Darkpath

♥14 - Segundas chances♥


"Second chances, they don't even matter
people never change"

—Misery Bussiness, PARAMORE

♥Camilla Tosetti da Costa♥

No final das contas, não houve nem aula nem trabalho voluntário no dia seguinte. Todos os alunos foram dispensados, e qualquer atividade relacionada à faculdade foi adiada. O enterro dos dois alunos mortos foi marcado para o final de semana, e os professores tiveram que falar com os policiais durante o dia inteiro. Alguns estudantes estavam chocados demais para sequer sair do quarto. Acho que o atendimento psicológico da escola nunca esteve tão cheio.

—Onde você ‘ta indo? –Matt indagou-me enquanto eu ia em direção à porta.

—Vou passar no quarto da Yasmim ‘pra ver como ela ‘ta. Depois, vou na biblioteca. –Olhei para ele de relance –Quer vir?

—Hmm –O britânico pareceu considerar seriamente a possibilidade, porém negou –Tenho que terminar de escrever aqui. Pega os livros emprestados ‘pra gente ler juntos depois. Inclusive, em breve terei algum trabalho ‘pra você e ‘pra Nat! –Sorriu de canto, apontando para a tela do seu notebook. Com trabalho voluntário, aulas, estudos e um projeto em conjunto com Matt e Nathalie, eu não ficaria entediada por bastante tempo.

—Só me passar o trabalho, chefe. –Pisquei para o loiro. Ele sorriu de canto, meio maldoso meio envergonhado, e eu saí pela porta.

♥♥♥

—Yasmim?

Toquei a campainha de novo e afastei-me da porta. Fiquei por um tempo encarando o tapete felpudo de boas-vindas no chão, esperando, mas a argentina não atendia a porta. Uma brisa de ansiedade atingiu-me no peito: e se ela não estivesse bem? Levei a mão à porta, receosa, mesmo tendo certeza de que estava trancada –para a minha surpresa, todavia, estava aberta. Franzi a testa, girei a maçaneta e um click pôde ser ouvido enquanto a porta revelava o interior do apartamento.

Pisquei várias vezes. “Porque ela deixou a porta destrancada?” Adentrei com cuidado e fechei-me em sua sala de estar.

—Yasmim. –Chamei olhando ao redor. Nenhuma resposta ainda.

Caminhei pela bagunçada; havia roupas jogadas em cima do sofá, e uma pilha de livros abertos sobre “O cinema moderno” na mesa de jantar. Como uma boa aluna de cinema e audiovisual, claro que a loira estaria se perdendo nos estudos dos cameraman atuais. Toquei no assento do sofá: ainda estava quente. Ela estava ali instantes atrás!

Rolei as órbes com desprezo. Se ela estivesse fazendo mais uma daquelas pegadinhas com câmeras escondidas, eu ia estrangulá-la. Tornei meu olhar para a mesinha de centro e notei uns biscoitos com gotas de chocolate e chá mate morno sobre a toalha branca. Eram 9h40 e ela ainda não tinha tomado café da manhã?

—Yi? –Chamei uma última vez, indo em direção ao seu quarto no final do corredor.

“E se houver alguém ali?” Um pensamento ansioso parou-me no meio do caminho “Mas alguém quem?” Ninguém mais tinha a chave além da loira –porém o apartamento localizava-se no segundo andar, então alguém poderia de fato ter entrado pela janela! Entretanto a varanda estava trancada por dentro, então não seria possível de qualquer maneira.

O quarto de Yasmim estava totalmente escuro: janela fechada e trancada, luzes apagadas e cama totalmente por arrumar. Antes, porém, que eu pudesse me decepcionar pela falta de itens interessantes na casa de minha amiga, percebi algo que piscava na tela de seu computador. Caminhei em direção ao Mac gigantesco.

“Dowload completo do arquivo. Abrir?”

Cliquei na mensagem e, subitamente, um PDF foi maximizado na tela. O quarto, antes soturno, coloriu-se com o branco-amarelado do arquivo recém-aberto.

“Os assassinos mais perigosos dos EUA”

Franzi a testa e ousei tocar novamente no mouse. Uma ideia passou pela minha cabeça e, antes que eu pudesse julgá-la moralmente, executei-a: abri uma nova guia e, em seguida, entrei no histórico de navegação.

