Vorstag atravessou um portão de metal negro correndo. De quando em quando, curvava-se sobre o chão. Os cães caminham com leveza e as pegadas que deixam não são fáceis de detectar nem mesmo por um Guardião da Alvorada, mas não muito longe do passar do portão viu a trilha, e agora o chão não era mais de pedra, e na terra molhada ele encontrou as pegadas de Meeko, que continuava através de um penhasco, e lá embaixo, de uma ponte. Como o cão sobreviveu a queda, Vorstag só pôde dizer depois que viu que havia um pilar inclinado e caído por onde Meeko deveria ter escorregado.

— Interpretei os vestígios corretamente — disse ele para si mesmo. — Meeko foi muito além do seguro. Fico imaginando o que terá visto ali. Mas ele voltou pelo mesmo caminho, e desceu a ponte outra vez.

Vorstag hesitou. Ele também desejava atravessar a longa ponte de terra suspensa, na esperança de ver algo que pudesse guiá-lo em suas perplexidades, mas o tempo estava passando. De repente, deu um pulo para frente e escorregou pelo pilar, atravessando uma construção de madeira em chamas. Então, posicionando-se no meio da ponte suspensa, olhou em volta. Mas a única luz vinha de uma abertura no teto cavernoso, e refletia num lago lá embaixo, iluminando toda a caverna. O mundo apagado e remoto. Percorreu com os olhos toda a região, virando-se do norte de volta para o norte, mas não viu nada exceto descidas e outras pontes inclinadas.

No momento em que olhava, seus ouvidos atentos distinguiram sons vindos das passagens atrás de si, e abaixo, mas abaixo de si ouviu um grito de um homem. Retesou-se. Eram gritos de desespero, e em meio a eles, para seu terror, Vorstag pôde perceber vozes rudes de criaturas desconhecidas. Não eram draugrs. Então, de repente, num chamado grave, uma poderosa corneta soou, e seus clangores golpearam a caverna e ecoaram nas concavidades, erguendo-se num grito poderoso e rugindo por todo o local.

— A corneta de Torygg! — gritou ele. — Erik está em apuros! — Saiu seguindo a trilha correndo, com Arandagon em mãos. — Que lástima! Uma má sorte paira sobre mim hoje, e tudo o que faço dá errado. Onde estaria Meeko nesta hora? Será que se perdeu? Ou achou Ralof, e agora estão os dois perdidos nesta caverna terrível.

Conforme corria, os gritos iam ficando mais nítidos, mas a corneta soava mais fraca e desesperada. Ferozes e agudos cresciam os urros dos monstros, até que de repente a voz da trombeta calou. Vorstag precipitou-se pela última encosta, mas antes que conseguisse atingir uma sequência de armadilhas os outros sons também foram diminuindo; e no momento em que ele virou à esquerda e correu na direção deles, os gritos sumiram, até que finalmente não podiam mais ser ouvidos. Levantando sua espada reluzente e gritando Talos! Talos!, Vorstag irrompeu através de um portão aberto e pontiguado, feito de metal escuro.

A uma milha, talvez, de onde haviam se separado, numa câmara extensa com uma plataforma estreita rodeada por esculturas de águias em metal negro dos nórdicos, encontrou Erik. Estava sentado e recostado num grande bloco retangular, desenhado e esculpido, de cerca de sessenta centimetros de altura, sobre o qual foi assentado uma rocha acinzentada com o formato de um punho segurando algo. Erik parecia estar encostado lá, descansando. Mas Vorstag viu que ele estava perfurado por muitas flechas com plumas negras; ainda se via a espada em sua mão, mas estava quebrada perto do punho. O escudo de lobo vermelho, partido em dois, descansava ao seu lado. Viu muitos monstros em armaduras negras e vermelhas abatidos, empilhados em toda a volta e aos pés de Erik.

Vorstag ajoelhou-se ao lado dele. Erik, abrindo os olhos, esforçava-se para falar. Finalmente, lentas palavras afloraram. — Tentei ferir Ralof — disse ele, colocando a mão na nuca de Vorstag e o puxando pra perto. Sangue escorria de sua boca; sua pele estava branca como a neve. — Sinto muito. Eu não vi. Falhei com vocês todos. Paguei por isso. — Seu olhar desviou para os inimigos caídos; pelo menos vinte. — O cachorro passou por uma trilha pequena. Sumiu, acho que não está morto. Nem Ralof. O mundo dos homens cairá, e tudo vai virar escuridão. Minha cidade se tornará ruína, como a qual estou agora — e fez uma pausa, fechando os olhos. Depois de um momento, falou outra vez. — Adeus, Vorstag! Vá para Solitude e salve meu povo! Eu falhei.

