De Janeiro a Janeiro

Capítulo 19 "Aquele das fotos pela escola"


Narrado por Vivi

Onde estavam as câmeras? Eu só podia estar em algum tipo de reality show! Olhei para as paredes da escola, não, não haviam câmeras!

Todos sabiam de mim e do Samuca, e todos estavam comentando sobre aquilo como se fosse a maior fofoca do ano. A chefe de torcida com o geek. Eles realmente tinham muito oque falar.

—Vivi! -Bia me chamou, ela estava atrás de mim. E eu não acreditei quando ela me disse que haviam fotos minhas espalhadas pela escola. -Não deveria se preocupar tanto com isso, amanhã todos eles já esqueceram e vão estar comentando sobre outra fofoca.

—Não vai ser assim. Eles vão comentar sobre isso por pelo menos semanas!

—Deixa eles falarem, então. Mas acho que você está fazendo uma tempestade em um copo d'água, talvez eles nem liguem, eles tem coisas melhores para pensar! -Bia compartilha seus pensamentos, mas neste mesmo instante, Janu aparece no nosso lado, do nada, pulo para trás com o susto:

—Eu vi a foto! -ela está sussurrando, por que ela está sussurrando? -Era você, não é? -por que ela está perguntando? Dá pra ver perfeitamente que se trata de mim na foto. Bia revira os olhos.

Nesse mesmo momento avisto Samuca, ele acabou de entrar no nosso corredor. Já deve ter percebido que todo mudo está falando sobre nós como se fossemos a música nova da Demi Lovato. Ele me acha. Desvio os olhos imediatamente.

Bia e Janu ainda estão me olhando. O que a Janu tinha perguntado mesmo?

—Não sei porque está fazendo tanto drama, ela o beijou. Qual o problema disso? E por que está sussurrando? -Bia se vira para Janu.

—E quem foi que te perguntou alguma coisa? -Janu e Bia começam a discutir.

—Oi, Cinderela. -Samuca chega até nós. Eu não sei oque dizer, tenho a sensação que todos estão olhando para nós. Mas não tem quase ninguém no corredor.

Bia me belisca, acho que ela percebeu que eu paralisei.

—Vem, vamos deixar eles conversarem! -Bia praticamente puxa Janu depois disso.

—Não encosta em mim. -Janu resmunga.

—Oi. -finalmente a palavra sai da minha boca. Samuca está me olhando, como se esperasse que eu dissesse algo. Vejo um grupo de pessoas se aproximando.

Automaticamente puxo Samuca para dentro da sala mais próxima, percebo que na verdade é um pequeno depósito onde guardam os materiais de limpeza da escola.

—O que você está fazendo? -ele perguntou, totalmente confuso.

—Você não viu as fotos? Todos sabem! -eu conto a ele, sei que pareço desesperada.

—Não é nada demais, Vivi. -ele diz.

—Pra você, não. Mas pra mim é demais, sou eu quem vai... -parei de falar, aí meu Deus.

—Você que vai o quê? -ele pergunta. -Ir de primeiro lugar á último no ranking de populares da escola? Ah, eu sinto muito Vivi, você não deveria mesmo ser vista comigo. -ele é irônico, e está claramente irritado.

—Não é isso!

—Então qual é o problema?

—Eu não quero eles falando sobre nós por aí. Eu sou chefe de torcida e se eles acharem que eu... -ele me interrompe:

—Que você está namorando com um nerd do terceiro ano sua reputação já era.

—Eu só não quero que eles saibam agora. Quer dizer, nem nós sabemos o que somos.

—Bom, eu não te beijei sozinho. -ele retruca.

Eu olho para o chão. A verdade é que eu sou a chefe de torcida, o que basicamente significa que todos te veneram, tenho medo de que eles descubram que estou namorando com o Samuca, e tudo acabe.

—Já entendi. -ele continua. -Sabe tudo isso aqui? -ele faz um sinal com as mãos, apontando para tudo. -Vai acabar para você daqui a exatamente um ano e três meses. Espero que arrume um jeito de sobreviver depois que terminar. -ele disse, me deixando sem respostas. -Adeus, Viviane. -em seguida, ele sai do pequeno depósito. Me deixando ali, sozinha. Ainda sem respostas.

(...)

—Cinderela! -ouço Bia me chamar, acabei de entrar na sala de aula. -Você está bem?

—Não, ele disse que vou ficar perdida depois que o colégio acabar. -sussurrei, contando a Bia.

—Hum... -Bia murmura, ela esta fazendo aquela cara de é-verdade-mas-não-vou-dizer-se-não-a-Vivi-vai-pirar.

—Você concorda?

