Começamos a nossa história numa época não muito diferente da nossa atual, em um colégio relativamente comum. Voltamo-nos então para a sala de aula equivalente ao segundo ano.

A professora não chegara, já estando atrasada há mais ou menos meia hora. Os alunos, como era de costume assim que um professor se mostrava ausente, uniam cadeiras, ficavam sentados em cima das mesas, depositavam os pés sobre outra cadeira além de, claro, conversarem em voz alta. Alguns jogavam bolinhas de papel uns nos outros e os mais baderneiros ainda tacavam estas no ventilador. Resumindo, a turma estava um caos.

Foi então que um garoto, de longos cabelos lisos de cor azul, aproximou-se de um moreno de olhos cinzentos.

Ambos eram considerados bonitos, sendo bem atraentes aos olhos de boa parte das alunas. O de cabelos azulados que era por sinal mais baixo que o outro, estava bastante em forma, não tendo um porte físico lá muito exagerado. Seu jeito de andar, de falar e de agir eram elegantes, mostrando que talvez houvesse a possibilidade deste ser de uma classe mais elevada do que a média da turma. Seus olhos igualmente azuis e serenos faziam com que qualquer um que se aproximasse dele sentisse certa tranqüilidade.

Já o moreno era bem oposto a ele. Seu semblante transparecia uma pessoa bem desleixada e individualista. E seu olhar calmo e despreocupado apenas confirmava isso. Ele era mais forte que seu colega de cabelos azuis por ter entrado até em mais brigas do que este.

E, pela sua aparência, era notável que o moreno era bem mais vaidoso. Preferia usar desde alguns brincos até pintar algumas mechas de seu cabelo de roxo, provavelmente para chamar mais atenção.

Os dois tinham mais ou menos a mesma idade, por volta dos 17 anos. Tentando esquivar-se das tais bolinhas repletas de cuspe, o de cabelos azuis tornou a falar com seu colega.

― Ei, Sieg. Aproveitando que a professora ainda não chegou, eu e uns amigos meus vamos baixar de novo um jogo bem maneiro hoje! Faz bastante tempo desde que joguei pela última vez, mas a gente resolveu voltar a jogar. Quer tentar? – Convidou o sujeito que fora chamado de Sieg.

― Cara, não é mais um daqueles MMORPGs que vocês sempre tentam jogar não, né? É um tédio que só. Além disso, vocês acabam sempre parando que eu sei. – Disse Sieg, revirando os olhos, entediado. Já não fora o primeiro convite que lhe fizeram e todos os outros o moreno nem ao menos se interessou. Julgava que os tais MMORPGs eram bem entediantes.

― Qual é, Sieg! Dê uma chance para o jogo! Esse é diferente, eu juro. – Prometeu, só que levando-se em conta as propostas anteriores, o colega já não confiava muito naquilo.

― Tá, tá bom. Mas só se você me arranjar um encontro com aquela dali. – Sieg então apontou para uma garota que quase não era visível, sentada ao fundo da sala. Esta tinha curtos cabelos azul-claros, ligeiramente ondulados nas pontas. Seu olhar voltava-se para um livro cujo conteúdo era indecifrável para os dois, era algo como “Engenharia Mecatrônica”. Não fosse o fato de ela devorar aquele livro todos os dias, os dois teriam se assustado. Mas de certa forma estavam acostumados.

Seus olhos heterocromáticos davam um aspecto único àquela garota diferente. Não expressavam qualquer emoção ou mesmo qualquer reação ao conteúdo do livro. Não somente isso, como os dois colegas sabiam bem que ela era daquele jeito o tempo todo.

― Tem certeza, Sieg? Não sabia que gostava de garotas estranhas. – Indagou o de cabelos azuis, não esperando que, dentre tantas garotas, ele fosse selecionar justo aquela.

― Ah, sabe como é, Ronan. Quando se é gostoso e se pega todas as garotas da sala, às vezes dá vontade de conseguir algo diferente... Além disso, o corpo dela não é de se jogar fora, eu gosto de baixinhas. – Comentou, rindo. O rapaz chamado Ronan apenas correspondeu um sorriso, mas ao lembrar-se que arranjar um encontro seria tarefa DELE, o sorriso sumiu de imediato.

