Capítulo 1 - Alice

Eu acordei ansiosa, desde minha volta de Wonderland, era assim que eu acordava. Pensei em minhas seis coisas impossíveis antes do café da manhã, e mais uma vez isso me lembrou o Chapeleiro.

Havia prometido a ele que voltaria a Wonderland, mas não havia visto até agora, dois meses depois, nenhum buraco de coelho onde eu pudesse me enfiar para voltar a ele.

Eu nunca me esqueceria do meu Chapeleiro, disse meu? Me desculpe, foi um erro, nunca esqueceria do Chapeleiro, tão louco quanto eu, foi por causa dele que comecei a acreditar veemente que Wonderland existia sim, que não era só um invento que minha mente pregou em mim.

Ri ao me lembrar do passo maluco, de quando ele me escondeu num bule de chá, e fez um vestido para mim, usando uma fita; aquele louco era realmente impressionante. Lembrei dos gêmeos, da lebre, da Rainha Branca e da Rainha de Copas e o seu séquito incrivelmente tão estranho quanto a sua cabeça gigante, lembrei de todos que conheci no subterrâneo, e me perguntei se algum dia voltaria a vê-los.

Me troquei e tomei meu café, partiria hoje em direção à China, esperava que eles aceitassem fazer negócio conosco. Assim que voltei para a minha realidade, comecei a fazer negócios com o pai de Hamish, ele aceitou o fato de que eu não aceitaria ser sua nora, e naquela hora, viu em mim o mesmo que tinha visto em meu pai, uma alma aventureira, disposta a se arriscar nos negócios mais loucos e impossíveis.

Revisei minha mala, havia pego tudo que precisava, esperava que quando voltasse, achasse finalmente outra toca de coelho, onde eu pudesse me enfiar e voltar a Wonderland.

Estava entrando em minha carruagem quando vi um relance conhecido em meu campo de visão, lá estava o Coelho atrasado correndo como um louco, estaria me procurando novamente?

Decidi ir atrás dele como havia feito da última vez, talvez fosse minha única chance de voltar lá, de voltar a ver quem eu queria.

– Está atrasada, Alice.

– Como assim estou atrasada?

– Já era para você ter voltado pra lá, me mandaram vir te buscar por causa de tamanha demora!

– Mas...

– Mas nada, Alice! Venha comigo e voltaremos para o nosso País!

– Mas esse é o meu país! Sou nascida na Inglaterra, não em Wonderland. E tenho uma viagem para a China hoje, não posso ir para Wonderland de repente. Tenho responsabilidades agora!

– Alice, estão todos te esperando. O Chapeleiro então, nem se fala, jurou não dançar o passo maluco enquanto você não voltar para ele, e você prometeu voltar!

– Coelho, durante dois meses eu procurei uma entrada para Wonderland, durante quase dois meses adiei minha ida à China, tentando voltar ao subterrâneo, recusei inúmeros pedidos de casamento, mas não posso largar tudo e apenas ir a Wonderland!

– Mas todas as suas idas foram assim! Você simplesmente largava tudo e ia!

– Mas eu não tinha viagens a fazer, nem negócios a tratar! Sou uma mulher adulta e de negócios agora, espere mais dois meses e eu irei sem problema algum, mas agora, tenho um navio a embarcar.

– Alice, o Chapeleiro precisa de você, ele não é mais o mesmo... Receio que a loucura esteja o deixando.

– Como ele poderia deixar de ser louco?

– Perdendo algo que ama!

– Como assim algo que ama? – Tremi ao pensar que o Chapeleiro pudesse me amar, ele aparentava amar a Rainha Branca, eu sou para ele, apenas uma amiga importante.

– É só uma teoria. O Chapeleiro era apenas feliz, aí queimaram a sua vila, e ele se tornou um Maluco. Dizem que se ele perder algo que ama, mais uma coisa que ama, ele simplesmente vai deixar de ser, de ser Chapeleiro, de ser Maluco, de ser uma pessoa. Estamos com medo disso Alice, o Chapeleiro anda vagando por aí sem rumo e de cabeça baixa, não lembra a hora de tomar chá, ele se recusa a dançar o Passo Maluco, enquanto não te ver de novo, ele só vai piorar...

– O meu Chapeleiro... está sofrendo?

– Sim, e muito! Volte Alice, por favor, sabemos que você também sente a falta dele!

– Mas eu não posso partir assim Coelho! Quebra o meu coração saber que o homem que eu amo está sofrendo, mas eu realmente não posso voltar.

– E agora? O que iremos fazer? A única cura é você!

– Você irá levar uma carta, e as minhas palavras, minha promessa a ele, esperemos que isso faça algum efeito, se ele me ama, irá entender e que eu voltarei custe o que custar...

– Se você realmente acredita que isso irá dar certo Alice, escreva a carta, me entregue agora mesmo para que eu possa leva-la ao Chapeleiro.

– Tudo bem, irei pegar o meu diário e escrever a carta.

“Querido Chapeleiro,

Aqui quem lhe escreve é a sua amada Alice, sei que faz dois meses desde que parti, e que desde então eu não retornei, mas quero que saiba que não me esqueci de minha promessa a você, ainda voltarei a Wonderland, nem que seja apenas para lhe lembrar de minha face e de minha muiteza.

Peço que espere apenas mais dois meses, aí poderei ir até você sem problema algum, mas agora, viajarei à China, onde as pessoas possuem olhos puxados e usam roupas diferentes (mas diferentes que as tuas).

Espero que ainda se lembre de mim, pois todos os dias me lembro de você, e a cada vez que conto as minhas seis coisas impossíveis antes do café da manhã, a primeira coisa a ser contada é me esquecer de você, pois isso é o mais impossível que pode me acontecer.

E afinal, qual é a semelhança entre o corvo e a escrivaninha?

Dona de muita muiteza,

Sua Alice.”

Entreguei a carta ao Coelho com um rápido floreio, e entrei com pressa em minha carruagem, à caminho do porto, onde tinha um navio me esperando para navegar em direção à China, onde trataria de fazer negócios rapidamente, com a intenção de voltar a Inglaterra, onde poderia finalmente retornar a Wonderland.