois dela, mas quando Kalil o matou acabou exterminando a alma dele no processo. Não posso revive-lo.

O silencio se apossou do local. Fred ainda estava processando as informações que havia acabado de receber. Ceifeiros, Kalil, Morte, almas, entidades. Nunca fora ateu ou descrente, mas sempre deixou a religião de lado, e sempre ignorou o misticismo. Agora a frase de Augusto fazia total sentido

“Existem mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar a nossa vã filosofia.”

— Tudo bem. —Respirou fundo, apesar de não ser sua vontade, era a única alternativa que tinha. —Quando eu começo?

Leona e Jizz andaram até sua direção. A menina ficou no lado esquerdo, enquanto o garoto no lado direito. Eles pegaram na mão de Fred e a fumaça escura começou a brotar do corpo dos três. Fred não pode sentir diferença alguma, parecia não ter mais sentimentos.

A fumaça escura tomou conta do local inteiro, a Morte desapareceu junco com eles. Fred pode chegar rapidamente a conclusão que aquele jogo havia mudado sua vida, uma mudança realmente drástica....

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.