— Não! — disse Vorstag, pegando-lhe a mão e beijando sua fronte. — Você venceu. Poucos conseguiram tal vitória. Fique em paz! Não sei que força tenho no meu sangue, mas se eu puder usá-la, Solitude não sucumbirá!

Erik sorriu.

— Para que lado foi Meeko? Ralof estava com ele? — perguntou Vorstag. Mas Erik não falou mais nada. — Que pena! — disse Vorstag. — Assim parte o herdeiro de Torygg, Senhor de Haafingar e Alto Rei de Skyrim! É um fim amargo. Agora a Companhia está completamente desfeita. Fui eu quem falhou. A confiança que Savos depositou em mim foi em vão. Que farei agora? Erik me incumbiu de ir a Solitude, e meu coração deseja a mesma coisa; mas onde estão Ralof e meus outros amigos? Como poderei salvá-los e salvar a Demanda do desastre?

Ficou ajoelhado por um tempo, curvado e chorando, ainda agarrado à mão de Erik. Foi assim que Faendal e Kharjo o encontraram. Vieram da mesma ponte, em silêncio, rastejando por entre as árvores, como se estivessem caçando. Kharjo trazia na mão duas maças novas, que havia arrancado da mão dos inimigos, e Faendal empunhava sua longa faca: tinha usado todas as flechas. Quando atingiram a clareira, pararam confusos; depois ficaram um tempo cabisbaixos e tristes, pois para eles ficara claro o que tinha acontecido.

— É lamentável! — disse Faendal, aproximando-se de Vorstag. — Caçamos e matamos muitos dremoras e draugrs na caverna, mas teríamos sido de mais utilidade aqui. Viemos quando escutamos a corneta. Tarde demais, ao que parece. Receio que tenha sofrido um ferimento mortal.

— Erik está morto! — disse Vorstag. — Eu estou ileso, pois não estava aqui com ele. Ele pereceu procurando Ralof, enquanto eu estava longe, examinando as construções e a caverna.

— Ralof — gritou Kharjo. — Onde estão eles então?

— Não sei — respondeu Vorstag, fatigado. — Antes de morrer, Erik me disse que o cachorro fugiu, embora não achasse que eles estivessem mortos. Tudo o que fiz hoje deu errado. Que se deve fazer agora?

— Primeiro temos de cuidar do morto — disse Faendal. — Não podemos deixá- lo aqui estendido como um cadáver qualquer em meio a esses seres nojentos nojentos de Oblivion.

— Mas precisamos ser rápidos — disse Kharjo. — Ele não desejaria que demorássemos. Devemos seguir a trilha de Meeko, se ainda temos alguma esperança de que Ralof seja um prisioneiro vivo dos dremora.

— Mas não sabemos se Ralof está com eles ou não — disse Vorstag. — Vamos abandoná-lo? Devemos procurá-lo primeiro? Uma terrível escolha se coloca diante de nós!

— Então vamos fazer primeiro o que devemos fazer — disse Faendal. — Não temos tempo nem ferramentas para enterrar nosso companheiro com todas as honras, ou para erguer-lhe um monumento protetor. Podemos deixar um marco mortuário. O trabalho será difícil e longo: por aqui não há pedras para construir um marco. O lugar mais próximo onde podemos encontrá-las é a margem do pântano.

— Então vamos deitá-lo num barco com suas armas, e com as armas de seus inimigos derrotados — disse Vorstag. — Vamos enviá-lo aos pântanos e oferecê-lo ao Rio Karth. O Rio que chega à Solitude cuidará para que pelo menos nenhuma criatura maligna desonre seus ossos.

Rapidamente revistaram os cadáveres dos dremora, recolhendo as espadas e elmos partidos e escudos numa pilha.

— Eu — disse Faendal — vou levar as flechas que puder encontrar, pois minha aljava está vazia. — Procurou na pilha e no chão em volta, encontrando um bom número de flechas que estavam intactas e eram mais longas na haste do que as que os draugrs costumavam usar. Sua ponta não era comum, mas eram duas pontas curvadas. Examinou-as atentamente.

E Vorstag olhou para os mortos, e disse: — Não posso dizer muito, pois não acho que nenhum de nós saiba de algo sobre dremoras e suas espécies. Esses equipamentos e armaduras não são nem um pouco parecidos com os de nenhuma raça ou cultura que conheçamos.