“Os mais procurados do mundo (há 16 minutos)”

“Os assassinos mais perigosos do mundo (8h25)”

“Assassinatos mais chocantes do século XX (8h11)

“TOP 10 crimes mais horrendos da década (22h00)”

“TOP 30 criminosos mais cruéis de todos os tempos (21h37)”

“Os piores loucos mais perigosos dos EUA (21h13)”

“Casal atacado brutalmente na argentina: seria um animal selvagem o culpado? (20h54)”

Fechei a guia e afastei-me do computador com um suspiro. Então era isso: Yasmim ficara a noite inteira pesquisando casos de crimes na esperança de encontrar algo que relacionasse o caso de seus pais com o que acontecia agora na faculdade. Mas ela provavelmente não achara nada, continuou procurando de manhã, e só havia parado vinte minutos atrás, quando deve ter decidido tomar café e ir estudar um pouco. Talvez eu devesse passar mais tempo com ela –tudo isso estava fazendo mal para a cabeça de Yasmim.

“Talvez um café e donuts façam bem pra ela”

De repente, passos velozes e desesperados. Um tum tum tum cada vez mais alto soava do lado de fora, como se alguém estivesse subindo muito rapidamente a escadaria. Sai às pressas do cafofo da loira e parei em frente a sala de estar. Olhei para os lados e pude supor que a pessoa se aproximava rapidamente.

E, embora eu me controlasse, podia sentir o medo comer minhas vísceras: meu coração disparou, um gelado percorreu meu peito e eu dei um passo receoso para trás. Eu precisava me esconder. Fui até a cozinha ali ao lado, angustiada pelo que poderia ocorrer a seguir. Minha mente estava a mil por hora.

A madeira raspou no chão e ouvi o barulho da maçaneta batendo na parede. Prendi a respiração. Passos foram dados em minha direção, e a porta foi fechada. Alguém estava entrando e trancando a porta comigo dentro!

Com cuidado, ousei espiar pelo corredor –e imediatamente soltei o ar.

“Ufa”

Meus músculos relaxaram instantaneamente quando vi a cabeleira dourada.

—Yasmim!

—Aaahh, Camilla, que saco! –Ela gritou, alarmada. Seus olhos azuis estavam totalmente arregalados –Que susto!!

—Desculpa! –Saí do meu esconderijo. Graças aos céus por ser Yasmim, e não um louco invadindo o apartamento (como eu tecnicamente estava fazendo). Aliviada, passei a mão pelos meus cachos numa tentativa de acalmar-me –Estava te procurando, vi a porta aberta e entrei!

—Que feio! –Ela sorriu e os músculos de sua face se comprimiram em alegria–Entrando na casa dos outros sem permissão! –Depositou uma máquina fotográfica preta em cima da mesa de centro, junto com os biscoitos.

—Feio nada! Por que deixou a porta aberta?

—Deixei sem querer –Justificou-se –Saí correndo para tirar uma foto lá fora ‘pro trabalho de quinta, mas fui com tanta pressa que esqueci de trancar o quarto. Não dá nem ‘pra esquecer nada destrancado que a senhorita já aparece invadindo os lugares, que que é isso?! –Cutucou-me.

—Mas é, ué. –Respondi simplesmente –Bobeou, dançou. Já aproveitei e levei aquele seu Mac, porque ele é grande e ótimo ‘pra desenhos! –Dei de ombros.

—Meu Mac não, Milla! –Ela passou por mim fingindo espanto e indignação –Senta aí. Quer chá?

—Não, obrigada. Só passei ‘pra saber como você tava. –Yasmim sentou-se no sofá, no meio daquela pilha de livros. Alguns eram bem velhos e deviam ser da biblioteca, mas, pela brancura das páginas de outros, dava para perceber que estes eram recém comprados. E, a julgar pelo tamanho da pilha que faziam, poderiam desabar na argentina a qualquer instante. –Tudo bem? Dormiu bem? Tudo em ordem?

—Uhum... Quer dizer –Ela olhou ao redor, contemplando a bagunça na qual estava imersa –Organização nunca foi meu forte.

—Nem o meu –Deixei que um sorriso enorme tomasse conta da minha face. Nos entreolhamos em silêncio –Então vou indo. Tenho que ir na biblioteca pegar uns livros, e depois terminar uns desenhos. Mas a gente podia tomar um café de tarde, que tal?