― Mas, espera. Você quer que EU arranje o encontro de vocês dois?! Como assim, Sieg? – Percebia-se que ele temia pelas reações da garota. Como ela não demonstrava emoções e era fria daquela forma, Ronan às vezes até a julgava propensa a ser uma psicopata.

― Qual o problema? Você não é o bambambã que faz sucesso entre as mulheres? Não acredito que está com medinho de uma nerd. Qual é, você tem um FÃ CLUBE SEU! – O incentivava. Ronan não correspondia ao incentivo, até porque achava aquela proposta muito além do seu alcance.

― Não dá, Sieg. Posso até tentar fazer amizade com ela e depois apresentá-la a você, mas... Um encontro? Está fora de cogitação. – Respondeu com sinceridade ao colega. E o moreno apenas suspirou.

― Certo. Você então vai me apresentar a ela depois. Qual o nome do jogo? – Perguntou, e fez o rapaz levantado ao seu lado abrir um sorriso.

― Ragnarok. É um jogo antigo já, mas faz um grande sucesso. Tenho certeza que você vai adorar! – Aquela animação toda não impressionava o Sieg, já guardava expectativas ruins com relação ao jogo.

“Já estou cansado desses joguinhos de matar monstros que eles arranjam... São todos iguais.”

Resmungou mentalmente, porém resolveu aceitar a proposta de Ronan. Não tinha nada a perder fora seu tempo.

Fitou novamente a garota de olhos heterocromáticos. Seus olhares acabaram por se encontrar. Ela continuava séria, como de costume. Apenas fechou seu livro e pegou o seu material para organizá-lo devidamente na mesa.

“Tá, confesso. Isso vai ser um bom desafio para Ecnard Sieghart, que faz as garotas desmaiarem só de olhar para elas. Vejo que com essa aí não adianta.”

O dia se passou normalmente e tinha chegado a hora dos alunos retornarem às suas devidas residências. Sieghart, como gostava de ser chamado, não foi diferente. Admitia que tinha uma preferência por sair depois da escola, mas naquele dia teria de botar o jogo para baixar em casa. Sua internet não era lá muito potente e isso dificultaria bastante o download.

Chegou a casa. Abriu a porta com as suas chaves e viu que ainda não tinha ninguém lá. Seus pais estavam no trabalho ainda.

“Maravilha! Nada de ficar ouvindo a porra da novela nas alturas!”

Pensou,feliz por poder escutar suas músicas à vontade sem aquele terrível inconveniente para lhe importunar.

Ao se aproximar de seu quarto, bateu na porta ao lado da sua. Sem resposta. Sua prima não estava em casa, o que era uma boa notícia para o moreno.

“YES! SOZINHO!”

Sua prima, que ele adorava apelidá-la de ruivinha, era do primeiro ano e estudava no mesmo colégio que o dele. Desde que o pai dela desapareceu, ela teve que permanecer na casa do moreno. Adorava implicar com ela, só que os socos que a ruivinha dava doíam bastante.

Até que os possíveis seqüestradores, a polícia ou mesmo o próprio pai dessem as caras, ela teria de ficar lá. Sentia um pouco de pena dela, porém sabia que a ruivinha era forte o bastante para agüentar isso.

Voltou-se para o seu quarto e adentrou.

“Ah, sim. O meu quarto! E sem som de novelas ou mesmo da minha prima fofocando alto com as amigas dela...”

Seu quarto era como se fosse o seu santuário naquele momento, que lhe possibilitava fazer das mais diversas coisas. Até porque fizera um enorme esforço e guardou suas economias para comprar o belo exemplar de XBOX 360 que se encontrava na mesa. Ou mesmo o Playstation 3 que insistira para os seus pais no aniversário do ano passado (Apesar do atual ser o 4, está fora de cogitação. Muito caro). Ou até seu computador... Ah, o computador! Cuja placa de vídeo, processador, memória RAM e quaisquer outras peças que aumentavam o desempenho eram da mais última geração em questão de tecnologia, qualidade e desempenho. E para complementar, lógico que esses dois primeiros de nada adiantariam se não tivesse uma bonita TV para complementar.

Tinha tesouros invejáveis para muitos de seus colegas, de fato. E se orgulhava por tê-los obtido. Pena que estavam ultrapassados já. É, no comércio tudo que já foi considerado novo, hoje é considerado velho.