Havia quatro dremoras de estatura maior, de pele escura, com pinturas tribais em vermelho se espalhando por todo o rosto, chifres curvados como os de um bode, olhos oblíquos, com pernas grossas e mãos grandes. Estavam armados com espadas de lâminas curtas e largas, um pouco curvadas como cimitarras, mas não eram os trabalhos apressados e mal-feitos das forjas dos homens, eram lâminas denteadas com um tipo de lâmina muito mais afiada do que a comum; e tinham arcos pesados e curvados, com vários espinhos de metal se erguendo como os que Vorstag vira no dragão. Nos escudos carregavam uma estranha insígnia. Eram runas recentemente inscritas na mesma luz avermelhada que brilhava em todas as armas e armaduras; na parte frontal de alguns elmos daédricos via-se uma runa correspondente à letra A.

— Nunca vi estes símbolos antes — disse Vorstag. — O que significa?

— A é de Alduin — disse Kharjo. — isso é fácil de ler.

— Nada disso — disse Faendal. — Alduin não usa runas daédricas.

— Nem usa seu nome certo, nem permite que seja soletrado ou pronunciado — disse Vorstag. — E ele não permitira que ninguém usasse uma insignia feita por ele. Os dremoras a serviço de Skuldafn não usariam símbolo algum, e se usassem, seriam em runas dracônicas — parou por um tempo, pensando. — Esse A é de Ancano, eu acho — disse ele finalmente. — O mal está à solta em Winterhold, e o Nordeste também já não é seguro. É como Savos temia: de algum modo o traidor Ancano teve notícias de nossa jornada. É provável também que saiba da queda de Savos. Perseguidores das Cataratas Ermas podem ter escapado da vigilância de Whiterun, ou talvez tenham evitado aquela terra, vindo para Winterhold por outros caminhos. Esses dremoras devem viajar rápido. Mas Ancano deve ter, também, sendo um mago poderoso, muitos meios de conseguir notícias. Lembram-se dos pássaros? É um enigma, entretanto, como ele veio a ter acesso a tal força.

— Bem, não temos tempo para resolver enigmas — disse Kharjo. —Vamos levar Erik embora.

— Mas antes disso temos de decifrar os enigmas, para escolhermos o caminho certo — respondeu Vorstag, olhando para o corpo de Erik e acidentalmente percebendo algo novo: na pedra do bloco onde Erik se apoiava, haviam runas daédricas também, que estavam lá há muito mais tempo do que as runas nos dremoras:

Alguns momentos depois, viu que a mão que segurava alguma coisa na verdade não segurava nada – nada além de uma nota amarelada e selada. Ali devia estar a Corneta de Jurgen Chamavento, pensou Vorstag, o motivo de tudo isso. Mas havia só um bilhete. Que tipo de teste era aquele? Uma armadilha? Um sentimento começou a borbulhar em seu estômago quando pegou a carta e a leu, meio que em voz alta para seus amigos.

Dragonborn,

Eu preciso falar com você. Urgentemente.

Alugue o quarto do sótão no Gigante Adormecido na Cidade de Riverwood, no Estado de Whiterun, e lá nos encontraremos, e então saberá do destino da Corneta de Jurgen Chamavento. Ela está a salvo, e não tem nada a temer.

–-- Uma amiga.

— Claramente uma armadilha — riu Kharjo. — Atrairia a Ralof com a promessa da visita à sua querida Riverwood, e acharíamos um exército desses dremoras esperando por nós lá.

— Não discutamos isso agora — interrompeu Faendal. — Precisamos urgir. Não agüento ver o corpo de nosso amigo assim, deitado ali.

Kharjo pegou um machado de um dremora caído, e então caminharam para a saída que se encontrava a norte de onde estavam. Quando chegaram na superfície após uma subida íngreme e inclinada, o khajiit começou a cortar vários galhos, que foram amarrados com cordas dos arcos que Faendal trazia. Depois disso, eles estenderam suas capas sobre a estrutura. Sobre esse rude esquife carregaram o corpo do companheiro para o pântano, juntamente com os troféus de sua última batalha que foram escolhidos para acompanhá-lo. O percurso era curto; mesmo assim não foi uma tarefa fácil, pois Erik era alto, além de robusto. Na beira da água, Vorstag ficou vigiando o esquife, enquanto Faendal e Kharjo correram para o outro lado para procurar os barcos. A distância era de alguns metros ou mais, e demorou um pouco até que voltassem, conduzindo dois barcos rapidamente ao longo da margem.

— Tenho um caso estranho para contar! — disse Faendal. — Só há dois barcos sobre o barranco da margem. Não encontramos nem sinal do outro.