Ela acenou com a cabeça e nos despedimos sem mais delongas.

—Ei, Milla! –Ela falou antes que eu pudesse fechar a porta –Depois eu tenho que gravar umas coisas ‘pro trabalho, será que você poderia me ajudar?

—Claro –Respondi. Por que não, né? –Quando?

—Não sei ainda. Talvez amanhã, ou depois. Eu te mando mensagem.

—Okay. –Sorri e virei de costas para ela –Até depois, Yi.

♥♥♥

No caminho para a biblioteca, notei –sem dificuldades –que tinha uma frente fria chegando. Um vento gelado bagunçava meus cabelos e lambia meus braços debaixo do moletom azul. Era melhor eu apertar meu passo se não quisesse passar mais frio, então corri até a biblioteca e entrei. Na hora senti o ar quentinho e abafado de seu interior me abraçar.

“Sessão secreta” Pensei, lembrando do bilhete que eu recebera “Então ‘ta bom, aqui vamos nós”.

Andei rapidamente até o moço que organizava uma estante afastada.

—Moço –Chamei em uma altura razoável. Ele colocava uns livros de volta no lugar –Você é o bibliotecário?

—Sim –Ele respondeu, olhando-me de soslaio. Não parecia ter mais de vinte e sete anos, porém era muito alto. Continuou limpando os livros com um delicado espanador de pó –Precisa de ajuda?

—Uhum. Queria ver a sessão secreta.

Ele parou. Virou-se com a testa franzida e olhou-me de cima à baixo, claramente confuso.

—Sessão secreta?

—Hã... Isso. –Respondi, imaginando que ou o bilhete havia acertado em cheio, ou me fizera pagar o maior mico. A ponta do meu pé direito não parava de bater no chão repetidamente, inquieta, num tic nervoso incontrolável.

—Vem comigo –O rapaz chamou, caminhando em direção a uma estante lá no fundo. Ele passou as mãos pelo cabelo preto, brilhante, bagunçando levemente seu penteado perfeito. –É essa estante aqui, toda ela. –Indicou com a mão. Seu rosto estava com uma expressão confusa, e ele olhava-me como se eu tivesse lhe pedido algo muito, muito esquisito. –Mas tem bastante coisa de assassinato aí, umas... brisas... e histórias esquisitas, e umas lendas urbanas meio perturbadoras... tem certeza de que é isso que você quer? –Perguntou ainda, erguendo uma sobrancelha.

—Sim –Afirmei, e então justifiquei –É para um trabalho de faculdade. Lendas urbanas do Canadá. Espero que tenha coisa boa aí...

—Bom, boa sorte, então. Esses livros são só uma coletânea que eu achei há uns dois meses, dentro de umas caixas no porão da biblioteca. Nunca tinha notado eles lá, mas acho que estavam guardados há anos. Muitos anos –Acrescentou, olhando-me com seus olhos escuros. Sua pele era bem branquinha, quase da cor do leite, mas sua brancura era disfarçada pela enorme quantidade de sardas que possuía. –De qualquer jeito, acho que resolve seu problema. Os livros falam de umas lendas que eu nunca tinha ouvido falar, não sei se são daqui do Canadá; parecem ser de todo o mundo.

—Acho que resolve, sim. Muito obrigada!

—Imagina, não há de quê –Respondeu, e voltou a espanar os livros.

♥♥♥

Não precisei ir muito longe na leitura para saber que o bilhete havia me indicado o lugar certo. Um livro em particular chamou minha atenção: “Livro das criaturas”

“O sentinela:

Uma entidade sombria e enigmática. Necessita de hospedeiros humanos para manipular nossa realidade e, para isso, costuma possuir pessoas com as quais sente afinidade. Pouco se sabe sobre o sentinela, exceto que ele é uma criatura maligna com um senso de humor cruel e questionável e adora perseguir e atormentar suas vítimas até enlouquece-las. Stalker. Suas motivações são desconhecidas, e sua espécie também, porém parece estar fortemente associado com O OPERADOR.”

—Realmente, era tudo que eu precisava na minha vida... –Comentei. Àquela altura, acho que nem havia mais porque questionar a veracidade daquilo tudo.

“Rake:

Criatura violenta e incontrolável. Costuma perseguir suas vítimas durante a noite e destroça-las. Suas motivações são desconhecidas, e sua espécie também.

