Julho, 2019

Ela vivia no interior. Originalmente, era da capital como eu. Mas quando ainda era criança, seu padrasto fez a cabeça de sua mãe para que se mudassem para o interior. Naquela época, desejei tomar Susan Moore de sua família, afinal, sempre me pareceu que a mãe dela não a amava tanto quanto amava o cônjuge. Contudo, é claro que roubar Susan Moore de sua família não passou de um desejo que, com o tempo, foi se enfraquecendo com o fortalecimento do meu discernimento, através das próprias atitudes imprevisíveis de Susan Moore.

Eu afirmo, Susan Moore é um desperdício de gente, eu suportei todos os defeitos dela por amor, inclusive a sua família, e no fim, ela apenas continuou em frente com tudo aquilo que ela fazia questão de enfiar dentro de si: a dissimulação, o esquecimento, a imprudência, a infidelidade, a ingratidão, as mentiras e as malditas presenças instáveis.

A verdade é que eu não queria apenas salvá-la de sua família, eu quis roubar Susan Moore de Susan Moore, eu queria roubá-la de si e, talvez, esse seja o crime mais terrível. Eu queria roubar seus defeitos e escondê-los, apenas para mantê-la perto e para que não fosse tão fácil se afastar de mim. O fato é que me conformei, independente de quantas cartas foram escritas. Independente dessa, que nada mais é que mais um desperdiço interminável de palavras. O passar dos anos me fez muitíssimo bem, existem garotas incomparavelmente melhores que Susan Moore, nenhuma delas precisa ser roubada e salva da própria família, ou de si.

Até hoje não consegui entender ao certo o que houve comigo para ter desejado alguém como Susan Moore, nós éramos tão fatalmente opostos que, de um modo indireto, roubávamos a vida um do outro, e hoje percebo, com ironia, que minha presença na vida de Susan Moore era o pior dos delitos.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.