— Os dremoras passaram por lá? — perguntou Vorstag.

— Não vimos sinais deles — respondeu Kharjo. — E os dremoras teriam levado ou destruído todos os barcos, como também a bagagem.

— Vou examinar o solo quando chegarmos lá — disse Vorstag.

Colocaram então Erik no meio do barco que deveria levá-lo embora. Dobraram o capuz e o manto de pele que trazia consigo, colocando-os sob sua cabeça. Pentearam seus longos cabelos alaranjados, arrumando-os sobre os ombros. Atravessados sobre seu colo colocaram o escudo partido e o punho com os fragmentos da lâmina da espada; sob os pés colocaram as espadas daédricas dos inimigos. Então, fixando a proa à popa do outro barco, arrastaram-no até a água. Remaram tristemente ao longo da margem, e mudaram o curso para atingir o canal veloz. Cheios de tristeza, soltaram o barco fúnebre: ali jazia Erik, descansado, em paz, deslizando sobre o coração da água. A correnteza o levou, enquanto os outros seguravam o próprio barco com os remos. Erik flutuou passando por eles, e lentamente seu barco afastou-se, reduzindo-se a um ponto escuro contra a luz dourada; depois, de repente, desapareceu. O pântano agora estava quieto, mas ouviram o lamento do Rio Karth quando recebeu o corpo. O Rio tinha levado Erik, filho de Torygg, que agora não seria mais visto em Solitude, altaneiro, como costumava ficar sobre a Torre de Vigília de manhã. Mas em Haafingar, tempos depois, falou-se muito que o barco de Whiterun passou pelo pântano e pelo rio, levando-o através da Companhia Oeste de Exportação, passando por ali, e entrando no Mar das Assombrações à noite, sob as estrelas.

Por um tempo, os três companheiros permaneceram em silêncio, observando o rio que levara Erik. Então Vorstag falou.

— Da Torre de Vigília de Solitude vão procurá-lo, subindo a ladeira, mas ele não mais retornará das montanhas ou do mar. Depois, lentamente, começou a cantar:

Por Whiterun sobre charco e campo onde alta cresce a grama

O Vento Oeste vai voando e em torno aos muros clama.

Que novas tu, ó Vento, vais à noite revelar?

Viste Erik, o Alto, andando no luar?

Por amplas águas rios escuros o vi descer;

Por terras estranhas foi-se embora até desaparecer

Nas sombras que cobrem o norte. Não mais ao redor vi.

O Vento Norte viu talvez o Filho de Torygg

Ó Erik! Dos altos muros o sul eu entrevi,

Mas da região de homens deserta voltar eu não te vi.

Então Faendal cantou:

Da boca do Mar das pedras e dunas o Vento Norte vôa;

Traz das gaivotas o lamento, e ao portão geme à toa.

Que novas do sul, ó lamuriento, esta noite tu me dás?

Onde está o Belo Erik? Demora e eu não tenho paz.

Onde ele mora não perguntes. Lá tantos ossos vão

Em praias brancas ou escuras sob tormentoso chão.

Subiram tantos o Karth fluindo para o Mar.

O Vento Oeste detém novas de quem aqui vai passar

Ó Erik! Além das portas ao sul a estrada investe,

Mas tu do Mar com as gaivotas chorosas não vieste.

Depois Vorstag de novo cantou:

Dos portões reais o Vento Norte vem e o arco sobrevoa;

E claro e frio em torno à torre sua trompa alto ecoa.

Que novas do norte, ó vento forte, me trazes nesta hora?

Que é de Erik, o Ousado? Há tempos foi embora.

Em Forgulnthur ouvi seu grito. Com muitos se bateu.

O seu broquel e sua espada o rio os recebeu.

A fronte alta, o rosto belo, o corpo ao rio doaram;

E os pântanos de Forgulnthur, ao peito o carregaram.

A Torre da Guarda, ó Erik. Ao norte observará

Os pântanos de Forgulnthur, até que o tempo findará.

Assim terminaram. Então viraram o barco e conduziram-no na maior velocidade possível contra a correnteza, de volta para Ustengrav.

— Você deixou o Vento Leste para mim — disse Kharjo. — Mas não vou dizer nada sobre isso, pois estou muito triste para cantar.

— É o que devia ser feito — disse Vorstag. — Em Solitude, eles suportam o Vento Leste, mas não lhe pedem notícias. Mas agora Erik tomou sua estrada, e nós devemos nos apressar e escolher a nossa.