Jack, o canibal:

Era humano, porém um ritual satânico permitiu a entrada de um demônio canibal em seu corpo. Parece alternar entre períodos de consciência e períodos em que o demônio assume total controle de sua mente –o que resulta em massacres e tragédias sangrentas. Parece também só conseguir se alimentar de carne humana, e nada mais. Costuma invadir casas e roubar órgão. Pode ou não matar; há relatos de vítimas cujos rins foram retirados, porém o corte foi costurado e suturado com destreza, de maneira que sua presa não fosse à óbito. Possui um inegável conhecimento na área de biomédicas, principalmente quando se trata de cirurgias e drogas entorpecentes. (...)”

-Ugh. Cada vez melhor.

“Slenderman:

Criatura enigmática. Pouco se sabe sobre ela, exceto que parece ter uma preferência por sequestrar crianças isoladas e solitárias. O destino de suas vítimas é incerto: podem acabar mortas ou escravas desse monstro. Suas motivações são desconhecidas, bem como sua espécie. É inegável, todavia, seu poder de manipular o tempo, espaço, e dimensões. EXTREMAMENTE perigosa.”

Havia uma espécie de anotação posterior, feita à bic azul, em um dos espaços em branco. Claro que não pude deixar de lê-la: “PROXIES: SLENDERMAN PARECE SER CAPAZ NÃO SÓ DE MANIPULAR O TEMPO, O ESPAÇO E DIMENSÕES, MAS TAMBÉM A MENTE HUMANA. APARENTEMENTE, ESSA CRIATURA CONSEGUE ‘ESCRAVIZAR’ SERES CONTRA SUA VONTADE, E COLOCÁ-LOS EM UM ESTADO DE TRANSE. DESSA FORMA, FORÇA SUAS VÍTIMAS A OBEDECÊ-LO, PODENDO OU NÃO SUBTRAIR SUAS MEMÓRIAS DE QUANDO ESTAVAM SOB SUA INFLUÊNCIA. OS SERES QUE SEGUEM ORDENS –POR VONTADE PRÓPRIA OU NÃO –DO SLENDERMAN SÃO DENOMINADOS PROXIES.

ALGUNS PROXIES SÃO MAIS PERIGOSOS DO QUE OUTROS. SERES HUMANOS, QUANDO TRANSFORMADOS EM PROXIES, GERALMENTE AGEM SEGUNDO A VONTADE DO SLENDERMAN, SEM CONTROLE SOB SEUS ATOS. É POSSÍVEL, TODAVIA, QUE AJAM COSNCIENTEMENTE DEVIDO AMEAÇAS DO MONSTRO. OUTROS –EMBORA MAIS RAROS –PARECEM SEGUIR A CRIATURA POR VONTADE PRÓPRIA; ADORÁ-LO COMO UMA ESPECIE DE DEUS E SEGUIR SUAS ORDEM DE BOM GRADO. ESSE É O TIPO MAIS PERIGOSO DE PROXY, PORQUE SÃO FANÁTICOS PELA CRIATURA. SÃO ASSASSINOS TREINADOS QUE MATARIAM TUDO E TODOS SIMPLESMENTE PARA VEREM SEU MESTRE FELIZ.”

E, em um canto, espremidos na folha –também em bic –, nomes: “Ticci-Toby. O Mascarado. O Encapuzado.”

—Esclarecedor –Certamente a escrita em azul fora feita nos últimos cinco ou dez anos, no máximo. E isso significava que o perigo estava bem ao nosso lado. Pelo menos eu achei o que procurava; agora só precisava levar para o Matt. Catei mais alguns livros e caminhei rapidamente até o bibliotecário –Vou levar esses.

Fui correndo até o apartamento. Por mais que tudo aquilo que eu lera há pouco fosse assustador –porque o que quer que aquelas criaturas fossem, não tinham boas intensões –pelo menos havíamos coletado algumas informações úteis. Eu e Matt poderíamos sentar, analisar e discutir, em paz, tudo que achamos –e isso era um começo incrível de pesquisar.

—Matt, Matt! –Girei a chave na porta e entrei –Eu ach-!

Eu esperava encontrar somente Matthew lá dentro.

—Milla!

Ao invés disso, lá estava ela.

—Nat!... Oi. –Forcei um sorriso no rosto –O que estão fazendo?

