De repente Amor

Você é minha paz


Pvo Marissa

Tudo parece uma nebulosa densa demais para se controlar. Tudo gira em torno de mim rápido demais. Tudo abaixo dos meus pés está desabando. Mais do que nunca tudo é exatamente nada. Os noticiários me lembram a cada instante que meu filho pode estar morto, dizem que não há nenhum sinal dele, de nenhum deles, a forma como falam, tudo é cruel demais. Spencer e eu resolvemos nos apoiar, estou morando com ele, não consigo lidar com as memórias de Freddie em meu apartamento, isso me mata aos poucos, mas as lembranças de Carly fortalecem Spencer, o admiro.

— Caramba, quase não consegui entrar no prédio, esses repórteres estão por todo canto, é assustador.

— Assustador é a palavra exata, só não mais que nossa família, já atendi umas quinhentas ligações da minha e da sua família, alguns nos perguntam se temos notícias e outros ligam apenas para nos culpar pelo o que aconteceu, mas o pior são as mensagens dos fãs de iCarly, eles estão desesperados.

— Mas mesmo assim eles nem chegam aos pés do vovô Shay. – ele solta uma risada amarga, mas ainda assim uma risada, a primeira desde que chegamos ontem, mas isso não diminui nem um pouco da tensão no ar, não seca as lágrimas que parecem sempre prontas para escorrer ao mínimo descuido do nosso emocional, sabe aquele clima pesado de um velório? Aquele silêncio sufocante que preenche e arranca todo o ar dos seus pulmões até você se ver obrigado a sair e respirar ar puro? Este apartamento consegue estar ainda pior, em um velório você sabe onde a pessoa está e o que aconteceu com ela, a agonia de não ter certeza, de esperar desesperadamente por noticias, qualquer que seja, é sufocante. Desesperador. Assustador. – Marissa, o que vamos fazer? – Spencer me pergunta com seus olhos esperançosos, mas ao mesmo tempo amedrontados.

— Eu sinceramente não sei, eu não sei... – uma lágrima escorre por minha bochecha, depois outra e mais outra, não consigo pará-las, não quero pará-las, tenho que sentir, preciso me sentir viva. Aconchego-me nos braços de Spencer até que as lágrimas cessem.

— O apartamento perdeu o brilho sem ela.

— Minha vida perdeu o brilho sem ele, nunca imaginei que seria obrigada a sentir isso novamente.

— Está falando da morte de Peter?

— Estou falando de Sophie.

— Quem é Sophie?

— Minha filha. – ele me olha surpreso e me incentiva a continuar. – Tem certeza de que quer saber? A história envolve bem mais do que imagina.

— Tenho, por favor. – dou um suspiro pesado e me preparo para desenterrar essa dolorosa história.

— Tenho que começar do início. Casei-me com treze anos, quando minha mãe morreu me recusei a continuar morando com o bêbado do meu pai, então me casei com Peter que na época tinha dezenove anos, todos que eu conhecia repudiaram a ideia, não me importei, nem de longe eu fazia o tipo certinha, nos casamos e um ano depois engravidei de Freddie.

— Você o teve muito nova.

— Eu sei. Depois de um ano e meio engravidei novamente, mas dessa vez foi uma gravidez de risco, tive muitas complicações, mas ela nasceu. Sophie, minha pequena princesinha. Aos dois meses descobri que ela tinha Leucemia, ela lutou bravamente por cinco anos, mas era frágil demais para lutar com algo tão poderoso por tanto tempo, eu estava lá enquanto dizia suas últimas palavras em sussurros quase inaudíveis.

Flashback on

— Querida vai ficar tudo bem, ok? Você vai para um lugar muito lindo e cheio de coisas cor-de-rosa. – as lágrimas já escorriam livremente por meu rosto enquanto me despedia da minha princesinha que apertava levemente minha mão.

— E vai ter unicórnios mamãe? Daqueles que voam bem alto?

— Sim querida, e tudo o que você quiser.

— Se é tão bom por que você está chorando mamãe?

— Por que eu vou sentir muita falta de você princesinha.

— Você não pode vir comigo mamãe? Eu deixo você andar no meu unicórnio.

— Eu não posso querida, preciso ficar e cuidar do seu irmãozinho Freddie, mas você vai ficar bem, eu prometo, quando você chegar lá pode me fazer um favor?

— Claro mamãe.

— Quando você chegar dá um abraço bem apertado na vovó, ela é quem vai cuidar de você, diga a ela que a amo muito e que sinto muita saudade dela.

— Eu vou dizer mamãe, eu prom... –

Flashback off

— E assim ela se foi, sem ao menos terminar sua promessa.

— Marissa, eu... Você nunca falou nada sobre ela, não tem fotos na sua casa e Freddie também nunca disse nada, desculpe por ter feito se lembrar de tudo isso.

— Tudo bem, você não tinha como saber. Freddie não sabe que teve uma irmã, depois que Sophie morreu fiz com que acreditasse que ela era apenas sua prima, não queria o ver sofrendo, tinha jurado a mim mesma que contaria a ele quando já tivesse idade para entender, mas nunca tive coragem de contar. Carly faz lembrar-me dela, seu sorriso, seus olhos castanhos curiosos e decididos, até sua voz é parecida, por isso não gostava da paixão de Freddie por Carly, não queria que ele a visse com outros olhos que não fossem de um irmão.

— Acho que no fim das contas deu certo, agora Freddie só a vê como uma irmã, isso eu posso garantir.

— É eu sei, ele está apaixonado pela diab... Digo, pela Sam.

— Isso mesmo, Seddie.

— Seddie? Como assim?

— É o nome que os fãs de iCarly deram para o casal Sam e Freddie.

— Que fofo.

— Com certeza. – se instala novamente um silêncio na sala, não tão medonho quanto antes, é o tipo de silêncio que tem de ser quebrado com ações e não com palavras, então o beijo.

Pvo Spencer

Ela me beija, não um beijo com urgência ou desejo, um beijo doce e calmo, confortável, um beijo que fez toda a tensão do meu corpo se desmanchar, que enquanto durou fez com que eu me esquecesse que o mundo estava desabando ao meu redor, novamente era apenas eu e Marissa em um diálogo mudo, onde tudo que precisava foi falado, onde a paz que precisávamos foi sentida.

— Spencer, promete que vai estar comigo durante essa tempestade?

— Não conseguiria me afastar de você nem se quisesse.