Examinou o gramado verde, rapidamente mas de forma completa, muitas vezes se abaixando ao solo. — Nenhum dremora passou por este terreno — disse ele. — Se não for assim, não se pode ter certeza de nada. Todas as nossas pegadas estão aqui, cruzando e recruzando o terreno. Não posso dizer se Ralof passou por aqui.

— Então como você decifra este enigma?

Vorstag não respondeu imediatamente, mas voltou para o acampamento e olhou a bagagem. — A mochila de Ralof está faltando — disse ele. — E as pegadas de Meeko aqui são recentes. Esta então é a resposta: Ralof foi arrastando seu barco, e seu amigo foi com ele. Ralof deve ter retornado quando todos estávamos longe daqui. Está claro o que Meeko fez. Adivinhou os pensamentos de Ralof e voltou aqui antes que ele tivesse partido. Não seria fácil para ele abandonar Meeko.

— Mas por que nos abandonaria, e sem dizer nada? — disse Kharjo. — Que atitude estranha!

— E corajosa! — disse Vorstag. — Erik estava certo, eu acho. Ralof não desejava conduzir qualquer amigo para a morte em Skuldafn. Mas sabia que ele próprio deveria ir. Agora, ele foi pra Skuldafn sozinho, ou desertou? Alguma coisa aconteceu depois que ele nos deixou, e isso o fez superar seus receios e dúvidas.

— Talvez um ataque dos dremora caçadores o tenha feito fugir — disse Faendal, ponderando e analisando.

— Certamente ele fugiu — disse Vorstag. — Mas não acho que tenha fugido dos dremoras. — O que considerava ser a causa da súbita resolução e da fuga de Ralof, Vorstag não disse. Guardou em segredo por muito tempo as últimas palavras de Erik.

— Bem, isso pelo menos está claro agora — disse Faendal. — Ralof não está mais em nossa Companhia: só pode ter sido ele quem levou o barco. E Meeko está com ele.

— Deixem-me pensar! — disse Vorstag. — E, agora, tomara que eu possa fazer a escolha certa e mudar o destino trágico deste dia infeliz! — Ficou em silêncio por um momento. — Vou seguir os dremora que fugiram — disse ele finalmente. — E eu teria guiado Ralof a Skuldafn, acompanhando-o até o fim; mas me parece que ele não deseja a nossa companhia por mais um dia de viagem. Meu coração fala claramente: o destino de Ralof não está mais em minhas mãos. A Companhia desempenhou seu papel. Mas nós, que permanecemos, não podemos abandonar nosso companheiro totalmente enquanto tivermos forças. Venham! Partiremos agora! Deixem para trás tudo o que for possível! Vamos prosseguir de dia e de noite. Nenhum inimigo viverá para entrar no caminho dele. Mas antes iremos a Riverwood, pois lá segue o destino da demanda dos Barbacinza.

Arrastaram o último barco e carregaram-no para as árvores. Colocaram debaixo dele as coisas de que não iriam precisar e que não podiam levar. Depois deixaram Ustengrav. A tarde ia se apagando quando retornaram à saída de onde Erik tinha sucumbido. Ali pegaram a trilha dos dremora. Não foi preciso muita habilidade para encontrá-la.

— Nenhum outro povo parece pisar tão pesadamente — disse Faendal. — Parece que o prazer deles é ferir e derrubar tudo o que estiver crescendo, mesmo que não esteja em seu caminho.

— Mas eles avançam com grande velocidade apesar disso — disse Vorstag. — E não se cansam. São demônios terríveis de um plano desconhecido para os olhos de qualquer um de nós. E mais tarde talvez tenhamos de procurar nosso caminho em terras duras e desertas.

— Bem, atrás deles! — disse Kharjo. — Os khajiits também conseguem andar depressa, e não se cansam antes que os dremoras, ou draugs, ou sejam quais inimigos forem. Mas será uma longa caçada: eles estão em grande vantagem.

— Sim — disse Vorstag. — Todos nós precisaremos da resistência dos khajiits! Mas venham! Com ou sem esperança, seguiremos a trilha de nossos inimigos. E ai deles se acabarmos sendo mais rápidos! Faremos uma caçada que será considerada um prodígio nos Três Reinos: dos elfos, khajiits e nórdicos. Lá vão os Três Caçadores!

Como uma corça ele saltou à frente. Através das árvores, correu. Sempre adiante conduziu os outros, incansável e veloz, agora que finalmente tinha decidido o que fazer. A floresta em volta do pântano ficou para trás. Escalaram longas encostas, escuras, de arestas duras contra o céu que já se avermelhava com o pôr-do-sol. Chegou o crepúsculo. Passaram, sombras cinzentas numa região rochosa.