—Matt ficou entediado e decidiu trabalhar no jogo enquanto você ‘tava fora. –Ela deu de ombros. Seus cabelos lisos desceram em cascatas pelos ombros quando ela os encolheu –Já que vai trabalhar com a gente nisso, poderíamos começar os três agora, n- Ei –A morena de tapa-olho interrompeu a frase. Olhou para minhas mãos e franziu a orbe verde –O que é isso? Livros?

—Er... Uhum. –Assenti –Achei uns livros interessantes aqui, sobre lendas urbanas e tudo mais.

A verdade é que, em se tratando de Nathalie, eu não sabia como me sentir. Por um lado, ela tinha comportamentos bem esquisitos às vezes, e não raro os outros alunos falavam mal dela. Por outro, ela inegavelmente era bastante gentil e amável, pelo menos comigo e com Matt; e os comentários dos alunos poderiam ser só maldade deles. Por isso, eu não sabia o que sentir sobre a garota –e esse fato me incomodava.

Talvez eu estivesse sendo muito dura com ela. E se estivesse sendo injusta com Nathalie? Só porque era estranha, não significava que fosse uma má pessoa. Eu com certeza estava analisando-a levianamente; meu Deus, que vergonha. Talvez eu devesse dar uma chance a ela –uma chance de verdade.

—Podemos começar a pesquisa então! –Nathalie constatou alegremente –A gente pode deixar o trabalho ‘pra mais tarde!

Ela estava nos ajudando com todo esse lance paranormal, e Matt gostava tanto dela! Talvez fosse estranha, com reações questionáveis, mas não devia ser maldosa.

—Tem gente morrendo, acho que o jogo pode esperar –Comentei, e sentamo-nos, os três, à mesa. Espalhei os livros no local, deixando dois na frente de cana um de nós. –Esse aqui parece recente, porque cita a internet. Fala sobre uns eventos estranhos, e uns vídeos no Youtube. Achei interessante, mas não li muito a fundo –Expliquei. Nathalie sorriu como quem se lembra de algo, e apontou para o livro à minha frente.

—Esse parece interessante.

—É o livro das criaturas. Ele definitivamente é interessante! Ele fala sobre criaturas e, bom, esclarece algumas perguntas que eu tinha. Acho que devíamos começar com ele.

—Devíamos abrir espaço, isso sim! –Matt franziu o cenho. Seu cabelo louro caiu sobre seus olhos acinzentados –Essa sala ‘ta uma bagunça!

Olhei ao redor e percebi a pilha de livros, casacos e cachecóis que eu deixara em cima do sofá e das cadeiras em volta da mesa. Oops.

—Uhh, grande parte dessa Bagunça é minha.

—Melhor arrumar –Nat ergueu-se –Se não o senhor organização não vai conseguir se concentrar nos livros –Olhou para o britânico de soslaio e sorriu. Ela não perdia uma oportunidade de irritá-lo. Matt corou.

—Ei, eu só quis dizer que-

—A sala ‘ta uma bagunça mesmo –Constatei –Vou arrumar, podem começar a ler sem mim. Eu que joguei um monte de coisa pela casa.

—Nah, se te ajudarmos, vai ser mais rápido. –Nathalie olhou para mim com o sorriso malicioso. –Até porque, precisamos de alguém sério e inteligente ‘pra analisar conosco. Três cabeças pensam melhor que uma, né?

Uau. Nathalie não parecia o tipo que se oferecia para limpar as coisas –parecia mais o tipo que não arruma nem a cama de manhã.

—Você ‘ta se oferecendo ‘pra arrumar a bagunça dela? –Não demorou até que o Inglês comentasse –Você não ajeita nem o próprio quarto!

—Aaah, o senhor arrumadinho –A de tapa-olho zombou –Isso aqui não é nada ‘pra mim. Meu quarto é bem mais bagunçado. Isso vai ser moleza.

Começamos a pegar as roupas e livros jogados e rumamos para o meu quarto. Despejamos tudo na minha cama –só queria que a sala ficasse aceitável para estudarmos, eu poderia dar conta daquilo depois, com calma.

—Viu? –Nathalie constatou, ajeitando o tapa-olhos. Encarou-me enquanto eu saía e trancava a porta, e sorriu –Eu disse que seria moleza.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.