“Mas isso não importa!”

Pensou, indo mexer no seu tão precioso computador que rodava os jogos dos mais maravilhosos gráficos.

Tornou a procurar por “Ragnarok” no Google. A primeira página que apareceu nos resultados era a do site oficial, porém, ao rolar a barra de rolagem para baixo, viu que tinha um anime também. Pesquisou um pouco mais e descobriu a existência de mais um jogo, que era “Ragnarok Battle Offline”.

“É, pra ganhar um anime e outros jogos, é porque realmente...”

Checando no site oficial, já era possível enxergar algumas Screen Shots do jogo. Sieghart fez uma careta ao vê-las.

“Credo, que merda de gráficos são esses? E peraí, só tem essas roupas mesmo? Cadê aquelas armaduras diferentes e as armas maneiras? Só o chapéu que muda!”

Estava mal acostumado aos jogos atuais e nem levou em conta que Ragnarok era um jogo antigo. Com muita amargura, clicou no botão que lhe proporcionaria o download.

“Vou me arrepender muito de baixar isso...”

Observou quanto tempo demoraria e viu que teria de esperar dolorosas 3 horas para baixar. Já enfrentara coisa pior, de fato, mas perceber que o download oscilava entre 3 horas e 10 horas doía-lhe a alma.

“Que merda... Eu devia ter perguntado pro Ronan se ele tinha no pen drive...”

Arrependeu-se de não ter perguntado mais nada ao amigo por falta de interesse. Teria de jogar algo offline para não piorar ainda mais a situação. Sendo assim, resolveu entrar no skype, para ao menos poder falar com seus amigos.

“Hm, o Ronan, o Jin e o Ryan estão online, vou falar com eles.”

Como as amigas de sua prima não estavam online, achou que elas deveriam ter ido no shopping ou algo do tipo. Cumprimentou primeiramente o Ronan, que em alguns segundos retornou a mensagem.

“Ele digita rápido pra caramba, puts...”

Sir Erudon: E aí Sieg! Como está indo o Download?

Sieg: Po cara

Sieg: Tinha como vc ter me

Sieg: passado pelo pen drive não?

Sieg: Vai demorar pra caralho

Sir Erudon: Desculpa, tinha esquecido. Mas tudo bem, qualquer coisa a gente joga amanhã.

Sieg: Quem vai jogar?

Sir Erudon: Olha, até agora só quem confirmou foi a Elesis, a Arme, o Azin e o Jin.

Sieg: Vc falou como se fosse mais gente...

Sir Erudon: E vai ser! Só falta eu falar com eles!

Após a breve conversa, Sieghart optou por minimizar a janela da conversa e verificar mais uma vez como estava indo o progresso do download. Já tinha tido certo avanço, alcançando 2%.

Revirou os olhos, achando aquilo insuportável. Não poderiam ter colocado o maldito jogo no Torrent? Perguntava-se.

“Mas aquela guria de olhos heterocromáticos...”

Seus pensamentos se voltaram para tal garota. Ela lhe despertava a curiosidade, afinal... Sempre sozinha, sempre lendo coisas complicadas e parecia pouco se importar com o que achariam dela. Seria um alvo interessante, de fato.

“Só não posso ter nada sério com ela, senão meus amigos vão me zuar pelo resto do ano.”

Concluiu. Já previa apelidos irônicos chovendo em cima dele.

Seus olhos se voltaram nervosamente para a tela do computador. Antes tinha feito questão de se virar para o outro lado, com os braços cruzados. Mas... Sua ansiosidade falava alto, querendo ou não, estava curioso para ver porque diabos o seu amigo estaria lhe recomendando um jogo tão old school.

“Se fosse uns anos atrás, sem problemas, mas po... Hoje em dia tem tantos melhores. TERA foi maneiro pra caramba.”

Quando virou-se por fim para a tela, quase perdeu as forças ao ver que só estava em 5%. Aquele jogo devia estar sacaneando ele! Só podia!

- AH, VÁ A MERDA! VOU JOGAR BATTLEFIELD 4 QUE GANHO MAIS! – Bradou, bufando de tanta raiva. Sorte que estava sozinho em casa naquele momento. Deixou a tela do download minimizada e passou a jogar seu “queridinho” do momento.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.