—Não! Quer dizer, olha pra você, você está terminando algo que nem começou com o Samuca por causa do que eles vão pensar. -Bia responde e eu sei que ela tem razão. Mas eu não sei onde aperta pra parar de se importar. Nem sei se há um botão.

—Vivi, tem algum problema se eu sumir hoje, não vou poder ir ao treino. -Bia comenta.

—Por que? -perguntei, ela olhou para o Duda, mas ele já estava olhando para ela, lá estava a resposta.

Narrado por Bia

—Não acredito que estamos mesmo fazendo isso. -Duda disse enquanto subíamos as escadas para o telhado de mãos dadas. Assim que chegamos no alto, antes de qualquer outra coisa, me virei para ele:

—Obrigado por ter vindo. Eu sei que seu pai vai ficar furioso se souber que perdeu o treino.

—Na realidade, isso é um bônus. -ele retrucou.

—Certo. Preparado?

—Preparado pra quê? -ele perguntou e eu saí da frente dele, enfim deixando-o ver oque eu preparei para nós. Ele sorri. -Fez um piquenique no telhado? -ele ainda está sorrindo.

—Muito cafona?

—Muito, muito mesmo. -ele respondeu. -Mas eu adorei! -Não consigo evitar o sorriso.

—Que bom que gostou, porque eu estou morrendo de fome. -falei, me sentando em cima do pano que eu mesma havia colocado no chão. Ele se sentou junto a mim, mas em seguida, me fitou.

—O que foi? -perguntei.

—Ninguém nunca fez algo assim pra mim. -Eu sorrio novamente. Por que eu não consigo parar de sorrir?

—É a primeira vez que faço algo assim pra alguém. -confessei, ele continua me olhando. -Fome?

—Sempre. -ele respondeu já atacando os salgadinhos.

(...)

Ele estava jogando balas em mim, para ver se eu conseguiria pegar alguma com a boca. Mas tudo cai no chão.

—Tem alguma coisa em que você não seja ótimo? -questionei, antes era eu quem jogava as balas, mas ele conseguiu pegar todas.

—Eu não sei arrotar! -ele contestou.

—O quê?

—Não sei arrotar, simplesmente não sai. -ele repetiu, e em seguida fez uma tentativa falha de arroto, me fazendo gargalhar alto.

—Você é um bobo!

—Eu também não sei dançar. -ele contou.

—Fala sério!

—Você não me viu na festa de quinze anos da Janu, ela brigou comigo porque eu pisei em seu pé, brigou comigo no meio da dança!

—Eu fui a única da turma que não foi convidada para esta festa. Mas só agora senti vontade de ter ido. -comentei, adoraria ter visto aquilo.

—O que você fez no seu aniversário de quinze anos? -ele perguntou.

—Pedi pizza, doze pizzas, eu comi pizza a semana inteira. -me lembrei, havia sido uma ótima semana.

—Muito melhor! -ele afirmou, e eu concordei com a cabeça. -E o que aconteceu com aquilo das fotos da Vivi beijando aquele garoto?

—Eles se gostam, acho que vai dar tudo certo! -respondi, desejando mesmo que desse tudo certo.

—E a gente? -ele perguntou, me fazendo olha-lo. -Quer dizer, eles brigaram porque não sabem se devem mostrar pra toda a escola que se gostam, então eu acho que devemos decidir.

Respirei fundo.

—Você tem certeza? -perguntei, já devia ser a terceira vez que eu perguntava aquilo á ele.

—Você tem? -ele perguntou de volta.

—Não. -fui sincera, a verdade é que estava morrendo de medo. Ficamos em silêncio por alguns instantes.

—Eu estou curioso para descobrir no que tudo isso vai dar. -ele disse, se aproximando de mim.

—Está? -Ele me beija, e de repente eu tenho certeza. Certeza absoluta!

—Acho que devemos ir. Já são cinco da tarde. -ele diz ainda com o rosto próximo do meu, como o tempo passou rápido! Procuro meu celular que eu havia deixado no silencioso, tenho 13 chamadas não atendidas da Vivi.

—Não. -queria permanecer ali. Só por mais alguns segundos, mesmo sabendo que precisava ir. E amanhã?

—Vamos nos ver, nossos pais estão concorrendo a prefeitos da cidade e amanhã é o grande dia dos discursos ridículos.

Nós dois finalmente nos levantamos, dobrando o pano juntos. Me aproximo dele, mas meu celular tocou novamente. Dessa vez é o Samuca.

—Tenho que ir. -eu disse, me virando rapidamente para descer as escadas. O mundo real me esperava.

—Ei. -me viro para trás. -Valeu a pena mesmo ter vindo.

—Eu avisei. -desci as escadas sorrindo.